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Domingo da Misericórdia

por Teresa Power, em 05.04.16

O Domingo da Misericórdia é sempre um dia muito especial para nós. S. João Paulo II instituiu esta festa, dando cumprimento ao pedido de Jesus a Santa Faustina, sua conterrânea. De acordo com o Diário de Santa Faustina - um dos meus livros de cabeceira, que gosto de meditar com muita frequência antes de adormecer - Jesus exprimiu-Se assim:

 "Desejo que esta festa seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pobres pecadores. Nesse dia estão abertas as entranhas da minha misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre aquelas almas que se aproximarem da fonte da minha misericórdia. A alma que for à confissão e receber a Sagrada Comunhão obterá remissão total das culpas e das penas. Nesse dia, estão abertas todas as comportas divinas, pelas quais se derramam as graças. Que nenhuma alma receie vir a Mim, ainda que os seus pecados sejam tão vivos como escarlate... A minha misericórdia é tão grande que nenhuma mente - nem humana, nem angélica - alcançará a sua profundidade." (D699)

 

O céu estava muito cinzento e a chuva ia caindo de mansinho, o vento era cortante e o frio apertava.

- Está um ótimo dia para irmos a Fátima, como fizemos no ano passado! Que dizem? - Perguntei, de manhã.

- Fazer a Via Sacra pelo Caminho dos Pastorinhos? Vai chover de certeza!

- Não, não vai. Vamos arriscar?

- Eu quero ir!

- Eu também!

- Eu digo que vai chover...

- Eu não me importo que chova! Nós sempre gostámos de brincar à chuva!

- Vamos?

- Agora?

- Depois da missa das dez, claro. Temos o compromisso de tocar e cantar na missa. Vamos de seguida! Toca a preparar o piquenique.

 E assim foi. Quanta alegria, nesta viagem inesperada!

Fátima estava, realmente, fria, molhada e ventosa. Mas continuava branca, pura e linda. Aquele santuário imenso e silencioso fazia-nos esquecer o desconforto, mesmo aos mais novos.

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Almoçámos no passeio no início do Caminho dos Pastorinhos, porque é um espaço amplo onde os rapazes gostam de andar de skate. Depois fizemos a nossa Via Sacra, servindo-nos das meditações retiradas do Diário de Santa Faustina e intercalando cada estação com um mistério do Terço da Divina Misericórdia.

- Isto que nos está a molhar levemente a cara são raios de sol, mãe? Ou talvez seja uma chuva de graças? - Brincava o Francisco, que poucos dias antes tinha feito quase cem quilómetros de bicicleta numa manhã e estava com pouca vontade de caminhar.

- Não sei do que falas. Eu não sinto nada! - Ia eu respondendo. E pouco ou muito cansados, todos nos ajoelhávamos nas estações sobre a pedra fria e húmida.

- Quero colo! - Pedia a Sara, já perto do Calvário Húngaro. Os mais velhos foram-lhe oferecendo as costas, à vez... E até o David levou a mana às cavalitas. Que crescido ele está!

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Chegámos ao Calvário Húngaro e entrámos para rezar pelas intenções do Santo Padre.

- Que tal se cantássemos "Misericordes sicut Pater" a vozes? - Sugeri. Assim fizémos, e a acústica da capela devolveu-nos o cântico mil vezes mais belo. Acho que foi o entusiasmo com que cantámos e a harmonia das várias vozes que fez o funcionário de serviço aparecer ao nosso lado:

- Que lindo! Que lindo! Que lindo! - Repetia ele, com os olhos a brilhar. - Podem cantar mais?

Mas não podíamos, porque começava a chover com mais força e ainda era preciso regressar...

Regressar ao santuário para a nossa confissão. Descemos as "escadas da humildade", como gostamos de dizer, e fomos à Capela da Reconciliação, que estava a transbordar de gente.

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Dei graças a Deus no meu íntimo: as comportas da misericórdia divina estavam realmente abertas! Mas como podíamos, o Niall e eu, confessar-nos se tínhamos de esperar pelo menos duas horas ali? Olhando mais atentamente, percebi que numa das alas da capela havia confissões para estrangeiros... E o confessionário para falantes ingleses estava livre! Ser casada com um irlandês tem as suas vantagens. Sim, o Niall e eu confessámo-nos rapidamente, e em inglês.

A chuva que caía fez-me recordar o post da Olívia sobre a sua peregrinação a Fátima e sobre umas tais mesas de piquenique cobertas, por detrás da basílica antiga. Foi aí que lanchámos. Que lugar magnífico! Como não o tínhamos descoberto antes? De futuro, quando fizermos em Fátima encontros e retiros das Famílias de Caná, já sabemos onde faremos o nosso piquenique.

Terminámos o dia passando, em família, pela Porta Santa. Na minha mente e no meu coração, ressoavam as Palavras de Jesus a Tomé, segundo o Evangelho do dia:

 

"Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e mete-a no meu peito." (Jo 20, 27)

 

Pareceu-me que nesta singela peregrinação à Porta Santa de Fátima, em dia da Divina Misericórdia, tocámos, como Tomé, nas chagas de Jesus e entrámos na Porta Santa do seu Sagrado Coração...

 

"Ó sangue e água que brotastes do coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!" (D187)

 

 

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Levanta-te e anda

por Teresa Power, em 16.10.15

No dia 13 de outubro fui ao Hospital Universitário de Coimbra para a consulta de pós-operatório, onde me seria comunicado o resultado final da análise do tumor retirado. Nesta consulta eu iria saber se o tumor era, como se supunha, benigno, ou se, pelo contrário, seriam necessários mais tratamentos.

Cheguei ao hospital, subi ao nono andar, onde tinha estado internada, e dirigi-me à consulta. A médica que me recebeu tinha um enorme sorriso na cara: confirmava-se a benignidade do tumor, e confirmava-se também a pertinência da sua exérese, pois a análise tinha revelado características que podiam vir a degenerar em cancro dentro de alguns anos. Resumindo: o tumor tinha sido retirado a tempo, e este capítulo da minha vida podia ser encerrado.

Desci novamente ao rés-do-chão e apressei-me a entrar na capela, a mesma capela onde passara algumas horas daquela longa tarde de domingo, na véspera da operação... Os meus quinze minutos diários de oração diante do sacrário foram passados ali, em perfeita ação de graças.

Saí do hospital também eu com um enorme sorriso na cara. O sol brilhava muito forte, o céu estava muito azul, os pássaros cantavam, e um futuro novinho em folha estendia-se diante de mim: tinha sido aberto pelas palavras da médica, assegurando-me de que estava curada do meu mal.

No carro, de regresso a casa, meditei naquela magnífica história do Evangelho, em que quatro amigos levam um paralítico a Jesus e o fazem descer pelo telhado:

 

"Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» Ora estavam lá uns doutores da Lei que discorriam em seus corações: «Porque fala ele assim? Blasfema! Quem pode perdoar os pecados senão Deus?» Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados' ou dizer: 'Levanta-te, toma o teu catre e anda'? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno - disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»" (Mc 2, 1-12)

 

A doença bloqueia o futuro do ser humano, impedindo-o de sonhar, de projetar, de experimentar todas as suas potencialidades; mas o pecado bloqueia um futuro muito mais longo: a eternidade. Estar paralítico no corpo é muito menos sério do que estar paralítico na alma... Talvez o paralítico do Evangelho só tenha percebido o alcance do perdão que Jesus lhe ofereceu depois de experimentar o regresso à vida do seu corpo paralisado.

Se um médico se dirigir a um amigo e lhe disser: "Alegra-te, amigo, porque não tens cancro!" O amigo certamente sorrirá, meio distraído; mas se o médico disser essas mesmas palavras a um seu paciente que, depois de longos tratamentos de quimioterapia, regressa ao consultório para um exame final, esse paciente dará saltos de alegria. Quem nunca esteve doente não conhece a alegria de se saber curado.

"Vai em paz, os teus pecados estão perdoados." É assim que terminam as nossas confissões, junto de um sacerdote. Será que alguma vez nos demos conta do alcance desta afirmação?  Alguma vez teremos saltado de alegria perante o futuro que o perdão nos oferece?

Enquanto não experimentarmos, no mais profundo da nossa vida, a certeza de que somos terrivelmente pecadores; que, sem Deus, nada de bom podemos fazer; que, se não caímos em pecado grave, é porque a graça de Deus não nos deixa cair; enquanto não nos sentirmos como doentes que precisam de médico, segundo as palavras de Jesus; enquanto não percebermos que, sem o perdão de Deus, o nosso futuro acaba aqui mesmo, nunca experimentaremos a profunda alegria do Evangelho...

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Mea culpa

por Teresa Power, em 28.09.15

Enquanto faço a minha cama, pela manhã, dou-me conta de uma enorme mancha de cola na colcha.

- David! António! Lúcia! - Chamo, bem alto.

Os meninos aparecem a correr.

- O que foi, mamã?

Aponto para a colcha:

- Quem fez isto?

Silêncio. Olhares cúmplices. Depois, a costumada resposta:

- Eu não!

- Eu não!

- Eu não!

Finjo que não me importo e encolho os ombros.

- Bem, tínhamos combinado ir juntos à loja. Enquanto não souber a verdade, não vamos sair. Claro que, se demorar muito, eu saio sozinha. Agora vão pensar no assunto, e avisem-me quando souberem alguma coisa.

Os meninos afastam-se em silêncio. Alguns minutos mais tarde, a Sara aparece a correr junto de mim.

- Fui eu! Fui eu! Fui eu! - Cantarola ela, aos saltinhos.

- Foste tu o quê, Sara?

- Não sei! Não sei! Não sei! - Responde, sempre muito feliz.

Disfarço um sorriso e ponho o meu ar mais sério. Lá terei de chamar novamente os três meninos... Aparecem a correr:

- Então, mamã, já descobriste quem foi?

- Não, mas já descobri quem NÃO foi. Não foi a Sara, meus amigos. Por favor pensem melhor e decidam-se, que são horas de sair!

Silêncio. Alguns minutos que parecem uma eternidade. Então o António, sempre muito sério, dá um passo em frente:

- Sabes, mamã, eu estive a pensar... Sabes, parece, acho, bem, acho que se calhar, se calhar mesmo, fui eu... Mas olha, não me consigo lembrar!

 

A confissão atabalhoada do meu filho de cinco anos fez-me pensar na quantidade de vezes que encontramos desculpas e procuramos bodes expiatórios para os nossos pecados. É por isso que é tão, mas tão importante a instituição da confissão individual. E não são apenas os católicos que o afirmam: Martinho Lutero nunca deixou de a fazer durante toda a sua vida, e inúmeros psiquiatras, crentes e não crentes, já atestaram o seu poder.

"Por minha culpa, minha tão grande culpa...", rezamos todos os dias na missa, batendo com a mão no peito. Na verdade, assumirmo-nos culpados dos nossos pecados é o primeiro e mais importante passo para acolhermos a misericórdia infinita de Deus. O Rei David, que foi um grande santo, foi também um grande pecador. A ele devemos o magnífico salmo 50, onde David confessa publicamente a sua culpa e, arrependido, pede perdão:

 

"Lava-me completamente da minha iniquidade,

e purifica-me do meu pecado.

Porque eu conheço as minhas transgressões,

e o meu pecado está sempre diante de mim.

Contra Ti, contra Ti somente pequei,

e fiz o que é mal à Tua vista..."

(Salmo 51/50, 2-4)

 

Querido António, hoje a tua confissão foi suficiente. Mas crescer vai significar também seres capaz de assumir a tua culpa e enfrentar o teu pecado sem hesitações... Que o Senhor e eu te ajudemos neste caminho de perdão!

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publicado às 06:24

Birras e pecados

por Teresa Power, em 20.07.15

- Está, senhor padre? Sim, é o Niall... Tudo bem? Senhor padre, aqui em casa vive uma família de pecadores! Sim... Estávamos aqui a ver se o senhor padre tinha um buraquinho no seu horário para nós, esta tarde! Queríamos confessar-nos antes do retiro de amanhã... Que bom! Vamos já para o carro, assim eu os consiga encontrar a todos nos próximos cinco minutos. Até já!

Logo que o Niall desligou o telefone, corri para o jardim:

- Meninos, vamos confessar-nos! Depressa, para o carro!

- Vamos todos?

- Sim, Francisco, temos de levar todos, claro! Não temos com quem deixar o António e a Sara. Eles ficam por lá a brincar enquanto nos confessamos.

- Mas eu também me quero conversar!

- Tu, António?

- Sim! Eu também me vou conversar!

- Tu ainda és pequenino, António. Já tens pecados?

- Então não tenho? Não te lembras das minhas birras? Nem das vezes em que eu bato na Sara?

- Ah... Lembrar, lembro muito bem! Então anda daí, que também te podes confessar!

 

O Catecismo da Igreja Católica diz que se pode confessar "todo o fiel que tenha atingido a idade da discrição" (CIC 1457). Se por "discrição" entendermos a consciência de pecado, então o António já tem a maior idade... Aos cinco anos já somos capazes de avaliar as nossas ações e de perceber quando praticamos o mal.

 

Pacientemente, o António esperou pela sua vez para se confessar, e fê-lo com uma enorme felicidade. Ao sair do confessionário, sorridente, abraçou-me e disse:

- Agora vou rezar um bocadinho no meu coração. Sabes, tenho o coração limpinho, sem nenhum pecado! Vais ver: quando chegar a casa vou portar-me sempre bem!

Com a cabeça no meu ombro, rezou a Jesus, enquanto os irmãos se confessavam. Depois, no pátio do Santuário, correu e brincou cheio de alegria, e cheio de Deus.

Olhando para ele a transbordar felicidade, lembrei-me das palavras de Jesus:

 

"Deixai vir as Mim as criancinhas, não as impeçais, porque é delas o Reino dos Céus." (Mt 19, 14)

 

Os sacramentos são poderosos encontros com Jesus, o Salvador. Confessar os nossos pecados, um a um, e escutar as palavras de perdão e salvação é uma das maiores graças que o Senhor nos faz a todos, pequenos e grandes, enquanto caminhamos nesta Terra...

 

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publicado às 06:20

Descer para subir

por Teresa Power, em 06.06.15

Quando vou a Fátima, nunca deixo passar a oportunidade para me confessar. Não é porque tenha dificuldade em o fazer na minha terra, mas porque não consigo olhar para a escadaria que me leva ao confessionário sem me sentir chamada a descê-la...

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Lá em baixo, uma fonte belíssima onde as pombas brancas gostam de beber recorda-me as águas do Jordão, onde Jesus foi batizado:

 

"Tendo Jesus sido batizado, e estando em oração, o Céu rasgou-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em Ti pus todo o meu agrado.»" (Lc 3, 21.22)

 

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O som da água a borbulhar no abismo e o céu azul de Fátima contra o branco do santuário são suficientes para acordar esta necessidade intensa de purificação, de regresso à pureza da veste branca do meu batismo.

Desço, porque preciso de me humilhar diante do sacerdote, nomeando um a um os meus pecados, que tanto me envergonham e que tão importantes são para me fazerem entender o nada que eu valho.

Desço e, sob a terra, numa suave penumbra e num doce silêncio, peço perdão.

Então sim, Jesus estende-me a mão e diz-me com amor e com autoridade, como disse um dia ao paralítico, à menina morta, ao filho morto da viúva, ao cego, e a tantos outros com quem se cruzou na Galileia, na Judeia e na Samaria:

 

"Levanta-te!" (ex: Lc 7, 14)

 

E eu levanto-me, e regresso à Luz, e subo degrau a degrau, cheia de transbordante alegria, a escada que me devolve ao céu azul de Fátima e do amor de Deus...

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Cá em cima, as pombas continuam a brincar ao sol.

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Bem dizia S. João da Cruz: Para Deus, sobe-se descendo...

Senhor Jesus, quantas graças Te quero dar pelo sacramento da Confissão!

 

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publicado às 06:23

Conversa a sós

por Teresa Power, em 16.04.15

A Lúcia e a Sara brincavam animadamente na sala. A Lúcia era a professora, a Sara era a aluna. Eu passava a ferro, enquanto escutava.

- Agora vamos aprender a letra H - Dizia a professora - Sara, vem ao quadro!

E lá ia a Sara, toda contente, sem saber bem o que fazia.

- Sara, estás a portar mal! Tens de respeitar os outros!

E a Sara sorria, feliz.

- Sara, continuas a portar mal. Temos de ter uma conversa a sós. Vamos ali fora da sala, só nós as duas.

A Lúcia sentou-se no sofá - presumivelmente fora da sala de aula - e chamou a Sara para o seu colo. Depois de lhe dar um abraço, disse-lhe baixinho:

- Tens de aprender a portar bem e a respeitar os outros!

E com um beijinho, mandou-a de volta para a "sala". Eu pousei o ferro e tirei esta fotografia:

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Enquanto a brincadeira prosseguia, e o ferro deslizava sobre a montanha de roupa a meu lado, fiquei a pensar no conteúdo da conversa da Lúcia. Eu já sabia que ela tinha uma ótima professora, pois tivera a mesma experiência com o Francisco. Mas a brincadeira fizera-me descobrir alguns pormenores importantes: quando a professora quer ralhar com algum menino, não o faz em público, diante da turma, mas chama-o à parte, fora da sala de aula. E aí não o trata com aspereza, mas com ternura, como a Lúcia fez com a Sara. 

Que grande lição para mim! Quantas vezes ralho com um filho diante dos irmãos, ou com um aluno diante da turma inteira? No entanto, o Evangelho é muito claro:

 

"Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão." (Mt 18, 15)

 

Afinal, é assim que Jesus faz connosco, oferecendo-nos a oportunidade de confessarmos o nosso pecado a sós, de um para um, no confessionário... E fá-lo sempre com tanta ternura!

Obrigada, professora Rosário, obrigada Lúcia, obrigada Senhor, por mais esta lição. Que eu saiba repreender em privado e elogiar em público, sem aspereza e cheia de amor. Ámen!

 

 

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publicado às 06:12

Alegria nas pernas

por Teresa Power, em 10.04.15

Na semana santa, o Niall e eu fomos a celebrações penitenciais diferentes, para que estivesse sempre um em casa com os mais novos. Assim, na quarta-feira santa à noite, foi a vez do Niall e do Francisco irem ao santuário confessar-se.

- Eu também preciso de ir - Disse o David, à hora de jantar.

- Precisas, David? Pensei que te tinhas confessado há duas semanas, na catequese!

- Pois foi, mas já fiz pecados muito feios depois disso e tenho de os confessar antes da Páscoa.

- OK, então vai com o pai e o Frankie. Come depressa, que as confissões começam às oito e meia!

 

O santuário, segundo contou o Niall, estava cheio. O David precisou de esperar pela sua vez, até finalmente conseguir confessar os seus pecados. Chegou a casa cheio de alegria.

- Então, David, confessaste tudo o que querias?

- Confessei. Agora estou prontinho para a Páscoa! O senhor padre que me confessou foi muito simpático. Ele disse para eu rezar o salmo do Rei David. Disse que era o salmo 50. Sabes qual é?

- Sei. Anda, vamos rezar os dois. Melhor: chama o pai e os manos, e rezamos todos!

O David assim fez. Então abri a Bíblia e pedi-lhe para ler:

 

"Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;

pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.

Lava-me de toda a iniquidade;

purifica-me dos meus delitos.

Reconheço as minhas culpas

e tenho sempre diante de mim os meus pecados.

Lava-me e ficarei mais branco do que a neve.

Faz-me ouvir palavras de gozo e alegria

Desvia o teu rosto dos meus pecados

e apaga todas as minhas culpas...

Dá-me de novo a alegria da tua salvação!" (Sl 50)

 

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 - Cada um pode partilhar o versículo que mais o tocou - Sugeri.

- Eu gostei da parte da neve - Disse o David. - Os pecados podem ser muito sujos, mas ficam brancos como a neve depois da confissão.

- David, os teus pecados eram assim tão graves? - Eu começava a ficar preocupada.

- Eram. - O David pôs a sua cara mais marota - Posso contar-te, ou é segredo?

- É segredo para o padre! Eu explico: os sacerdotes não podem contar a ninguém o que ouvem em confissão, nem que os matem. Não podem mesmo! Isso seria um pecado gravíssimo. Por exemplo, não podem denunciar um criminoso a partir do que ouviram em confissão. Agora tu não és obrigado a fazer segredo dos teus pecados! Claro que também não tens de mos contar.

- Mas eu quero. O meu pecado foi ter enganado a Lúcia... E o outro ainda foi pior: bati no António! Mas eu já lhes pedi desculpa, e agora fui pedir a Jesus. Por isso agora estou perdoado.

- Pois estás. Que bom! Mais algum versículo que te recordes do salmo?

- Sim, aquele da alegria. Quando saí do confessionário senti-me tão, mas tão feliz! Sentia uma alegria muito grande no coração. Não, não era bem no coração, era no corpo todo, mas sobretudo nas pernas.

- Nas pernas?

- Sim: apetecia-me saltar de alegria!

 

Lembrei-me deste episódio nesta quarta-feira, ao ler a passagem dos Atos dos Apóstolos. Pedro e João cruzaram-se com um coxo que pedia esmola. E em vez de lhe darem uma moeda, que fizeram eles?

 

"«Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.» E tomando-o pela mão, levantou-o. Nesse instante fortaleceram-se-lhe os pés e os tornozelos, levantou-se de um salto, pôs-se de pé e começou a andar; depois entrou com eles no Templo, caminhando, saltando e louvando a Deus." (At 3, 1-10)

 

Cada vez que entramos no confessionário, Jesus toma-nos pela mão e levanta-nos. Nesse instante, fortalecem-se as nossas pernas, como as do David, e podemos de novo saltar de alegria... Ámen! Aleluia!

 

 

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publicado às 06:14

Não podes ver

por Teresa Power, em 13.03.15

O António entrou a correr no quarto, com a cara cheia de terra e o cabelo transpirado.

- Ena, António, isso é que é brincar! - Comentei, enquanto procurava abraçá-lo para depois lhe retirar a camisola. Mas o António afastou-me:

- Tens de ir embora, porque eu vou fazer uma coisa e não quero que tu vejas!

O seu sorriso maroto não deixava margem para dúvidas:

- Bem, se tu não queres que eu veja, é porque é asneira! Vais guardar algum pedaço de terra na gaveta, como da última vez? Ou, deixa-me adivinhar: vais guardar um pedaço partido de um vaso de cerâmica, como naquele dia em que as tuas gavetas apareceram cheias de pedaços de vidro? Ou... Não estás a pensar em fazer um ninho de minhocas debaixo da cama?

O António abanou a cabeça, muito sério. Entretanto, a Clarinha chamou-me do seu quarto, e baixinho, informou-me:

- O pai comprou um pacote de pastilhas ao António, e ele escondeu-as para as comer sem tu dares conta...

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Enquanto deixava o António sozinho com a sua "marotice", fiquei a pensar nas palavras de S. Paulo:

 

"Antigamente éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz, pois o fruto da luz manifesta-se em toda a bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor e não participeis nas obras estéreis das trevas. Pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque é até vergonhoso falar das coisas que estas pessoas fazem em segredo. Mas todas as coisas condenadas são postas a descoberto pela luz, pois tudo o que é manifestado torna-se luz." (Ef 5, 8-14)

 

Como o António, também eu sei perfeitamente o que devo ou não devo fazer, e para calar a minha consciência, evito cruzar o meu olhar com o do Senhor quando pratico o mal... Mas as minhas "marotices" são bem menos inocentes que as do António! Se vivesse mais consciente do olhar constante do Senhor pousado sobre mim, não pecaria tanto.

Há duas formas belíssimas de me colocar à luz do olhar do Senhor: uma delas acontece no sacramento da Confissão, quando descubro o meu pecado e o conto com simplicidade a Jesus, na pessoa do seu sacerdote; a outra, através da adoração de Jesus-Eucaristia, ou simplesmente de uma oração diante do sacrário. Nem sempre consigo falar com Ele, porque me faltam as palavras e me foge o pensamento, mas sempre, sempre me posso deixar contemplar, amar e iluminar por Aquele que é a Luz...

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Hoje, a pedido do Papa Francisco, irão começar um pouco por todo o mundo vinte e quatro horas de adoração eucarística. Nós também iremos oferecer algumas das nossas horas familiares para adorar o Senhor!

 

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publicado às 06:20

Primeira confissão

por Teresa Power, em 06.03.15

Os meninos do grupo dos seis anos - o primeiro ano de catequese - fez no sábado passado a sua confissão quaresmal. Para quase todos, tratou-se da primeira confissão, pelo que os catequistas João e Isabel (uma bela Família de Caná!) não pouparam esforços para que fosse uma experiência memorável. O encontro do nosso pecado com o perdão transbordante do Senhor tem de ser uma ocasião de festa, e é preciso que as crianças o vejam assim!

A Laura Puet, no seu blog La Familia, Lugar de Fiesta, na Argentina, mostrou-nos como se pode fazer uma celebração penitencial belíssima com crianças pequeninas. Utilizando algumas das suas ideias (que vêm ao encontro da nossa simbologia quaresmal cá em casa), o João e a Isabel prepararam um poster com a imagem de Jesus, Bom Pastor. Depois, cada criança que se confessava trazia a sua ovelhinha, bem identificada, até junto de Jesus, onde a colocava com muita alegria:

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 Falar de perdão é, na verdade, falar de uma grande festa. Diz o Senhor:

 

"Qual de vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai em busca da ovelha perdida até a encontrar? Quando a encontra, com que alegria a coloca aos ombros! Volta então para casa e chama os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: «Alegrai-vos comigo porque encontrei a ovelha perdida.» Eu vos digo que também no céu haverá mais alegria por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão." (Lc 15, 1-7)

 

Não afastemos as crianças pequeninas desta grande festa! O reencontro com o Bom Pastor é a maior alegria que podemos experimentar na vida, e elas devem sabê-lo desde muito pequeninas. Não terão certamente "pecados de chumbo" para apresentar ao Senhor, mas aos seis anos já têm um bom quilinho de "pecados de algodão"! Todos os dias as ensinamos a pedir desculpa - a nós, ao professor, ao irmão... Porque bateu no amigo, porque falou alto na aula, porque tirou um brinquedo ao mano, porque mentiu à mãe... Ensinemo-las também a pedir desculpa ao Senhor!

E Jesus toma-las-á aos ombros, cheio de alegria, chamará os amigos e vizinhos do céu e da terra e fará uma festa...

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publicado às 06:24

Um quilo de algodão

por Teresa Power, em 26.02.15

- Mamã, o que pesa mais: um quilo de chumbo ou um quilo de algodão?

- Não sei, António.

Eu estava muito atrapalhada entre fazer o jantar e evitar que a Sara se queimasse ou partisse a cabeça enquanto me ajudava, e por isso respondi sem pensar.

- Não sabes mesmo? Que esquisito! - Comentou o meu filho, sem desistir.

Peguei na Sara ao colo com um braço e destapei a panela da carne com a mão livre. Com um suspiro, decidi entrar no jogo:

- Acho que é o chumbo. O chumbo é muito mais pesado do que o algodão! O algodão não pesa nada, não é verdade?

- Errado! - O António estava triunfante, tal como eu esperava com a minha resposta parva. - O algodão e o chumbo pesam o mesmo, porque um quilo é sempre um quilo!

A rir, o António saiu da cozinha, e a Sara perseguiu-o aos pulinhos. Enfim só, fiquei a pensar... E recordei-me de uma meditação que gosto de reler no livro A Fé em Família, de Christine Ponsard... Um quilo é sempre um quilo, seja de algodão, seja de chumbo. Mas em matéria de pecado, diz Christine, parecemos esquecer esta verdade. Acumulamos "pecados de algodão" uns atrás dos outros, sentindo-nos muito descansados porque não são "pecados de chumbo", daqueles que matam o amor, e esquecemo-nos que, de algodão em algodão, já temos um quilo bem pesado.

Amanhã irei entregar este quilo ao Senhor, confessando o meu pecado. O Senhor livrar-me-á deste peso mortal, restituindo-me a vida com o seu perdão. Ah, que seria de mim sem o sacramento da Confissão?...

 

"Feliz aquele a quem é perdoada a culpa

e absolvido o pecado.

Enquanto me calei, os meus ossos definhavam

no meu gemido de todos os dias,

pois a tua mão pesava sobre mim dia e noite.

Confessei-Te o meu pecado e não escondi a minha culpa;

disse: «Confessarei ao Senhor a minha falta.»

E Tu me perdoaste a culpa do pecado." (Sl 32/31)

 

 DSC00589.JPG

PS - E por falar em confissões... Inscrevam-se o quanto antes no Retiro de Quaresma!

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