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S. José e a alegria da renúncia

por Teresa Power, em 19.03.15

Hoje é dia de S. José. Cá em casa, a expetativa era grande, construída num crescendo ao longo de todo o mês: hoje de manhã o dia deveria começar com uma pequena festinha no Centro Social, onde o Niall, no meio de muitos outros pais, iria escutar o António e a Sara, no meio de muitos outros meninos, a cantar, a rezar e a festejar S. José. Depois receberia a sua prendinha, preparada pelos filhos com amor. Tudo isto seria logo pelas nove horas, para não atrasar o dia de trabalho dos pais. O António ansiava pelo momento:

- Mamã, posso cantar-te a canção do pai? Mas não digas nada ao papá, que é para ser surpresa!

Foi assim que eu fiquei a saber como era a linda canção. Cúmplice, prometi-lhe que não iria contar nada ao papá, e repeti-lhe que o papá iria adorar escutá-lo.

Mas o papá não vai poder estar na festinha. Ontem recebeu uma convocatória para uma reunião importantíssima, a que não pode faltar de maneira nenhuma, porque é uma reunião extraordinária na Reitoria. E a reunião está marcada para as nove horas em ponto... Sim, as nove horas em ponto do dia do Pai! Pela primeira vez em quinze anos, o Niall não estará presente na Festa do Pai dos meninos.

Tanto eu como o Niall já faltámos a vários compromissos de trabalho e fizemos muito malabarismo com várias "bolas" no ar por causa dos nossos filhos; mas nem sempre é possível, e quando de todo não é, precisamos de aprender a desdramatizar, e de ensinar a desdramatizar: como tudo na vida, também estes momentos passarão, pois só o amor permanece... Triste, o Niall tentou explicar à Sara e ao António que não vai poder estar na festinha, mas que vai estar com eles no coração, e que à noite a festa cá em casa será a dobrar. O António aceitou com simplicidade, e a Sara continuou a brincar.

DSC01288.JPG

S. José é um santo muito especial. Ele foi tão importante na vida de Jesus, que as pessoas identificavam Jesus como "o filho do carpinteiro", como nos recordou o senhor bispo no nosso retiro de Famílias de Caná. S. José é modelo de pai, de trabalhador, de cristão. Mas a santidade de José foi toda feita de renúncia, e é por isso que se torna tão bela. Escreveu Hans Urs von Balthasar:

"José atravessa o limiar do Novo Testamento apenas como alguém que renuncia." (Maria, a Primeira Igreja)

José viveu renunciando, renunciando, renunciando. Renunciou ao sonho de ser pai segundo a carne; renunciou ao sonho de ver o Menino Jesus nascer na sua casa e adormecer no berço que, com tanto cuidado, certamente preparara para Ele; renunciou ao sonho de trabalhar e viver na sua terra, para viver alguns anos como emigrante e refugiado; por fim, renunciou ao sonho de ver Jesus partir para a sua vida de pregação, anunciando o Reino de Deus. O Evangelho, na verdade, dá-nos a entender que José terá morrido antes de Jesus sair de casa, e portanto, antes de ver cumpridas as profecias que envolviam a vida do seu querido filho. Mas foi precisamente no meio da sua constante renúncia que José experimentou a alegria infinita de viver lado a lado com Jesus...  Que mistério!

 

O António e a Sara vão fazer a sua festa, renunciando à alegria da presença do pai; o Niall vai fazer a sua reunião, renunciando à alegria de estar presente na festa dos filhos. E os três irão dar imensa alegria a Deus, porque irão ser capazes de oferecer a sua pequena renúncia, em união com as pequenas e as grandes renúncias de S. José, para que o Reino de Deus cresça no mundo.

 

"Quem quiser  seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.

Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de Mim, esse salva-la-á." (Lc 9, 23-24)

 

S. José, rogai por nós!

 

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publicado às 06:20


10 comentários

De ana santos a 19.03.2015 às 08:46

Assim, lido desta maneira até parece muito simples, talvez não simples mas acessível, mas depois, no dia a dia não é simples, nem acessível, por vezes parece-me mesmo impossível eu conseguir seguir Jesus, sem desesperar com a minha cruz.
Obrigada Jesus por nunca desesperares comigo...

De Olívia a 19.03.2015 às 10:31

Cá em casa nunca dramatizamos acontecimentos como estes, afinal elas sabem que o pai gosta delas independentemente dos dias em que as vê. Por exemplo esteve ontem em casa, mas hoje não virá... ambas ficaram com muita pena, mas na sexta faremos a festa! Com prendinhas especiais e muitos mimos!
Sei que os meninos gostam de ver o seu pai/mãe nesses dias na escola e reparam que o pai de A, B não estava lá... mas desde cedo que aprenderam que o mais importante é o ano inteiro e não apenas no dia do Pai!
Beijinhos a todos! Em especial ao super pai Niall

De Carla a 19.03.2015 às 12:02

Também a Matilde vai trazer a prenda do dia do pai, que preparou com tanto a amor e carinho, e não vai ter o pai para oferecer; também a Matilde vai ter a sua apresentação de ginástica hoje, no dia do pai, e não vai ter o pai para ver. Também a Marta e a Matilde não tiveram o pai muitas vezes na mesma festinha do António e da Sara.
Algumas lágrimas no dia em que se soube que o pai não estaria neste dia, mas muita compreensão.
A vida é feita de renuncias e será com toda a certeza no futuro deles. Estas pequenas renuncias ajudam-nos a crescer e a entender que é necessário fazer algumas cedências e a compreender que o mundo não gira à volta deles, nem da sua vida.
Triste, difícil claro que si, para filhos e pais. Mas enriquecedor do ponto de vista do crescimento e da educação para o amor e para a partilha, que também é de tempo e de pessoas, pois na realidade estão a partilhar o pai com outras pessoas que nem sequer conhecem.
Que S. José seja sempre o modelo de pai das nossas famílias. Feliz dia do Pai para todos os pais e filhos, Bjs Carla

De Talita a 19.03.2015 às 16:05

Que lindo testemunho! São José, rogai por nossas famílias, guardai-nos como fizeste com a Sagrada Família de Nazaré! Amém!

De Anónimo a 19.03.2015 às 19:08

S. José rogai por nós! E abençoa todas as famílias, principalmente as que estão em maiores dificuldades (de relacionamento, económicas, falta de saúde,...)!

De Helena a 20.03.2015 às 14:04

Eu sinto alguma "tristeza" pela inadaptabilidade da nossa sociedade ao fato de existir família. A "obrigação" de pai devia poder sobrepor-se a determinadas circunstância. E sou capaz de apostar que houve quem tivesse chegado atrasado e a reunião começou mais perto das 9h30min.
Se a maioria dos pais tivesse mais tempo para os filhos não trabalhavam mais felizes?

Leio o seu blog e tenho andado para perguntar sobre o que pensa... Sei que ao me casar pela igreja reconheci perante Deus o sacramento do matrimónio. Este tem um pressuposto que desta família que nasce, deverão nascer frutos.
Na sua opinião, eu e o meu marido somos menos família porque não conseguimos ter filhos, nem pretendemos fazer tratamentos para os ter e não queremos adoptar? Não devemos participar na Igreja porque não podemos ter filhos?
Não sou católica só quando me apetece. Sou participante ativa da minha comunidade, da minha paróquia e tenho vivido esta angústia de me estar a ser "vendida" a ideia do fruto e não o conseguir cumprir. Muitas vezes sinto-me mal na minha Igreja porque estou sempre a ouvir que é minha "obrigação" e nunca me senti compreendida na minha Igreja.

De Teresa Power a 20.03.2015 às 14:48

Bem vinda aos comentários :) Primeiro, sobre a reunião, queria explicar que o Niall vive a três quartos de hora do local de trabalho (de manhã, com trânsito), pelo que a reunião ser às nove ou às nove e meia era indiferente - teria sempre de sair de casa bem antes das nove! Se vivesse perto do trabalho, sem dúvida que teria chegado atrasado à reunião, por uma bela causa...
Agora a sua questão: não conseguir ter filhos não é, de forma alguma, criticado pela Igreja! Como poderia ser? Deus está tão presente na vossa vida e no vosso matrimónio como na vida da família Duggar, com os seus dezanove filhos. Não tenha qualquer dúvida quanto a isto! A Igreja fala sobre a contraceção e sobre as formas pouco éticas de lutar contra a esterilidade, não fala na condição de um casal que, contra a sua vontade, não consegue ter filhos biológicos. Jesus veio dizer-nos que não importam as nossas circunstâncias, importa a nossa abertura à vontade de Deus; e que Deus tira o bem de tudo, tudo mesmo! Fico triste por haver quem a faça sentir mal acolhida na Igreja. Que pena essa pouca compreensão do cristianismo e da novidade trazida por Deus! Que o Senhor vos abençoe e vos faça sentir o seu amor! Ab

De Teresa Power a 20.03.2015 às 17:19

Quando falei em pouca compreensão não me referia a si, mas a quem a faz sentir rejeitada por Deus! Expliquei-me mal - nestes dias de avaliações e fins de período escolar, os professores andam um pouco cansados e trocam as palavras :)

De carla a 20.03.2015 às 18:08

Helena, peço desculpa deste meu comentário, mas não pude deixar de pensar no que escreveu. Deus dotou-nos de uma capacidade chamada liberdade. Vocês têm a liberdade de fazer as vossas opções relativas aos filhos. Não deveria haver ninguém que, de uma forma ou outra, pudesse condicionar essa liberdade, muito mais uma comunidade religiosa. Talvez Deus vos tenha colocado nessa comunidade para mudar mentalidades, atitudes e comportamentos. Talvez a vossa missão não seja ter filhos, mas outra qualquer que ainda não descobriu. Confie e encontrará a resposta. Em tom de brincadeira atrevo-me a dizer que há mais vida para alem dos filhos..... bjs e ânimo.

De Anónimo a 21.03.2015 às 01:45

Também uma pequena nota quanto ao comentário da Helena (hesitei se devia escrevê-la ou não, pois uma parte de mim sente que se está a intrometer numa conversa a que não foi chamada). Muitas vezes tenho participado em encontros de preparação para o matrimónio. E quando chego a essa parte dos frutos, já depois de ter esmiuçado o que é um casamento vivido como sacramento, digo sempre que (i) o primeiro fruto é o crescimento pessoal, individual; (ii) o segundo é o crescimento como casal, o amadurecimento da relação; (iii) o terceiro são os filhos, se os houver; (iv) o quarto é a luz que irradiamos para fora do núcleo familiar, seja por simplesmente acolhermos ou por contribuirmos activamente para o crescimento de quem nos rodeia. Digo isto tudo aos noivos não (só) porque o ouvi e li, mas sobretudo porque o tenho experimentado na minha vida. O ponto onde eu queria chegar é que os frutos do casamento cristão vão muito para além da questão dos filhos, i.e., a fecundidade não é só biológica.
Margarida

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