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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No sábado, a Aldeia de Caná de Mogofores reuniu para mais um encontro de adoração. Que alegria! Depois da catequese, as Famílias de Caná dirigiram-se à capelinha do santuário, dispuseram as cadeiras em roda e espalharam almofadas pelo chão. Depois o padre Gabriel expôs o Santíssimo, enquanto todos cantámos e louvámos o Senhor.
Em silêncio ou em voz alta, fomos rezando diante do Senhor. Depois, sentados, escutámos um belíssimo ensinamento feito pelo João e a Isabel. Falaram-nos do amor apaixonado de Deus, tal como Oseias, o profeta, o experimentou, o contemplou e o comunicou a Israel:
"O Senhor disse-me: 'Ama de novo uma mulher que foi amada pelo seu amigo, e que foi adúltera.' Pois é assim que o Senhor ama os filhos de Israel, embora se voltem para outros deuses e gostem das tortas de uvas." (Os 3, 1)
Somos tão infiéis para com Deus como uma mulher adúltera para com o seu marido. Mas o Senhor nunca desiste de nós, não nos repudia, não nos abandona no nosso pecado. A cada queda, a cada traição, o Senhor vem procurar-nos com paciência e imensa ternura. Oseias viveu isto na pele, aceitando a sua mulher de volta depois de cada traição porque a sua vida devia espelhar o amor do seu Senhor. Que mistério!
Enquanto os mais crescidos meditavam neste amor louco de Deus, os mais novos coloriam o desenho representando Oseias e a mulher adúltera, ou Deus e Israel, que o João e a Isabel distribuiram. Uma sopa de letras com palavras relacionadas com o tema completou a atividade, mantendo as crianças bem ocupadas durante a oração do terço, que fizemos seguidamente. Que bonito foi!
Rezámos pela França invocando os seus santos padroeiros, desde Santa Joana d'Arc a S. Martinho, do casal Martin à sua filha Teresa de Lisieux, de Santa Margarida Maria ao Santo Cura d'Ars, numa oração que a Helena nos trouxe. França tem tantos santos! Certamente que, do céu, intercedem pelo seu país com fervor, unindo a sua oração à nossa e à de tantos homens e mulheres de boa vontade. Que os santos de França sejam faróis a iluminar o seu país também na forma de reagir, respondendo ao ódio com amor, às armas com a paz.
Rezámos ainda pelos países em guerra, onde cenas de terrorismo gratuito como a que aconteceu em França têm lugar várias vezes por dia, vários dias por semana, sem que nós, europeus, disso nos apercebamos... Rezámos pelas famílias, rezámos pela paz.
Terminámos com o Shemá, a Consagração à Mãe de Caná e a bênção do Santíssimo. Depois, foi preciso arrumar a capela, pois o chão estava coberto de desenhos e lápis de cor:
Já em casa, enquanto estendia um alguidar cheio de roupa à luz das estrelas, eu pensei na maravilha que é isto de podermos desenhar no chão com Jesus por perto... Crescer à sombra do Santíssimo é uma graça que não conseguimos calcular! Deus é tão simples, que não se importa que as nossas crianças Lhe manifestem o seu amor com desenhos e lápis de cor; mas é bem mais grandioso que uma noite estrelada, e as próprias crianças sentiam a majestade de Deus enquanto desenhavam em silêncio e continham a sua vontade de fazer barulho. Alguma vez, durante a eternidade, tomaremos realmente consciência do que acontece quando Jesus Se nos entrega no Pão? Só um Deus apaixonado Se dá assim...
Quintas-feiras, os meus quinze minutos de oração são passados na igreja da Moita, perto da minha escola, onde o Santíssimo está exposto o dia inteiro. Ontem não foi exceção.
Cheguei à igreja cansada, com uma mala cheia de testes por corrigir, no intervalo entre uma aula e uma reunião. Vinha cheia de pressa, desejosa de aproveitar bem este tempo privilegiado diante do meu Senhor.
Entretanto, no banco da frente, duas pessoas passavam o turno: a senhora de cabelos brancos levantou-se, benzeu-se com água benta e saiu da igreja, enquanto o senhor também idoso se ajoelhou no seu lugar, apoiou a cabeça entre as mãos e ficou imóvel, a rezar. Que bonito, pensei... Fez-me lembrar a passagem de turno das guardas de honra dos monumentos nacionais. Com que solenidade os membros do exército executam a sua tarefa! Mas haverá maior honra do que guardar o Senhor sacramentado? Haverá monumento nacional que iguale em honra o mais tosco dos altares do Senhor? Sorri diante desta "guarda de honra" humilde e pobre, na simplicidade da igreja paroquial. Senti-me também eu como um "soldado de Cristo", por breves momentos contratado para este cargo maravilhoso de vigilante... No íntimo do meu coração assomaram as palavras do salmo 131:
"A minha alma anseia pelo Senhor,
mais do que a sentinela pela aurora..."
Olhei para o relógio: só me restava cerca de um minuto de oração, ou corria o risco de chegar atrasada à reunião. Um minuto! Levantei os olhos e disse a Jesus tudo o que Lhe queria dizer, muito depressa, para não faltar nada. Depois, também eu me benzi com a água abençoada, fiz uma genuflexão profunda e lenta e saí da igreja. De novo me assaltou a grandeza do milagre que acabava de acontecer: ali estava eu, simples mortal, com acesso direto e ilimitado à mais alta realeza do universo, com direito a dizer tudo o que quisesse ao Rei dos Reis, sem necessidade de marcação de audiências ou qualquer outra burocracia... Quem, senão o Senhor?
Ah, fazemos tão pouco uso dos nossos privilégios de Filhos de Deus...
- Vens muito bonita hoje, Lúcia, com uma coroa na cabeça! Quem ta deu?
- Fui eu que fiz no retiro!
- No retiro? Onde foste tu no fim-de-semana? Conta lá!
- Fui ao retiro. Lá ouvimos uma história muito bonita sobre a rainha Ester. Ela foi uma rainha verdadeira porque foi muito humilde.
- Ah...
Esta conversa aconteceu à chegada ao colégio, segunda-feira de manhã. A Lúcia e o António insistiram em levar as suas coroas para mostrar aos colegas e aos professores como eram bonitas. E segundo me contaram, todos os seus amigos ficaram com pena de não terem ido também ao retiro à Quinta do Conde!
A Bíblia é um verdadeiro livro de histórias para todas as idades. Não há nenhuma criança que não goste de escutar uma história da Bíblia, bem contada e bem dramatizada, tal como merece a tradição oral na base do texto escrito. Na verdade, os povos antigos conheciam o poder de uma boa narração, essencial para que a história não perdesse beleza, ritmo e conteúdo ao ser transmitida, oralmente, de geração em geração!
No retiro do dia 27 de setembro, na Quinta do Conde, as crianças e os jovens trabalharam em cinco grupos diferentes, segundo as suas idades. Todos escutaram a história da Rainha Ester. Os mais pequeninos foram dormindo pelo meio...
Os mais velhinhos puderam escutar a história dramatizada, contada pela Pilar, que é uma verdadeira artista:
Depois, em pequenos grupos, fizeram os seus trabalhos, ajudados pelos vários animadores - pais e mães de Famílias de Caná com um coração generoso e grande:
A Marisa, cheia de entusiasmo, com a colaboração da Irene e do Ricardo, fez um belíssimo teatro de sombras com os pré-adolescentes. Eles estavam encantados!
Os jovens trabalharam com o Niall, meditando na história da Rainha Ester e no poder imenso que Deus coloca em nossas mãos através da oração:
Porque éramos muitos, os nossos plenários aconteceram na igreja, o único espaço capaz de nos acolher a todos:
Foi também na igreja que o Francisco deu o seu testemunho de jovem cristão através do ilusionismo, num grande espetáculo de magia e evangelização:
- Não faz mal, fazer ilusionismo e apresentar os trabalhos na igreja? Devemos retirar o Santíssimo? - Foi uma questão que nos colocámos. A resposta surgiu, luminosa, também dentro de nós: não. Jesus-Eucaristia é o centro e o cume dos Retiros Famílias de Caná. Em dia de retiro, queremos passar o máximo tempo possível sob o seu olhar, para que Ele nos toque, nos cure e nos converta. Quando o Francisco faz ilusionismo, dá testemunho da sua fé; quando apresentamos os trabalhos das crianças, ou cantamos os seus cânticos cristãos infantis, com gestos e movimento, estamos a louvar o Senhor... Por que o havíamos de fazer longe da sua Presença Eucarística? Sentíamos dentro de nós a coragem da humilde Ester, que na presença do rei, dele escutou estas palavras:
"Qual o teu pedido, rainha Ester? Tudo te será concedido. Qual o teu desejo? Mesmo que seja metade do meu reino, será satisfeito."
(Est 5, 6)
Que dizes, Teresa? Estás a comparar-me à rainha Ester? A mim, tão fraco e tão sujo?...
Hoje, dia 1 de outubro, a Igreja celebra o dia de Santa Teresinha do Menino Jesus, a jovem humilde a quem o seu papá tratava por "Minha Rainhazinha". Os filhos de Deus, na verdade, porque filhos do Rei, pertencem à realeza! Humildes, sim, mas dignos!
Não conheço todas súplicas ocultas no coração de cada um, mas sei que a resposta de Jesus supera a do rei Assuero em generosidade: ali, no retiro, na sua Presença Eucarística, Jesus prometeu-nos não a metade, mas a totalidade do Reino de Deus...
No domingo (ou na quinta-feira anterior, noutros países, tal como acontecia cá até há dois anos atrás), a Igreja celebrou a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Este mistério da Presença de Jesus no Pão e no Vinho consagrados já tinha sido celebrado na quinta-feira santa, naturalmente; mas nesse dia santíssimo, a nossa meditação centrou-se na instituição do sacramento, que antecipa a morte de Jesus na cruz. No domingo, a celebração do Corpo de Deus - o Corpo de Jesus, oferecido todo, até ao fim - centra-se na festa, na alegria, no louvor, na ação de graças.
A tradição diz que, neste dia, a Igreja deve sair à rua em solenes procissões. É preciso afirmar publicamente que acreditamos na Presença Real de Jesus entre nós, no sacramento da Eucaristia. Não será constrangedora esta caminhada de fé? Não será demasiado forte, para quem não é católico ou - e isto acontece cada vez mais - mesmo sendo, não acredita no milagre da Eucaristia? Sim, é. É preciso passar pela vergonha da nossa fé, pela humilhação de acreditar em algo tão pouco intelectual, tão pouco politicamente correto, tão desprezível aos olhos do mundo. Como pode aquele pedaço de pão ser Corpo de Deus? Como pode Deus abaixar-se tanto? A Eucaristia é e será sempre uma pedra de escândalo, como escandalosa foi a morte de Jesus numa cruz, Rei que morre como escravo. Na verdade, de todos os dons que Deus nos faz, este é o maior: o dom do seu amor entregue até ao fim.
Aqui em Anadia, o domingo foi um dia particularmente quente, e às seis horas da tarde só apetecia tomar um duche frio... No entanto, às seis horas da tarde começava a procissão, com a presença de todas as paróquias das redondezas. Não podíamos faltar! Embora não tenhamos ido todos, porque os mais pequeninos estavam mesmo muito rabugentos e cansados com o calor, e a caminhada ao sol ainda seria longa, fomos alguns.
O sol brilhava no céu, o suor escorria dos nossos rostos, mas diante de nós caminhava Jesus, o nosso verdadeiro Sol, o Senhor, o Rei, o Amigo, o Esposo:
- Vês, David, ali debaixo vai o Senhor, no ostensório... Vês a hóstia consagrada? Não percas Jesus de vista...
- Eu sei que é Jesus. Sei muito bem! E estou a olhar para Ele, sempre que me lembro!
- Isso, David. Não O percas de vista...
No chão, pétalas de rosas... As rosas desfolhadas da nossa fraqueza, do nosso pecado, da nossa falta de fé. E o Senhor tudo recolhe com carinho, contente com a nossa humildade.
- Não O percas de vista, Clarinha... Francisco, estás a tirar fotografias?
- Sim, mãe, e vou meditando também. É difícil concentrar-me neste calor, mas vou meditando!
Os altifalantes espalham pela cidade as palavras de Jesus: Pai Nosso...
E o eco devolve-as, depois de tocarem os corações: Que estais nos céus...
Quem está acostumado a visitar o sacrário e a perder-se alguns minutos em contemplação diante de Jesus-Eucaristia, sabe bem como Ele é fonte fresca nos dias de maior deserto interior.
"Quem tem sede, venha a Mim e beba! Quem crê em Mim, como diz a Escritura, do seu seio correrão rios de água viva!" (Jo 7, 37-38)
Não O percas de vista...
Jesus, que eu fixe em Ti o meu olhar e proclame sem medo que sim, que estás presente na Eucaristia, que estás presente e com poder, que ninguém Te vence em humildade, que só Tu para Te baixares até à poeira do chão e levantares o pecador, que o teu amor é suficiente para saciar a nossa fome e a nossa sede, e que um dia, inundará a Terra!
Ámen.
Escrito pela Clarinha:
A pedido do Papa Francisco, todas as igrejas tiveram o Santíssimo exposto vinte e quatro horas seguidas, de sexta para sábado. Também no Santuário se adorou o Senhor.
O Francisco e eu assegurámos uma hora de adoração das dez às onze da manhã de sábado. Fomos os dois de bicicleta até ao Santuário e entrámos silenciosamente na capelinha onde Jesus estava exposto. Ajoelhámo-nos e falámos em silêncio com Jesus. Agradeci-Lhe o dom da vida, pois era o dia dos meus catorze anos: "Obrigada, meu Deus, porque me criaste!"
Depois pegámos no texto da Via Sacra que a minha mãe escreveu para as Famílias de Caná e começámos a ler cada estação, à vez e em voz alta, pois não estava ninguém mais na capela. Entre cada estação rezámos uma dezena. Foi muito bom termos ido os dois, porque rezámos juntos, e na meditação eu compreendi e pensei em muitas coisas que nunca antes me tinham ocorrido. Também foi bom poder estar uma hora inteira em frente a Jesus, a falar com Ele. Foi um belo começo de dia de anos!
No domingo à tarde fomos todos até ao Santuário e rezámos a Via Sacra meditando nas estações com palavras da Bíblia. Enquanto isso, olhávamos para uns quadros que estão na parede do Santuário com as estações em relevo. Foi mais barulhento do que no sábado, mas eu gostei muito.
Passei um fim-de-semana de anos "recheado" de Jesus! Obrigada, meu Deus!
O António entrou a correr no quarto, com a cara cheia de terra e o cabelo transpirado.
- Ena, António, isso é que é brincar! - Comentei, enquanto procurava abraçá-lo para depois lhe retirar a camisola. Mas o António afastou-me:
- Tens de ir embora, porque eu vou fazer uma coisa e não quero que tu vejas!
O seu sorriso maroto não deixava margem para dúvidas:
- Bem, se tu não queres que eu veja, é porque é asneira! Vais guardar algum pedaço de terra na gaveta, como da última vez? Ou, deixa-me adivinhar: vais guardar um pedaço partido de um vaso de cerâmica, como naquele dia em que as tuas gavetas apareceram cheias de pedaços de vidro? Ou... Não estás a pensar em fazer um ninho de minhocas debaixo da cama?
O António abanou a cabeça, muito sério. Entretanto, a Clarinha chamou-me do seu quarto, e baixinho, informou-me:
- O pai comprou um pacote de pastilhas ao António, e ele escondeu-as para as comer sem tu dares conta...
Enquanto deixava o António sozinho com a sua "marotice", fiquei a pensar nas palavras de S. Paulo:
"Antigamente éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz, pois o fruto da luz manifesta-se em toda a bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor e não participeis nas obras estéreis das trevas. Pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque é até vergonhoso falar das coisas que estas pessoas fazem em segredo. Mas todas as coisas condenadas são postas a descoberto pela luz, pois tudo o que é manifestado torna-se luz." (Ef 5, 8-14)
Como o António, também eu sei perfeitamente o que devo ou não devo fazer, e para calar a minha consciência, evito cruzar o meu olhar com o do Senhor quando pratico o mal... Mas as minhas "marotices" são bem menos inocentes que as do António! Se vivesse mais consciente do olhar constante do Senhor pousado sobre mim, não pecaria tanto.
Há duas formas belíssimas de me colocar à luz do olhar do Senhor: uma delas acontece no sacramento da Confissão, quando descubro o meu pecado e o conto com simplicidade a Jesus, na pessoa do seu sacerdote; a outra, através da adoração de Jesus-Eucaristia, ou simplesmente de uma oração diante do sacrário. Nem sempre consigo falar com Ele, porque me faltam as palavras e me foge o pensamento, mas sempre, sempre me posso deixar contemplar, amar e iluminar por Aquele que é a Luz...
Hoje, a pedido do Papa Francisco, irão começar um pouco por todo o mundo vinte e quatro horas de adoração eucarística. Nós também iremos oferecer algumas das nossas horas familiares para adorar o Senhor!
No domingo, uma hora antes da nossa oração de adoração paroquial, o telefone tocou. Era uma Família de Caná, pedindo-me orações insistentes e imediatas. Sabiam que eu, o Francisco e a Clarinha iríamos estar em oração nessa noite, como todos os domingos, e queriam que batêssemos à porta do céu. Assegurei-os da nossa oração de intercessão, que é também de acção de graças por esta família, capaz de se manter fiel ao Senhor no meio das mais tenebrosas tempestades da vida.
Durante a oração, enquanto batia à porta do Coração de Jesus, lembrei-me de um episódio muito bonito da vida da beata Ana Maria Javouhey, de quem vos falei neste post:
Ana Maria era muito jovem, mas já se sentira chamada a espalhar a Boa Nova junto dos mais pobres e necessitados. No meio das maiores dificuldades, governava uma modesta casa e escola para orfãos, onde acorria cada vez maior número de crianças.
Um dia, ao entrar na despensa para orientar a preparação do jantar, Ana Maria deu-se conta de que não havia absolutamente nada para servir às crianças. Nem uma pequena alface... As suas companheiras sentiram a tentação de desistir. Porquê passar fome e sofrer tanto no serviço do Reino, quando podiam simplesmente regressar à casa paterna?
Mas Ana Maria nunca foi mulher de baixar os braços. Sem hesitar, saiu de casa e correu à igreja, onde entrou de rompante. Ela sabia Quem lhe podia valer! No meio das lágrimas, Ana Maria elevou a Deus a sua oração sincera: "Senhor, as crianças que vivem na minha casa não são minhas, mas Tuas. Vem em seu auxílio! Alimenta-as! Cuida delas! Elas pertencem-Te!" E depois, num gesto espontâneo e cheio de confiança, Ana Maria levantou-se, subiu os degraus do altar e bateu insistentemente à porta do sacrário: "Jesus, eu sei que Tu estás aí! Vem ajudar-nos!"
Quando regressou a casa, Ana Maria transbordava confiança. Convocando as crianças, disse-lhes que iriam rezar até à hora da refeição. As suas companheiras entreolhavam-se: refeição?
E foi nesse mesmo instante que bateram à porta: era o pai, o velho Javouhey, com uma carroça carregada de mantimentos da sua quinta. O pai de Ana Maria não conseguira ainda aceitar a vocação da filha e a sua saída de casa para viver uma vida tão difícil, e há algum tempo que não a via nem lhe falava. Que emoção! O Senhor servira-Se precisamente do pobre pai como instrumento da sua providência... Ana Maria transbordava de gratidão, enquanto a criançada se apressava a ajudar a preparar a tão esperada refeição.
(Clarinha, aos cinco anos, no papel de Ana Maria Javouhey, em oração diante do sacrário)
"Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á." (Lc 11, 9-10)
Jesus-Eucaristia aguarda a nossa visita com a impaciência do amado à espera da sua amada. Assim que começamos a rezar, Jesus cola os seus ouvidos à nossa boca, acolhendo cada palavra como uma pérola preciosíssima. Desejoso de poder satisfazer os mais profundos anseios da nossa alma, só não o fará se eles não forem o melhor para nós. Nós somos bem capazes de estar distraídos enquanto rezamos, mas Ele não...
É por isso que eu sei que esta família vai receber a graça de que tanto necessita. A vós, leitores deste blogue, peço uma pequena oração cheia de fé por estes amigos, agora mesmo, antes de fecharem esta página... Rezemos hoje intensamente uns pelos outros, e a bênção do Senhor cobrirá a Terra. Ámen!
Ao reler a história dos pastorinhos, recordei o imenso amor que o Francisco tinha à Eucaristia. Enquanto a Lúcia, por indicação de Nossa Senhora, ia à escola (é interessante notar que também em Medjugorge Nossa Senhora encorajou os jovens videntes a estudar e a preparar-se bem para a vida no mundo), o Francisco ficava na igreja, horas seguidas, diante do sacrário, em contemplação profunda. Dizia ele que queria fazer companhia a Jesus Escondido... E foi este "Jesus escondido" que rapidamente transformou a sua vida, elevando o Francisco aos mais altos picos da santidade.
Como todas as Famílias de Caná, também nós cá em casa procuramos fazer da Eucaristia o centro da nossa vida. Mas não basta ir à missa ao domingo: é preciso, como o Francisco de Fátima, passar longo tempo diante de Jesus, para que Ele nos toque, nos queime, nos transforme, nos converta, nos purifique, nos liberte, nos cure. Sim, Jesus faz tudo isso na nossa vida e muito mais!
Todos os domingos, das oito e meia às nove e meia da noite, temos na nossa paróquia um encontro de oração, diante de Jesus-Eucaristia. De olhos fixos na Hóstia consagrada, nós cantamos, batemos palmas, louvamos, rezamos em silêncio e em voz alta, meditamos na Palavra das Escrituras, meditamos no terço do rosário. Estamos em grupo, mas diante do Senhor, estamos também a sós, pois Deus olha para cada um como se mais ninguém existisse no mundo. Assim, ninguém é obrigado a falar, ou a bater palmas, ou partilhar seja o que for, mas todos somos convidados a unir os corações em oração profunda, rezando em silêncio por todos, pelo mundo inteiro, pela Igreja. De olhos fixos na Hóstia consagrada, nós deixamo-nos invadir pela luz do Céu.
Por enquanto, o Niall fica em casa com os quatro mais novos, e só vamos à adoração o Francisco, a Clarinha e eu. Mas chegará o dia em que iremos todos juntos em família, esperamos!
No domingo passado, eu sentia-me particularmente cansada. Quatro semanas seguidas de festas de aniversários, início de ano escolar, e algumas coisas mais, pareciam ter finalmente caído sobre mim como uma casa a desmoronar-se. Chegaram as oito e meia da noite, e eu só queria refastelar-me no sofá com um bom livro na mão... Depois lembrei-me dos amigos de Jesus, que adormeceram no Jardim das Oliveiras, enquanto Jesus rezava por eles. E recordei a censura triste do Senhor:
"Não pudestes vigiar nem uma hora Comigo?" (Mt 26, 40)
Acompanhada do Francisco e da Clarinha, fui à oração. Jesus estava à minha espera, pronto para me curar, para me libertar do cansaço e do medo, para me abraçar e me amar. Sorri-Lhe, e deixei-me invadir pela sua alegria... Cantei, toquei guitarra, rezei, e quando regressei a casa, vinha com aquela sensação boa no corpo que geralmente trago no fim de uma caminhada ou um passeio pela praia.
Na nossa ausência, o Niall colocara no forno uns croissants de chocolate de que muito gostamos. Quando entrámos em casa, o cheirinho fez-nos correr para a cozinha. Yes! Que feliz final para uma hora de oração tão bela... Deus realmente nunca, nunca Se deixa vencer em generosidade!
O Vitor Teixeira, pai de uma bela Família de Caná, pediu-me para vos anunciar que durante toda esta semana, de 14 a 21 de outubro, estará a decorrer no Cristo Rei um Cerco de Jericó: 24 horas sobre 24 horas, o Santíssimo estará exposto, para que todos possam adorar "Jesus Escondido" e, com a sua graça, transformar o mundo! Será certamente um momento magnífico de encontro com o mesmo Jesus que passou na Galileia e na Judeia, tocando e curando! Este Cerco é organizado pela Comunidade Católica Shalom, à qual o Vitor pertence com a sua família (ser Família de Caná não nos impede de pertencer a outras comunidades eclesiais, naturalmente). Fica o duplo desafio: participar no Cerco de Jericó do Cristo Rei, se vivem perto, e organizar nas vossas paróquias encontros de adoração e oração onde Jesus Sacramentado seja o centro...
O sol brilha finalmente. E quando o sol brilha, parece que tudo brilha também! Depois de um fim-de-semana passado entre brincadeiras e trabalhos no jardim, podando as roseiras, cortando a relva, revolvendo a terra para semear e plantar, contemplando os botões de flores a desabrochar, jogando à bola, andando de bicicleta e patins, subindo à oliveira, saltando à corda... até a alegria que partilhamos é maior!
Ontem, segunda-feira, ao acordar, o Francisco disse:
- Tenho a sensação de ter estado de férias, e regressar às aulas depois de muito tempo...
Na escola, os alunos estão mais barulhentos e também mais simpáticos do que é costume, e por todo o lado, do supermercado à sala de professores, os sorrisos abundam. Milagres do sol, pois então!
Todos os domingos à noite, das oito e meia às nove e meia, temos na paróquia uma hora de Adoração Eucarística. Diante de Jesus Sacramentado, um pequeno grupo de cristãos, entre crianças, jovens e adultos de várias idades, cantamos, dançamos, fazemos silêncio, rezamos o terço, partilhamos louvores e súplicas em voz alta, lemos a Bíblia e conversamos sobre a Palavra do Senhor. Tanta coisa numa hora!
Os domingos são geralmente dias muito preenchidos na nossa casa, como em qualquer casa de família numerosa. Há tantas brincadeiras para fazer, tantas crianças para cuidar, tanto lixo para apanhar! Quando chegam as oito e meia da noite, dou-me frequentemente conta de não me ter sentado no sofá um único instante do dia - embora tenha "descansado" em pé, naturalmente, empurrando a Sara no baloiço para a frente e para trás, pois ela quer sempre mais...
É portanto com algum esforço que saio de casa, na companhia do Francisco e da Clarinha, para ir ao Santuário rezar. Sobretudo no inverno, quando lá fora estão quatro graus e na nossa sala quentinha brilha o lume na lareira... Mas nunca faltamos.
E é então que o milagre acontece: depois de uma hora diante de Jesus, rezando não importa o quê, rezando não importa como, sentimo-nos alegres, tranquilos e descansados. Quantas gargalhadas partilhamos entre nós no final daquela curta hora! E até a lareira sabe melhor!
Jesus é o sol da nossa vida. Quando nos damos tempo para estar diante d'Ele, tudo parece brilhar! Depois de uma hora com Jesus, a vida torna-se mais fácil e mais bonita. E mesmo no meio de tempestades, navegamos em paz.
Jesus na Eucaristia é o mesmo Jesus que "passou na Galileia fazendo o bem" ( At 10, 38) e curando, com a sua sombra, todos os que d'Ele se aproximavam. Hoje, como há dois mil anos atrás, basta ir ter com Ele para que tudo se componha, pouco a pouco, na nossa vida...
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