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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O Domingo da Misericórdia é sempre um dia muito especial para nós. S. João Paulo II instituiu esta festa, dando cumprimento ao pedido de Jesus a Santa Faustina, sua conterrânea. De acordo com o Diário de Santa Faustina - um dos meus livros de cabeceira, que gosto de meditar com muita frequência antes de adormecer - Jesus exprimiu-Se assim:
"Desejo que esta festa seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pobres pecadores. Nesse dia estão abertas as entranhas da minha misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre aquelas almas que se aproximarem da fonte da minha misericórdia. A alma que for à confissão e receber a Sagrada Comunhão obterá remissão total das culpas e das penas. Nesse dia, estão abertas todas as comportas divinas, pelas quais se derramam as graças. Que nenhuma alma receie vir a Mim, ainda que os seus pecados sejam tão vivos como escarlate... A minha misericórdia é tão grande que nenhuma mente - nem humana, nem angélica - alcançará a sua profundidade." (D699)
O céu estava muito cinzento e a chuva ia caindo de mansinho, o vento era cortante e o frio apertava.
- Está um ótimo dia para irmos a Fátima, como fizemos no ano passado! Que dizem? - Perguntei, de manhã.
- Fazer a Via Sacra pelo Caminho dos Pastorinhos? Vai chover de certeza!
- Não, não vai. Vamos arriscar?
- Eu quero ir!
- Eu também!
- Eu digo que vai chover...
- Eu não me importo que chova! Nós sempre gostámos de brincar à chuva!
- Vamos?
- Agora?
- Depois da missa das dez, claro. Temos o compromisso de tocar e cantar na missa. Vamos de seguida! Toca a preparar o piquenique.
E assim foi. Quanta alegria, nesta viagem inesperada!
Fátima estava, realmente, fria, molhada e ventosa. Mas continuava branca, pura e linda. Aquele santuário imenso e silencioso fazia-nos esquecer o desconforto, mesmo aos mais novos.
Almoçámos no passeio no início do Caminho dos Pastorinhos, porque é um espaço amplo onde os rapazes gostam de andar de skate. Depois fizemos a nossa Via Sacra, servindo-nos das meditações retiradas do Diário de Santa Faustina e intercalando cada estação com um mistério do Terço da Divina Misericórdia.
- Isto que nos está a molhar levemente a cara são raios de sol, mãe? Ou talvez seja uma chuva de graças? - Brincava o Francisco, que poucos dias antes tinha feito quase cem quilómetros de bicicleta numa manhã e estava com pouca vontade de caminhar.
- Não sei do que falas. Eu não sinto nada! - Ia eu respondendo. E pouco ou muito cansados, todos nos ajoelhávamos nas estações sobre a pedra fria e húmida.
- Quero colo! - Pedia a Sara, já perto do Calvário Húngaro. Os mais velhos foram-lhe oferecendo as costas, à vez... E até o David levou a mana às cavalitas. Que crescido ele está!
Chegámos ao Calvário Húngaro e entrámos para rezar pelas intenções do Santo Padre.
- Que tal se cantássemos "Misericordes sicut Pater" a vozes? - Sugeri. Assim fizémos, e a acústica da capela devolveu-nos o cântico mil vezes mais belo. Acho que foi o entusiasmo com que cantámos e a harmonia das várias vozes que fez o funcionário de serviço aparecer ao nosso lado:
- Que lindo! Que lindo! Que lindo! - Repetia ele, com os olhos a brilhar. - Podem cantar mais?
Mas não podíamos, porque começava a chover com mais força e ainda era preciso regressar...
Regressar ao santuário para a nossa confissão. Descemos as "escadas da humildade", como gostamos de dizer, e fomos à Capela da Reconciliação, que estava a transbordar de gente.
Dei graças a Deus no meu íntimo: as comportas da misericórdia divina estavam realmente abertas! Mas como podíamos, o Niall e eu, confessar-nos se tínhamos de esperar pelo menos duas horas ali? Olhando mais atentamente, percebi que numa das alas da capela havia confissões para estrangeiros... E o confessionário para falantes ingleses estava livre! Ser casada com um irlandês tem as suas vantagens. Sim, o Niall e eu confessámo-nos rapidamente, e em inglês.
A chuva que caía fez-me recordar o post da Olívia sobre a sua peregrinação a Fátima e sobre umas tais mesas de piquenique cobertas, por detrás da basílica antiga. Foi aí que lanchámos. Que lugar magnífico! Como não o tínhamos descoberto antes? De futuro, quando fizermos em Fátima encontros e retiros das Famílias de Caná, já sabemos onde faremos o nosso piquenique.
Terminámos o dia passando, em família, pela Porta Santa. Na minha mente e no meu coração, ressoavam as Palavras de Jesus a Tomé, segundo o Evangelho do dia:
"Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e mete-a no meu peito." (Jo 20, 27)
Pareceu-me que nesta singela peregrinação à Porta Santa de Fátima, em dia da Divina Misericórdia, tocámos, como Tomé, nas chagas de Jesus e entrámos na Porta Santa do seu Sagrado Coração...
"Ó sangue e água que brotastes do coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!" (D187)
A Serra da Peneda-Gerês é um verdadeiro paraíso, mas um paraíso de difícil acesso. Senão vejamos:
Para chegarmos a casa, precisávamos de subir uma calçada estreita, onde o carro, para passar, ficava a cerca de meio milímetro da parede e outro meio do abismo... A pé era bem mais fácil!
No primeiro dia em que acordámos na casinha de férias, decidimos ir tomar banho na barragem de Vilarinho das Furnas. A barragem ficava à distância exata de um terço, de carro, num percurso de montanha digno da Heidi:
Ao chegarmos perto da barragem, vimos a água a brilhar lá em baixo, azul e tranquila, e procurámos na estrada sinais indicativos de praia fluvial. Nem um... Percorremos a estrada para cima e para baixo, para trás e para a frente, mas não conseguíamos encontrar forma de descer até àquela água tão bonita. A nossa vista da estrada era assim:
- Se calhar não é possível descer até lá abaixo...
- Claro que é! Não vim até ao Gerês para ficar a ver paisagem. Vamos encontrar um caminho!
- Sim, dois adultos sozinhos conseguem encontrar um caminho, mas... Temos crianças pequeninas e dois cães cansadíssimos!
- De facto, não se vê ninguém dentro de água...Parece um espelho! Não há barquinhos, não há traços de creme solar... Não há lixo, não há confusão... Será que não dá mesmo para descer?
A conversa prolongava-se no carro, e nem sinais de escadas, caminhos ou pontes até à água. Quase uma hora depois, encontrámos um pequeno trilho por entre as árvores... É agora! Ajudando-nos uns aos outros, conseguimos descer... E repetimos a proeza todas as manhãs!
O nosso esforço foi bem recompensado. Não vos parece? Uma "praia privada" deste tamanho...
À tarde, descíamos até ao rio, que saltava de pedra em pedra lá em baixo, no vale junto da "nossa" casa. Havia uma pequena placa a indicar "Praia Fluvial", mas nunca vimos ninguém nesta "Praia". A razão não é difícil de descobrir: para a alcançar, era preciso estar disposto a fazer uma grande caminhada, sempre a descer - e no regresso, sempre a subir!
Neste belíssimo caminho, e como em qualquer estrada que se preze, nem sequer faltava... uma rotunda :)
Também esta aventura tinha um final feliz:
A regressar da barragem ou do rio, cansados e bem dispostos, recordávamos, a rir, a passagem do Evangelho:
"Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!"
(Mt 7, 13-14)
Na verdade, se estas nossas praias fluviais estivessem bem sinalizadas, com acessos fáceis e bares carregados de música e cerveja, deixariam de ser paradisíacas... E nós, que somos amantes da natureza, do silêncio e da tranquilidade, não perderíamos tempo com elas! Os parques naturais só se mantêm "naturais" assim. Se queremos o paraíso, temos de estar dispostos a trilhar o caminho que poucos encontram, estreito, pedregoso, difícil, cansativo e pouco popular... Ah, mas vale bem a pena!
- Mãe, já pensaste numa coisa?
- Em quê, Clarinha?
- Se isto é tão bonito, como será o Céu?
- ...
- Mamã, posso ir a casa do Rodrigo?
- Podes, António, quando ele te convidar.
- Mas ele já me convidou! Ele disse para eu ir a casa dele.
- Sim, mas eu nunca falei com a mãe dele, não sei onde ele mora nem nada…
- Ah, mas isso eu sei.
- Ai sabes? Então onde fica a casa do teu amigo? Em que terra, em que rua?
- Ele disse que é virar à esquerda.
- ????????
No início de mais um ano de catequese, a nossa grande preocupação enquanto catequistas é precisamente dar a conhecer o caminho para Casa. Talvez sejamos ainda mais vagos do que o António perante uma questão tão essencial: como se vai para Casa? Qual o caminho para o Céu, para o abraço de Deus?
Também os Apóstolos se viram um bocadinho aflitos diante desta pergunta:
“Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim.»” (Jo 14, 5-6)
A catequese e toda a evangelização que possamos fazer nas nossas casas não tem senão este fim: ensinar o Caminho para Casa. E porque o Caminho é Jesus, dar catequese significa marcar encontro com Jesus! Dando a conhecer Jesus às crianças, aos jovens, às famílias, oferecendo a sua Palavra, para que O escutem, oferecendo os seus sacramentos, para que O acolham, abrimos o Caminho seguro que nos leva ao Céu...