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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Os meus filhos mais novos adoram brincar às escondidas. Mas enquanto o David, a Lúcia e o António procuram lugares onde se esconder, a Sara tem uma técnica muito mais simples: tapando os olhos com as mãos, deixa de me ver, concluindo do alto dos seus dois aninhos que consequentemente, eu também deixo de a ver. Assim, ela grita como os irmãos:
- "Já está!"
E fica calmamente à espera, de olhos bem tapados, enquanto eu percorro o jardim à procura dos irmãos.
Outro dia, durante a brincadeira, recordei-me de Adão e Eva, também eles escondidos de Deus num jardim:
"Ouviram, então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde, e logo se esconderam do Senhor Deus, por entre o arvoredo do jardim. Mas o Senhor chamou o homem e disse-lhe: «Onde estás?»" (Gen 3, 8-9)
Adão e Eva eram mais velhos do que a Sara, mas ainda assim, pensaram que Deus não os conseguia ver porque eles não O conseguiam ver a Ele.
O Papa Francisco conta com frequência a história da sua avó, da forma como a sua avó o ensinou a viver na presença de Deus, repetindo-lhe constantemente: "Olha que Deus te vê." E eu penso cá para comigo que, se estivessemos sempre conscientes de que Deus nos vê, não pecaríamos tanto!
Na verdade, Deus contempla-nos continuamente com um olhar de amor, e vigia cada um dos nossos passos. Podemos esconder-nos sob a folhagem da vida, como Adão e Eva, ou simplesmente tapar os olhos, como a Sara, mas mesmo assim, continuamos presentes diante do seu olhar. Aliás, foi neste olhar que começámos a existir e a ser amados, antes ainda da Criação do mundo, é neste olhar que iremos viver até ao fim, e é neste olhar que iremos ser julgados um dia.
Hoje assistimos a uma crescente necessidade das pessoas exporem as suas vidas ao olhar do mundo, através de "reality shows" e concursos, onde se procura brilhar e conquistar a fama à custa do nada, à custa das intrigas da vida, ou à custa dos talentos de cada um. Ao mesmo tempo, cresce o medo deste olhar divino. No entanto, este olhar é o único que nos pode curar e libertar, porque não é um olhar interesseiro, intriguista ou curioso, mas um olhar profundamente amoroso.
Eu não conheço melhor forma de tirar as mãos dos olhos e expor a minha vida e o meu coração ao olhar amoroso do Senhor do que o sacramento da confissão. Ali, sou convidada, como Adão e Eva foram (e recusaram), a confessar um a um os meus pecados, e a fazê-lo na minha individualidade, a sós diante de Deus, representado no sacerdote. Ele já conhece o meu pecado, sim, como eu também sei onde a Sara se esconde... Mas eu preciso de destapar os olhos para enfrentar o seu olhar e acolher o seu amor! Então, como o Rei David cantou no salmo 50, redescubro a alegria da salvação...