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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Há uns anos atrás, numa reunião de catequistas, conversávamos aqui em casa sobre o desconhecimento que as crianças têm da Palavra de Deus. Nessa altura, eu partilhei o que fazíamos em família - como todos os dias contávamos aos mais novos uma história da Bíblia (podem assistir a alguns vídeos gravados cá em casa "A Bíblia em Família" aqui), e meditávamos com os mais velhos as leituras da missa diária.
- As três leituras? Do Antigo Testamento também? - Admiraram-se alguns catequistas.
- Sim, claro! O missal tem uma pequena introdução a cada leitura, ajudando-nos a entender o seu sentido.
- E as histórias da Bíblia... São apenas as dos Evangelhos, certo?
- Não, são do Antigo Testamento também!
- Mas o Antigo Testamento não está cheio de violência? O Deus do Antigo Testamento não é um Deus duro e autoritário, de longas barbas brancas?
- O Deus do Antigo Testamento ... é o Pai de Jesus!
Depois desta conversa, o nosso pároco desafiou-me a preparar alguns textos para as crianças da catequese, ligando o Antigo e o Novo Testamentos numa mesma imagem de Deus. Dei uma gargalhada: quem sou eu para escrever sobre a Bíblia? Nunca estudei teologia! Mas o senhor padre insistiu. Finalmente, timidamente, aceitei o desafio. E fui descobrindo que a Palavra de Deus não foi escrita para os especialistas discursarem sobre ela, mas para os crentes a poderem viver. Fiz uns primeiros rascunhos, o senhor padre criticou e fez sugestões, e assim nasceram Os Mistérios da Fé, que utilizámos em várias sessões de catequese antes ainda de publicar. Os livros estão escritos como meditações para adultos, mas contêm sugestões de adaptação às crianças e aos jovens, sendo por isso uma forma de trabalhar a Palavra em família.
Escrever sobre a Palavra de Deus foi uma autêntica aventura na Terra de Jesus! À medida que escrevia, consultando obras escritas e fontes digitais, um universo novo foi-se abrindo diante de mim. Para poder escrever um livro - para poder escrever três livros -, com seis crianças e uma profissão, foi preciso muita disciplina, aproveitando quaisquer dois minutos seguidos do meu dia. A Palavra de Deus estava assim o dia inteiro na minha cabeça e no meu coração, e os textos iam ganhando forma enquanto dava banhos, descascava batatas, estendia roupa, vigiava testes de avaliação e exames, ou conduzia. Escrevi grande parte do primeiro volume durante a licença de maternidade do António, e grande parte do segundo, da Sara. Às vezes escrevia com eles ao colo ou a mamar, utilizando apenas uma mão. Outras escrevia enquanto, com o pé, embalava o berço. Às vezes eles choravam e queriam ouvir a minha voz, e para os acalmar, eu lia em voz alta o que ia escrevendo. E resultava! O Francisco e a Clarinha riam-se:
- Quando a Sara aprender a falar, vai dizer o nome de Jesus antes de "mamã"!
Mas a Sara disse primeiro "mamã".
De tal maneira vivia centrada na Palavra, que um dia, numa aula, e numa altura em que preparava uma história sobre Abraão e o seu filho Isaac, tive este diálogo caricato:
- Isaac, vem ao quadro!
- Isaac, professora? Quem é esse? Eu sou o Ivan!
Houve dias em que a descoberta de uma história até então desconhecida, de uma Palavra surpreendente, de um texto especialmente tocante, me fez pegar no telefone e falar com o Niall, interrompendo o seu atarefado dia de trabalho:
- Niall, nem imaginas o que aconteceu!
- Estou a trabalhar, sabes...
- Foi com David.
- O David? Está doente?
- Não, não é o nosso David. O rei! O rei de Israel!
- Isso não foi há muito tempo? Não dá para contares quando eu chegar a casa?
Mas o Niall ouvia-me sempre, mesmo no meio do seu agitado dia de trabalho. E à noite, partilhávamos o nosso entusiasmo com os nossos filhos, que também aprenderam a escutar e a amar a Palavra de Deus mais intensamente.
Quando surgiram as Famílias de Caná, compreendemos que a Palavra de Deus tinha de ser central no movimento. Descobrir - ou redescobrir - a Bíblia em família, tornar a Palavra de Deus Palavra quotidiana em nossas casas, referirmo-nos a ela nas nossas conversas, pensar sobre ela ao longo do dia e rezar a partir dela precisa de se tornar usual para um cristão. Lendo os testemunhos que ontem foram partilhados na caixa de comentários, não posso deixar de me sentir feliz e de agradecer a Deus a Palavra que Ele nos tem dado, desde Abraão, e que encarnou plenamente no seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador. Porque é esta Palavra - e não os ensinamentos que eu vou fazendo no retiro - que faz milagres. Não tenho qualquer ilusão! Só Jesus salva.
O terceiro volume de Os Mistérios da Fé está pronto. Falta a introdução, e é para ela que eu preciso da vossa ajuda. Já conhecem os dois primeiros volumes? Já trabalham os textos em família, contando as histórias aos mais novos, realizando as actividades propostas, meditando em casal e individualmente sobre as passagens bíblicas? Deixem o vosso testemunho, e a vossa autorização para o publicar!