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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O António estava sentado no banquinho da casa de banho, mentalmente preparado para a aborrecida tarefa que se ia seguir; e eu procurava na caixa o pente mais ajustado para colocar na máquina de cortar cabelo.
- Que aborrecimento, está sem carga! - Desabafei, enquanto ajustava o pente. - António, acho que não te posso cortar hoje o cabelo. O Francisco tinha tanto cabelo que a máquina ficou sem carga depois do corte de ontem.
Enquanto retirava o pente da lâmina, liguei sem querer a máquina, que uma vez sem pente, começou a trabalhar.
- Olha, já dá! - Exclamei. E com a pressa de aproveitar o bocadinho de energia da máquina, encostei a lâmina à cabeça do António e cortei. Só quando vi os cabelos a cair no chão é que me lembrei que acabara de retirar o pente, e portanto, o que fizera na cabeça do António fora semelhante ao acto de barbear alguém. Com um grito, atirei com a máquina para o chão e abracei o meu filho.
- Desculpa, António!
- Porquê? Cortaste-me? Não me dói!
- Não, filho, não te cortei... Cortei o teu cabelo, isso sim, um pouco, bem, um bocadinho demais... Ai o que eu fiz!
Atraídos pelos meus gritos, os irmãos entraram na casa de banho. Olharam para o António com olhos muito abertos, e depois soltaram uma gargalhada:
- Assim é que tu estás na moda, António! - Disse-lhe o Francisco, dando-lhe uma palmada amigável nas costas. Depois murmurou-me ao ouvido: - Tens sorte não me teres feito isto a mim...
Mas o António não pareceu muito afectado com o corte moderno. Dando-me um grande abraço, descansou-me:
- Não faz mal, mamã. Não fizeste de propósito! E eu ainda sou o António, não sou?
O perdão instantâneo do António lembrou-me como é simples a vida quando não estamos presos à moda, ao que os outros vão dizer, à ditadura do espelho; mas mostrou-me principalmente como tudo se descomplica quando não duvidamos da bondade do nosso Pai, que nunca fará nada para nos magoar "de propósito". Por fim, também eu consegui dar uma gargalhada.
A C. é uma leitora assídua do blogue. Antes do verão passado, a C. também ficou sem cabelo - não apenas num rectângulo bem definido da cabeça, mas na cabeça inteira... Não por descuido, mas por causa da quimioterapia... Quando partilhou um bocadinho da sua jovem vida comigo, através do mail, pediu-me oração. Temos rezado por ela em família todos, todos os dias! Na semana passada, a C. deu-nos uma boa notícia: os tratamentos para o cancro estão a resultar! Em breve, o seu cabelo voltará a crescer.
Este post, C., é para ti, em acção de graças contigo, e para todos os leitores que, como tu, estão doentes. Sejamos todos capazes de acreditar na bondade do Senhor, que nos assegurou:
"Não se vendem dois passarinhos por uma moeda? E nenhum deles cairá no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais, portanto, pois valeis muito mais do que os passarinhos." (Mt 10, 29-31)
No dia em que acreditarmos verdadeiramente na bondade de Deus, que conta os cabelos da nossa cabeça e nos trata pelo nome - nesse dia seremos felizes...