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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No domingo passado, de manhã cedo, o Niall encontrou os quatro filhos mais novos empoleirados no frágil portão que separa o jardim do pátio. Estavam divertidíssimos, rindo à gargalhada e fingindo que o portão era um baloiço.
- Meninos, que é isso? SALTEM IMEDIATAMENTE DAÍ! - A voz do Niall não deixava margem para dúvidas: estava mesmo, mesmo zangado.
Os meninos saltaram para o chão, com ar comprometido e cabeças baixas. Mas já era tarde: o portão estava partido.
- Quantas vezes vos avisei de que o portão não é um baloiço? E agora, o que faço?
Depois, o Niall olhou para o David:
- Tu és o mais velho dos quatro. Não sabias que não podias fazer esta brincadeira estúpida?
O David acenou com a cabeça, muito sério. Ele sabia. Sem proferir palavra, afastou-se para se arranjar para a missa, porque estávamos quase na hora de sairmos para o santuário.
Alguns minutos mais tarde, entrei no carro com o Francisco, a Clarinha, o David e a Lúcia. O Niall, como costume, iria mais perto da hora da missa com a Sara e o António, que ainda não fazem parte do coro. Quando, portanto, o Niall chegou ao santuário, já o David estava na sacristia, para se preparar para servir o altar como acólito. O Niall engoliu em seco: como iria concentrar-se na Eucaristia sem fazer as pazes com o David? Como lhe iria comunicar o seu perdão e fazê-lo sentir-se amado? A missa estava quase, quase a começar...
Cântico de entrada. O David entrou no santuário ao lado do senhor padre e ocupou o seu lugar junto do altar. "Talvez ele olhe para mim, e com um só olhar farei com que perceba que está tudo bem", pensou o Niall, cheio de esperança. Ao longo de toda a Eucaristia, o Niall tentou, em vão, cruzar o seu olhar com o David. Mas o David é um rapazinho muito sério e muito compenetrado, que durante a missa apenas olha para os outros acólitos para tentar perceber se está a fazer tudo corretamente.
Pouco a pouco, o Niall deixou-se invadir por um outro pensamento; e do olhar do David passou para o seu próprio olhar. Quantas vezes desviamos o nosso olhar do Senhor, ocupados com tantas outras coisas, ou envergonhados das nossas ações? Não andará o Senhor desesperadamente à procura do nosso olhar, como o Niall à procura do olhar do David? Que gestos, que sinais nos fará Ele, procurando, em vão, que cruzemos o nosso olhar com o seu?
Ah... Tudo o que Deus nos quer dizer é que sim, que já fomos perdoados, que Ele não guarda ressentimento, que há muito esqueceu o nosso pecado... tudo o que Deus nos quer dizer é que podemos regressar a Casa.
Afinal, na história que Jesus contou, não foi isso mesmo o que o pai do filho pródigo fez o tempo todo que o seu filho se ausentou? A cada entardecer, o pai subia a colina e prescrutava a distância, esperando cruzar o seu olhar com o de seu filho. Foi assim que...
"Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos..." (Lc 15, 20)