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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No Painel da Vida Consagrada onde o Niall e eu demos testemunho no passado dia 19 de junho, o Senhor Bispo D. António Moiteiro foi naturalmente o primeiro a falar. No tom simpático e descontraído a que nos vem habituando, começou assim:
- As Irmãs que me desculpem, e não me levem a mal. As Irmãs fizeram voto de pobreza, obediência e castidade, mas este casal aqui, como muitos outros casais, recebeu um sacramento...
Ao escutar o senhor bispo, fez-se luz sobre os meus próprios pensamentos àcerca deste tema. Na verdade, falar de pobreza, obediência e castidade no Painel da Vida Consagrada só foi difícil porque o tempo era pouco e o Niall e eu precisávamos economizar palavras e exemplos. Pode um casal viver os mesmos votos que os religiosos? Receber o sacramento do matrimónio implica comprometermo-nos com Jesus na nossa vida de família. E ao comprometermo-nos com Jesus, estamos naturalmente a comprometermo-nos com todas as suas Palavras, todo o seu Evangelho. Assim, o sacramento pressupõe os Conselhos Evangélicos de Pobreza, Obediência e Castidade, bem como os de Unidade, Caridade e todos os outros contidos na Palavra de Jesus.
Pode um casal viver uma vida de total consagração ao Senhor? Claro! Precisa de votos especiais para isso? Não, porque tudo está contido no sacramento, vivido com radicalidade e prontidão evangélicas. A Palavra de Jesus dirige-se claramente a todos, e tem até detalhes particulares para os que têm uma família:
"Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim. E quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem procura a sua vida, há de perdê-la; e quem perde a sua vida por amor de Mim, há de encontrá-la." (Mt 10, 37-39)
As Famílias de Caná que vivem o seu compromisso com seriedade são famílias consagradas a Jesus e a Maria, e que renovam diariamente a sua consagração através da oração do Rosário e da repetição constante da pequena invocação: "Nós, Jesus".
Quando terminámos o nosso testemunho, naquele belo encontro de consagrados, o senhor bispo pediu-me que, em cinco minutos, explicasse às Irmãs o que são as Famílias de Caná. No final, uma Irmã expressou-se assim:
- Teresa, este movimento não é apenas para chegar aos confins de Portugal. É para chegar aos confins do mundo!
Que o Senhor a escute!
Na sexta-feira à noite, como tinhamos aqui anunciado, fomos participar no Painel da Vida Consagrada, em Aveiro, a convite do senhor bispo.
O Painel era às nove horas da noite, pelo que foi preciso sair de casa pouco depois das oito horas. O Francisco e a Clarinha ficaram encarregues de deitar os irmãos e fazer as tarefas rotineiras do nosso serão - tratar dos cães e dos gatos, fechar as portadas da casa, etc. Estávamos a chegar a Aveiro quando recebemos um sms da Clarinha: "Os manos pequeninos já estão a dormir. O David, o Francisco e eu estamos a rezar o terço. Adoramo-vos. Bjs." Suspirei, e entreguei-os de novo a Deus, numa breve oração. Também o Niall e eu rezáramos o terço durante a nossa viagem, unidos de coração à família que ficara em casa.
No Salão da Sé de Aveiro esperava-nos uma assembleia de irmãs, a grande maioria já de bastante idade. Olhavam para nós um pouco surpresas: que teria um casal a dizer sobre os votos de pobreza, obediência e castidade? Que percebíamos nós desse assunto? Suspirei novamente... Mas de repente, quatro caras conhecidas: a Lena, a Vera e o casal Menício - quatro belos membros de Famílias de Caná. Não estávamos sós! Logo depois, chegou o senhor bispo. Agora sim, sentimo-nos em casa!
O encontro começou. Os consagrados deram o seu testemunho, que muito nos impressionou, especialmente a história da vocação de uma irmã jovem, da Aliança de Santa Maria, congregação também jovem e bem portuguesa. Que palavras inspiradoras! Tive pena que o Francisco e a Clarinha não pudessem escutar o seu testemunho.
Por fim, tivemos a palavra. Tal como planeáramos, falámos à vez, partilhando a nossa vivência dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, ajudados pelos slides com fotografias da nossa família, para que não houvesse qualquer dúvida da escola que frequentamos: uma família católica.
Podem as famílias viver a sua vida como uma consagração total ao Senhor, seguindo os conselhos evangélicos de pobreza, obediência e castidade? Claro! Todos, sem exceção, somos chamados a seguir Jesus deixando tudo para trás - pai, mãe, marido, esposa, filhos, terras, bens, emprego... Deixar tudo para trás? Sim: centrar em Deus o nosso coração. E como Ele prometeu, receberemos a cem por um - receberemos de volta o pai, a mãe, o marido, a esposa, os filhos, as terras, os bens, o emprego... Complicado? S. João Batista, cuja festa hoje celebramos, deixou-nos um lema de vida:
"É preciso que eu diminua para que Ele cresça" (Jo 3, 30)
Por isso celebramos o seu nascimento no solstício do verão, quando os dias começam a diminuir - e o nascimento de Jesus no solstício do inverno, quando os dias começam a crescer...
Sábado, nove e meia da manhã. A família Power estaciona os dois carros em frente do Paço Episcopal: o senhor bispo D. António Moiteiro vai conceder-nos gentilmente uma hora do seu tempo, para conversarmos sobre as Famílias de Caná!
- Ah, veio a família inteira! Quantos são? - Pergunta a senhora que nos abre a porta, com um sorriso simpático, ao ver tantas crianças a subir a escadaria a correr.
- Seis - Esclareço, cumprimentando-a. - Eu sei que o senhor bispo está à minha espera e do meu marido, mas decidimos trazer também as crianças...
E as crianças já entraram na casa episcopal.
- Ena, que giro! - Diz o David, adiantando-se na sala e observando os cadeirões vermelhos.
- David, espera! Temos de esperar aqui - Sussurro.
- Não, o David tem razão, podem entrar e esperar pelo senhor bispo na sala. Talvez os meninos se possam sentar naquele sofá comprido. Cabem todos?
Mas os meninos não querem sentar-se no sofá. Seria uma perda de tempo, quando a toda a volta há coisas tão giras de ver! Entretanto, o senhor bispo entra na sala, cumprimentando-nos. Que alegria, podermos estar com ele nesta manhã! Sentamo-nos, e começamos a nossa conversa. Queremos falar-lhe das Famílias de Caná, da espiritualidade totalmente familiar deste novo movimento, dos milagres e das conversões que o Senhor tem operado, e de como precisamos da sua bênção. Procurando comportar-se adequadamente, mas fazendo algum barulho, as crianças são a perfeita ilustração do que tentamos explicar:
- Na verdade, senhor bispo, não é fácil rezar o terço quando se têm bebés a choramingar e crianças pequenas a brincar por perto - Vou dizendo - Não é fácil estar na missa e ter de mandar calar, ou encontrar tempo para evangelizar em casa...
O senhor bispo acena, concordando, enquanto sorri perante as brincadeiras da Sara e os comentários que os meninos vão fazendo.
- Quero fazer chichi! - Diz de repente o António. A senhora que nos abriu a porta apressa-se a mostrar-lhe a casa de banho, e todos os nossos filhos a seguem para fora da sala.
A conversa torna-se mais calma e fácil, claro está... Que andarão as crianças a fazer? No final da hora, quando entram de rompante novamente na sala, ficamos a saber:
- Já visitámos o teu quarto! - Diz a Lúcia ao senhor bispo.
- E vimos a Princesa!
- Qual princesa? - Pergunto.
- O cão. Deu uma lambidela na cara da Sara!
- O senhor bispo tem um cão?
Ele sorri:
- É o cão da casa...
- E vimos a cozinha. Havia bananas na despensa e um peixe daqueles enormes tipo tubarão!
- É só um bacalhau - Explica-me baixinho o Francisco.
- E vimos o sotão e a cave.
- E vimos o chapéu vermelho especial!
- Olha, e a senhora deu-nos um saco de tangerinas!
- Esta casa é mesmo gira!
- Pois é!
O senhor bispo sorri enquanto nos despedimos.
- Não se esqueçam das tangerinas! - Acrescenta, estendendo-nos o saco que já ficava esquecido na entrada.
Felizes - embora por razões diferentes, segundo me parece - pais e filhos regressamos aos carros. São horas de voltar para casa!
Enquanto conduzo de regresso a Mogofores, vou pensando em tudo o que o senhor bispo nos disse, em tudo o que lhe dissemos também, mas sobretudo, na alegria que todos sentimos por termos sido recebidos na casa paterna. Na verdade, correr pelas escadarias do paço episcopal, visitar a cozinha e os quartos, brincar com o cão e provar as tangerinas são gestos infantis de quem se sente em casa!
Os cristãos não são orfãos, pois se no Céu têm um Pai e uma Mãe, na Terra têm pais e mães com fartura: em cada paróquia, temos um pai - em inglês, Father, em português, Padre; em cada diocese, temos um bispo; e finalmente, a servir o mundo inteiro, temos o nosso Papá, ou Papa. Os meus filhos também conhecem muitas Irmãs, a quem se referem sempre com carinho, e a Madre (Mãe) Ana-Maria Javouhey. Jesus não veio fundar um partido nem uma organização, mas uma família...
"Quem escuta a Minha Palavra e a põe em prática, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe."
(Lc 8, 21)
Que os nossos sacerdotes e todos os consagrados se descubram, cada vez mais, pais e mães espirituais do seu povo, capazes de nos revelar o rosto familiar do nosso Deus! Ámen.
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