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Pentecostes

por Teresa Power, em 05.05.16

Ao longo dos cinquenta dias de Páscoa, somos brindados, na liturgia diária, com a leitura sequencial do Livro dos Atos dos Apóstolos. Cá em casa, esta leitura tornou-se na telenovela diária. É verdadeiramente fascinante! Viagens, prisões, perseguições, libertações milagrosas, curas, conversões, terramotos, o primeiro concílio da Igreja, cartas, homens que caem dos cavalos, homem que se ajoelham à beira de uma qualquer fonte do percurso para se deixarem batizar, mulheres que acolhem os Apóstolos no seio das suas famílias, famílias inteiras que anunciam o Novo Caminho... Quantas histórias, quanto suspense, quanta aventura, noite após noite!

- Ena, mãe, abriram-se as portas da prisão assim de repente?

- Não vês que foi um terramoto?

- Não, foi um anjo!

- Ou mesmo Deus!

- Já sei: foi o Espírito Santo!

Ao longo de todo o Livro dos Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo surge quase como uma personagem mais na história. Melhor ainda: o Espírito Santo é a personagem principal do livro, Aquele que tudo realiza em todos. Num destes dias, três frases da leitura fizeram-nos conversar durante bastante tempo:

 

"Depois de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam reunidas. Uma das mulheres, chamada Lídia, negociante de púrpura, pôs-se a escutar. O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia." (At 16, 13-14)

 

Como se dá a conversão à fé cristã? Lídia decidiu escutar, não apenas com os ouvidos, mas também com o seu coração, ou seja, empenhando nessa escuta a sua vontade, os seus afetos, a sua inteligência, pois o coração, na Bíblia, significa tudo isto. E o Espírito Santo fez o resto: "O Senhor abriu-lhe o coração para aderir" à fé em Jesus.

O mundo precisa de uma renovação no Espírito como nunca antes na História. É preciso suplicar insistentemente ao Senhor que derrame sobre nós o seu Espírito e opere, hoje, as maravilhas que lemos descritas e narradas no Livro dos Atos dos Apóstolos. Amanhã, sexta-feira (o dia seguinte à Ascenção de Jesus, embora em Portugal se celebre no domingo) tem início a novena do Pentecostes. Façam-na connosco! Escrevi um texto muito simples, bíblico, centrado no essencial da súplica e da adoração. Todos os dias, invocaremos os sete dons do Espírito Santo e pediremos a graça de saborear os seus nove frutos.

Descarreguem a novena aqui: novena do pentecostes .

Então o Espírito Santo virá, soprará dentro de nós, porá a nossa vida de pernas para o ar, far-nos-á sair das nossas zonas de conforto, e abrir-nos-á o coração para aderirmos às Palavras de Jesus...

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publicado às 06:00

Alegria nas pernas

por Teresa Power, em 10.04.15

Na semana santa, o Niall e eu fomos a celebrações penitenciais diferentes, para que estivesse sempre um em casa com os mais novos. Assim, na quarta-feira santa à noite, foi a vez do Niall e do Francisco irem ao santuário confessar-se.

- Eu também preciso de ir - Disse o David, à hora de jantar.

- Precisas, David? Pensei que te tinhas confessado há duas semanas, na catequese!

- Pois foi, mas já fiz pecados muito feios depois disso e tenho de os confessar antes da Páscoa.

- OK, então vai com o pai e o Frankie. Come depressa, que as confissões começam às oito e meia!

 

O santuário, segundo contou o Niall, estava cheio. O David precisou de esperar pela sua vez, até finalmente conseguir confessar os seus pecados. Chegou a casa cheio de alegria.

- Então, David, confessaste tudo o que querias?

- Confessei. Agora estou prontinho para a Páscoa! O senhor padre que me confessou foi muito simpático. Ele disse para eu rezar o salmo do Rei David. Disse que era o salmo 50. Sabes qual é?

- Sei. Anda, vamos rezar os dois. Melhor: chama o pai e os manos, e rezamos todos!

O David assim fez. Então abri a Bíblia e pedi-lhe para ler:

 

"Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;

pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.

Lava-me de toda a iniquidade;

purifica-me dos meus delitos.

Reconheço as minhas culpas

e tenho sempre diante de mim os meus pecados.

Lava-me e ficarei mais branco do que a neve.

Faz-me ouvir palavras de gozo e alegria

Desvia o teu rosto dos meus pecados

e apaga todas as minhas culpas...

Dá-me de novo a alegria da tua salvação!" (Sl 50)

 

David a ler (2).JPG

 - Cada um pode partilhar o versículo que mais o tocou - Sugeri.

- Eu gostei da parte da neve - Disse o David. - Os pecados podem ser muito sujos, mas ficam brancos como a neve depois da confissão.

- David, os teus pecados eram assim tão graves? - Eu começava a ficar preocupada.

- Eram. - O David pôs a sua cara mais marota - Posso contar-te, ou é segredo?

- É segredo para o padre! Eu explico: os sacerdotes não podem contar a ninguém o que ouvem em confissão, nem que os matem. Não podem mesmo! Isso seria um pecado gravíssimo. Por exemplo, não podem denunciar um criminoso a partir do que ouviram em confissão. Agora tu não és obrigado a fazer segredo dos teus pecados! Claro que também não tens de mos contar.

- Mas eu quero. O meu pecado foi ter enganado a Lúcia... E o outro ainda foi pior: bati no António! Mas eu já lhes pedi desculpa, e agora fui pedir a Jesus. Por isso agora estou perdoado.

- Pois estás. Que bom! Mais algum versículo que te recordes do salmo?

- Sim, aquele da alegria. Quando saí do confessionário senti-me tão, mas tão feliz! Sentia uma alegria muito grande no coração. Não, não era bem no coração, era no corpo todo, mas sobretudo nas pernas.

- Nas pernas?

- Sim: apetecia-me saltar de alegria!

 

Lembrei-me deste episódio nesta quarta-feira, ao ler a passagem dos Atos dos Apóstolos. Pedro e João cruzaram-se com um coxo que pedia esmola. E em vez de lhe darem uma moeda, que fizeram eles?

 

"«Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.» E tomando-o pela mão, levantou-o. Nesse instante fortaleceram-se-lhe os pés e os tornozelos, levantou-se de um salto, pôs-se de pé e começou a andar; depois entrou com eles no Templo, caminhando, saltando e louvando a Deus." (At 3, 1-10)

 

Cada vez que entramos no confessionário, Jesus toma-nos pela mão e levanta-nos. Nesse instante, fortalecem-se as nossas pernas, como as do David, e podemos de novo saltar de alegria... Ámen! Aleluia!

 

 

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