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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No sábado, enquanto brincava com a Sara debaixo da figueira, como contei aqui, vi passar vários comboios, pois o Santuário fica ao lado da estação ferroviária. A cada comboio que passava, os meninos paravam de comer figos e ficavam a olhar, fascinados com o barulho, a cor e o movimento. Então, na minha mente, recordei-me dos meus tempos de infância, adolescência e juventude...
Por diversas razões, fiz muitas vezes o percurso de comboio entre o Porto e Lisboa. Os meus avós viviam em Aveiro, nós vivíamos em Castelo Branco, mais tarde fui estudar para Coimbra, e a linha do norte acompanhou-me sempre. De tanto fazer a viagem, memorizei as estações e apeadeiros entre Aveiro e Coimbra, bem como o recorte da paisagem. A torre branca e a imagem de Nossa Senhora surgiam mais ou menos a meio, e eu lembro-me perfeitamente de sempre rezar uma Ave-Maria quando por elas passava. E sempre me perguntava: O que farão uma torre tão bonita e uma imagem tão bonita no meio deste descampado? Que igreja tão especial existirá aqui, nesta estação pequenina chamada Mogofores?
Os anos passaram. Nunca descobri o que fazia a torre branca junto à linha do norte, mas pensava nela muitas vezes. Casei, vivi alguns anos em Aveiro, depois mudámo-nos para a Gafanha, nos arredores de Aveiro, e finalmente comprámos a casa que hoje temos, na pequena aldeia de Mogofores. E foi só então que reparei... Estava a viver à sombra da torre branca, com a sua belíssima imagem de Maria! Finalmente iria poder visitar a igreja que me acompanhava desde pequenina e que me fazia rezar uma Ave-Maria nas minhas viagens de comboio. E finalmente iria saber o porquê desta igreja tão bonita junto à linha!
Contei aqui como foi a minha primeira visita ao Santuário. Levei mais algum tempo a conhecer a sua história e a descobrir a devoção do povo e dos salesianos a Nossa Senhora Auxiliadora. Hoje, a Senhora Auxiliadora da torre branca da minha infância é também a Mãe de Caná. A Ela nos consagramos todas as manhãs:
Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná,
Consagramos-te hoje e sempre a nossa família.
Confiamos na tua intercessão de Mãe,
para que o vinho da fé, da esperança e do amor
nunca acabe em nossa casa.
Faz de nós servos do Senhor, como tu,
e ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser!
Amen.
O Livro do Deuteronómio repete muitas e muitas vezes uma pequena palavra: "Lembra-te":
"Lembra-te de todos os caminhos que o Senhor teu Deus te fez andar nestes quarenta anos pelo deserto..." (Deut 8, 2)
O Papa Francisco, ao falar da sua oração pessoal, referiu que grande parte dela é feita de memória, no sentido bíblico: recordação das maravilhas de Deus, da forma como Deus conduziu o fio da nossa vida até ao bordado presente:
"A oração para mim é também sempre memoriosa, cheia de memórias, recordações, memória da minha história ou daquilo que o Senhor fez na sua Igreja..." (Entrevista à Revista Broteria, Agosto 2013)
A torre branca e a imagem de Nossa Senhora junto à linha de comboio são para mim hoje sinal da presença amorosa de Deus ao longo de toda a minha vida. Imagino o seu sorriso maroto quando eu rezava uma Ave-Maria dentro do comboio, aos dez, aos quinze, aos vinte anos. Imagino o seu olhar pousado sobre mim e o seu pensamento: "Espera e verás... Um dia entrarás nessa igreja, vais ver... As maravilhas que então Eu farei..."
Há alguns anos atrás, a minha família subiu à torre branca, para de lá contemplar a linha de comboio da minha vida, e a imagem da Senhora dos meus sonhos: