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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O Evangelho do próximo domingo vai ser um dia de festa em grande para todas as Famílias de Caná, certamente celebrado com muita alegria, com bolos, com representações teatrais em família e muitas outras surpresas... Sim, estamos a falar das Bodas de Caná!
Foi precisamente enquanto Família de Caná que fomos convidados a gravar o nosso testemunho da prática diária desta Boa Notícia. A paróquia do Monte Abraão, em Sintra, tem um belíssimo projeto de evangelização online: iVangelho.com, em que semanalmente, o evangelho dominical é explicado e meditado por um sacerdote ou leigo e disponibilizado no YouTube, numa linguagem acessível e juvenil.
O nosso maior desafio foi condensar em quatro minutos a nossa vivência das Bodas de Caná. Quando, nos dias anteriores à gravação, conversávamos entre nós sobre o tema, era difícil parar a conversa, e as ideias atropelavam-se sem fim... Outro grande desafio seria falarmos um com o outro em português, algo que nunca acontece em nossa casa. De facto, o Niall e eu conversamos sempre em inglês. O Niall, em especial, sentia-se muito hesitante em fazer esta gravação, pois não gosta de falar em público, e muito menos diante de câmaras.
No dia do Retiro do Natal, a equipa do iVangelho foi ter connosco a Fátima, imaginem! Conhecemos o padre Abel Ferreira e a família que está por detrás desta grande iniciativa, todos simpatiquíssimos, de uma humildade e alegria contagiantes. Foi bom conversarmos um bocadinho sobre os diferentes projetos de evangelização que todos temos em mãos, e partilharmos ideias e esforços. À hora de almoço gravámos o nosso mini-testemunho. No final sentiamo-nos muito orgulhosos por só terem sido necessários dois "takes"!
Esta noite, o vídeo que gravámos foi publicado online. Vimo-lo depois da nossa oração familiar, e enquanto os filhos riam à gargalhada, o Niall quase chorava, jurando que nunca mais o apanham noutra. Não é nada fácil falar para uma câmara de filmar, acreditem!
Sejam benevolentes com a nossa falta de jeito cinematográfico, e limitem-se a escutar a mensagem que as palavras, os sorrisos, os gestos e a própria falta de arte procuram transmitir. Sobretudo, que o nosso exemplo vos convença de o Reino de Deus vale todos os esforços, mesmo correndo o risco de parecermos ridículos... como o Rei David. Conhecem o episódio?
O Rei David estava felicíssimo por ter recuperado a famosa Arca da Aliança, e dançava sem parar diante do cortejo comemorativo. Então...
"... Mical, a filha de Saul, vendo pela janela o Rei David, que bailava e saltava diante do Senhor, desprezou-o em seu coração. (...) Mais tarde disse-lhe: «Que bela figura fez hoje o rei de Israel, dando-se em espetáculo às servas de seus vassalos, e descobrindo-se sem pudor, como qualquer homem do povo!» Mas David respondeu: «Foi diante do Senhor que dancei, do Senhor que me escolheu e me preferiu a teu pai e a toda a tua família, para me fazer chefe do seu povo de Israel. E bailarei ainda mais, e me aviltarei aos meus próprios olhos.»" (2Sm 6, 16.20-22)
Desejamos sinceramente que a nossa atrapalhação cinematográfica não tenha atrapalhado o belíssimo trabalho desta valente equipa do iVangelho.
Possamos todos, este domingo e sempre, oferecer ao Senhor as bilhas do nosso esforço, para que Ele as converta no Vinho Novo do seu amor. Ámen!
O nosso jardim tem sofrido muito ao longo dos anos. Coitado dele! Este pedaço de terra à volta da nossa casa é alvo das mais acérrimas lutas entre flores e bolas de futebol, relva a crescer e sopas para bonecas em panelinhas de plástico, couves verdinhas e galinhas que se soltam do galinheiro. No outro dia de manhã, à hora do pequeno-almoço, os nossos filhos assistiram, boquiabertos, a esta discussão entre o Niall e eu:
- Niall, há galinhas à solta no jardim, olha só pela janela!
- O quê???? Depois de eu ter passado o fim-de-semana curvado a plantar a horta? Será possível? É desta que acabamos com o galinheiro.
- Nem penses! Eu adoro escutar o cacarejar das galinhas logo de manhã!
- Mas eu adoro ver uma horta bonita, e olha só para a desgraça da nossa horta! E esta primavera vou ter de vedar parte do jardim para a relva poder recuperar.
- Não vedas não, que os meninos precisam de espaço para jogar à bola.
- E como queres que tenham relva para jogar à bola se eu nunca lhe der uma oportunidade para recuperar?
- Mãe, pai, está na hora de irmos para a escola - Interrompeu a Clarinha, trocando olhares divertidos com o Francisco.
- OK, falamos de galinhas e crianças mais tarde - Concluí.
Pela hora de almoço, como costume, telefonei ao Niall.
- Niall, desculpa esta manhã. Se achas melhor destruir o galinheiro, eu aceito - Disse-lhe. - E se quiseres, vedamos parte do jardim também.
- Oh, não, eu queria mesmo telefonar-te para te pedir desculpa - Respondeu-me ele - Eu sei que tu gostas das tuas galinhas e que as achas fofinhas. No sábado vou arranjar o galinheiro e refazer a horta. E a relva há-de crescer, deixa lá!
- Não, destruímos o galinheiro.
- Não, não é preciso. As tuas galinhas são umas queridas...
- Mas eu aceito!
- Mas eu não aceito!
E lá discutimos nós novamente... Desta vez, para decidir quem era o primeiro no amor!
O jardim, as bolas de futebol, as sopas de ervinhas para as bonecas, as galinhas e a horta lá continuam a conviver, e nós vamos gerindo tudo isto com muita paciência e, sobretudo, muito amor.
Ontem de manhã acordei com um perfume delicioso, vindo do jardim. Um perfume tão forte, que atravessava as janelas fechadas. Abri as cortinas e as portadas, e deparei-me com o jasmim todo em flor:
Lembrem-me então de um dos meus livros preferidos na Bíblia, o Cântico dos Cânticos. Diz o Amado:
"Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha Amada!
Eis que o inverno já passou,
a chuva parou e foi-se embora;
despontam as flores na terra,
chegou o tempo das canções,
e a voz da rola já se ouve na nossa terra;
a figueira faz brotar os seus figos
e as vinhas floridas exalam perfume.
Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha Amada!"
(Ct 2, 10-13)
Abracei o Niall. O jasmim florido era a prova de que necessitávamos para acreditar que mesmo os terrenos mais sofridos se podem deixar trabalhar e cobrir de perfume. O mundo, o outro, os meus defeitos e os problemas que se abatem sobre nós ameaçam destruir o pouco que vamos conseguindo construir? O poder de Deus é muito maior! Os jardins da nossa vida e do nosso sucesso teimam em murchar? O importante é que o nosso jardim interior esteja coberto de flores, e o Senhor se agrade passeando nele...
- Vou contar-vos uma história verdadeira, que descobri outro dia na net.
Estávamos todos sentados num prado florido, a fazer o nosso piquenique em Fátima. A toda a volta, milhares de flores pequeninas e os sons da primavera.
- Conta, mãe, o que foi?
- A história de um casal de imperadores...
- Imperadores?
- Sim, imperadores santos do século vinte.
- O quê?
- Um deles está sepultado, imaginem, na Ilha da Madeira. Sabiam que havia um imperador já beatificado, Carlos da Áustria, sepultado no nosso país?
- Nunca tal ouvi falar!
- Pois nem eu. Carlos e Zita casaram-se em 1911, e em 1914 eram imperadores do império austro-húngaro. Zita cuidava dos pobres desde pequenina. Clarinha, ela também gostava de costurar, como tu. Quando tinha mais ou menos a tua idade, pediu como presente de anos uma máquina de costura. Imagina para quê? Para fazer roupas para as crianças pobres!
- Que lindo!
- Carlos governou sempre com justiça, empregando todos os esforços para alcançar a paz, antes do rebentar da primeira guerra. Ficou conhecido como "O príncipe da paz". Ele e Zita tiveram oito filhos, que educaram na fé católica todos os dias da sua vida.
- Os imperadores tinham tempo para educar os filhos?
- Tinham. Zita ensinava-lhes o catecismo e preparava-os para os sacramentos; Carlos contava-lhes histórias da Bíblia. Vêem, como nós gostamos de fazer cá em casa! Todos os dias rezavam em família.
- E depois, que aconteceu?
- Depois veio a guerra, a queda do império, e o exílio. Em 1921, Carlos e Zita foram exilados na Madeira, primeiro sem os filhos, depois com permissão de terem os filhos com eles. Juntos, conheceram a pobreza e até alguma fome. Mas tudo aceitaram com alegria e simplicidade. Tinham sido ricos e felizes, agora eram pobres mas continuavam felizes, porque queriam acima de tudo cumprir a vontade de Deus. O povo madeirence levava-lhes leite e ovos para ajudar a alimentar as crianças. Eles aceitavam e sabiam que era Deus a cuidar deles. Entretanto, Zita estava grávida do oitavo filho...
- E depois?
- Carlos apanhou uma pneumonia. Naquele tempo não havia antibióticos, e Carlos ficou de cama, gravemente doente, até morrer. Morreu dois meses antes do nascimento da última menina. Morreu com os olhos fixos no Santíssimo, dizendo ora a Jesus, ora a Zita o seu amor por eles.
- Que triste!
- Durante o seu funeral, o povo aglomerava-se para tocar na urna e prestar a sua homenagem a um príncipe que consideravam santo.
- E Zita? Ficou só?
- Zita cuidou dos filhos sozinha, com coragem, numa vida de oração profunda. Dedicou-se aos pobres e às causas da paz, aos orfãos e aos soldados feridos durante a Segunda Guerra Mundial, e até ao fim da vida esteve envolvida em causas humanitárias. Quando o marido morreu, Zita tinha vinte e oito anos, imaginem! Nunca mais voltou a casar, e pouco antes de morrer alegrava-se com o pensamento de em breve voltar a ver o seu Carlos. Morreu em 1989. Há tão pouco tempo!
- E são santos?
- Carlos já é beato; Zita está em processo de beatificação. Em breve teremos um casal de beatos, queira Deus! Precisamos de muitos casais de santos.
- Porquê?
- Porque eles existem, e é preciso que a Igreja no-los dê a conhecer. Jesus disse:
"Não se acende uma lâmpada para colocar debaixo da mesa, mas sobre o candelabro, e assim iluminar todos os que estão em casa." (Mt 5, 15)
- Em História, nós falamos no Império Austro-Húngaro e na dinastia dos Habsburg, mas ninguém nos fala deste casal!
- Tens, razão, Francisco, e eu lamento imenso que não haja em Portugal um punhado de cristãos capazes de editar livros de História, Português, Inglês, Ciências e todas as disciplinas escolares a partir de uma visão cristã, dando a conhecer os santos e divulgando os valores cristãos. Estes manuais fazem falta nas escolas católicas! Esperemos que surjam um dia, como já surgiram nos E.U.A. e noutros países...
- Eu ia adorar, aprender sobre a vida dos santos nas aulas de História!
- Eu sei, Clarinha. Às vezes, ficamos com a ideia de que os imperadores e reis eram todos corruptos, e afinal havia - e há - santos entre eles. Tenho de investigar mais!
O piquenique estava muito saboroso, o sol brilhava, os sinos de Fátima tocavam as Ave-Marias, e os passarinhos cantavam no céu. A toda a volta, flores e mais flores...
Se quiserem ver um dos vídeos que eu encontrei na net, aqui fica:
- Niall, vem cá depressa ler o mail que recebi da Bruna!
- Da Bruna do Brasil?
- Sim. Ela enviou-me um link com uma grande novidade. Vem ver! Os pais de Santa Teresinha vão ser canonizados durante o Sínodo da Família!
- Uau! que maravilha! O primeiro casal canonizado em conjunto!
- Pois é. Zélia e Luís Martin foram beatificados pelo Papa Bento XVI em outubro de 2008, e agora vão ser canonizados, também em conjunto.
- E são um casal tão perto de nós no tempo! Casaram em em 1858, em França... Foi há cerca de 150 anos atrás! Tu não tens aí um livro sobre eles?
- Tenho. Quer dizer, emprestei-o à Olívia outro dia. Chama-se História de Uma Família. Mas não me faz grande falta, porque o conheço quase de cor!
A família de Zélia e Luís tem sido uma inspiração para nós desde o início do nosso casamento e continuou a ser quando as Famílias de Caná nasceram. Vamos assim, com toda a certeza, adotá-los como nossos santos padroeiros, no dia da sua canonização!
Zélia e Luís tinham defeitos e problemas, como toda a gente. Mas acima de tudo, tinham uma fé imensa no amor do Senhor, e uma vontade enorme de serem santos. Eles sabiam que a santidade é obra de Deus nas nossas vidas, e que basta abrirmo-nos à graça, empenhando nesta tarefa toda a nossa vontade, para que Deus no-la ofereça.
Num tempo em que se escreviam muitas cartas, Zélia deixou-nos um enorme tesouro escrito sobre a vida espiritual da sua família. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - rezava-se o terço e meditava-se na Palavra de Deus todos os dias. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - havia um lugar de oração, encimado pela imagem de Nossa Senhora das Vitórias, a mesma imagem que um dia sorriu à futura Santa Teresinha, curando-a miraculosamente. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - contavam-se histórias da Bíblia e histórias das vidas dos santos, visitava-se o Santíssimo nas diversas igrejas da cidade, servia-se o próximo com amor.
Zélia e Luís tiveram nove filhos, mas quatro morreram na primeira infância. Eles conheceram bem a dor! Com uma fé imensa, aceitaram prova após prova, sem nunca se revoltarem, plenamente convencidos do amor absoluto e infinito de Deus por eles. Depois destas quatro mortes, Zélia engravidou novamente. Tinha quarenta anos. Estaria louca? Todos a criticaram... Nove meses depois, nascia Santa Teresinha. Imagino a festa que Deus terá feito a Zélia e a Luís quando eles chegaram ao céu... Imagino Jesus a agradecer-lhes não terem recusado o dom que Santa Teresinha representou para a Igreja!
Quatro mortes, pensamos nós, seriam uma cruz suficiente para qualquer família. Mas não foi: quando Teresinha tinha quatro anos, Zélia faleceu com cancro da mama. Viúvo, Luís mudou-se com a família para Lisieux, onde viviam os cunhados, para que as filhas crescessem na companhia dos tios e das primas. Em Lisieux, as meninas conheceram o Carmelo, onde quatro das cinco irmãs se consagrariam totalmente a Deus.
Zélia e Luís tiveram uma vida difícil. Luís era relojoeiro, Zélia era costureira. E embora Zélia trabalhasse em casa, onde tinha uma pequena oficina com trabalhadoras contratadas por ela, o seu horário de trabalho era longo, prolongando-se por vezes até à meia-noite. Mesmo assim, às cinco da manhã, o casal saía de casa e dirigia-se à igreja mais próxima para participar na Eucaristia.
A sua vida familiar conta com alguns episódios bem divertidos, relatados por Teresinha na sua autobiografia e por Zélia nas suas cartas. Foram uma família alegre, que gostava de festas, de rir, de cantar, de passear no campo e de ir à pesca. As suas portas estavam abertas a todos os mendigos que passavam na rua, e os avós foram acolhidos na casa de Alençon no final das suas vidas, cuidados por Zélia e Luís até partirem para o céu. No jardim havia um baloiço onde as pequeninas brincavam. Teresinha e Celina, como os meus filhos, faziam tisanas de brincar com as ervinhas do jardim, para servir às bonecas e aos papás, e sujavam os vestidos na terra. Uma família feliz!
A santidade não é privilégio de alguns, mas vocação do ser humano. Disse Jesus:
"Sede perfeitos, como o vosso Pai que está nos Céus é perfeito."
(Mt 5, 48)
Que Luís e Zélia nos ajudem neste caminho de santidade familiar! Amen.
As férias na Irlanda chegaram ao fim. Despedimo-nos com muita saudade dos avós, que não víamos há dois anos... Estes belos pais de dez filhos (incluindo o Brian) e avós de vinte e três netos até ao momento (o irmão mais novo do Niall vai casar no próximo verão).
Ainda estávamos nós a almoçar em casa dos avós, quando começaram a chegar os oito irmãos do Niall, acompanhados das respectivas famílias. E de repente, a casa transbordava de gargalhadas e de uma confusa animação. Os meninos não sabiam para onde se virar, com quem brincar e a quem atender, tantos eram os abraços, os presentes, os sorrisos! Voltaremos um dia, fica a promessa...
Enquanto dois irmãos do Niall nos conduzem em dois carros (é o que faz sermos muitos...) de volta a Dublin, para o aeroporto, ponho-me a pensar em Rute, a bela noamita... Ao casar com um judeu, Rute deixou para trás tudo o que conhecia e amava. E mesmo depois de enviuvar, Rute nunca mais abandonou a sua nova família, partindo com a sogra para Israel, enfrentando o desconhecido de cabeça levantada e coração aberto. A sua entrega fez dela avó do Rei David, segundo a genealogia bíblica! Assim, Rute, a estrangeira, tornou-se família de Jesus.
Quando o Niall e eu decidimos casar e ficar a viver em Portugal, o Niall também teve de deixar muita coisa para trás. Foi e é difícil, e para mim também, pois ambos adoramos a Irlanda. Mas a nossa casa é em Portugal, e é em Portugal que somos plenamente felizes.
"Por onde fores, irei contigo, onde pousares, lá pousarei eu. O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus. Onde morreres, aí morrerei e serei sepultada. Que o Senhor me trate como quiser. Somente a morte me separará de ti!" (Rt 1, 16-17)
É na verdade esta promessa que torna afinal tudo tão simples e tão belo...
No sábado estivemos em casa da minha irmã, para celebrarmos com muitos amigos os seus quarenta anos. Foi uma festa simples, bonita, cheia de alegria e de amigos antigos, que foi tão bom rever. Os meninos brincaram, felizes, com os primos e os filhos dos nossos amigos, e o Francisco fez um espectáculo de ilusionismo, que ofereceu de presente à tia-madrinha. Apesar de conhecer já muito bem os seus truques, rio sempre a bom rir quando o vejo fazer aparecer e desaparecer bolas e lenços, cartas mudar de cor e meias perder e encontrar o par. As Famílias de Caná que já o viram actuar no retiro sabem do que estou a falar!
Por fim, como último truque, o Francisco utilizou três cordas, que uniu e separou por várias vezes com nós fortes. Aplaudimos com força. E depois ele contou uma história, que agora vou também contar aqui:
Por volta do ano de 1700, havia um casal alemão, Wolfgang e Sophie, que estava em processo de divórcio. Tristes, pediram ajuda a um sacerdote, que decidiu fazer com eles uma longa oração. Naquela altura, nos casamentos costumava-se simbolizar a união dos esposos através de uma fita branca. O sacerdote pediu aos esposos que lhe trouxessem a fita branca do seu casamento, encheu-a de nós, e depois rezou pelos dois esposos diante da imagem de Nossa Senhora, enquanto ia desatando os nós. Nossa Senhora alcançou-lhes então a graça de não se divorciarem e viverem felizes até ao fim das suas vidas. Para agradecer a Maria, este casal, que era rico e nobre, encomendou um quadro a um pintor e ofereceu-o à igreja da sua terra. A imagem é esta:
O papa Francisco conheceu esta pintura na Alemanha, na sua capela original, na década de oitenta, e logo levou a devoção até Buenos Aires, onde ela se consolidou. A igreja de San José del Talar foi a primeira a receber a imagem de Nossa Senhora Desatadora dos Nós e transformou-se rapidamente num santuário, onde o povo acorre a pedir a Maria que desfaça os nós das suas vidas. Para ficarem com uma ideia da devoção do papa e dos argentinos a esta invocação mariana, podem ler esta breve notícia.
Quando se tornou papa, a imagem de Nossa Senhora Desatadora dos Nós acompanhou Jorge Bergoglio até Roma, sendo venerada no seu gabinete pessoal, como podeis ver nesta foto. Conhecendo bem os "nós" da Igreja, o papa deve ter sentido ser esta a melhor invocação mariana para acompanhar o seu pontificado! E todos podemos confirmar que Nossa Senhora não lhe tem faltado, com as suas mãos especializadas em desatar os mais complicados nós!
O papa tem-se empenhado em espalhar este título de Nossa Senhora, a mãe do amor, a mãe da família, a mãe dos casais. Ou não foi Nossa Senhora que, em Caná da Galileia, salvou uma festa de casamento?
Na net encontram muitos textos relativos a esta invocação mariana, mas é curioso como poucos autores conhecem a sua história original. Está nas nossas mãos também divulgar esta invocação mariana junto dos casais com problemas sérios.
No dia 12 de maio de 2013, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, levada para Roma para a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, o papa rezou assim:
"Quando não O escutamos, não seguimos a sua vontade e realizamos acções concretas em que demonstramos falta de confiança n’Ele – isto é o pecado –, forma-se uma espécie de nó dentro de nós. Estes nós tiram-nos a paz e a serenidade. São perigosos, porque de vários nós pode resultar um emaranhado, que se vai tornando cada vez mais penoso e difícil de desatar. Mas, para a misericórdia de Deus, nada é impossível! Mesmo os nós mais complicados desatam-se com a sua graça. E Maria, que, com o seu «sim», abriu a porta a Deus para desatar o nó da desobediência antiga, é a mãe que, com paciência e ternura, nos leva a Deus, para que Ele desate os nós da nossa alma com a sua misericórdia de Pai. Poderíamos interrogar-nos: quais são os nós que existem na minha vida? Para mudar, peço a Maria que me ajude a ter confiança na misericórdia de Deus?"
Já estão a ver onde o Papa se foi inspirar!
Tantos "nós" na nossa vida! No casamento, na educação dos filhos, mas também no trabalho, na vida de fé, em tantas outras áreas, como necessitamos que alguém se sente a nosso lado e nos ajude a desatá-los! Enquanto passamos as contas do terço entre os dedos, invocando a mãe de Deus, lembremo-nos que cada Avé-Maria oferecida é mais um nó que se desata...
1 de abril. Sentados à mesa de jantar, conversamos e rimos alegremente. Os mais pequenos partilham anedotas e inventam mentiras, porque afinal o 1 de abril é o dia das mentiras. De repente, o António desata a chorar.
- Que se passa, António? Estavas tão contente! O que aconteceu agora?
- Todos sabem dizer mentiras menos eeeeeeuu! Eu não sei dizer mentiiiiiiiiras!
E diante de tão grande problema, o António soluça a bom soluçar!
A birra que ontem o António fez à mesa de jantar foi uma excepção a uma regra muito, muito recente: é que há quase uma semana que o António não faz birras! Um record digno do Guiness Book, como concordarão todos os que conhecem as birras do António.
Depois de o ajudar a secar as lágrimas e, já agora, a inventar uma pequena mentira para contar aos irmãos, decidi elogiá-lo diante de todos:
- Já viram, filhos? O António porta-se agora sempre tão bem! Por isso tem oferecido tantas flores a Jesus. Que maravilha!
- A mamã ensinou-me - explicou o António, escondendo a cara na minha camisola, cheio de vergonha - e eu aprendi! Já tenho quatro anos...
No belíssimo capítulo 13 da sua Primeira Carta aos Coríntios, S. Paulo diz assim:
"Quando eu era criança, falava como criança, raciocinava como criança, pensava como criança; mas quando me tornei homem, abandonei as coisas de criança." (1Cor 13, 11)
Uma afirmação tão óbvia, e no entanto... Quantas vezes me comporto como uma criança birrenta com a minha família ou até no meu trabalho? Quantas vezes causo problemas em casa com atitudes semelhantes às do António?
Há uns anos, discuti com o Niall à mesa, porque o arroz que ele fizera tinha demasiada água. Ele respondeu-me que o meu era demasiado seco, e eu resmunguei qualquer coisa de volta. E assim continuámos durante um bom bocado. Enquanto discutíamos, os nossos filhos olhavam uns para os outros, perplexos. Por fim, desataram a rir.
- Querem que nós decidamos quem faz melhor o arroz? - Perguntou o Francisco, divertido.
Olhámos um para o outro e apercebemo-nos do ridículo da situação. Decidimos rir também. Ainda hoje, quando nos vêem discutir, o Francisco e a Clarinha aproximam-se sorrateiramente e dizem num tom provocador:
- É por causa do arroz?
Crescer é deixar para trás as birras infantis. Os nossos primeiros anos de casados estavam recheados deste tipo de discussões, altamente desgastantes e perfeitamente ridículas. Hoje rimo-nos a bom rir daquilo que há alguns anos nos enervava tanto. E perguntamo-nos onde encontrávamos nós o tempo e a energia para discutir assim! Crescemos. Como o António. Mas como ele, ainda temos muito para crescer!
Naquela mesma carta, S. Paulo conta-nos o segredo para podermos vencer as nossas birras e crescer até à estatura de filhos de Deus:
"O amor é paciente, o amor é bondoso, o amor não é invejoso, não é orgulhoso, não se envaidece, não é descortês, não é interesseiro, não se irrita, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. No presente permanecem estas três coisas: fé, esperança e amor. Mas a maior delas é o amor." (1Cor 13, 4-7.13)
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