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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hoje é dia de S. José. Cá em casa, a expetativa era grande, construída num crescendo ao longo de todo o mês: hoje de manhã o dia deveria começar com uma pequena festinha no Centro Social, onde o Niall, no meio de muitos outros pais, iria escutar o António e a Sara, no meio de muitos outros meninos, a cantar, a rezar e a festejar S. José. Depois receberia a sua prendinha, preparada pelos filhos com amor. Tudo isto seria logo pelas nove horas, para não atrasar o dia de trabalho dos pais. O António ansiava pelo momento:
- Mamã, posso cantar-te a canção do pai? Mas não digas nada ao papá, que é para ser surpresa!
Foi assim que eu fiquei a saber como era a linda canção. Cúmplice, prometi-lhe que não iria contar nada ao papá, e repeti-lhe que o papá iria adorar escutá-lo.
Mas o papá não vai poder estar na festinha. Ontem recebeu uma convocatória para uma reunião importantíssima, a que não pode faltar de maneira nenhuma, porque é uma reunião extraordinária na Reitoria. E a reunião está marcada para as nove horas em ponto... Sim, as nove horas em ponto do dia do Pai! Pela primeira vez em quinze anos, o Niall não estará presente na Festa do Pai dos meninos.
Tanto eu como o Niall já faltámos a vários compromissos de trabalho e fizemos muito malabarismo com várias "bolas" no ar por causa dos nossos filhos; mas nem sempre é possível, e quando de todo não é, precisamos de aprender a desdramatizar, e de ensinar a desdramatizar: como tudo na vida, também estes momentos passarão, pois só o amor permanece... Triste, o Niall tentou explicar à Sara e ao António que não vai poder estar na festinha, mas que vai estar com eles no coração, e que à noite a festa cá em casa será a dobrar. O António aceitou com simplicidade, e a Sara continuou a brincar.
S. José é um santo muito especial. Ele foi tão importante na vida de Jesus, que as pessoas identificavam Jesus como "o filho do carpinteiro", como nos recordou o senhor bispo no nosso retiro de Famílias de Caná. S. José é modelo de pai, de trabalhador, de cristão. Mas a santidade de José foi toda feita de renúncia, e é por isso que se torna tão bela. Escreveu Hans Urs von Balthasar:
"José atravessa o limiar do Novo Testamento apenas como alguém que renuncia." (Maria, a Primeira Igreja)
José viveu renunciando, renunciando, renunciando. Renunciou ao sonho de ser pai segundo a carne; renunciou ao sonho de ver o Menino Jesus nascer na sua casa e adormecer no berço que, com tanto cuidado, certamente preparara para Ele; renunciou ao sonho de trabalhar e viver na sua terra, para viver alguns anos como emigrante e refugiado; por fim, renunciou ao sonho de ver Jesus partir para a sua vida de pregação, anunciando o Reino de Deus. O Evangelho, na verdade, dá-nos a entender que José terá morrido antes de Jesus sair de casa, e portanto, antes de ver cumpridas as profecias que envolviam a vida do seu querido filho. Mas foi precisamente no meio da sua constante renúncia que José experimentou a alegria infinita de viver lado a lado com Jesus... Que mistério!
O António e a Sara vão fazer a sua festa, renunciando à alegria da presença do pai; o Niall vai fazer a sua reunião, renunciando à alegria de estar presente na festa dos filhos. E os três irão dar imensa alegria a Deus, porque irão ser capazes de oferecer a sua pequena renúncia, em união com as pequenas e as grandes renúncias de S. José, para que o Reino de Deus cresça no mundo.
"Quem quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de Mim, esse salva-la-á." (Lc 9, 23-24)
S. José, rogai por nós!
Oração familiar, Dia do Pai. Sentados no nosso Canto de Oração, lemos as leituras da missa do dia de S. José.
"José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus." (Mt 1, 20-21)
- Que privilégio o de S. José! Conviver diariamente com Maria e Jesus! - Comentei, quando acabámos de ler o Evangelho.
- Sim, deve ter sido fantástico, ensinar Jesus a ler, a trabalhar a madeira, a rezar...
- Foi S. José que ensinou Jesus a rezar? Que giro!
- Ensinou-Lhe a rezar o "Escuta Israel" que nós hoje rezamos?
- S. José teve muita sorte!
- E pensar que a Bíblia fala tão pouco dele... Quando chegarmos ao Céu é que vamos conhecer de verdade este grande santo!
- Sim, a sua humildade é tão grande, que até a Bíblia o esquece!
(Estátua no Centro Social S. José de Cluny)
- S. José não teve privilégios muito diferentes de todos os outros pais... - Disse então o Niall, que escutava os filhos com atenção. - Afinal, cada um dos nossos filhos é em primeiríssimo lugar filho de Deus. E como S. José, nós somos convidados a dar-lhes um nome, a educá-los, a ajudá-los a crescer!
- Claro! - Continuei eu, percebendo o seu raciocínio. -O baptismo faz de nós verdadeiramente filhos de Deus! Quando apresentamos um filho à Igreja para ser baptizado, o sacerdote pergunta-nos: "Que nome dais ao vosso filho?" Deus pede-nos, como pediu a José, que demos um nome e um apelido, o nosso, aos seus filhos! Como a José, Deus confia-nos o que de melhor tem, os seus próprios filhos! Eles não são nossos, mas d'Ele.
- É por isso que ontem Jesus dizia no Evangelho:
"A ninguém chameis pai na Terra, porque um só é o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 23, 9)?
- Sim, David. Os nossos pais da terra são, como S. José, os pais que Deus nos deu para que nos eduquem e nos amem em seu nome, enquanto vivermos. Porque Pai, Pai, só há um, Deus!
Ser pai é uma responsabilidade imensa. Como S. José, também nós, pais e mães cristãos, recebemos um dom imensurável, um tesouro inegualável nesta vida: um filho de Deus para amar! Saibamos responder à altura de tamanho dom, imitando S. José em santidade! Um dia, Deus pedir-nos-á contas da forma como ensinámos ou não, aos seus queridos filhos, o caminho para Casa...
Escrito pelo Niall...
Nos primeiros anos de casado, perguntavam-me por vezes o que provocava em mim mais saudades da Irlanda. Eu respondia invariavelmente: "the craic". Trata-se de uma expressão irlandesa (gaélica) que significa "divertimento", sempre ligado a riso forte e gargalhada. Pois parecia-me que o sentido do humor dos portugueses nada tinha a ver com este sentido dos irlandeses e tinha saudades dele. Mas estava enganado.
Tenho 3 irmãs e 6 irmãos. Sou número 7 na lista, o que quer dizer que convivia maioritariamente com irmãos mais velhos - rapazes e raparigas cheios de bom humor e sempre predispostos ao "craic".
Os anos passaram. À medida que os meus filhos vão crescendo, vou reencontrando este meu sexto sentido, "the craic", no meio deles. Pois descobri que não é o sentido de humor dos irlandeses ou dos portugueses que está em causa afinal. É antes a partilha da vida no seio de uma família numerosa: são os comentários dos meus filhos mais velhos, que me conhecem bem e sabem troçar-me com ironia e sátira para me fazer rir de forma irresistível; ou são as brincadeiras dos mais pequenos que me surpreendem e dou comigo a rir à gargalhada. É o "craic" de volta na minha vida a matar as saudades de outros tempos.
O riso é um dom de Deus. Adoro rir. E sei que Deus também tem um bom sentido de humor. Aliás, a Antiga Aliança começou com uma gargalhada - a gargalhada de Sara, ao saber que ia ter um filho na sua velhice:
"O Senhor disse: «Voltarei a ti no ano que vem e Sara, a tua mulher, já terá um filho.» Sara ouvia da entrada da tenda que estava detrás daquele que falava. Abraão e Sara já eram velhos, e para ela já havia cessado o período regular das mulheres. Por isso, Sara pôs-se a rir.
Sara concebeu e deu a Abraão um filho na velhice, no prazo fixado por Deus. E Abraão deu o nome de Isaac (que significa "riso") ao seu filho. E Sara disse: «Deus fez-me rir, e todos os que o souberem vão rir-se comigo.»" (Gen 18, 10-12. 21, 3-5)
E a Nova Aliança começou com a saudação do anjo Gabriel, pedindo a Maria que se risse também, pois ia conceber na sua virgindade:
"Alegra-te, ó Cheia de Graça!" (Lc 1, 28)
Educar uma família numerosa dá muito trabalho e tem momentos muito difíceis. Mas no fim do dia, só nos lembramos das coisas boas. Na minha vida, tal como na Bíblia, os filhos são fontes de riso. Quando olho para estes quinze anos de paternidade, recordo sobretudo gargalhadas!
Hora do banho. Enquanto ensaboo a Lúcia, converso com ela como costume.
- Hoje a tia Fátima disse que há pais que se esquecem que têm filhos - disse-me ela muito séria. A "tia" Fátima é uma educadora muito querida no infantário dos meus filhos, o Centro Social S. José de Cluny. Brasileira, cheia de vida, costuma dar catequese às crianças do pré-escolar e falar com elas sobre alguns temas mais difíceis. Aproximando-se o dia do pai, a "tia" Fátima deve ter tentado explicar aos meninos por que razão alguns papás não vão estar disponíveis para fazer os trabalhinhos relacionados com a festa, ou para participarem na oração da manhã, especialmente preparada para eles.
O que eu não estava à espera era do que se seguiu. Num tom levemente preocupado, a Lúcia perguntou:
- Alguma vez te esqueceste que tens filhos, mamã?
Dei uma boa gargalhada.
Bem, a verdade é que uma vez ia arrancando do colégio, na hora da recolha, sem o David... Felizmente tenho o hábito de fazer "a chamada" antes de começar a viagem de regresso a casa! E recordo-me ainda do dia em que sentei o António e a Lúcia em cima das suas camas para cumprirem um castigo de dois longos minutos... A Sara teve de mudar a fralda, o David precisou de ajuda no trabalho de casa, e cerca de quinze minutos mais tarde (que horror!) lembrei-me deles... Ainda estavam calmamente sentados nas camas!
Mas apesar destes percalços de família numerosa, pude responder com verdade à Lúcia:
- Não, filha, nunca me esqueci que tenho filhos!
A Clarinha escutou a nossa conversa. Interrompendo, disse à irmã:
- Sabes, Lúcia, mesmo quando algum pai ou alguma mãe se esquece de que tem filhos, Deus não se esquece! - E voltando-se para mim, perguntou: - Como é mesmo aquela passagem da Bíblia que diz isso?
Às vezes pensamos que Deus Se esqueceu de nós sentados num banquinho de castigo. Às vezes sentimo-nos abandonados por todos, e infelizmente, há quem seja abandonado pelos pais, e quem seja abandonado pelos filhos...
Para que ninguém tenha dúvidas do amor imensurável de Deus por nós (não, Ele não nos deixa sentados num banquinho de castigo), aqui fica a passagem que a Clarinha me recordou:
"Sião reclama: «O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim!» Pode uma mulher esquecer o seu bebé, deixar de querer bem ao filho das suas entranhas? Mesmo que alguma esquecesse, Eu não te esqueceria! Eis que Eu te gravei na palma das minhas mãos!»" (Is 49, 14-16)
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