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Nossa Senhora Peregrina

por Teresa Power, em 13.04.16

- Meninos, depressa, mudem de roupa e lavem a cara. Vamos à missa!

- À missa? A esta hora? Hoje?

- Já se esqueceram?

- Ah, é verdade! A Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima chegou a Anadia!

- Claro. Vá, já estamos atrasados. Corram!

 

A igreja matriz de Anadia estava cheia. Entrámos, apressados, e logo os nossos olhos repousaram na imagem da Mãe, rodeada de flores. As lágrimas chegaram-me aos olhos. É raro não me emocionar quando se trata de Maria. Como a pequena Jacinta, também eu "gosto tanto do Coração Imaculado de Maria!"

Que há no mistério de Fátima de tão tocante, entre tantos outros fenómenos sobrenaturais na História da Igreja?

Três crianças pequenas, pobres, humildes, que mal sabem ler; campos de flores e ovelhas; e uma Mãe. Sinais de autenticidade? As Palavras do Evangelho são muito claras:

 

"Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado." (Lc 10, 21)

 

Por experiência, sei que não vale a pena discutir o fenómeno de Fátima com quem nele não acredita. Ser católico é também saber fazer silêncio, respeitar e acolher quem pensa diferente, sem o mais pequeno sinal de despeito. Há, no mundo da graça, paradoxos que não se conseguem explicar, como a passagem do Evangelho elucida: pessoas com grande valor intelectual incapazes de vislumbrar a luz em determinadas situações; e pessoas sem estudos nem conhecimentos - a Alexandrina de Balazar, o índio de Guadalupe, a Irmã Faustina, a Lúcia, a Jacinta e o Francisco... - capazes de acolher o divino de forma extraordinária. Por que Se esconde Deus de uns e Se revela a outros? Cada vez compreendo melhor que tudo é graça, e que nem todos recebemos as mesmas graças, pois Deus é livre de distribuir a sua graça como mais Lhe apraz.

Nós não adoramos imagens, e a imagem peregrina não é diferente de nenhuma outra: ela aponta para a Mãe, como as fotografias nas nossas casas, expostas nas nossas cómodas e mesas, apontam para os nossos entes queridos. Na minha casa, as fotografias do Tomás - muitas, espalhadas por todos os quartos em abundância - ocupam lugar especial, e eu beijo-as ou sorrio-lhes muitas vezes. E nunca, até hoje, confundi a fotografia com o meu filho, que está no céu...

Receber a imagem peregrina em Anadia foi um pouco a experiência de ir a Fátima e de colocar no Coração da Mãe os nossos mais secretos anseios. Não é fácil rezar rodeada de filhos irrequietos, sobretudo quando nem todas as pessoas à nossa volta são capazes de acolher as crianças que circulam à vontade dentro de uma igreja. Mas a Mãe entendeu os suspiros do meu coração, mesmo quando não tive forma de os traduzir em palavras.

Na sua bela homilia, o nosso bispo relembrou-nos as primeiras palavras de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos: "Quereis oferecer-vos a Deus?" E recordou a sua resposta imediata: "Sim, queremos."

Maria, em Fátima, fez e continua a fazer o mesmo que durante toda a sua vida terrena: apontar para Deus, conduzir a Deus, facilitar Deus na nossa vida, trazer Deus para dentro das nossas histórias, das nossas dores, das nossas famílias:

 

"Fazei tudo o que Jesus vos disser." (Jo 2, 5)

 

 A missa terminou. A imagem saiu da igreja ao som de uma salva de palmas, seguida do terno cântico Avé de Fátima. Ah, que pena ter-me esquecido do lenço branco, o lenço do adeus! Mas Maria não parte. Ela está sempre na minha vida e na minha casa...

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publicado às 06:00


4 comentários

De FM a 13.04.2016 às 11:13

Adorei esta frase: Ser católico é também saber fazer silêncio, respeitar e acolher quem pensa diferente, sem o mais pequeno sinal de despeito.

Parabéns por ser como é

De Isabel Prata a 14.04.2016 às 18:32

"e que nem todos recebemos as mesmas graças, pois Deus é livre de distribuir a sua graça como mais Lhe apraz", eu que de Teologia sei nada, apesar disso parece-me esta frase muito suspeita, porque haveria Deus de agir assim?

De Teresa Power a 14.04.2016 às 19:20

Bem, Isabel, a mim parece-me que não é preciso saber muito de teologia para ver confirmada esta verdade na vida à nossa volta! Eu certamente recebi muito mais que os meus alunos de uma certa turma, que sofreram de abusos de toda a sorte... Eu fui protegida, eles não? Também é simples constatar que eu recebi muito menos que, por exemplo, o padre Pio, que tinha o dom da bilocação e da leitura de consciências...
De qualquer forma, se quiser fundamento bíblico para esta afirmação, veja 1Cor 12, 11; ou procure nos Evangelhos todas as parábolas de Jesus, em que se nota tamanha "desigualdade" no proceder divino, como o caso da parábola dos talentos (repare que, no final da parábola, o que já tinha dez fica com mais o talento do pobre coitado que só tinha um...), dos trabalhadores da vinha (por que razão uns são contratados ao amanhecer e outros ao anoitecer?), etc. Repare ainda na forma perfeitamente "arbitrária", ao nosso ver, com que Jesus chama uns para apóstolos e impede outros, que até tinham vontade de O seguir, de o serem (veja o caso do possesso libertado). Enfim, a Bíblia está cheia deste proceder "injusto" de Deus... Que não, de injustiça não tem nada, porque Deus é amor. Mas este blogue não pretende explicar estes temas exaustivamente nem sugar-lhes o mistério, apenas relacioná-los com a vida. Eu parto de um único princípio como garante da minha felicidade: tudo o que Deus fez e faz é muito bom (cf Gn 1, 25), quer eu entenda, quer não. Ab!

De Sónia a 15.04.2016 às 14:54

E é por tudo isto... Que eu gosto tanto de ti, de te ler, nunca saio deste blogue igual...saio sempre melhor, mais feliz! Abraço Teresa.

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