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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Sara, quantas vezes te disse que não se pode escrever na parede? E tu sempre a escrever! Ainda ontem limpei tudo, com tanto trabalho, e agora chego aqui e tenho a parede toda riscada!
A Sara não parece muito importada com a minha conversa. Aliás, fica até bastante ofendida, e reage de imediato:
- Já não te convido para a minha festa de anos!
Abafo uma gargalhada, mas decido entrar no jogo:
- Oh, Sara, que pena! E a tua festa de anos é em setembro, deixa lá ver, daqui a oito meses... Tens a certeza de que não me vais convidar?
- Não vou! - Continua ela, de mãos na cintura e a fazer beicinho.
- Bem, e se eu te preparar a festinha? Por exemplo, eu podia fazer o lanche, escrever os convites, pôr a mesa para os meninos, e até, imagina, arrumar tudo no fim...
Mas a decisão está tomada:
- Não convido!
Já não consigo evitar a gargalhada:
- Ainda tens tempo para mudar de ideias. E agora desaparece daqui, que tenho uma parede inteira para limpar!
A Sara vai então pregar para outra freguesia (e muito provavelmente pintar outras paredes):
Durante todo o dia diverti-me com esta ameaça da minha filha mais nova, tão segura do alto dos seus três anos. Mas à noite, já deitada, enquanto fazia o meu exame de consciência, assaltou-me um terrível pensamento: e se Deus não nos perdoasse os nossos pecados? E se, de cada vez que eu pecasse, eu fosse imediata e definitivamente excluída da festa eterna, essa festa em que espero viver daqui a muitos, muitos anos? E se de nada valesse oferecer-me para, ao menos, limpar os vestígios da festa, porque o meu pecado era imperdoável? Um pensamento destes é mais assustador que o pior dos pesadelos...
Será que já nos demos conta do que significa sermos perdoados? Num único instante, Deus apaga por completo o mal que fizémos e derruba o muro que construímos à nossa frente, abrindo-nos de par em par a Porta Santa da eternidade. E faz isto à custa do Sangue precioso de Jesus! Talvez estejamos tão habituados à ideia de que Deus perdoa, que nos esquecemos da imensa graça que significa essa simples afirmação. Diz S. Pedro:
"Fostes resgatados da vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens corruptíveis, como prata e ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro sem defeito nem mancha." (1Pe 1, 18-19)
O Cardeal Kasper explica o que significa "graça barata", essa falta de gratidão e de gestos correspondentes a que todos nós estamos sujeitos, se não meditarmos o suficiente neste mistério do perdão que Deus nos obteve na cruz:
"A palavra misericórdia pode ser mal entendida quando a misericórdia se confunde com uma débil indulgência e uma atitude de laissez faire. Surge então o perigo de fazer da graça divina - "comprada" e "merecida" por Deus na cruz a troco do seu próprio sangue - uma graça barata (...), isto é, o anúncio do perdão sem penitência, do batismo sem disciplina comunitária, da Ceia sem reconhecimento dos pecados, da absolvição sem confissão pessoal." (in: Misericórdia, Walter Kasper)
Que esta quaresma nos encha de gratidão perante o dom maravilhoso que o Senhor nos faz em cada dia, ao perdoar o nosso pecado, abrindo com o seu Sangue a Porta Santa que nos lança na festa eterna do céu! E que nenhuma penitência, nenhuma obra de misericórdia, nenhum sacrifício nos pareça excessivo perante este dom que supera todos os dons - este per dom, este perdão. Ámen!
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