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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Meninos, podem ligar a televisão! - Aviso, ao fim da tarde de sábado. Como já todos os leitores devem saber, sábado é dia de televisão para os Power mais novos, que durante a semana nem se lembram dela.
- Ena, que bom! Está a dar Jake e os Piratas! - Anuncia a Lúcia, a primeira a chegar à sala.
- Falta o David! - Reparo, quando a Sara e o António se instalam no sofá. - Quem o vai chamar?
- Hoje eu não vou ver televisão - Diz o David, entrando na sala. - Vou já tomar banho e depois vou ler para o quarto.
- E porquê? Tu adoras Jake e os Piratas!
- Para fazer um sacrifício. Hoje quero fazer um sacrifício dos grandes...
- Mãe, quero uma fatia de bolo!
- Já comeste ao lanche, António. Agora esperas pelo jantar. Só depois de jantar é que comes bolo outra vez.
- Mas eu quero agora.
- Já te disse que não. Depois de jantar.
- Agora!
- Não vale a pena, António.
Lágrimas. Parece que as birras ainda não acabaram de todo...
- António, vou explicar-te: não vais comer bolo agora, quer faças birra, quer não. Isso é certo. Mas restam-te duas escolhas: podes não comer bolo e ficar de mau humor, a chorar, zangado, e eu grito contigo e perco a paciência, e só temos tristeza para dar a Jesus; ou podes não comer bolo e sorrir, oferecendo a Jesus o teu sacrifício, e logo à noite pões uma flor no Canto de Oração. A escolha é tua!
O António suspira, e limpa as lágrimas. A escolha está feita.
Hora de oração familiar. Sentados no sofá da sala, rezamos o terço como todos os dias. Geralmente, antes de começarmos, precisamos de repetir muitas e muitas vezes: "Meninos, sentados como deve ser!" "Meninos, não se reza de qualquer maneira, é preciso respeito!" "Meninos, costas direitas no sofá!" Mas hoje não parece ser necessário. Antes de começarmos, o Niall ajoelha-se no chão. Duas avé-marias mais tarde, também a Clarinha se ajoelha. Mais duas avé-marias, e é a minha vez... E logo em seguida, o Francisco. Olhamos uns para os outros e rimo-nos: quando um decide oferecer um bocadinho mais a Jesus, ninguém quer ficar atrás! Sem que seja essa a nossa intenção, acabamos por nos desafiar uns aos outros todos os dias neste belo e difícil caminho da santidade.
- Mãe, explica-me outra vez o que faz Jesus com todos os nossos sacrifícios!
- Então eu explico: cada vez que tu fazes um sacrifício, Jesus recebe-o nas suas mãos, com todo o carinho. Depois transforma-o numa graça especial para alguém também especial, que só Ele conhece... Assim, talvez Jesus tenha aproveitado o teu sacrifício de não ver televisão para derramar felicidade sobre um menino da tua idade, que estava a chorar no meio da guerra na Síria. Quem sabe? Talvez...
- Mas no céu vou saber, não vou, mãe?
- Sim, no céu vais poder brincar com todos os meninos que receberam graças através de ti. E também vais conhecer todos os meninos que, com os seus sacrifícios, obtiveram graças para ti!
- Nem posso esperar...
Estas conversas surreais acontecem muitas vezes em nossa casa. Podem conter uma ou duas imprecisões teológicas em termos de linguagem, eu sei, mas não encontro melhor forma de explicar às crianças esta maravilha que é a comunhão dos santos, em que nós, católicos, afirmamos acreditar. É deste imenso tesouro dos sacrifícios e sofrimentos de todos os santos, conhecidos e desconhecidos, vivos na Terra e vivos no céu, que cada um de nós recebe graça sobre graça. Como diz S. Paulo, as nossas vidas individuais são preciosas quando unidas ao sofrimento pascal de Jesus:
"Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, pelo seu corpo que é a Igreja." (Col 1, 24)
Porque no único Corpo formado por Jesus e pela sua Igreja, circulam de uns para os outros todas as graças, todas as bênçãos, todas as alegrias, todas as dores, como o sangue que percorre todos os membros:
"Os muitos que somos formamos um só corpo em Cristo, mas individualmente, somos membros que pertencem uns aos outros." (Rm 12, 5)
E de sacrifício em sacrifício, no Canto de Oração é quase primavera...
Hora de oração familiar. Com grande entusiasmo, pego no evangelho do dia, que nos faz mergulhar de cabeça na grande passagem das obras de misericórdia, no capítulo 25 de S. Mateus, 31-46.
- Meninos, vejam se conseguem completar as frases da parábola de Jesus:
"Vinde, benditos de meu Pai, receber o Reino que está preparado para vós desde o início do mundo; porque tive fome...
- e destes-Me de comer!
"porque tive sede...
- e destes-Me de beber!
"estava nu...
- e destes-Me roupa!
"estava doente ou na prisão...
- e fostes visitar-Me!"
A leitura terminou com um coro perfeito de vozes infantis. Já todos sabem a leitura de cor, o que é o primeiro passo para que ela passe da mente ao coração.
- Lembram-se de que forma a Madre Teresa ensinava esta passagem às pessoas?
- Eu lembro! Nas mãos!
- Precisamente! Quando perguntavam à Madre Teresa por que razão ela se dedicava tanto aos mais pobres dos pobres, ela pegava na mão do seu interlocutor e, tocando em cada um dos dedos à vez, soletrava: "You did it to Me".
- Posso fazer na tua mão?
- Faz lá, António!
- "You did it to Me."
- E podemos também fazer em português?
- Sim. Podemos dizer assim: "Foi a Mim que fizeste."
- Agora faço eu!
- E eu também!
- "Foi a Mim que fizeste!"
- Ah, agora o importante é não esquecer... Tudo o que fazemos aos nossos irmãos, fazemos a Jesus. E tudo o que deixamos de fazer, deixamos de fazer a Jesus.
- Eu hoje ajudei os manos a arrumar os legos. E olha que eu não tinha brincado com eles! Posso pôr uma flor no Canto de Oração.
- Eu também fiz uma coisa boa a Jesus. Na escola, com um amigo... Vou pôr uma flor.
Sorrio. O Canto de Oração está a ficar muito primaveril...
- Mãe, faz um sacrifício e deixa-nos fazer tintas!
Estou quase a responder que não, quando me dou conta de que é mesmo um sacrifício deixá-los trabalhar com tintas, brilhantes, pinceis, papeis, colas e afins, tudo espalhado na toalha de plástico sobre a mesa da cozinha, sobre o chão, sobre as paredes, sobre o teto; e finalmente, quando se cansam e se vão embora, depois de distribuirem os desenhos molhados por todas as superfícies planas para que sequem, sobra para mim...
- Bem, eu deixo, porque está a chover lá fora e há poucas alternativas... Mas depois arrumam tudo!
Arrumam, claro, embora não "tudo", nem sequer "quase tudo". Suspiro e tento um sorriso. Tenho direito a oferecer uma flor no Canto de Oração. E eles sabem disso.
Com o início da Quaresma, duplicam os nossos esforços por oferecer ao Senhor pequenos sacrifícios, pequenos gestos de generosidade e, neste ano especialmente, pequenas obras de misericórdia.
- Mãe, eu consolei a Sara que estava a chorar - Diz-me o António, triunfante, com uma Sara sorridente pela mão.
- Mãe, eu barrei o pão da Sara porque ela não conseguia. Dei de comer a quem tinha fome! - Afirma a Lúcia.
- Eu deixei o António escolher o jogo, e fiquei a contar em vez de me esconder, como preferia - Proclama o David.
- E eu cortei as flores todas em papel para vocês oferecerem - Diz a Clarinha, assertiva.
- Eu, bem, eu evitei entrar na cozinha durante toda a tarde em que a Clarinha fez os bolos para a festa do António, para não cair na tentação da gulodice em quarta-feira de cinzas - Sorri o Francisco, piscando o olho à irmã.
Todos multiplicam "coisas bonitas para Deus" (something beautiful for God), como a Madre Teresa gostava de dizer. Depois, ao serão, durante a nossa oração familiar, os mais novos colam no Canto de Oração uma pequena flor de papel de lustro. Quando chegar a Páscoa, os nossos desertos estarão plenamente floridos.
"Então o deserto e a terra árida alegrar-se-ão. A estepe vai alegrar-se e florir. Como o lírio, ela florirá, exultará de júbilo e gritará de alegria. A glória do Líbano ser-lhe-á dada, o esplendor do Carmelo e de Saron..." (Is 35, 1-2)
Ah, a primavera depois do inverno, a alegria depois do sacrifício, a felicidade depois do sofrimento, a Ressurreição depois da Cruz... Que belo final para o caminho de renúncia, generosidade e penitência que a Quaresma nos oferece!
O dia em que preparamos o Canto de Oração para novo tempo litúrgico é sempre um dia de festa cá em casa, e todos querem participar.
- Vamos falar de portas este ano, não vamos?
- Sim, Clarinha, este é um ano especial, especialíssimo. É o primeiro Ano Santo na História da Igreja em que o Papa autorizou a abertura de milhares de Portas Santas em todo o mundo, para além das quatro Portas Santas de Roma...
- E por que é que se fala tanto em Porta Santa?
- Porque Jesus disse que Ele mesmo é a Porta. No Evangelho de S. João, Jesus afirma:
"Eu sou a porta das ovelhas. Se alguém entrar por Mim estará salvo; há de entrar e sair e achará pastagem." (Jo 10, 7.9)
Pouco a pouco, durante a refeição familiar do almoço, as ideias foram nascendo. À tarde, a Clarinha e eu pusemos mãos à obra, enquanto os mais novos entravam e saíam da sala, exclamando de vez em quando "Que lindo! Que lindo!" Pontualmente, pedíamos alguma ajuda ao Francisco, que como sempre prefere ver o trabalho final concluído.
A festa não seria completa sem um lanche apropriado, claro! E para isso, não há melhor que a Clarinha. Todas as famílias deviam ter uma Clarinha, acreditem em mim! Ora vejam só este lanchinho:
É preciso gastar o chocolate todo que há em casa antes de começar a quaresma, pois uma das nossas renúncias é sempre o chocolate...
E ao fim da tarde, o Canto de Oração estava pronto. Querem ver?
- Mamã, por que é que a cruz de Jesus está dentro da Porta?
- Porque foi pelo seu sacrifício, pela sua morte e ressurreição que Jesus nos abriu a Porta Santa, David.
- É por isso que puseste os cartões com os mistérios dolorosos a toda a volta?
- Sim. Foram os mistérios dolorosos - o Caminho da Cruz - que nos salvaram. Abrir uma Porta Santa dá trabalho! A Lena explicou no seu blogue que é preciso primeiro derrubar um muro inteiro, pois a Porta Santa fica não só trancada, como murada de jubileu para jubileu. Jesus derrubou o muro do nosso pecado com a sua entrega de amor...
- Ah, e então a bilha representa o Coração de Jesus, não é?
- Sim. A bilha representa o seu Corpo entregue por nós, a jorrar o Sangue da Nova Aliança, perfurado por três cravos. As bilhas das Famílias de Caná têm tanta, tanta simbologia... Que símbolo tão rico o Senhor nos ofereceu!
- E estão aí os cartões da Via Sacra! Há tanto tempo que não rezamos a Via Sacra!
- É verdade, vamos rezá-la, como todas as quaresmas, nos domingos à tarde.
- Havemos de ir rezá-la também a Fátima...
- Esperemos que sim! E à nossa igreja. E aqui em casa, com os cartões que vocês fizeram, tão bonitos.
O Canto de Oração Quaresmal está pronto, desde domingo à tarde. A quaresma é sempre um tempo tão intenso na vida de cada um de nós, e na nossa vida familiar, que tivemos pressa em preparar o espaço familiar de oração ainda antes do carnaval, para o fazermos com calma durante a interrupção letiva. Hoje começa verdadeiramente esta aventura de conversão, sempre começada, sempre fracassada, sempre perdoada, sempre renovada, a cada ano e a cada ciclo... Como Deus é bom!
Rezemos então uns pelos outros durante este tempo magnífico de misericórdia! A todos os leitores deste blogue, uma santa quaresma! Ámen.
O dia 15 de agosto é sempre um dia de grande festa para nós - ou não fosse ele o dia da glória da nossa Mãe! E só os filhos que não se sentem amados não festejam as glórias das suas mães. Quando se discutia a diminuição do número de feriados nacionais, o nosso saudoso D. José Policarpo foi muito claro: "Nos dias santos marianos não vamos tocar!" Mãe é mãe.
Por isso, faz-me sempre muita confusão quando, vestidos de festa, cheios de expetativa e de alegria, entramos na igreja em dia 15 de agosto e a encontramos praticamente vazia. Claro, muitas pessoas estão de férias... Mas estarão as igrejas nos locais de férias particularmente cheias? Onde está a alegria da festa mariana?
Ser católico é, acima de tudo, ter a graça de nos sabermos família - família que tem no céu um Pai e uma Mãe. E as famílias gostam de se reunir, para celebrar datas especiais, na casa de família, na casa paterna. É aí que, nas grandes datas, os filhos casados se encontram com os irmãos, os cunhados, os primos, os sobrinhos, os tios, e os pais se alegram com os frutos do seu amor. Assim, não há melhor forma de celebrar os dias santos de Maria do que reunirmo-nos na Casa de Família, a Igreja, em clima de festa e gratidão!
Na véspera do dia 15, fizemos os possíveis por preparar esta grande festa. Começámos por nos confessar no santuário. O senhor padre teve a gentileza de nos confessar "em série" e de esperar pacientemente que o António tirasse os patins ou o David descesse da trotinete para a sua confissão. Só a Sara, que ainda não fez três anos, não se confessou - e olhem que não foi por falta de tentativas da sua parte, pois não há nada que os irmãos façam que ela não imite a seu jeito!
Depois, preparámos o nosso Canto de Oração com as cores marianas. Na verdade, o dia 15 de agosto é apenas o começo de uma série de festas marianas: dia 8 de setembro teremos o aniversário de Nossa Senhora, e durante todo o mês de outubro teremos o mês do rosário. Assim, o Canto de Oração fica bem caracterizado para estes próximos meses. Que vos parece?
Finalmente, na Eucaristia de dia 15, cantámos os louvores de Maria na companhia das poucas famílias que aí se reuniram também.
No Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, há uma imagem belíssima de Nossa Senhora "em saída", pronta a visitar as nossas casas como visitou Isabel, há dois mil anos atrás. No final da Eucaristia, cantando, convidámos Maria a vir connosco:
"Vem vem connosco a caminhar, Santa Maria vem!"
Uma das três Famílias de Caná que participaram na Eucaristia foi a família da Olívia e do Álvaro, que fizeram duas horas de viagem para passarem o dia connosco. Assim, durante a tarde, as crianças puseram a brincadeira em dia, os adultos a conversa, e claro, como sempre que duas Famílias de Caná se encontram, rezámos o terço, em honra da nossa Mãe e Rainha, neste dia em que o céu inteiro festejava.
O dia foi tão bom, a oração tão bela, o convívio tão simples, que por várias vezes me lembrei do Cântico de Maria, o Magnificat, escutado na missa da manhã:
"A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador!
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva,
de hoje em diante me chamarão Bem-Aventurada
todas as gerações!
O Todo Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome!"
(Lc 1, 46-49)
Maria tem esta forma tão própria de unir em oração as famílias e os amigos, criando comunidade ao redor do terço. À noite, quando me deitei, agradeci-lhe com sinceridade a graça de permitir aos meus filhos crescerem em família de famílias, como certamente Jesus cresceu em Nazaré... Não são precisamente isto, as Aldeias de Caná?...
Dia do Pai. Pequeno almoço. Os meninos acordam com o doce cheirinho da apple crumble irlandesa.
- Feliz Dia do Pai!
- Feliz Dia do Pai!
As exclamações de alegria repetem-se, enquanto todos correm para a cozinha para um pequeno-almoço esmerado. Entre duas garfadas, o Francisco comenta, em tom de brincadeira:
- Para quaresma, as nossas refeições nem têm sido más!
- Sim, são mais as exceções que a regra! - Acrescenta a Clarinha - Dia do pai, dia de S. Patrício, os meus anos, o retiro...
- Ah, o retiro! A comida do retiro é sempre a melhor comida do mundo! Não sabe a quaresma, não...
- E depois os domingos de panquecas, que o domingo é sempre dia de festa, quaresma ou não quaresma...
- Bem, a alimentação não tem sido a base do nosso sacrifício quaresmal. No entanto, acho que esta quaresma temos rezado muito, não é verdade?
- Sim, mamã, temos rezado muitas vezes a Via Sacra, e feito adoração em silêncio. E temos contado muitas histórias da Bíblia!
- E eu estou sempre a pensar em Jesus, sabes, mãe?
- Ai sim, David?
- Sim. Quando estou na escola penso muitas vezes: "Jesus fica ou não contente com o que eu estou a fazer?" Há uma menina na minha sala que me irrita tanto! Está sempre a implicar comigo. Então eu fico a pensar como é que Jesus fazia se fosse eu.
- Que boa ideia, David! Não estás nunca sozinho nessas lutas. Jesus está sempre a teu lado! Lembra-te de rezar sempre: "Nós, Jesus!"
- E eu lembro.
O pequeno-almoço está terminado. Enquanto os meninos acabam de se arranjar, o Niall e eu arrumamos a montanha de louça espalhada pela mesa. São quase horas de sair para a escola, mas estamos habituados a aproveitar todos os minutos a sós - com ou sem louça pelo meio - para conversar:
- Quando nos acostumamos a rezar a Via Sacra, pensamos mais vezes no que significa realmente o sacrifício de Jesus - Diz-me o Niall.
- Sim, faz-nos bem meditar em cada passo do seu caminho doloroso. Quanto mais meditamos na cruz de Jesus, mais os nossos afazeres nos parecem triviais. Começamos a perceber que realmente, só o amor importa...
- E deixamos de dar importância ao que não tem importância.
- A oração serve mesmo para isso, não é? Rezar não serve para mudar a vontade de Deus, porque a vontade de Deus é perfeita; serve antes para mudar a nossa vontade, converter o nosso coração, assimilar os critérios do Evangelho, aprender a ver a vida através do olhar de Jesus.
- Meditar na Via Sacra e adorar Jesus no Santíssimo Sacramento são duas formas de imitarmos Verónica, que ao enxugar o rosto de Jesus, descobriu os traços do Senhor gravados no seu véu, no seu coração, na sua vida...
- Sim, Verónica é uma bela imagem do que acontece a quem reza! E penso que todos nós cá em casa estamos a experimentar esta união crescente com o Senhor.
Antes de sairmos para a escola, a Lúcia quer oferecer uma flor a Jesus, depois de fazer as pazes com o António. O nosso Canto de Oração cheira a primavera...
"Todos nós, de face descoberta, refletimos a glória do Senhor como um espelho, e somos transformados nesta mesma imagem, sempre mais gloriosa, pela ação do Senhor." (2Cor 3, 18)
Hora de jantar. Todos parecem ter uma coisa para contar, mas eu também quero falar.
- Meninos, temos de aproveitar as férias do Carnaval para preparar uma coisa.
- Qual é?
- Alguém sabe o que é que vai começar na quarta-feira?
- Eu sei!
- Eu também! A quaresma!
- Exatamente. A quaresma! E por isso, temos de preparar o Canto de Oração.
- Claro!
- Alguém tem ideias?
- Eu! Estava a pensar no Rei David, porque gosto muito dele.
- Mas na quaresma pensamos mais em Jesus, que deu a vida por nós. O Rei David foi um pastor...
- E era capaz de dar a vida pelas suas ovelhas! Foi o que ele disse a Golias, não foi?
- Sim, foi! David explicou a Golias que nunca perdera nenhuma das suas ovelhas nas garras dos ursos e dos leões. Podemos ler essa história no Livro de Samuel, capítulo 17. David era muito valente! Mas Jesus ainda fez mais por nós. Como David, Jesus também é Pastor, o Bom Pastor, que veio à Terra e continua a vir para procurar as ovelhas perdidas. Somos todos um pouco como ovelhas perdidas... Ao contrário de David, contudo, Jesus deu a sua vida para nos libertar das garras dos leões e dos ursos. Jesus morreu na cruz, para que nós pudessemos regressar a Casa!
- Ah! Nunca tinha percebido como é que a Cruz nos podia salvar!
- Vês, David, na Cruz, Jesus deu a vida pelas ovelhinhas que nós somos... Meninos, acho que descobri o tema do nosso Canto de Oração quaresmal: o Bom Pastor!
- Ena! Que grande ideia!
E pusemos mãos à obra...
Depois de passar a ferro a "cortina de quaresma" e de a pendurar no Canto de Oração, procurámos na net imagens de ovelhas. Cada um escolheu a sua, que imprimimos de seguida. Depois, cada um pintou e colou algodão na sua ovelha - com a supervisão da Clarinha!
Na cortina, começámos por pendurar uma fita branca e uma vermelha entrelaçadas, simbolizando o caminho de sangue e água que Jesus abriu na Cruz, e por onde caminhou para salvar as ovelhas perdidas. Acompanhando este caminho de vida, colámos as pagelas com as imagens dos Mistérios Dolorosos do Rosário, os mistérios da dor de Jesus.
Por fim, cada um de nós colou a sua ovelhinha sob a Cruz de Jesus, para pastar feliz nos prados verdes que Jesus nos conquistou com o mistério pascal, segundo o Evangelho de S. João:
"Eu sou a porta das ovelhas. Se alguém entrar por Mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. (...) Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me..." (Jo 10, 7-15)
Que ovelhinhas fofas!
Claro que enquanto uns trabalham, outros aproveitam o quentinho da lareira...
No cimo da cortina, colámos a Palavra que nos serviu de inspiração, do Evangelho de S. João:
Por fim, tudo ficou pronto. Está ou não bonito?
E aí por casa, como estão os vossos Cantos de Oração? Enviem as fotos, que terei imensa alegria em as publicar aqui no blogue!
Recordo ainda os leitores que vivem em Aveiro ou arredores que no próximo sábado dia 21, pelas 15 horas, iremos estar no Centro Paroquial da Sé, para dar testemunho da nossa vida cristã em família. Mesmo que não sejam crentes, apareçam para nos cumprimentar :)
O dia 25 desponta sempre muito cedo cá em casa. Alguns meninos até acordam a meio da noite, a perguntar se já é de manhã! Quando, finalmente, autorizamos o despertar, lá pelas seis e pouco, todos correm para a sala, onde é preciso aguardar em fila até o pai abrir a porta, que sabiamente fechou à chave...
A alegria do abrir dos presentes, os gritos de excitação perante coisas tão simples, a descoberta de quem enviou o quê a quem, as pequenas surpresas inesperadas que os manos fazem uns aos outros, os papéis de embrulho espalhados por todo o lado e as sentenças da Sara, correndo de brinquedo para brinquedo e repetindo: "É meu!" - independentemente, claro está, de ser ou não... Tudo isto faz da manhã de Natal uma festa.
Mas a festa a sério acontece algumas horas mais tarde, na missa... É Natal!
À tarde, houve tempo para brincar com os primos, estreando jogos, contando histórias e inventando aventuras:
Durante o jantar, acendemos as cinco velas da nossa Coroa de Advento. Ficou tão bonito...
Antes de dormir, a oração familiar à volta do presépio foi de acção de graças. Bendito sejas, Jesus, porque Te fizeste pequenino, para que nós, os pequeninos, Te possamos encontrar! Bendito sejas, Jesus, porque Te fizeste humano, para que nós, os humanos, nos possamos tornar divinos...
"Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu,
a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus;
e realmente, o somos!" (1Jo 3, 1)
O primeiro domingo do Advento é um dia muito ocupado e muito divertido aqui em casa, cheio de aventura, sujidade, alegria e trabalho. Senão vejam: foi preciso ir apanhar musgo para fazer o presépio, e os mais novos não cabiam em si de excitação:
É o começo da grande aventura! Entretanto, em casa, eu e a Clarinha passámos e pendurámos a nova cortina no Canto de oração do Advento. Tudo a postos para a construção do presépio!
Depois, foi preciso fazer a Árvore de Natal, a que nós decidimos começar a chamar Árvore de Jessé, como expliquei no post de ontem.
- Esta Árvore parecia-me tão grande há uns anos, mãe! - Dizia-me o Francisco, a sorrir, enquanto a montava. Terá a Árvore diminuído de tamanho? Ou terá o meu rapaz crescido?...
Finalmente, a sala ficou pronta. Podemos celebrar o Advento! Ao almoço e ao jantar de cada domingo do Advento, acendemos uma vela na nossa Coroa de Advento enquanto cantamos "Vem, Senhor". São tradições antigas cá em casa, que despertam em nós a vontade de transformar este tempo em tempo diferente, de conversão do coração. Foi também diante desta Coroa iluminada que rezámos o primeiro dia da novena da Imaculada Conceição:
Ao serão, a nossa oração familiar foi continuamente interrompida por exclamações de pura alegria:
- Está tão lindo, mãe!
- Olha a vela a brilhar junto de Jesus!
A Sara admirou o presépio com muito cuidado, e foi comentando comigo, enquanto apontava:
- Jesus faz ó-ó!
Depois cantámos e dançámos para o Senhor:
E chegou o momento de colocar o símbolo na Árvore de Jessé. Que excitação entre os pequeninos! Contei a história de Adão e Eva, e pedi-lhes que procurassem o símbolo adequado para colocar na Árvore:
A Lúcia já encontrou: é a maçã! Orgulhosa, pendurou-a na Árvore:
Na cortina do Canto de Oração, a Clarinha escreveu uma frase da primeira leitura da missa deste domingo I do Advento:
"Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis!" (Is 63, 19)
Oh, Senhor, se rasgasses as trevas da nossa alma, os muros da nossa vida, as núvens do nosso céu, e nos revelasses o teu rosto... Vem, Senhor Jesus!
Hora de jantar. Aproveito o meio segundo de silêncio que de repente percorre a mesa para contar:
- Sabem o que li hoje no blogue da Bruxa Mimi? Imaginem que, para fazerem o seu Canto de Oração, tiveram de arrastar um piano!
- E isso custa assim tanto?
- Sabes quanto pesa o piano? Trezentos quilos! Sim, trezentos quilos!
- A trabalheira que deve ter sido!
- Parece que ainda lascaram a parede e tudo...
- Bem, tanta coisa por causa do Canto de Oração... Achas que Deus ficou contente, mãe?
- Acho que ficou contentíssimo! Imagino-O a piscar o olho, feliz, a Nossa Senhora... Ver uma família arrastando trezentos quilos para O poder louvar! Quem não ficaria contente?
(Imagem do post do blogue Alheia a tudo... ou talvez não!")
Depois de nos rirmos com simpatia desta bela aventura da família da "Bruxa Mimi" (os meus filhos não me perdoam eu não lhes ter mostrado quem é a verdadeira "Bruxa Mimi" no Retiro de Almada), fiquei a pensar...
Quantos trezentos quilos muitos de nós não temos de arrastar, para encontrarmos tempo de oração pessoal e familiar?
Alguns têm de arrastar trezentos quilos de actividades extra-curriculares... Todas as actividades extra-curriculares são boas, claro, mas os que querem seguir Jesus não deixam apenas as coisas más para trás. Deixam também as boas, por outras melhores... Lembram-se do que diz o Evangelho? Diz assim:
"Atracando em terra os barcos, eles deixaram tudo e seguiram Jesus." (Lc 5, 11)
Deixem-me recordar-vos a história do chamamento de Pedro, o pescador, que termina exactamente com o versículo citado: às ordens de Jesus, Pedro acabara de pescar o maior número de peixes da sua vida! As redes quase se rompiam de tanto peixe... Completamente atordoado com o milagre, Pedro atracou então o barco e, como diz o Evangelho, deixou tudo e seguiu Jesus. Tudo? Sim, Pedro deixou sobre a areia todo o peixe que pescara - e o peixe é uma coisa muito boa! Terão sido... trezentos quilos de peixe?...
Uma das dificuldades que as famílias apontam para encontrarem tempo de oração e de evangelização familiar é precisamente a correria do seu dia. Porque as actividades extra-curriculares não enchem apenas as vidas dos filhos: enchem também as dos pais, transformados em motoristas, gerando na família níveis de stress e cansaço incompatíveis com a oração. Assim, para termos tempo de rezar, precisamos de arrastar para o lado algumas destas actividades, reduzindo-as a um nível que nos permita encontrar o tempo essencial da vida de oração. Cá em casa somos muito exigentes neste ponto!
Outras famílias têm de arrastar um objecto aparentemente bastante mais leve do que um piano, mas talvez lá no fundo seja bastante mais pesado. São trezentos quilos de... televisão! Ou de computador, ou de consolas, ou de telemóveis... Quanto tempo desperdiçado diante das imagens que o mundo nos quer impingir! Quantas horas mal empregues!
Um dos comentários mais frequentes entre pais é este: "Vou inscrever o meu filho em mais uma actividade extra-curricular, para que ele passe menos horas em frente do televisor". Será que a televisão e afins são a única alternativa? Cá em casa temos muito pouco de cada uma destas coisas (refiro-me naturalmente a actividades fora do horário escolar normal), mas um milhão de alternativas! Precisamos de as descobrir com os nossos filhos e de explorar com eles um admirável mundo novo de actividades extra-curriculares que se podem realizar... em casa, com a família ou com os amigos! O "homeschooling" (ensino doméstico) neste campo é fantástico...
Enfim, cada família sabe quais os trezentos quilos que tem de arrastar, se quiser encontrar tempo para o Senhor. A verdade é que - e vou usar as palavras com que a Bruxa Mimi concluiu o seu post - vale a pena. Vale mesmo a pena!...