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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
A Lúcia detesta que eu a penteie. Assim que me aproximo com a escova, começa a refilar e a fazer birra, queixando-se de que a estou a magoar antes ainda da escova lhe tocar na cabeça. Com muita calma e muito jeito - acho eu - lá lhe vou desembaraçando os cabelos, enquanto repito:
- Não dói nada, Lúcia!
Mas ela responde-me sempre da mesma maneira:
- Dizes isso porque não és a Lúcia. Se tu eras a Lúcia, vias como dói!
Educar uma criança é dizer-lhe muitas vezes para se colocar no lugar do outro, e ver como dói. Tiraste as peças do lego ao António? Imagina que és o António... Não ia ser nada agradável, pois não? Bateste no David? Irias gostar que te batessem também? Comeste os chocolates todos... Como seria se fosses tu a ficar sem o chocolate que te era devido?
O mundo está cheio de adultos que não são capazes de se colocar no lugar do outro, e ver como dói. E educam os filhos nesta escola de egoísmo. Os exemplos estão nas mais banais situações do quotidiano:
Vejo por todo o lado pais muito preocupados com o bem-estar dos seus filhos, e muito pouco com o bem-estar dos filhos dos outros. Acompanhando os filhos ao autocarro que os levará a uma visita de estudo, segredam-lhes ao ouvido: "Despacha-te para apanhares o melhor lugar!"
Na escola, reparo como são poucas as crianças que se afastam quando eu, professora, quero passar pela mesma porta ao mesmo tempo. Deixar passar um adulto primeiro é um princípio de boa educação, mas é sobretudo um princípio cristão: o outro, seja ele pobre ou rico, negro ou branco, professor ou aluno, está sempre em primeiro lugar!
E de todas as sete vezes em que estive grávida, poucas foram as ocasiões em que, no hipermercado, alguém me cedeu o lugar na fila para pagar.
Se não nos conseguimos colocar no lugar do outro - "in his / her shoes", nos seus sapatos, como se diz em inglês - em situações tão singelas, como conseguiremos em situações realmente importantes?
Um dos objectivos do jejum quaresmal é ajudar-nos a imaginar como a pobreza dói. É que, enquanto eu me empanturro com chocolate, os meus irmãos que vivem na pobreza não têm um copo de leite para dar aos filhos.
E é deste jejum que pode então nascer a esmola quaresmal. Diz o Papa Francisco na sua mensagem para esta quaresma: "Desconfio da esmola que não custa nem dói."
Queremos um modelo de fraternidade? Que melhor modelo do que o próprio Deus? Desejoso de nos mostrar o caminho da felicidade, "calçou" muito mais do que os nossos "sapatos": assumiu a nossa carne, e não contente com isso, assumiu a carne do último dos homens, o Condenado fora dos muros da cidade, o Crucificado. A partir da Cruz de Jesus, nenhum ser humano à face da Terra está sozinho, pois sofrendo na sua pele, está o próprio Deus.
Na quaresma, medito muitas vezes neste belíssimo hino de S. Paulo, que gosto de repetir de cor:
"Cristo Jesus, que era de condição divina,
não se valeu da sua igualdade com Deus,
mas esvaziou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,
tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem,
humilhou-Se ainda mais,
obedecendo até à morte, e morte de cruz!
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes,
para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem,
no céu, na terra e nos abismos,
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
para glória de Deus Pai!" (Fl 2, 6-11)
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