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O telemóvel e a liberdade dos filhos de Deus

por Teresa Power, em 08.07.14

Cá em casa, só o pai e a mãe possuem telemóvel. O Francisco é o único adolescente de quinze anos que eu conheço que não tem telemóvel, mas também não deseja ter. Para quê? Os amigos conhecem o meu número de telemóvel e de casa, e telefonam quando querem:

- Boa tarde, posso falar com o Power? - Pergunta geralmente uma voz forte masculina (por enquanto...) do outro lado.

- Ó rapaz, Powers há muitos por aqui. Tens de ser mais específico! - Respondo na brincadeira, porque sei bem quem é o "Power" desejado.

 

Ontem, como de costume, o Francisco foi de bicicleta até à quinta onde monta a cavalo, e por lá ficou toda a tarde. Geralmente, costuma regressar entre as seis e as sete, mas ontem eram oito horas e ele ainda não tinha voltado. Confesso que eu já estava com o estômago às voltas, e na minha mente passavam algumas imagens pouco agradáveis, desde acidentes com cavalos, a acidentes com a bicicleta no caminho de regresso. Por fim, não aguentando mais a ansiedade, pedi ao Niall que fosse ver o que se passava. Ele foi de carro e voltou pouco depois, com um sorriso divertido na cara.

- O Frankie está a saltar obstáculos neste momento - Disse-me - Vi-o ao longe, e graças a Deus, ele não me viu. O que iria ele dizer? Portanto, fica descansada que ele há-de regressar.

E regressou!

 

Quando eu tinha a idade do Francisco, e tal como o Francisco, saía de casa para as minhas inúmeras actividades e regressava quando elas terminavam. Antes de sair, escutava os conselhos dos meus pais, e durante as minhas actividades, lembrava-me muitas vezes das suas palavras. No entanto, eu sabia que eles não estavam ali para me salvarem de qualquer situação, sabia que não era possível telefonar se me visse em apuros e sabia também que eles dificilmente iriam saber o que eu estava realmente a fazer com o meu tempo, fossem algumas horas ou alguns dias, como no caso dos campos de férias. Excepção, claro está, para acidentes.

Por outras palavras: eu era livre e, consequentemente, responsável. Livre e responsável para ser santa, e livre e responsável para pecar. A escolha, boa ou má, era minha. Se errasse, talvez a minha única testemunha diante de Deus fosse o meu anjo da guarda! Eu podia então abeirar-me do confessionário, com confiança, pedir perdão a Deus e recomeçar a minha vida com a certeza de que o meu passado estava apagado.

Olhemos agora para os adolescentes de hoje, que geralmente classificamos de livres, independentes e radicais. Que liberdade têm eles realmente? Haverá algum momento do seu dia em que estejam "incontactáveis", verdadeiramente por sua conta e risco? Haverá algum momento em que não se sintam controlados? Onde está a liberdade cristã, se os controlamos à distância através do telemóvel? E a responsabilidade, que só nasce no solo da liberdade? Se errarem, será que podem mesmo recomeçar do zero? E as dezenas de fotos no Facebook e nos telemóveis a guardar (save) para sempre o seu pecado? Que fizémos nós da misericórdia do Bom Pastor?

 

"Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu não me farei escravo de nada." (1Cor 6, 12)

 

Assim explicou S. Paulo, falando da liberdade e da responsabilidade. Outro dia, fiquei agradavelmente surpreendida quando o Francisco me disse:

- Sabes, mãe, às vezes escuto os meus colegas, e dou-me conta de que tu me dás mais liberdade do que eles têm.

Admirei-me, porque objectivamente falando, não me parece verdade! O Francisco não tem Facebook, não tem telemóvel, nunca foi a uma discoteca, e tem uma série de obrigações a cumprir, das tarefas domésticas ao estudo, da missa à oração familiar. O que é que faz com que ele não as sinta como obrigações, mas antes as viva como responsabilidades naturais?

Mas também é verdade que desde os doze anos o Francisco - para grande espanto dos seus amigos e dos pais dos seus amigos - vai para todo o lado de bicicleta, sozinho, e passa tardes inteiras em casa de amigos ou em cima dos cavalos, sem telemóvel...

 

 

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publicado às 07:13


8 comentários

De Carolina Maria a 09.07.2014 às 19:47

Infelizmente estão mesmo a desaparecer. Eu só conheço os seus filhos. Tenho uma prima com 15 anos com quem me relaciono como se fosse minha irmã. Pode ser muito querida, um amor de pessoa mas não lhe tirem o telemóvel nem lhe mandem limpar a casa, até pode limpar se for obrigada mas não sem primeiro resmungar...
Muito obrigada pelo convite mas este fim-de-semana não vai ser possível. O meu namorado trabalha numa empresa de eólicas e tem de ficar sempre uma equipa de prevenção nos fins-de-semana, e este calhou-lhe a ele e ao colega. Assim, não se pode afastar de casa mais do que 50km.
Eu sou de castelo branco. Mas estamos ambos a viver no Soito, concelho do Sabugal.
Um beijinho para todos

De Teresa Power a 09.07.2014 às 20:43

Também sou de Castelo Branco :) mas devo ter saído de lá quando a Carolina era pequenina! Bjs e até uma próxima... O retiro é um bom trampolim para o início de uma família "bem educada"!

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