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Bicicletas e o burrito de Nossa Senhora

por Teresa Power, em 05.09.15

Há 417 anos que a paróquia de Mogofores faz a sua peregrinação anual, no primeiro sábado de setembro, a Nossa Senhora da Paz, na aldeia do Beco, a trinta quilómetros. A história desta peregrinação é muito curiosa e vem contada no blogue da Lena Barros, As Surpresas de Deus, aqui.

Nas últimas semanas, todos nós, europeus, temos experimentado sentimentos de profunda tristeza perante as imagens chocantes que nos chegam dos migrantes que fogem da guerra. E temos dentro do peito uma pergunta constante: como poderemos transformar as nossas lágrimas e a nossa dor em algo de útil para quem tanto sofre? A Renascença sugeriu aqui várias coisas que talvez muitos de nós possamos fazer. Vale a pena refletir sobre elas e deixarmo-nos desafiar! Mas faltou sugerir - tratando-se de uma emissora católica - duas coisas essenciais: a oração e o sacrifício.

Que poder têm a minha oração e o meu sacrifício para combater a miséria, a guerra, a perseguição, a fome, a dor? O poder que Deus lhes quis atribuir, e que é imenso... Sim, quando unimos a nossa oração e a nossa dor à Cruz de Jesus, o que em nós é pequeno torna-se grandioso, o que é frágil torna-se poderoso, o que é nada torna-se tudo n'Aquele que é Tudo em todos. A pequenina gota de água da nossa oração e do nosso sacrifício, derramada no cálice do Sangue do Senhor, torna-se verdadeira bebida, capaz de dessedentar os nossos irmãos mais necessitados. É afinal o mistério que proclamamos na recitação do Símbolo dos Apóstolos: "Creio na comunhão dos santos". Que boa notícia! Quer dizer que a minha oração sincera e aliada a um profundo esforço de santidade pode frutificar lá longe, junto dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo em busca de felicidade!

Bem, e o que tem a peregrinação ao Beco a ver com a triste história dos migrantes e o mistério da comunhão dos santos? Essa é a parte interessante deste post:

Este ano, pela primeira vez, a nossa família decidiu participar nesta peregrinação; e decidiu desafiar, em particular, a Aldeia de Caná de Mogofores e os jovens crismados que o Niall acompanha, para juntos fazermos uma peregrinação diferente: de bicicleta, pelos migrantes, a Nossa Senhora da Paz!

Sete da manhã. No santuário, junto à imagem de Nossa Senhora Auxiliadora em Saída, os nossos ciclistas rezaram o Shemá e a Consagração à Mãe de Caná e ofereceram a sua peregrinação pelos migrantes. Depois de uma curta meditação orientada pelo Niall, estavam prontos a partir, cheios de entusiasmo!

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O caminho foi feito de risos, de partilha, de algum esforço e de alguma meditação pessoal, como combinado:

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Quase a chegar ao Beco, numa descida acentuada, uma das jovens ciclistas perdeu o controlo da bicicleta durante uns breves segundos que a todos fez gelar o sangue, e com grande aparato, lançou-se em voo picado até ao chão, magoando uma mão e um joelho. Não vinha nenhum carro em sentido contrário... Mais uns metros à frente teria galgado um pequeno muro, precipitando-se numa ravina até ao rio... Bendita sejas, Mãe de Deus e nossa Mãe!

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Entretanto, em casa com os quatro mais novos, eu preparei o piquenique, e por fim fizemo-nos também à estrada, mas de carro. Pelo caminho, rezámos o terço, e chegámos ao Beco precisamente ao mesmo tempo!

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Ao redor da pequena igreja, foram-se reunindo os peregrinos, vindos uns a pé - entre os quais o nosso pároco -, outros de carro e autocarro, e outros, claro, de bicicleta. Depois, fizemos uma pequena procissão, rezando a Ladainha de Nossa Senhora e o Angelus:

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Por fim, entrámos na igreja, para celebrar a Eucaristia, em grande festa. Que alegria! O coração de todos exultava no Senhor, que nos desinstalara, que nos fizera sair de casa e do nosso conforto, e que nos reunia no seu amor. 

Como é bonita, a igreja do Beco! Tudo nela respira luz, cor e beleza. De entre todas as imagens, uma em especial tocou o meu coração:

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Nossa Senhora com o Menino, sentada num burrinho e conduzida por S. José... Foi há dois mil anos atrás, quando também a Sagrada Família foi uma família migrante e refugiada, fugindo a um rei louco e sanguinário. S. Mateus fez a reportagem de então:

 

"José levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes. (...) Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo..." (Mt 2, 10-18)

 

Dois mil anos passados, e a Sagrada Família continua migrante, escondida em cada mulher, em cada homem, em cada criança que procura asilo junto de nós...

Nossa Senhora da Paz, dai-nos a paz!

 

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publicado às 17:28

Caravana ao pôr do sol

por Teresa Power, em 27.08.15

Uma das atividades que mais gostamos de fazer depois do jantar é passear de bicicleta, trotineta ou skate pelas ruas da nossa terra. Não pensem que é tarefa fácil! Os poucos carros que passam nas ruas que escolhemos travam a fundo perante a cena... Imaginem as fotos seguintes com o som estridente de gritos de animação e gargalhadas, e um vaivém contínuo rua acima, rua abaixo, na constante iminência de choques frontais entre crianças que, não sei explicar por que razão, nunca chegam a acontecer!

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Pelo caminho, comemos amoras:

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Durante cerca de meia hora, rua acima, rua abaixo, algumas paragens e muita algazarra, regressamos a casa. O Niall e eu respiramos fundo, transpirados e cansados... Somos os únicos que vamos a pé, mas corremos bastante para acompanhar as acrobacias dos mais novos!

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 Por fim, junto ao Canto de Oração, cantamos, dançamos e contamos histórias da Bíblia. Às vezes, a Sara adormece ao colo...

 

Há algo de profundamente calmante neste passeio familiar. É uma tranquilidade permeada de aflições, claro, mas não deixa de ser tranquilidade: a calma que nasce do afeto, do carinho, da companhia uns dos outros, do facto de que estamos todos juntos na mesma atividade familiar, apesar da filha mais nova ainda não ter três anos e do mais velho ter quase dezassete. Durante meia hora, acompanhando o sol poente, todos partilhamos a alegria de sermos intensamente família.

Lembra-me o patriarca Jacob, lá longe, no Livro do Génesis, caminhando em caravana com as suas mulheres, filhos, parentes, servos, e animais de todo o tipo:

 

"Eu caminharei devagar, ao passo da caravana que me precede e ao passo dos meninos, até juntar-me ao meu senhor, em Seir."

(Gn 33, 14)

 

As férias são o momento ideal para acertarmos o nosso passo com o da nossa pequena caravana, partilhando momentos intensos em família, descobrindo alegria intensa em família, sem receio uns dos outros, sem fugir uns dos outros, sem desculpas de falta de tempo, sem entregar demasiado a outros o cuidado dos nossos, dos que Deus nos confiou nesta caminhada vagarosa...

 

 

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publicado às 06:10

De bicicleta a Santiago

por Teresa Power, em 11.08.15

Escrito pelo Francisco:

 

“Em que é que eu me fui meter???”. Perguntei-me a mim mesmo isto muitas vezes antes e durante o percurso de 350 km de Anadia até Santiago de Compostela que realizei de bicicleta com um grupo de amigos e professores do Colégio. Bem, hoje conto-vos em que é que me meti mesmo.

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Há 4 anos um grupo de professores e alunos do Colégio Nossa Senhora da Assunção, onde eu tenho aulas desde o 1º ano, decidiu abraçar a aventura de ir até Santiago de Compostela de bicicleta, desde o Porto, e fazer esse trajeto em 4 dias. Gostaram tanto da experiência que este ano decidiram repetir e eu tive a sorte de poder participar. Muita gente queria participar mas apenas 14 pessoas podiam ir por motivos logísticos. Fomos 7 jovens (entre nós um ex-aluno do colégio) dois encarregados de educação e 5 professores (um dos quais conduzia o carro de apoio). E desta vez decidimos partir de Anadia, fazer mais 100 km no mesmo tempo…

Partimos numa quarta-feira de manhã, às 7 horas, depois de uma oração na capela do colégio:

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Começámos a pedalar, seguindo as setas amarelas, que indicam o caminho para Santiago de Compostela. Mas, como era de esperar, os problemas com bicicletas não tardaram a aparecer: logo após 10 km rebentou uma câmara-de-ar de um colega meu. Entrámos todos logo em ação para a substituir o mais depressa possível para não perdermos tempo. Nesse dia houve mais uns três ou quatro problemas com bicicletas e no resto dos dias houve ainda mais… Faz parte!

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Chegámos ao final de um dia inteiro a pedalar, 84 km com paragem apenas para o almoço, completamente exaustos, como era de esperar. De facto, o Caminho de Santiago não é um caminho fácil, é um caminho com mais subidas do que descidas, terreno muito mau (maior parte do percurso é feito por trilhos que vão acompanhando a Estrada Nacional e cruzando-a de vez em quando) pelo meio de aldeias e florestas, calçada romana em mau estado, até zonas tão complicadas que nem os melhores ciclistas se atrevem a subir de bicicleta!

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 O primeiro dia não foi muito mau, excetuando a subida ingreme de 1,5 km de comprimento, que nos matou a todos e mais umas subidas antes e depois. Ao chegar ao albergue só queríamos tomar um bom banho e descansar. Mas havia um problema: o albergue só tinha uma casa de banho minúscula! Fomos todos, um de cada vez, tomar um banho rápido, rezando para que a água se mantivesse quente…

Nos albergues íamos conhecendo outros peregrinos e percebendo os motivos da sua peregrinação. Há pessoas de várias nacionalidades a fazerem o caminho Português: Espanhóis, Brasileiros, Belgas, até Irlandeses! (esses ficaram contentes por me conhecer, por ser semi-Irlandês). Um senhor Belga que conheci estava a fazer o caminho pela 4ª vez! E não era o único. Muitos peregrinos, após fazerem o caminho uma vez, repetem-no várias vezes. É realmente uma experiência fantástica.

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Levantávamo-nos todos os dias às 5h30 da manhã e sempre que tínhamos tempo fazíamos uma oração com música, uma passagem do evangelho e a oração do peregrino. Depois começávamos a pedalar e quando chegávamos a um café tomávamos um pequeno-almoço rápido… e recomeçávamos a dar aos pedais.

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Durante o caminho, sempre que me isolava para a frente do grupo, aproveitava para rezar um pouco. Numa dessas ocasiões distraí-me de tal maneira a rezar que comecei a avançar demasiado depressa em relação ao resto do grupo sem me aperceber e um professor teve que sprintar para me apanhar e dizer para eu abrandar… A oração é, sem dúvida, o melhor “doping” que pode haver!

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A chegada a Santiago é muito bonita. Sentimos uma data de emoções juntas: “Finalmente chegámos”, “nem acredito que já estamos a terminar”, “conseguimos!”, “doem-me as pernas”… Ficámos essa noite num colégio Cluny e no dia seguinte fomos à missa do peregrino na Catedral. Foi uma missa muito bonita, com padres de todo o mundo a concelebrar. Tivemos que nos sentar no chão, mas depois de pedalar 350 km já nada custava. O famoso momento em que se balança o Bota-fumeiro enorme quase até ao teto também é emocionante e toda a gente começa a filmar, com os dois órgãos de tubos lindíssimos a tocar muito alto.

Depois de 4 dias, 350 km, não-sei-quantos problemas de bicicletas, estrada em calçada e terra batida até dizer chega, dezenas de “buen camino” ditos a outros peregrinos, chegámos ao fim da nossa jornada. Mas chegámos diferentes. Chegámos mais unidos como grupo, chegámos com mais experiência, olhando para as coisas de forma diferente. Aprendemos a levar connosco apenas o essencial, para não fazer peso na mochila, deixar os bens materiais que não necessitamos para trás. Já sabemos o que é um terreno difícil de percorrer (de tal modo que já estamos a combinar uma ida à praia de Mira de bicicleta. São só 66 km ida e volta, não é nada!).
Foi uma experiência fantástica e uma experiência que eu quero repetir. Talvez a pé ou a cavalo, para a próxima… quem me acompanha?

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publicado às 06:10

Bicicletadas

por Teresa Power, em 17.07.15

Na próxima semana, o Francisco vai de bicicleta a Santiago de Compostela, juntamente com alguns colegas e professores do colégio. Irão em peregrinação e em passeio, e serão com toda a certeza cinco dias memoráveis. Pode ser que ele vos conte depois!

Assim, o Francisco tem aproveitado as férias para se tornar um verdadeiro ciclista, praticando todos os dias um pouco, geralmente na companhia dos seus amigos. Na quarta-feira passada saiu de casa com um amigo pelas oito da manhã:

 

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 Duas horas e trinta quilómetros mais tarde, os dois amigos chegaram à praia, e têm uma selfie a prová-lo:

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 Mais duas horas e trinta quilómetros, e chegaram a casa ao mesmo tempo que nós, vindos também de uma outra praia, mas no conforto do nosso carro! Almoçámos todos juntos, partilhando histórias e gargalhadas. Sessenta quilómetros numa manhã! Acho que estão preparados para a grande aventura...

 

De vez em quando, na nossa vida, somos confrontados com desafios maiores do que nós mesmos, capazes de testar até ao limite a matéria de que somos feitos. Para uns, é uma mudança de país, para outros, uma doença, para outros ainda, a perda de um ente querido, ou uma situação de desemprego, ou uma gravidez indesejada. De vez em quando, na nossa vida, somos desafiados a "partir de bicicleta" rumo ao desconhecido. E porque estas "peregrinações" forçadas não costumam fazer-se anunciar, é preciso estar preparados... Jesus não se referia apenas ao momento da morte, mas a todas as situações de batalha na nossa vida, quando contou aos seus discípulos esta parábola sobre a vigilância:

 

"Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais." (Mt 24, 42-44)

 

Que seria do Francisco para a semana, se não estivesse em boa forma física? Que será de nós, quando a grande prova chegar - porque chegará para todos, alguma vez na vida - se não estivermos em boa forma espiritual? O ideal mesmo é começar a treinar em criança - como o Francisco em relação à bicicleta -, trabalhando o carácter, praticando a virtude, adquirindo bons hábitos. Mas para Deus, nunca é tarde para começar!

Controlar a fúria perante uma situação enervante no trabalho, calar uma resposta à provocação do conjuge, aguentar uma dor de cabeça sem um queixume, não fazer as conversas girar à volta de si mesmo, aceitar uma injustiça na escola ou um professor implicante, desligar o televisor à primeira chamada da mãe, repetir vezes sem conta o "Nós, Jesus", ou "Tu queres, Senhor? Então eu também quero!" Tudo isto são pequenas pedaladas, aparentemente insignificantes. Mas são estes "passeios curtos" que nos vão permitir, de um momento para o outro, arrancar na grande peregrinação da nossa vida!

Ofereçamos aos nossos filhos muitas ocasiões de treino, educando-os com carinho, mas com firmeza. Quanto a nós... Porque não começamos hoje mesmo a treinar?

 

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publicado às 06:13

Neblinas de verão

por Teresa Power, em 26.06.15

Sair de casa às nove da manhã, entrar no carro e fazer trinta quilómetros com o limpa-parabrisas a funcionar...

- Isto é chuva, mãe?

- Não, filha, não é. São só gotas de orvalho!

Seria uma pena não aproveitar a única manhã livre de todos, sem exames do Francisco ou trabalho na escola da mãe - exceção feita para o pai, que só terá férias em agosto.

O nosso destino é o paredão dos pescadores, na Praia da Barra, onde a ria se encontra com o mar e os navios entram para o porto... A neblina é húmida e fresca, mas ninguém se importa: de patins nos pés ou com os pés no chão a dar balanço na bicicleta sem pedais, a alegria é completa.

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 Depois de uma hora a patinar, o lanche sabe mesmo bem!

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O mar estende-se, imenso, diante de nós...

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 - Mãe, estamos cheios de calor! Podemos ir tomar banho ao mar?

- Vá lá!

- Vá lá!

Há duas grandes vantagens em ir à praia com mau tempo: temos muito espaço para brincar, e não gastamos tempo e dinheiro em... protetor solar!

- OK, então vão lá dar um mergulho!

E assim acontece... E não, não encontrei cubinhos de gelo a boiar na água, embora tenha procurado :)

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Não será esta também uma forma de pobreza evangélica? Aproveitar as circunstâncias da nossa vida, sejam elas quais forem, para saborear o amor de Deus? Só um coração verdadeiramente pobre é um coração grato, porque reconhece que nada lhe é devido e a nada tem direito... Embora o tempo atmosférico seja das circunstâncias mais fáceis de aceitar - quando comparado a uma doença, ao desemprego, a um divórcio, a uma traição - é capaz de gerar tanto descontentamento no nosso povo!

 

"Aleluia!

Como é bom cantar ao nosso Deus!

O Senhor cobre os céus de nuvens,

prepara a chuva para a terra,

faz brotar a erva sobre os montes...

Ele faz cair a neve como lã,

espalha a geada como cinza,

lança granizo aos punhados.

Aleluia!" (Sl 147)

 

 

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publicado às 06:10

Patins, bicicletas e o louvor do Senhor

por Teresa Power, em 16.06.15

O fim-de-semana passado foi inundado de chuva. O Niall estivera a semana inteira à espera de sábado para trabalhar no jardim e reparar o galinheiro, e os meninos queriam ir à praia e brincar na relva. A frustração foi imensa! Domingo à tarde, já todos rabujavam, e nem a plasticina, nem o lego surtiam o efeito desejado.

- Vamos ao parque - Sugeriu o Niall.

- Mas, Niall, está a chover! - Respondi-lhe.

- E alguma vez a chuva impediu os nossos planos?

- Bem, não...

- Então vou preparar os carros. Diz aos meninos que tragam os patins!

Os meninos já tinham escutado a conversa. Com gritinhos de alegria, todos se apressaram a procurar os patins - tarefa nada fácil, pois os patins tanto podem estar na garagem, como atrás do poço, debaixo de uma couve na horta, dentro do galinheiro, debaixo de uma cama ou atrás dos sofás.

- Francisco, vens ou ficas a estudar para os exames?

- Hoje é domingo, faço folga. Estou a precisar de fazer exercício!

- Ótimo! Então vamos todos!

Quinze minutos depois estávamos no Parque da Mealhada. Contente por nos ver sair de casa, o sol resolveu-se também a sair, e a tarde, embora cinzenta e fresca, não teve uma gota de chuva. Que alegria!

Os cinco irmãos patinam a alta velocidade. A Sara, que ainda não tem três anos, está a aprender a andar de bicicleta na sua bicicleta sem pedais, tal como aprenderam os irmãos, ganhando equilíbrio e velocidade, impulsionando o corpo para a frente com os pés no chão, para daqui a um ano poder passar, sem stress, para uma bicicleta com pedais - e sem rodinhas estabilizadoras a atrapalhar, claro:

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 O Niall empurra um carrinho de bebé com uma carga, no mínimo, estranha:

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 A alta velocidade, os meninos patinam sem parar:

 

 E no campo de basquetebol, inventam um novo desporto... Acho que se chama: Basquetebol em patins (com bicicleta à mistura):

 

Quando, duas horas mais tarde, regressamos a casa, fazemos no carro uma breve oração de ação de graças. Que alegria experimentamos nestes momentos passados em família, disfrutando da Criação!

 

"Aleluia!

Louvai a Deus em seu santuário,

louvai-O no seu majestoso firmamento!

Louvai-O ao som da trombeta,

louvai-O com harpa e cítara!

Louvai-O com pandeiretas e dança,

louvai-O com instrumentos de corda e flautas!

Louvai-O com címbalos sonoros,

louvai-O com címbalos vibrantes!" (Sl 150)

 

Louvai-O com patins e bicicletas!

Louvai-O com gritos de alegria!

Louvai-O ao sol e à chuva!

Louvai-O com brincadeiras!

Ámen!

 

 

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publicado às 06:11

S. José, uma bicicleta, um pai e os amigos

por Teresa Power, em 09.01.15

Na quarta-feira passada, a nossa carrinha estava na revisão, e portanto restava-nos o carro de cinco lugares para transportar os meninos. O Niall foi a pé para a estação e de comboio para o trabalho, o Francisco foi de bicicleta até ao colégio, e eu encaixei os restantes cinco no carro - em contra-ordenação, eu sei, porque no banco traseiro viajavam quatro crianças, duas partilhando o mesmo cinto de segurança. Teríamos assim dois quilómetros de apertos até ao colégio, por estradas de campo, e tudo se devia resolver a bem.

Mas não resolveu: a meio caminho, cruzámo-nos com o Francisco, parado ao lado da sua bicicleta.

- Que se passa, Francisco? - Perguntei, descendo a janela do carro.

- Um furo!

Fiquei sem saber o que fazer. Como ia agora conseguir enfiar no carro o Francisco e a sua bicicleta? Entretanto, ao nosso lado iam parando outros carros que se dirigiam para o colégio, preocupados connosco. A fila de carros não parava de aumentar, parecendo uma imensa caravana de amigos.

- Precisam de ajuda? - Perguntou uma mãe solícita.

- Sim! Pode-me levar algumas crianças no carro até ao colégio? Obrigada!

Distribuí os meus atarantados filhos, o Francisco enfiou a bicicleta - com bastante dificuldade - no banco traseiro e sentou-se ao meu lado, no carro, enquanto outros carros iam parando e os condutores perguntando se precisávamos de ajuda. Chegámos ao colégio sãos e salvos, com uma história bastante divertida para contar, e com o coração agradecido por termos tantos amigos e por haver tanta gente boa no mundo!

 

Nessa noite, sentada no sofá com o Niall, reparei no seu ar pensativo. Ele escutara a nossa história com um sorriso, mas também com bastante preocupação:

- Eu não vos pude valer... Que aborrecimento!

- Já passou, Niall!

- Pois já. Mas eu devia ter lá estado para recolher a bicicleta e ter facilitado tudo. Pensei em todos os pormenores ao levar a carrinha à revisão, e estava convencido de que não me iria escapar nenhum detalhe...

- És um pai e um marido precioso. Tomas muito bem conta da tua família!

O Niall sorriu:

- Sabes, eu procuro ser como S. José: cuidar de ti e das crianças com a mesma atenção ao pormenor e à vontade de Deus com que ele cuidou de Maria e de Jesus, e esquecer-me de mim o mais possível.

Dei-lhe um abraço de gratidão. Na verdade, e mesmo sem nos ter podido valer na quarta-feira, o Niall tem sido mesmo assim...

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                        (Niall carpinteiro...)

 

S. José foi o guardião da Sagrada Família, como tão bem lhe chamou o Papa Francisco na homilia inaugural do seu pontificado. S. José é a imagem do pai atento, cuidadoso e orante, o pai cristão.  Imagino o cuidado de S. José a preparar a caravana que devia levar Maria grávida a Belém... Imagino a preocupação de S. José, levantando-se durante a noite para acordar Maria, que dormia com Jesus nos braços, e a conduzir ao exílio, sem a assustar... Imagino o cuidado contínuo de S. José em fazer com que o sustento nunca faltasse na casa de Nazaré...

 

"Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor." (Mt 1, 24)

 

E quando penso em S. José, instintivamente penso no Niall.

 

Quero hoje rezar para que os pais cristãos não se demitam da missão de guardiães das suas famílias, e saibam sempre, como S. José, escutar a voz de Deus, esquecendo-se de si para servir aqueles que lhes foram confiados.

Rezo também por aqueles que não têm na terra um pai disponível como S. José, para que nunca lhes faltem caravanas de amigos, capazes de parar à beira da estrada das suas vidas e de os socorrer prontamente...

Ámen!

 

 

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publicado às 06:32

A curva da estrada

por Teresa Power, em 24.05.14

- Francisco, talvez hoje possas levar o David a dar uma grande volta de bicicleta - sugeriu o Niall. - Ele já tem idade para fazer um passeio valente!

- OK. Não te preocupes, que eu cuido dele. David!

O David nem cabia em si de contente. O mano mais velho e ele iam sozinhos de bicicleta, pelas ruas e atalhos da nossa aldeia! Fantástico! A toda a pressa, colocou o capacete, verificou o ar dos pneus e montou na bicicleta. E lá partiram os dois, tão felizes... Fiquei a vê-los do muro do jardim:

 

E continuei a olhar, mesmo depois de desaparecerem na curva da estrada... Chegou a sua vez de dobrarem a curva da estrada:

 

Quando nos mudámos para esta casa, era o David bebé, uma das coisas que mais me atraiu foi - não se riam - a curva da estrada, lá adiante. Lembrava-me o final do meu livro preferido ao longo de toda a minha infância e juventude (e que já é um dos preferidos do Francisco e da Clarinha também), Anne of Green Gables (Anne e a sua Aldeia), de Lucy Montgomery:

 

"Se o caminho que se estendia diante dos seus pés tivesse de ser estreito, ela sabia que seria semeado de flores de felicidade serena. E havia sempre a curva da estrada."

 

Na verdade, olhando para trás, para o caminho percorrido na minha vida, dou-me conta da sua beleza. A felicidade não depende da largura do caminho, mas da capacidade de o semearmos de flores. Quando, aos dez, doze, quinze anos, eu lia e relia a história da Anne, que tive de reencadernar de tanto uso, estava longe de imaginar até onde a estrada me levaria. Tantas flores de felicidade serena - e tantos espinhos...

 

Como o David, precisamos de pedalar com empenho, com coragem, com determinação, com suor, com esforço - e com imenso prazer, que o cristão é por natureza alegre! Como o David, não nos podemos lançar à estrada sem um guia seguro, pois na estrada da vida, somos sempre crianças! De curva em curva, vamos avançando nesta estrada, sem nunca conseguir espreitar para diante, mas confiando em absoluto na mão que nos guia.  Diz o salmo 139/138:

 

"Senhor, Tu examinas-me e conheces-me,

sabes quando me sento e quando me levanto;

de longe penetras o meu pensamento,

estás atento a todos os meus passos.

Tu me envolves por todo o lado

e sobre mim colocas a tua mão."

"Vê se é errado o meu caminho

e guia-me pelo caminho eterno."

 

Se não me puser a caminho, nunca saberei o que está para além da curva da estrada. Se Abraão não tivesse deixado a sua terra, nunca se teria tornado o pai do povo judeu e cristão; se José não se tivesse levantado durante a noite, que teria acontecido a Jesus, perseguido por Herodes?

Onde nos levará a estrada? Algumas curvas são bem difíceis de contornar... Às vezes é preciso (não é, David?) desmontar da bicicleta e dar a mão ao Senhor, para não nos magoarmos demasiado. A morte do Tomás foi assim. Mas do outro lado da curva, quanta beleza!  E de curva em curva, sem ceder ao medo - sabemos que o Senhor nos envolve por todo o lado e sobre nós coloca a sua mão - caminhamos rumo ao céu.

 

O Francisco e o David regressaram uma hora mais tarde, felizes e transpirados, com sorrisos cúmplices nos lábios.

 

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publicado às 06:52



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  43. M
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  45. M
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  52. D