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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Domingo, 3 de julho de 2016. A Igreja estava em festa. O Santuário Nossa Senhora Auxiliadora acolheu famílias de vários pontos do país, e durante toda a Eucaristia, a música mais bela foi a das crianças e bebés de peito. Aliás, era de crianças e bebés de peito que nos falava a primeira leitura deste domingo:
"Alegrai-vos com Jerusalém, exultai com ela, vós todos que a amais. Assim podereis beber e saciar-vos com o leite das suas consolações, podereis deliciar-vos no seio da sua magnificência. Porque assim fala o Senhor: «Farei correr para Jerusalém a paz como um rio e a riqueza das nações como torrente transbordante. Os seus meninos de peito serão levados ao colo e acariciados sobre os seus joelhos. Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados.»" (Is 66, 10-13)
Foi uma festa linda... Divina... E para saberem mais, e continuarem a acompanhar esta aventura que ainda desponta no horizonte como sol nascente, visitem-nos e fiquem connosco no site das Famílias de Caná!
FIM
No domingo, a diocese de Aveiro viveu o Jubileu das Famílias. As Famílias de Caná estiveram presentes na preparação deste dia, como parte da equipa organizadora, e estiveram também presentes como famílias que fizeram o percurso sugerido e passaram a Porta Santa de Aveiro de coração transbordante de alegria.
Durante uma hora e meia, nós cantámos, rezámos, louvámos o Senhor. Foi bom estarmos juntos, no ambiente de festa que costuma caracterizar as Famílias de Caná, rindo e servindo com entusiasmo. Foi bom passarmos juntos a Porta, e rejubilar na Eucaristia, tão bonita, que o nosso bispo presidiu, em união com todos os movimentos que servem a família na nossa diocese. E a verdade é que nos sentimos verdadeiramente unidos.
É verdade que não estávamos muitos. A diocese tem tantas famílias, e tão poucas foram desafiadas a viver este dia! Por um lado, penso que houve pouca divulgação da data. Por outro, uma sobreposição de celebrações, em dias muito próximos, o que torna compreensível a fraca adesão. Foi pena, porque o percurso estava muito bem pensado e teria sido giro ser feito por muitas famílias, unindo numa só celebração o jubileu das crianças e adolescentes e o das famílias. Afinal, são as famílias que devem apresentar os seus filhos ao Senhor, e não os catequistas. Há divisões suficientes no mundo para ainda as perpetuarmos dentro da Igreja, e como o Papa Francisco tem insistido, tudo na Igreja precisa de ser projetado em chave familiar. Também o Jubileu.
Mas os números não importam, quando se trata da graça do Senhor. Ele é o Senhor dos pequenos, dos humildes, dos fracos, dos pobres. A Bíblia é a história de um povo pouco numeroso, de um povo fraco e escravizado, de um povo considerado estranho e retrógrado, com as suas ideias esquisitas de adoração a um único Deus. Mas não foi na civilização romana, grega, babilónica ou outra grande civilização da Antiguidade que o nosso Deus encarnou. Não foram as grandezas dos monumentos antigos que atrairam o seu olhar... O Filho de Deus escolheu este povo subjugado, pobre e mal visto para habitar entre nós.
Hoje também, vivemos num mundo onde a família é atacada de todas as frentes possíveis, num mundo onde os valores familiares são guerreados um a um. A Igreja Católica já não é a Igreja de massas, de grandes templos onde o incenso e as vestes solenes convidam à adoração. Talvez estejamos a caminho de um esvaziamento, de uma descida ao abismo, de uma debandada geral.
"Também vós quereis ir embora?" (Jo 6, 67)
Quando os católicos se derem conta de que não é possível ser católico e, simultaneamente, aceitar os valores modernos e politicamente corretos que vemos publicitados à nossa volta, então as igrejas ficarão vazias, sim.
"Jesus, eles não têm vinho." (Jo 2, 5)
Assim se dirigiu Maria ao seu Filho, nas Bodas de Caná.
"Jesus, eles não têm vinho."
Assim se dirige certamente Maria hoje também a Jesus, olhando para o mundo onde vivemos. E para nos ensinar a fazer o que Jesus diz, Maria continua a visitar a Terra, como Mãe solícita.
Está na hora de estender as nossas bilhas a Jesus e fazer tudo - absolutamente tudo - o que Jesus nos disser. As Famílias de Caná e todas as famílias verdadeiramente católicas estão prontas.
Derrotados? Tristes? Desanimados? Oh, não! No final do Jubileu das Famílias, regressámos a casa acompanhados da querida família Batista, que veio da diocese de Santarém de propósito para participar connosco nesta celebração. Comprámos à pressa uns frangos assados para o jantar e preparámos uma mesa de festa, enquanto pequenos e grandes punham a conversa - e as gargalhadas - em dia. Fez ontem dois anos que, depois de alguns meses a trocar e-mails, nos conhecemos pessoalmente, como a Olívia recorda aqui. Mas parece que somos amigos desde sempre! A amizade que experimentamos, e que nasceu unicamente em Jesus, é sinal de alegre esperança. Porque a partir do momento em que estendemos as nossas bilhas a Jesus e nos dispomos a cumprir a sua Palavra, provamos de imediato do "vinho melhor"...
"As pessoas costumam dar primeiro o vinho bom e, depois de todos terem comido e bebido bem, servem o de qualidade inferior. Mas tu guardaste o vinho melhor para o fim." (Jo 2, 10)
A primavera chegou! Desta vez é mesmo a sério, pois tropeçamos nela logo ao sair de casa pela manhã: o céu azul, as nuvens brancas, a relva verde, as flores amarelas, vermelhas e laranjas, o cantar das cigarras, as melodias dos pássaros, os gatinhos a brincar na relva... Tudo nos repete, como o Amado no Cântico dos Cânticos:
"Levanta-te, minha irmã, minha amada!
Eis que passou o inverno, a chuva já se foi
Aparecem as flores na terra, chegou o tempo das canções
A voz da rola ouve-se na nossa terra.
A figueira já deu os seus figos verdes,
e as vinhas em flor exalam seu aroma..."
(Cant 2, 10-13)
Com a primavera, chegam os dias tranquilos e longos, e renovam-se os encontros com os amigos. A Olívia e a sua família vieram visitar-nos, e encheram a nossa casa de alegria! Que dizem a estas três princesas?
Lembram-se da pequenina Lúcia, que tanto sofreu ao nascer? Ora aqui está ela, transbordando saúde e felicidade:
Para a festa ser completa, também a Isabel e o João, catequistas da Lúcia, vieram visitar-nos e estar com a família Batista. Ser Família de Caná significa ter amigos espalhados um bocadinho por todo o país, não é verdade? Sentados no jardim, pusemos a conversa em dia. Sentados no jardim, quer dizer, alguns de nós... Outros preferiram as árvores:
Segunda-feira foi feriado, e o dia amanheceu cheio de sol. Quem lê este blogue há algum tempo já consegue imaginar onde nos dirigimos de imediato... Ou não?
A primavera está a chegar assim de repente, da noite para o dia... Na semana passada ainda acendíamos a lareira, ontem tomaram-se banhos no mar!
De repente? Ah, nós só vemos a superfície das coisas! Porque durante todo o inverno, durante os longos dias de chuva, durante os serões de frio à lareira e durante as tempestades de granizo, a terra preparava-se para esta renovação.
Há dias em que eu olho para a minha vida passada e, no meio de belas recordações, também vejo tempestades, chuva abundante, frio intenso. Por que terá sido tudo tão difícil, meu Deus? Porquê a morte, porquê a dúvida, porquê a luta, porquê a incompreensão, porquê o emprego longe, porquê as turmas complicadas, porquê? Depois contemplo os meus filhos a brincar no jardim que cultivámos, vejo os meus amigos empoleirados nas árvores que ajudámos a crescer, e escuto as gargalhadas da "Bebé de Caná" que a Olívia segura nos braços. Ao longo dos muitos invernos da nossa vida, Deus foi preparando as nossas muitas primaveras. E com o seu vento, espalhou por aí as sementes que nasceram das nossas chuvas, tal como espalha nos nossos jardins interiores sementes que nasceram em outras chuvas.
E assim continuará a ser: as tempestades que hoje experimentamos levar-nos-ão certamente a novas primaveras, e as sementes que cultivamos nos nossos jardins florirão certamente noutros quintais, porque o nosso Deus é o Deus das estações, o Senhor da vida e da morte, Aquele que, no primeiro livro da Bíblia, tudo cria do nada, e no último livro da Bíblia, tudo recria, já não do nada, mas a partir de tudo o que Lhe oferecermos:
"Eis que faço novas todas as coisas!" (Ap 21, 5)
Ámen!
Férias! Não há nada de que eu mais goste do que ter estes dias inteiros em casa, vendo os meus filhos saltitar a meu lado, brincando e desarrumando, rindo e chorando, descobrindo mundos novos em Náturia, passeando de bicicleta...
...fazendo origamis, construindo puzzles, espalhando os legos pelo chão e migalhas de bolo pela casa inteira, e chegando ao ponto de usar um sapato diferente em cada pé porque não se conseguem lembrar onde puseram o par completo. Às vezes parece-me que talvez fosse boa ideia dar uma arrumação à casa, mas logo desisto. Quando eles regressarem à escola penso nisso!
Cuidado ao sair da cozinha para o jardim! Ainda fico presa nalgum desenho...
Realmente, procurar botas e sapatos na gaveta do calçado é um bocadinho perda de tempo:
- Mãe, vamos ver o mar? Por favor! Há tanto tempo que não vamos à praia!
Bem, a verdade é que na Semana Santa o tempo não esteve muito propício a praia. Deixo-vos algumas fotos sugestivas, e poupo-vos os detalhes relacionados com a excitação, a alegria e a confusão em nossa casa durante os vinte minutos em que durou a tempestade - e nas horas que se seguiram:
Durante as férias fomos ainda várias vezes ao parque:
Férias é também o tempo ideal para o encontro com os amigos, e nestas férias tivemos e fizemos várias visitas muito simpáticas, que nos encheram de alegria.
E férias é também tempo para o encontro com a família alargada, especialmente os tios e os primos, já que a avó é presença mais frequente em nossa casa. Ora vejam só se conseguem identificar os seis Power, no meio destes doze Castel-Branco:
Hoje, a mãe e os seis filhos regressam à escola (o pai não chegou a ter férias)... Olhamos para estes quinze dias - de sol e de granizo, de frio e de calor, de neve e de mar - como uma verdadeira bênção do Senhor, que nos permitiu fazer tantas coisas boas. Lembro-me do salmo:
"Terra, louva o Senhor!
Monstros do mar e todos os abismos,
fogo e granizo, neve e neblina
vento tempestuoso, que obedece à sua Palavra,
montanhas e todas as colinas,
árvores de fruto e todos os cedros,
feras e todos os rebanhos!
Louvai-O, jovens e donzelas, velhos e crianças!
Aleluia!" (Sl 148)
E olhamos para este novo período como outra verdadeira bênção do Senhor, naturalmente! A escola, os amigos, os livros, os exames... Quantas crianças e quantos jovens no mundo davam tudo para ter esta oportunidade?
Agora que eles estão todos na escola, volto a ter o meu tempo de oração diante do sacrário, e algum tempo para escrever. E todos nós, pais e filhos, voltamos a experimentar aquela alegria magnífica do reencontro diário, depois de um dia de escola, em que nos abraçamos e todos falamos ao mesmo tempo, desejosos de partilhar a vida. Outra bênção...
Há uma oração que o sacerdote reza na missa que me toca muito. Diz assim: "Senhor, não olheis aos nossos pecados, mas à fé da vossa Igreja." Sempre que venho de um Retiro Famílias de Caná, eu faço espontaneamente uma oração semelhante, que se prolonga durante muito tempo, quase no meu inconsciente, e que me deixa uma paz profunda. Diz assim: "Senhor, não olheis aos meus pecados, mas à generosidade, à humildade, à alegria, à fé, à caridade de tantas pessoas que foram tocadas pelo teu dom das Famílias de Caná através do nosso pobre testemunho!" E tenciono fazer esta mesma oração no Dia do Juízo, quando estiver diante de Deus!
De facto, nos Retiros Famílias de Caná damos o nosso testemunho familiar da forma como Deus pode transformar a vida, e damo-lo de modos diversos: pela palavra, pelo ilusionismo do Francisco, pela música, pelos jogos, pela partilha do alimento, pela conversa individual ao longo do dia, pelo acolhimento. Mas o que recebemos é sempre muito mais, e não o digo por dizer - digo-o com plena convicção. Neste retiro, como já aconteceu nos anteriores, conhecemos pessoas fantásticas, escutámos partilhas muito bonitas, e contemplámos a ação de Deus nas vidas dos seus amigos.
...Na vida da Rita, da Isabel e da Vera, por exemplo, que deram tudo o que tinham para que as crianças tivessem um dia magnífico, cheio de profundidade e de muita alegria. Quando entraram no carro, ao fim do dia, o nossos filhos mais novos exclamaram quase em coro: "Adorei este retiro! Adorei todas as atividades! Queria ficar mais tempo!" E durante a viagem, foram falando dos jogos, das histórias, da forma profunda e significativa como a mensagem lhes foi oferecida.
...Na vida da Emília, a catequista de Lordelo que nos convidou para este retiro, e que tudo preparou com tanto cuidado, com tanta atenção ao pormenor. Neste retiro tive a honra de falar atrás de uma mesa cuidadosamente pensada, com uma Bíblia rodeada de velas e de flores brancas. Deus gosta do pormenor, como é fácil deduzir se contemplarmos por alguns instantes os desenhos nas asas das borboletas ou nas folhas das árvores, e por isso, o cuidado da Emília é um dom do Senhor. E não é o único dom que a Emília recebeu, como o provou a enorme panela de deliciosa feijoada à hora do almoço! Mas acima de tudo, a Emília tem o dom de congregar um grupo quase inteiro de catequese familiar para participar num retiro. Magnífico!
...Na vida do senhor padre José Manuel Ribeiro Pinto, sacerdote de Lordelo, que nos tocou pela forma como se centra no essencial, e não se dispersa nem deixa que o dispersem.
Pensando em todas estas pessoas e em todas as Famílias de Caná que desde o primeiro momento dão o seu tempo,o seu suor e a sua oração para que estes e outros encontros aconteçam, sinto o impulso de escrever como S. Paulo:
"Dou graças a Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa colaboração no Evangelho desde o primeiro dia até agora." (Fil 1, 3-5)
No centro dos Retiros Famílias de Caná, está naturalmente Jesus. A meia hora de adoração é o cume de tudo o que fazemos, e não a encurtamos nem a suspendemos por nada deste mundo. A igreja de Lordelo é linda, sobretudo a capela da adoração. Os vitrais, imensos, deixavam passar a luz e os raios de sol que de vez em quando brilhavam no céu encoberto. No momento sublime em que o sacerdote elevou o Santíssimo e nos abençoou, Deus permitiu que o sol entrasse a jorros na igreja e nos banhasse numa luz intensa, elevando os nossos corações para esse outro Sol que é Jesus. Foi lindo!
Deixo-vos as fotos do dia:
Chegámos a casa pelas oito horas da noite, mas ainda tivemos tempo para rezar no nosso Canto de Oração e agradecer o dia. Iluminando as trevas, estavam as velinhas que os meninos decoraram nos seus trabalhos e a vela central que decorava a mesa, no salão paroquial...
-Meninos, nem imaginam a bela notícia que li hoje no blog da Olívia.
- O que é? É sobre a bebé Lúcia?
- Não, é sobre a Maria.
- A minha amiga?
- Sim, Lúcia, a tua amiga. Imagina tu! Este ano, a mãe está a dar-lhe a catequese em casa, porque na sua aldeia há poucas crianças e ela não tinha oportunidade de caminhar com um grupo. Outro dia, o senhor padre foi lá a casa e disse... Esta é a boa notícia: disse que a Maria estava muito bem preparada, e portanto podia fazer a sua primeira comunhão já no domingo de Páscoa. Não é lindo?
- Que maravilha! Ela deve estar muito feliz!
- Ah, o senhor padre reconheceu o trabalho da Olívia!
- Vai ser um domingo de Páscoa muito bonito!
- E tu, Lúcia? Não dizes nada?
Mas a Lúcia não diz nada. Aliás, de repente, e como acontece com alguma frequência, os seus olhos enchem-se de lágrimas.
- Que se passa? Não ficaste feliz pela Maria?
A Lúcia diz que sim com a cabeça.
- Então...
- Mãe - Desabafa finalmente - Por que é que eu não posso fazer a primeira comunhão também na Páscoa? Não estou tão preparada como a Maria?
A Lúcia senta-se ao meu colo e conversamos um bocadinho.
- Lúcia, tu vais fazer a tua primeira comunhão com o teu grupo de amigos. Não é maravilhoso? E tens dois catequistas tão bons! Vai ser uma festa muito bonita. Não fiques triste!
A Lúcia limpa os olhos com as costas da mão.
- Mas eu queria tanto receber Jesus... Queria ter Jesus no meu coração!
- Já falta pouco, Lúcia! Vais ver...
À noite, sentada ao computador, contei à Olívia a reação da Lúcia. E na quarta-feira passada, ao abrir a caixa do correio, tive uma surpresa.
- Lúcia, olha só o que chegou para ti! Uma carta! - Chamei, entusiasmada.
A Lúcia veio a correr. Com os olhos iluminados, pegou na carta, sentiu o seu peso, cheirou-a, revirou-a entre os dedos.
- É da Maria! - Disse, por fim.
- Não vais abrir?
- Vou. - Com gestos decididos, a Lúcia abriu a carta. Lá dentro, estava este lindo desenho:
O entusiasmo destas duas crianças perante Jesus-Eucaristia emocionou-me. Durante muito tempo, fiquei a pensar na forma relaxada, pouco entusiasmada, frequentemente indiferente com que recebemos Jesus em cada missa. Quando foi que os nossos corações se tornaram dormentes, frios, de pedra? Quando foi que perdemos a fé límpida que o batismo nos deu? Por que permitimos nós que a rotina mate o amor? Teremos realmente fome? Teremos realmente sede? Recordei-me da promessa de Deus, ecoando desde os confins da Bíblia:
"Tirarei do teu peito o coração de pedra e dar-te-ei um coração de carne..." (Ez 11, 19)
Senhor, cumpre hoje de novo a tua promessa, a promessa de transformares os nossos corações de pedra em corações de carne, corações capazes de sentir fome, capazes de sentir sede, capazes de sofrer a tua ausência, capazes de Te desejar loucamente, capazes de pulsar apenas por Ti... Ámen!
O Retiro em Coimbra foi das experiências mais belas que temos tido. Digo-o de coração cheio, e de coração profundamente grato pela partilha de vida com famílias verdadeiramente fantásticas. Deus nunca Se deixa vencer em generosidade, e dá-nos sempre muito, muito mais do que ousamos pedir...
Tinhamos oito famílias inscritas - três de Coimbra, duas do Porto, uma de Tomar, uma de Lisboa e outra de Cantanhede. Mas ao longo de todo o sábado, no meio da chuva torrencial que alagou o nosso país, cortou estradas, fechou barras, espalhou viroses e a todos encerrou nas suas casas, as desistências foram chegando. Ficámos com apenas cinco famílias.
- Achas que vale a pena continuar a pensar em fazer retiro? - Perguntava-me o Niall, quase à noite, quando a querida Lilian nos comunicou que estava de cama cheia de febre e, portanto, não podia ir.
- O quê? Desistir agora? Depois do trabalho todo que a Cláudia e o Cristóvão, o João e a Sónia têm tido? E como vais dizer aos teus filhos mais pequenos que já não vão brincar com os seus queridos amigos? Eles estão ansiosos por encontrar a Alice, a Leonor, a Madalena, o Gaspar, o António e o bebé Matias... Não, não podemos fazer uma desfeita dessas!
- Bem, então se não aparecer nenhuma família, ficamos nós e as famílias da Cláudia e da Sónia em amena cavaqueira de Caná.
- Assim é que se fala!
O domingo acordou cheio de chuva, e Coimbra encontrava-se no centro da tempestade. Onde nos iríamos nós meter? Mas as crianças acordaram felizes: era dia de retiro! Sorrimos um para o outro: a Sara nunca conheceu a vida sem retiros Famílias de Caná, e para ela, ir a um retiro é tão natural como ir à escola ou a casa da avó.
-Uum, que cheirinho! - Diziam os meninos, ao acordar. - Bifes panados?
- Sim, estamos a preparar o piquenique - Respondi, da cozinha. Eles riram:
- Piquenique com esta chuva toda? Vai ser divertido!
- Não se preocupem, porque vamos estar sempre dentro do Centro Paroquial. E lá não chove!
Mas durante a viagem choveu. E quando saímos do carro, em Coimbra, caía granizo... Nada que pudesse perturbar o sentimento de felicidade ao sermos acolhidos pelas duas Famílias de Caná com quem já partilhamos tão grande amizade. O Cristóvão, a Cláudia, o João e a Sónia tinham tudo preparado para um dia em cheio, e um abraço amigo para nos receber.
E num instante, o salão encheu-se com as cinco famílias que vieram. Ena, que grande festa! Pudemos finalmente conhecer ao vivo - porque virtualmente já nos conhecíamos e já nos tratávamos por amigos - a família da Sónia e do Tiago , com os seus três lindos filhos, e a família da Marta e do António. Já ouviram falar no projeto que este casal - divertidíssimo, alegre e transbordante de simplicidade - desenvolve? Chama-se datesCatólicos.org e promove o encontro entre pessoas católicas solteiras, que gostariam de encontrar o seu futuro marido ou mulher num ambiente católico. Um projeto bem adequado ao dia de S. Valentim!
Conhecemos também mais algumas famílias, que nos encantaram pela sua simplicidade e disposição de coração, revemos os nossos amigos de Tomar, que com a família da Olívia, dinamizam a Aldeia de S. João Batista, e fomos maravilhosamente acolhidos pelo senhor padre Carlos Pinho na sua paróquia. Quanta profundidade e quanto amor nas suas palavras e nos seus gestos! "Façam boa viagem para lá e para cá!" Disse-nos o senhor padre à despedida, com uma gargalhada simpática. Claro que voltaremos!
Deixo-vos as fotos do dia - o espaço acolhedor, os corações de S. Valentim (ou os nossos corações misericordiosos...) a sorrir e a fazer cara feia, acolhendo ou rejeitando o amor do Senhor, as brincadeiras dos mais novos e os trabalhos dos mais crescidos, a oração, o terço, a adoração, os ensinamentos, a magia, a música, a alegria... Deixo-vos as fotos mas o resto, o essencial, terão de imaginar. Ou, se quiserem, terão de vir experimentar um dia!
- Mamã, quando é o próximo retiro? - Perguntava uma simpática menina loira.
- Oh, temos de ir já embora? - Refilava um rapazinho.
- Só podemos ir embora quando eu encontrar as chaves do carro grande - Respondia eu, já aflita, depois de todo o salão varrido, lavado e arrumado, e do Niall ter carregado o nosso carro mais pequeno. - Niall, ajuda-me! Não encontro as chaves do carrro! - Começávamos a ficar bastante nervosos, os amigos reviraram novamente os caixotes e os restos dos piqueniques, quando o Niall decidiu ir procurar... ao próprio carro. E descobriu que eu deixara as chaves na ignição o dia inteiro
Nos testemunhos finais, antes da última oração, as famílias partilharam a sua perceção do dia e os seus sentimentos. Procurando encontrar uma frase que exprima o sentimento comum manifestado, ocorre-me esta passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos:
"Os primeiros cristãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum..." (At 2, 42-44)
Quando chegámos à igreja paroquial da Quinta do Conde, para o Retiro Famílias de Caná, reparámos de imediato nas grande bilhas que estavam colocadas à porta, ornamentando o pequeno e cuidado jardim. “Bilhas!” Pensei. “Bom começo para um retiro sobre As Seis Bilhas das Famílias de Caná…”
Ao entrar na igreja, apercebi-me de que estava cheia, transbordante de crianças, com os seus risos, a sua alegria, a sua inquietude.
Ainda na véspera do retiro, o Niall e eu tínhamos estado a contar as crianças e os jovens inscritos, e tínhamos sido assaltados por uma espécie de pânico: 64! 64 crianças e jovens para acolher, para evangelizar, para ajudar a fazer encontro com o Senhor enquanto os pais me escutariam, descansados. Como iria ser possível? A equipa que ia trabalhar connosco era grande e estava entusiasmadíssima. A troca de e-mails, nos dias anteriores ao retiro, tinha sido uma verdadeira loucura, e todos pareciam andar a trabalhar a mil à hora… Mas 64 é um número muito elevado, mesmo para uma grande equipa!
Durante a Eucaristia, as crianças foram convidadas a sentar-se à frente, sobre uns tapetes dispostos no chão em sua honra. Os nossos filhos, claro, estavam felicíssimos, e tivemos de lhes lembrar continuamente que a conversa era para pôr em dia lá fora, depois da missa. Eu sorria: que abençoados eles são! De retiro para retiro, ganham novos amigos e vão cimentando as amizades antigas.
Chegou a hora do Pai-Nosso. O celebrante, visivelmente satisfeito com a afluência de crianças, convidou-as a subir os degraus do altar para rezarem juntos a oração dos filhos de Deus. Algumas responderam ao convite, e o altar encheu-se de crianças. A Sara bem tentava espreitar por detrás do altar, mas a sua baixa estatura não lhe permitiu grande visão! De mãos dadas, transbordantes de alegria, elas rezaram: “Pai Nosso, que estais nos céus…”
Mas foi durante a comunhão, quando Jesus Salvador entrou no meu coração, que me deixei tomar totalmente pelas suas Palavras:
“Deixai vir a Mim as criancinhas, não as impeçais,
porque é delas o Reino dos Céus!”
(Lc 18, 16)
De repente, apeteceu-me rir e chorar ao mesmo tempo, emocionada perante a quantidade de crianças que se aproximaram do altar para receber Jesus, ou simplesmente serem abençoadas, em seu nome, pelo sacerdote. “Deixai vir a Mim as criancinhas…” E de um momento para o outro, fui libertada daquela sensação de pânico. 64 crianças? Podiam ser muitas mais! Se é Jesus quem as chama; se é Jesus quem nos dá esta ordem clara de não as impedir de caminhar ao seu encontro, por que hei de ter medo?
Recordei-me das bilhas de barro à porta da igreja apontando para o essencial: cada criança é uma pequena bilha que o Senhor nos confia, para que nela derramemos a sua Água Viva até transbordar! Quantas bilhas confiou o Senhor a cada um de nós?
Na nossa casa, são seis. No retiro foram 64… O Senhor tem-nos vindo a revelar, pouco a pouco, a sua vontade para este movimento nascente que são as Famílias de Caná. Uma das suas surpresas tem sido o espantoso número de crianças que levamos a Jesus em cada retiro e em cada encontro, e a abertura magnífica ao dom da vida – também através da adoção e do acolhimento de crianças - que as Famílias de Caná vão experimentando nas suas casas, à medida que crescem em proximidade com o Senhor. Uma igreja ou uma casa a transbordar de crianças é um dos mais belos sinais de esperança no nosso mundo!
O dia foi pleno, profundo e belo. Conversando no carro, a caminho de casa, o Niall e eu sentimo-nos felizes por não termos colocado entraves à obra do Senhor, limitando o número de crianças. Deus gosta de multiplicações!
Mais tarde vim a saber que naquele mesmo domingo, no encerramento do VIII Encontro Mundial das Famílias em Filadélfia, no qual estiveram presentes mais de um milhão de fiéis, o Papa Francisco dizia: "A ação de Deus no nosso mundo ultrapassa a burocracia, o oficial e os círculos restritos. Deus quer que todos os seus filhos tomem parte na festa do Evangelho.”
Que as Famílias de Caná sejam a ilustração viva das palavras inspiradas do nosso Pastor! Ámen.
Há tanta coisa para contar sobre o nosso fim-de-semana de missão, e tenho tão poucos minutos disponíveis para o fazer em cada dia! Terei de repartir tudo o que me vai na alma por vários posts. Hoje vou falar-vos de amizade.
Diz o Livro de Ben Sira (ou Eclesiástico):
"Um amigo fiel é uma poderosa proteção; quem o encontrou, descobriu um tesouro. Nada se pode comparar a um amigo fiel, e nada se iguala ao seu valor. Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor acharão tal amigo. O que teme o Senhor terá também boas amizades, porque o seu amigo será semelhante a ele." (Sir 6, 14-17)
Durante este fim-de-semana, a nossa família pôde experimentar a verdade de todas e cada uma destas palavras.
Quando o Senhor nos chamou para, a partir do nosso testemunho, derramar sobre a Igreja a grande graça das Famílias de Caná, estávamos muito longe de imaginar que um dia teríamos amigos espalhados um pouco por todo o país. Há dois anos atrás, teríamos dado uma gargalhada se nos dissessem que dentro de pouco tempo iríamos dormir - os oito ao mesmo tempo - numa casa em Cascais, ou em Proença, ou em Viana, ou em Neiva, e que até tínhamos boas perspetivas de poder visitar o Algarve! A verdade é que os amigos que recebemos das mãos do Senhor, através das Famílias de Caná, têm sido para nós uma bênção, uma poderosa proteção, um verdadeiro tesouro, um bálsamo suave, nas palavras da Bíblia. Deus não mente: os que temem o Senhor serão abençoados com amizades leais, daquelas que fazem bem à alma e nos reconfortam no mais íntimo do nosso ser.
Passámos o nosso fim-de-semana de missão entre amigos. Alguns destes amigos já vão sendo conhecidos de todos vós, através dos seus próprios blogues (as hiperligações estão na coluna direita deste blogue): a Família Almeida, a Família Batista, a Bruxa Mimi, a Marisa. Outros (ainda) não têm blogue, mas conheceram-nos através deste nosso blogue, vieram um dia a um retiro e, desde então, a nossa amizade não parou de crescer. A Carmina, o Edu e os seus cinco filhos pertencem a este grupo, bem como o João, a Sónia e os seus três meninos. Os nossos filhos passaram o fim-de-semana a correr e a pular de alegria, aproveitando cada minuto do reencontro com os seus "velhos" amigos, e nós fomos trocando as palavras possíveis entre os muitos afazeres do retiro e do encontro de sábado.
Mas há outro pormenor interessante, e o Niall chamou-me a atenção para ele, durante a nossa viagem:
- Já reparaste como, através do blogue, não fomos só nós a fazer amigos? Olha só para estas duas famílias: antes, eram ilustres desconhecidas, mas através do blogue chegaram juntas a um retiro, e aí nasceu uma amizade para a vida... Só Deus pode fazer um milagre assim!
Durante todo o fim-de-semana não parei de me espantar com esta graça imensa de amizades a gerar amizades, ininterruptamente... Tantas famílias que o Senhor assim uniu em amizade sincera!
À medida que os carros chegavam ao retiro, eu descobria rostos que me eram desconhecidos, mas que me sorriam como se me conhecessem há muito tempo.
- Sou mega-fã do blogue - Dizia-me a Joana. Vinha das Caldas da Rainha, com a sua família e um sorriso lindo. - Que giro que é ver-vos ao vivo!
Eu fiquei a pensar que mais giro é para mim encontrar os leitores deste blogue ao vivo. Ali, na Quinta do Conde, até havia leitores do Algarve!
Quantas vezes, ao escrever um post, me pergunto quem estará "do outro lado" a ler as minhas palavras, e como as receberá, se se sentirá tocado por Deus ou, pelo contrário, ofendido... Quantas vezes escrevo sem pensar muito, segura de que "do outro lado" está um amigo que me compreende, mesmo quando sou trapalhona e não digo bem bem aquilo que queria dizer... Com o tempo, a escrita tem-se tornado mais fácil, porque tenho a nítida sensação de que "do outro lado" já há muitos amigos - sensação que, claro, é acompanhada de certeza, quando recebo os vossos mails pessoais a partilhar um pouco das graças que Deus vos vai oferecendo, através dos retiros e da leitura do blogue. Enquanto fazia os ensinamentos, na Quinta do Conde, e cruzava o meu olhar e o meu sorriso com vários destes leitores, eu experimentei "realmente" esta mesma cumplicidade que vinha intuindo "virtualmente". E que bem me fez!
Já passava das sete da noite quando saímos da Quinta do Conde, de regresso a casa. Sobre a Ponte Vasco da Gama, enquanto os meninos enchiam o carro de exclamações e gritinhos de espanto perante tanta beleza, eu agradecia ao Senhor o milagre que representam todos estes amigos, luzinhas a brilhar sobre a ponte da nossa vida, essa peregrinação entre as margens do tempo e da eternidade...
15 de setembro. Primeiro dia de escola. O pai leva os filhos de manhã, e à hora de almoço - o primeiro dia é só uma manhã - a Isabel traz-mos a casa, pois ainda não posso conduzir.
Aguardo, impaciente, o som do carro a parar diante de casa, os passinhos apressados dos meninos, os sorrisos, os abraços. Foi só uma manhã, mas a primeira manhã de escola é uma manhã enorme para todos!
Finalmente, ei-los à porta.
- Olá mãe! Tenho uma menina nova na sala! - Diz-me a Lúcia de um fôlego só.
- Sim, vi as duas de mãos dadas no recreio a correr e a rir à gargalhada - Sussurra-me a Clarinha, com um sorriso cúmplice.
- E como se chama a tua amiga?
- Já não me lembro... Tem nome de desenho animado...
- Nome de desenho animado?!
- Chama-se Elsa - Diz o David, solícito como sempre.
- Ah, é isso! Elsa...
- Na minha sala há um rapaz com um nome bem mais esquisito - Diz a Clarinha. - Deve ser russo, ou ucraniano.
- Só eu não tenho meninos novos na sala...- Lamenta-se o David.
Sorrio, orgulhosa dos meus filhos, sempre desejosos de conhecer pessoas diferentes e disponíveis para acolher os que vêm de fora. Depois lembro-me que também eu, durante a manhã, me dediquei a estudar os nomes e os rostos da minha nova direção de turma, registados numa folha de papel que recebi por mail... Cheia de curiosidade, olhei cada rostinho simpático e pronunciei o nome correspondente. Como serão eles? Como será a nossa amizade?
A escola tem esta coisa fantástica de nos obrigar - professores e alunos - a sair do nosso pequeno círculo de amigos para ir ao encontro do outro. Acolhendo-nos uns aos outros nas nossas diferenças, aceitando os valores do outro sem deixar de vincar os nossos, pronunciando com carinho nomes estranhos - de desenhos animados ou com melodias exóticas - pomos em prática um dos mais elevados princípios bíblicos, praticado pelo povo de Deus desde tempos imemoriais: a hospitalidade. Disse S. Paulo, numa alusão a Abraão e outros personagens bíblicos:
"Não vos esqueçais da hospitalidade, pois graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos." (Hb 13, 2)
Quantos anjos disfarçados chegam todos os dias à Europa, e em breve, a cada uma das nossas escolas! Quantos anjos disfarçados nos desafiam todos os dias nas nossas salas de aula, e aos nossos filhos nos recreios onde brincam! Geralmente chamamos-lhes muitas outras coisas...
Senhor, que eu não desperdice nenhuma oportunidade de acolher os anjos que me envias! Ámen!
Por falar em disfarce...