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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O nosso piquenique na semana passada teve a agradável companhia de amigos. O tempo estava encoberto, a água estava fria, mas os meninos não pareciam cansar-se de mergulhar e apanhar rãs! Por fim, decidimos que eram horas de todos se vestirem e de fazermos uns passeios pela aldeia. E foi assim que os nossos seis filhos e o seu pequeno amigo tiveram a alegria de explorar uma aldeia de granito, com casas lindíssimas, ruas estreitas e íngremes, e muitas, muitas ruinas. Haverá alguma coisa mais interessante para se fazer aos cinco, aos seis, aos nove anos do que explorar casas em ruinas e imaginar aventuras fantásticas no seu interior?
Ou aos aos catorze, ou aos dezasseis anos, claro!
Espreitando por entre os pilares de um espigueiro abandonado, vislumbrei a torre da igreja paroquial, envolvida em nuvens...
Enquanto os meninos exploravam as ruinas com alegres gargalhadas, a minha imaginação fértil pôs-se a recriar esta mesma aldeia há muitos anos atrás, quando as famílias tinham dez, doze filhos, e as crianças brincavam em bando, rua acima, rua abaixo... Ao domingo, o sino da igreja congregava as famílias para a festa da eucaristia, e aos serões, rezava-se o rosário...
Talvez não fosse tudo assim tão cor-de-rosa como no meu sonho, ou talvez o meu sonho ainda esteja por realizar. Recordo-me das palavras poderosíssimas do Papa Francisco na homilia sobre as Bodas de Caná, que fez no dia 6 de julho de 2015:
"O melhor dos vinhos aguardamo-lo com esperança, ainda não veio para cada pessoa que aposta no amor. O melhor vinho ainda não chegou para aqueles que hoje vêem desmoronar-se tudo. Murmurai isto até acreditá-lo: o melhor vinho ainda não veio. Murmurai-o cada um no seu coração: o melhor vinho ainda não veio. Deus sempre Se aproxima das periferias de quantos ficaram sem vinho, daqueles que só têm desânimos para beber; Jesus sente-Se inclinado a desperdiçar o melhor dos vinhos com aqueles que, por uma razão ou outra, sentem que já se lhes romperam todas as talhas."
Afinal, o nosso Deus é um Deus acostumado a restaurar ruinas. Ao longo da História de Israel, não fez Ele outra coisa! Com grande entusiasmo, os profetas ensinam-nos a exultar de alegria, mesmo quando a nossa vida não passa de um monte de ruinas:
"Ruinas de Jerusalém, irrompei em cânticos de alegria, porque o Senhor consola o seu povo, com a libertação de Jerusalém!"
(Is 52, 9)
"As velhas ruinas serão restauradas, levantarão os antigos escombros, restaurarão as cidades destruídas e os escombros de muitas gerações!" (Is 61, 4)
E Jesus não hesita em transformar a nossa água em vinho, se Lhe oferecermos as nossas bilhas, as nossas talhas, os pequenos tanques da nossa vida...
Talhas rotas, escombros de muitas gerações, casas abandonadas, ruinas de vidas inteiras... Ah, se tivermos a coragem de tudo oferecer ao Senhor, e nos abrirmos à sua ação libertadora, irromperemos em cânticos de alegria!
Um dia, a nossa vida ressurgirá dos escombros e seremos plenamente felizes!
Um dia - e não é só um sonho lindo - as antigas aldeias ressurgirão renovadas, brilhantes como pérolas preciosas, transbordando de crianças e de vizinhos que se entreajudam. Não estarão já entre nós, como Aldeias de Caná?...
Quando regressámos do Gerês, demos início aos trabalhos de manutenção da nossa casa, que já estavam projetados desde o verão passado. Uma casa onde vivem oito pessoas, algumas bastante turbulentas, tem sempre muito onde nos entretermos!
Primeiro foram os longos dias de pintura da nossa casa. Se até este mês achavam que ela era cor-de-rosa, o que dirão a partir de agora? Ah, parece nova!
No início, todos quiseram ajudar:
Depois, o pai pediu-me encarecidamente que continuasse a levar a família à praia e o deixasse trabalhar... E assim foi: partíamos de manhã, e pela hora de almoço já estava mais uma parede inteira pronta! Durante a tarde, com um pouco de sorte, o Niall tinha a ajuda do Francisco e da Clarinha:
Graças ao Francisco, temos agora a chaminé mais cor-de-rosa de Mogofores e arredores :)
Entretanto, também no interior da nossa casa se trabalhou arduamente. Ninguém ultrapassou a Sara em vontade de trabalhar!
O David teve direito a duas estantes novas, que o Francisco montou:
Digam lá se não está bonito o seu "espaço privativo" dentro de um quarto para três?
Uma das maiores bênçãos de sermos família é podermos trabalhar em conjunto na edificação da nossa vida comum. Bem mais importante do que ter uma casa pintada ou uma sala aspirada é podermos fazê-lo juntos, ajudando-nos uns aos outros. É importante que as crianças aprendam desde muito cedo que a casa é de todos, e que todos precisam de trabalhar para a manter de pé. É importante que os mais velhos descubram a alegria de ajudar os mais novos, prestando-lhes pequenos serviços, e que os mais novos aprendam imitando os mais velhos. Nada nos aproxima mais do que a partilha das dificuldades e das tarefas quotidianas!
A Casa de Deus não é muito diferente... Também a Igreja precisa de ser edificada por todos, partilhando tarefas e dificuldades, aprendendo uns com os outros, servindo-nos uns aos outros. Escreveu S. Paulo:
"Já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito." (Ef 2, 19-22)
Ainda não nos sentimos parte da família? Um novo ano pastoral está à porta... Arregacemos as mangas e ofereçamo-nos para o trabalho na paróquia e nos diferentes apostolados que nos cativam. Integremo-nos na construção do templo santo do Senhor, sem medo de "estragar a pintura", porque ninguém é demasiado novo ou demasiado velho para a tarefa. E experimentaremos a alegria imensa que é sermos família de Deus...
Na tarde de domingo passado, fomos a um sítio muito especial. Eu já tinha ouvido falar dele, e já tinha lido alguma coisa na Internet sobre ele, mas nunca o tinha visitado. Com a chegada do Advento, senti uma vontade imensa de o visitar e de ali rezar. Mas como fazer? Este sítio de que vos vou falar fica numa aldeia pequenina aqui nos arredores de Anadia, e eu não fazia ideia de como lá chegar, pois nem sequer sabia bem que aldeia era... Felizmente, a São teve a mesma lembrança:
- Teresa, gostava de lhe mostrar o Santuário do Loreto... Já ouviu falar?
Com a São por guia, e depois de muitas curvas em estradas apertadas, lá chegámos. Sorri, ao pensar como é típico de Nossa Senhora escolher o mais pequenino lugarejo para habitar...
Os meninos iam excitadíssimos: íamos visitar a única réplica, na península Ibérica, do Santuário do Loreto, em Itália! Existem no nosso país muitas igrejas com o nome de Loreto, ou Nossa Senhora do Loreto, mas nenhuma outra é santuário ou pretende ser idêntica, inclusivamente em dimensões, ao santuário italiano.
- E o que é o Santuário do Loreto? - Quiseram saber.
- Diz-se que, na Idade Média, a Casinha de Nazaré, onde Maria, Jesus e José viveram, corria sérios riscos de ser profanada pelos muçulmanos. Então os anjos pegaram nela e levaram-na até Itália, terra do Papa, onde a depositaram gentilmente no lugar do Loreto...
- E isso é verdade?
- Não sabemos, claro! Terão sido anjos? Terão sido os cruzados? Terá sido uma família, como se diz também, de apelido "Anjos"? Ou não terá sido nada disso? A verdade é que a casinha do Loreto, apenas com três paredes, está pousada realmente sobre o solo do Loreto, sem qualquer alicerce; e em Nazaré, naquele que é considerado o lugar da casinha da Sagrada Família, temos uma parede de gruta e alicerces de outras três paredes, inexistentes... O material da casinha do Loreto e as medidas correspondem em tudo à casinha de Nazaré. O resto são suposições!
O Santuário do Loreto, no lugar de Vale de Boi, Moita, fica por detrás da igreja paroquial. Em frente da igreja, vive uma senhora, também de nome São, que está encarregue de cuidar da igreja e do santuário e que possui as qualidades necessárias para fazer de guia aos peregrinos. Foi ela que nos acolheu e nos levou ao interior da casinha da Sagrada Família. Durante toda a visita tivemos ainda a companhia do seu enorme e meigo cão:
Neste belíssimo santuário encontra-se uma pedra do santuário original, que pudemos contemplar:
E uma réplica da estátua da Virgem do Loreto:
Os meninos observaram tudo com imensa atenção, e aproveitaram para brincar um bocadinho...
Depois, de joelhos, rezámos a nossa consagração a Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná, e o Angelus, essa belíssima oração de Advento:
Finalmente, deixámos a casinha do Loreto e entrámos na noite, bela, luminosa, serena... Ao longe, brilhavam as luzes de Anadia e, para além delas, brilhavam certamente as da nossa casa.
Deixei o santuário com uma sensação profunda de paz e de alegria, e uma vontade imensa de ali voltar. Os últimos Papas tem repetido, ao visitarem o Santuário do Loreto, que ali é a Mãe que nos recebe à porta e nos convida a entrar e a ficar!
Santa Teresinha visitou o Loreto numa peregrinação, e na sua autobiografia falou desta visita com imenso carinho. No santuário da Moita, na parede exterior, está uma placa com a transcrição do texto de Teresinha:
Ao regressar a casa, ao acender a lareira e começar com os banhos, ao preparar o jantar e ao pôr a mesa, ao brincar com os meus filhos e ao dar-lhes um beijo de boas noites, percebi de repente a misteriosa história do Loreto:
A casinha de Nazaré estava ameaçada. Era preciso encontrar um lugar seguro onde a guardar, para que nada se perdesse... Os anjos pegaram nela e transplantaram-na para o Loreto. Só para o Loreto? Não estarão os anjos encarregues de transplantar a casinha de Nazaré para todos os lugares que a quiserem receber? Não poderão os anjos transplantar a casinha de Nazaré para a Moita? Não poderão os anjos transplantar a casinha de Nazaré para a minha casa, para a vossa casa, para a casa de qualquer cristão que queira acolher a Sagrada Família?
Diz o salmo 132/131:
"Não entrarei na tenda de minha casa
nem subirei ao leito de meu repouso,
não concederei aos olhos o sono
nem às minhas pálpebras o descanso,
até encontrar um lugar para o Senhor."
A casinha da Sagrada Família esteve ameaçada desde sempre, afinal! Imagino S. José a rezar mentalmente este salmo, enquanto batia a todas as portas de Belém, com Maria prestes a ter o Menino... Imagino de novo S. José a rezar este salmo, a caminho do Egipto, e de novo a caminho de Nazaré... Imagino os anjos a deliberar para onde deviam levar a casinha durante os tempos das perseguições islâmicas... Mas acima de tudo, imagino o Senhor agora, à minha porta, desejoso de saber se aqui há lugar para Ele!
O Advento já vai adiantado. Apressemo-nos a fazer espaço para a Sagrada Família nas nossas casas, nas nossas famílias, nos nossos corações! Não podemos descansar enquanto o não fizermos... Então, os anjos pegarão na casinha de Nazaré e deixá-la-ão aqui mesmo. Ámen!
Nestes últimos dias estive a ler ao David e à Lúcia a história dos três pastorinhos de Fátima, escrita pelo padre Januário dos Santos. Como sempre, comovi-me até às lágrimas com a simplicidade e a pureza de coração das três crianças.
Recordo ainda com vívida nitidez o funeral da Irmã Lúcia, em Coimbra, onde, de lenços brancos, nos despedimos da querida vidente, “até ao Céu!” E lembro-me de como me sentia emocionada, quando era estudante em Coimbra, por viver ao lado do Carmelo. Eu imaginava então que Nossa Senhora apareceria várias vezes ali ao lado, visitando a Irmã Lúcia. Na altura, não havia qualquer notícia sobre isso, mas hoje sabemos que sim: a Irmã Lúcia foi várias vezes visitada pela Santíssima Virgem, no segredo da sua cela de carmelita. Lúcia teve oportunidade de ver aquilo em que nós acreditamos pela fé: a Mãe acompanha cada um dos seus filhos com um amor infinito, e a todos acolhe, acarinha e ama. Nos corredores do Carmelo, Maria abençoava todas as carmelitas.
- Quando estamos a rezar no coração – Confidenciou-me outro dia a Lúcia – eu faço sempre o mesmo pedido a Jesus.
- E que pedido é esse? – Perguntei-lhe.
- Ver Nossa Senhora!
- No Céu vais ver de certeza – Respondeu o David, muito seguro de si. E acrescentou: - Que sorte a da Irmã Lúcia, já estar no Céu! Gostava tanto de já estar também no Céu!
- Ainda precisas de trabalhar muito na Terra antes de ir para o Céu – Apressei-me a dizer – Não te esqueças de que só entra no Céu quem lá construiu uma casinha!
- Eu tenho feito tantas coisas boas! A minha casa deve estar quase pronta – Continuou o David. Ele diz-me isto muitas vezes, em especial, sempre que faz uma boa acção.
- Bem, já tens alguns tijolos no Céu, mas tens ainda muito para fazer!
- O Tomás construiu a casa dele muito depressa…
- Não, o Tomás não teve tempo de construir nenhuma casa. Jesus ofereceu-lha já pronta… Mas isso, Jesus só faz de vez em quando. Nós temos de trabalhar muito para ter uma casa no Céu!
- Gostava de ir já hoje para lá! – Concluiu o David, com olhar sonhador.
Recordei o desabafo, em jeito de oração, da Irmã Lúcia, tantas vezes escutado no Carmelo:
“Minha querida Mãe, Tu disseste-me que eu tinha de ficar na Terra mais algum tempo, mas nunca pensei que fosse tanto!”
Enquanto deitava os meus filhos e lhes aconchegava a roupa da cama, dei comigo a pensar… Teremos nós sede suficiente de Deus? Teremos nós desejo suficiente do Céu?
“Tu és o meu Deus!Anseio por Ti!
A minha alma tem sede de ti,
como terra árida, exausta, e sem água.” (Sl 63/62)
A "Senhora mais brilhante do que o Sol" (como a descrevia Jacinta), que no dia 13 de outubro de 1917 se nos revelou, veio fazer-nos sentir a sede que nos lança no Céu…
- Mamã, posso ir a casa do Rodrigo?
- Podes, António, quando ele te convidar.
- Mas ele já me convidou! Ele disse para eu ir a casa dele.
- Sim, mas eu nunca falei com a mãe dele, não sei onde ele mora nem nada…
- Ah, mas isso eu sei.
- Ai sabes? Então onde fica a casa do teu amigo? Em que terra, em que rua?
- Ele disse que é virar à esquerda.
- ????????
No início de mais um ano de catequese, a nossa grande preocupação enquanto catequistas é precisamente dar a conhecer o caminho para Casa. Talvez sejamos ainda mais vagos do que o António perante uma questão tão essencial: como se vai para Casa? Qual o caminho para o Céu, para o abraço de Deus?
Também os Apóstolos se viram um bocadinho aflitos diante desta pergunta:
“Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim.»” (Jo 14, 5-6)
A catequese e toda a evangelização que possamos fazer nas nossas casas não tem senão este fim: ensinar o Caminho para Casa. E porque o Caminho é Jesus, dar catequese significa marcar encontro com Jesus! Dando a conhecer Jesus às crianças, aos jovens, às famílias, oferecendo a sua Palavra, para que O escutem, oferecendo os seus sacramentos, para que O acolham, abrimos o Caminho seguro que nos leva ao Céu...
A nossa viagem de regresso começou ainda não eram quatro horas da manhã:
À saída do aeroporto, em Lisboa, enfiámo-nos de novo o melhor que pudemos no carro de sete lugares, sabendo no entanto que, em casa, nos esperava o nosso carrinho de cinco lugares já bem arranjado (felizmente foi apenas o motor de arranque!) e pronto para novas aventuras...
Quando, finalmente, chegámos a casa, foi uma festa! A algazarra dos cães, dos gatos e das galinhas, a alegria de toda a Criação com que Deus nos abençoou, as flores no jardim, os tomates e as alfaces na horta, tudo festejou a nossa chegada!
Os cães não paravam de pular à nossa volta, excitadíssimos. Estavam muito bem cuidados, graças ao amigo do Francisco que, todas as tardes, os levava a passear.
Ao entrarmos em casa, esperavam-nos muitas surpresas. Logo à entrada, um enorme cartaz desejava-nos as boas vindas. Fora preparado com amor por uma Família de Caná que nos ajudou a tomar conta dos animais:
Mais à frente, no frigorífico, outra bela surpresa: o almoço pronto a comer, com direito a sobremesa, deixado na véspera com muito carinho pela "avó portuguesa"!
E muitas outras surpresas nos esperaram, deixando-nos sem palavras para poder agradecer, e com o coração cheio de gratidão. Deus, que vê o que está oculto, tratará de recompensar a generosidade de quem assim nos quer tanto bem!
Durante o resto da tarde, enquanto eu desfazia as malas e o Niall tratava do jardim e dos animais, os meninos brincaram com os cães e os gatos, correram pelo jardim e redescobriram os seus brinquedos. A Clarinha agarrou-se à guitarra, tocando música após música, depois de quase duas semanas sem tocar, e encheu o ar de canções.
É bom regressar a casa, sentir a presença de tantos amigos e da família portuguesa, saborear a alegria da vida com que Deus nos abençoou e continua a abençoar. No Canto de Oração, e como por um milagre de Deus, as plantas cresceram na nossa ausência. Acendemos as velas, pegámos nas guitarras, e dançámos, louvando o Senhor que nos criou...
Este mês, propus às Famílias de Caná um ensinamento sobre a parábola do tesouro e do campo:
“O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. Quem o encontra, esconde-o de novo e, cheio de alegria, vai vender tudo o que tem e compra o campo.” (Mt 13, 44)
A cada um de nós, Deus confiou um campo: a nossa casa, a nossa família, a nossa vida. Somos responsáveis pelo nosso campo, como o Principezinho era responsável pelo seu pequeno planeta. Diz-nos o Evangelho que foi neste campo que Deus escondeu um tesouro!
O nosso campo é cada vez mais vasto e mais belo, pois deixou de ser apenas a nossa família para incluir as Famílias de Caná. E o tesouro, esse, faz com que tudo o resto seja apenas lixo...
(Passeando pelas ruas da nossa aldeia, utilizando meios de transporte variados :) no dia do nosso 18ºaniversário de casamento)
Quando chegámos a casa dos avós, a porta estava aberta.
- Olá, avó! Olá, avô! – Gritaram os meninos, correndo para dentro de casa. Ambos apareceram, muito contentes, e abraçaram os netos, que não viam há dois anos. Depois, com cautela, aproximaram-se da Sara. Não a queriam assustar!
- Meu Deus, Niall, ela é tão bonita! – Exclamou a avó, enquanto a observava. E acrescentou uma frase que eu já conheço bem: - Vê-se mesmo que é estrangeira, com a sua pele bronzeada!
Eu ri-me para mim mesma, enquanto observava a cena. E ri-me porque costumo ouvir este comentário em Portugal… mas no sentido oposto! Em Portugal, as pessoas costumam dizer sobre os meus filhos:
- Vê-se mesmo que são estrangeirinhos, com a sua pele tão branca!
Estrangeiros em Portugal, estrangeiros na Irlanda… Onde é afinal a sua pátria?
S. Paulo escreveu um longo e belíssimo capítulo na sua Carta aos Hebreus, o capítulo 11. Nele, S. Paulo chama a atenção para este pequeno, mas importantíssimo detalhe: Abraão, o fundador do povo judeu, chegou à Terra Prometida como estrangeiro, viveu nela como estrangeiro e morreu como estrangeiro. A promessa de terra não era afinal uma promessa para esta vida – ainda hoje, o povo de Abraão continua a lutar por um pedaço de terra… - mas para a eternidade. Diz S. Paulo:
“Pela fé, Abraão morou como estrangeiro na Terra Prometida, habitando em tendas, como Isaac e Jacob. Morreram na fé, sem terem obtido a realização das suas promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria melhor, a pátria celeste…” (Hb 11, )
Como Abraão, também nós somos estrangeiros um pouco em todo o lado… Um dia, por fim, chegaremos a Casa. Aleluia!
(E saber que o Céu é infinitamente mais belo que isto...)
Os meus filhos têm um lugar preferido. Chama-se "Nada". Pelo menos é o que se deduz, se escutarmos atentamente as suas orações. Ontem à noite, por exemplo, o David rezou assim:
"Obrigado, Jesus, porque hoje fui a Nada, brinquei o dia todo, e foi tão bom!"
E a Lúcia rezou assim:
"Obrigada, Jesus, que eu hoje fui a Nada e brinquei, brinquei, brinquei!"
E o António rezou assim:
"Obrigado, Jesus, que eu hoje fui a Nada! Nem escola, nem missa, só Nada!"
O Francisco e a Clarinha discursaram um pouco melhor sobre este grande e belo lugar, e rezaram assim:
"Obrigado, Jesus, porque hoje estivémos todo o dia em casa!"
Decidi tirar algumas fotos a este sítio encantador, chamado "Nada", e o resultado foi este:
- Que sorte que eu tenho hoje, mamã! Posso brincar o dia todo com as minhas cartas!
- Vamos brincar às mães e às filhas, Sara?
- Agora que aprendi a escorregar, tentem segurar-me se conseguirem!!!!!
- Mãe, os caracóis são animais de estimação?
- Acho que não, António.
- Então são animais selvagens? Como os leões?
- Acho que não, António.
- Afinal o que são?
- ????!!!!!!
- Que tal o carrinho de rolamentos, mãe?
Em "Nada" trabalha-se um pouquinho...
... e desarruma-se muito!
"Nada" parece ser um sitio fantástico para passar férias! Sem escola, sem TV, sem actividades extra-curriculares, sem jogos de computador, sem horários rígidos, com muitas horas livres para criar, para inventar, para brincar, "Nada" é um sítio perfeito.
Nem todos dispõem de tanto tempo, ou de tanto espaço, ou de tanta natureza. Mas quantas crianças gostariam de passar um domingo em "Nada", em vez de serem arrastadas para os centros comerciais! O excesso de estímulos visuais e auditivos do nosso mundo moderno faz-nos acreditar que precisamos de estar constantemente a oferecer aos nossos filhos experiências fabulosas, cheias de adrenalina ou saturadas de "cultura", para que eles sejam felizes. Levamo-los ao cinema, aos museus, aos parques temáticos, preenchemos-lhe o tempo todo com actividades extra-curriculares. Até nas escolas se criou a ideia de que precisamos desesperadamente de "motivar" os nossos alunos com imagens, vídeos e PowerPoints, ou eles deixarão de aprender. Esquecemo-nos de que a criatividade e o equilíbrio de um adulto se aperfeiçoam na serenidade; e que ao longo de milhões de anos, os seres humanos mais pequeninos sempre foram capazes de inventar as suas próprias brincadeiras!
Que bem nos faria recuperar o espírito do Sábado judeu - sem os fundamentalismos farisaicos -, que reunia a família no espaço da casa! Quantos sábados Jesus passou com Maria e José, brincando no quintal... O Novo Testamento foi "novo" logo pelo local onde Deus decidiu revelar-Se: não no Templo, não na montanha, não na sarça-ardente, mas na casa de Maria, na casa de Isabel, na casa de Nazaré. E Deus sentiu-Se tão feliz em casa, que só com trinta anos Jesus a deixou! Possam as nossas casas ser também o espaço onde Deus "habitou entre nós" (Jo 1, 14)...
Esta semana recebi uma notícia triste: uma família amiga teve de deixar a casa onde sempre viveu, a casa que construiu ao longo de décadas com amor e suor, porque o banco os expulsou de lá. É difícil imaginar a raiva, a revolta, a tristeza e a saudade. Mas os bancos são implacáveis e não sabem perdoar. Quem não paga tem de sair. Lei é lei.
Penso em quantos milhões de pessoas, neste exacto momento, vivem longe das suas casas, da sua terra e da sua família, porque não podiam pagar, porque a guerra os expulsou, porque precisam de trabalhar, porque precisam de viver.
Penso em Abraão. Às vezes, ao lermos a Bíblia, não damos o devido valor ao sentido das palavras. Este homem que olhava para o céu e contemplava as estrelas não teve uma vida encantada! A grande aventura da nossa fé judaico-cristã começou quando um homem já idoso partiu da sua casa, da sua terra e de tudo o que lhe oferecia segurança, em direcção ao desconhecido, guiado por uma voz que só ele ouvia. Que loucura! E que fé...
Ao ouvirmos o que aconteceu aos nossos amigos, o Niall e eu conversámos.
- Já pensaste que dentro de alguns anos, vá lá, no máximo cinquenta anos, teremos também de deixar esta nossa casinha?
- Não teremos de andar mais de gatas a apanhar peças de lego debaixo dos sofás!
- Nem teremos de nos ajoelhar na lama do galinheiro para apanhar os ovos que as galinhas insistem em pôr debaixo da casota!
- Nem teremos de pôr a funcionar duas máquinas da louça e duas máquinas da roupa por dia!
- Nem teremos de nos preocupar com a humidade das paredes, o jardim inundado, as fechaduras partidas, a relva estragada!
Começámos a rir. É libertador pensar que a nossa casa definitiva não é aqui na terra! É libertador encontrar alguma esperança na tristeza dos nossos amigos e de tantos outros sem casa pelo mundo inteiro. Porque S. Paulo escreveu assim:
"Sabemos que, ao se desfazer a tenda que habitamos - a nossa casa terrestre - teremos nos céus uma casa preparada por Deus e não por mãos humanas, uma casa eterna." (2Cor 5, 1)
A nossa "casa" no céu tem uma grande vantagem: ela foi preparada por Deus para cada um de nós, e foi-nos oferecida de graça! Nós nunca teremos "dinheiro" suficiente para a comprar, mas Deus não é um banqueiro implacável, que nos retira os bens se não pagarmos. E porquê? Porque Jesus já pagou a nossa dívida! S. Paulo escreveu longamente sobre a diferença entre lei e graça, entre os "banqueiros implacáveis" e o Deus de amor. Leiam a Carta aos Romanos, essa magnífica obra de arte cristã! A cruz conquistou-nos o céu. A nossa "casa" está paga antes ainda de nela habitarmos! Jesus prometeu aos seus amigos:
"Na casa de meu Pai há muitas moradas. Quando Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, voltarei novamente e levar-vos-ei Comigo." (Jo 14, 2-3)
Graças ao sangue de Jesus, todo o nosso sofrimento presente ganha sentido. Há um final feliz para a vida de cada um de nós! Trabalhemos então para embelezar a nossa casinha do céu (já falei dela também aqui), muito mais segura e importante que a nossa casinha da terra...
A Lúcia e o António estavam a brincar no jardim. De repente, a Lúcia correu para o António:
- Queres saber um segredo?
- Quero! - Respondeu o irmão.
A Lúcia então colou a sua boca ao ouvido do António e segredou - em voz alta, que eu bem ouvi:
- Um dia, António, vamos brincar no céu com o Tomás e a Kitty tal como estamos a brincar agora!
Depois regressou à brincadeira.
A Kitty era uma linda gatinha preta, que morreu atropelada no nosso pátio (!) com apenas algumas semanas de vida. O Tomás era o nosso terceiro filho, que morreu com um ano e meio e um tumor celebral. A Lúcia nunca o conheceu, mas aguarda ansiosamente o dia em que o irá encontrar e brincar com ele no céu. Ela tem a certeza, do alto dos seus cinco anos, que a nossa verdadeira casa familiar não é aqui, mas no céu, onde estaremos todos juntos e imensamente felizes. Entretanto, continua a brincar!
As leituras desta última semana do ano litúrgico, depois da Solenidade de Cristo Rei, falam-nos mais do céu do que da terra. Caminhando para o fim do ano litúrgico, somos chamados a olhar para aquilo que começa onde tudo parece acabar: a Vida.
Como explicar às crianças o que é o céu? Para nós tem funcionado a parábola de Jesus:
"Não acumuleis riquezas na terra, onde a traça e a ferrugem as corroem e os ladrões assaltam e roubam. Juntai riquezas no céu, onde não há traça nem ferrugem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. Pois onde estiver o vosso tesouro, aí também estará o vosso coração" (Mt 6, 19-21)
Explicamos então aos mais pequeninos que colocamos um tijolo na nossa casa do céu sempre que fazemos uma boa acção na terra. Pouco a pouco, gesto a gesto, vamos construindo no céu a nossa casinha. Eles gostam de imaginar que estão a construir um palácio de cada vez que praticam o bem...