Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


A terra que não plantámos

por Teresa Power, em 30.03.15

Quando éramos namorados, o Niall e eu sonhávamos com uma quinta enorme onde os nossos filhos pudessem brincar em segurança, mexendo na terra e subindo às árvores. No entanto, o nosso orçamento nunca nos possibilitou a compra da dita quinta, nem de nada que se lhe parecesse. O tempo foi passando, e percebemos que só nos restava enterrar o nosso sonho...

Até que, um ano depois da morte do Tomás, nos mudámos para a casinha cor-de-rosa onde agora vivemos. Não, não fica no meio de uma quinta, mas fica no meio de um descampado cheio de silvas, canas e pedras, urtigas e flores selvagens, arbustos e eucaliptos - e lixo.

Assim que nos mudámos para aqui, o Francisco e a Clarinha adotaram este terreno como o seu quintal e batizaram-no de Náturia, inspirados nas Crónicas de Nárnia, que o pai lhes lia religiosamente todas as noites antes de se deitarem. Veio o David, depois a Lúcia, o António e, por fim, a Sara, e Náturia cresceu com eles. Neste post do ano passado descrevi uma visita guiada a Náturia, para que façam uma ideia do que estou a falar!

De dois em dois anos, Náturia muda de forma, pois o dono envia alguém com um trator para limpar o terreno, de acordo com a lei. A "limpeza" consiste basicamente em levantar grandes bocados de terra cheios de silvas e amontoá-los um pouco adiante, para de novo se cobrirem de silvas. Assim, de dois em dois anos, o descampado torna-se novamente excitante, com novas "montanhas" e novos "esconderijos", novos "túneis" de silvas e novas "piscinas" de água da chuva.

Férias significa tempo extra para brincar em Náturia. Da janela da sala ou da cozinha, vou vigiando as suas brincadeiras e escutando os seus gritos de alegria. Que felicidade!

Esta fotografia foi tirada pelo Francisco:

do cimo da árvore.JPG

Sim, é o que estão a pensar: ele estava empoleirado no cimo de um eucalipto, contemplando o seu reino de Náturia e a nossa casa... Só descobri quando vi a fotografia.

Os mais novos têm brincadeiras mais pacatas:

Náturia 1.JPG

náturia 1.JPG

náturia 2.JPG

- Já viste como Deus foi bom para connosco? - Disse-me outro dia o Niall, enquanto observava comigo os meninos a brincar.

- Como assim?

- Nós sonhávamos com um espaço grande para os nossos filhos brincarem. No entanto, se o tivéssemos, podias esquecer as Famílias de Caná e todo o trabalho que temos em mãos para o Reino de Deus, pois eu passaria os meus fins-de-semana empoleirado num trator, ou de enxada na mão. Assim, Deus ofereceu-nos uma terra que não precisamos de plantar, mas que torna possível aquilo que mais desejávamos: o espaço de brincadeira familiar!

- Tens razão. O que estás a dizer recorda-me as palavras de Moisés no Livro do Deuteronómio:

 

"Quando o Senhor, teu Deus, te introduzir na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó, dar a ti, com cidades grandes e belas que não edificaste, casas cheias de toda a espécie de bens que não ajuntaste, cisternas já escavadas que não cavaste, vinhas e oliveiras que não plantaste; e quando comeres e te fartares, cuida para não esquecer o Senhor que te libertou do Egito, lugar de escravidão." (Deut 6, 10-12)

 

- Se pensarmos bem, colhemos tantas coisas que não plantámos. A começar pelo dom da vida!

- Sim, e a graça, totalmente imerecida, de vivermos em países sem guerras e com elevados níveis de conforto...

- E a graça de nascermos cristãos e não termos de lutar ou morrer pela nossa fé!

- A graça de termos escolas para os nossos filhos, e podermos partilhar com os seus professores a belíssima tarefa da educação...

- Na verdade, a nossa vida não é apenas fruto do nosso trabalho ou do nosso esforço. É engraçado pensar nisso! A nossa vida é acima de tudo presente do Senhor. Nem sempre nos damos conta de todos os frutos que colhemos como família, e que não plantámos.

Depois, o Niall deu uma gargalhada:

- Bem, nem toda a gente se lembraria de ver este monte de silvas como um substituto vantajoso para uma bela quinta! É preciso ter o olhar treinado para reconhecer os dons de Deus...

- E para perceber quando Ele responde às nossas orações. É que frequentemente, a sua resposta é diferente do que imaginávamos! Primeiro parece-nos uma resposta fraquinha e ficamos desapontados, mas depois descobrimos que foi a resposta perfeita.

 

Náturia tornou-se, na nossa casa, símbolo da gratuidade do amor divino, e símbolo da simplicidade de que precisamos para aceitar este amor. A terra que não plantámos ajuda-nos a reconhecer que o Senhor nos libertou da escravidão do "Egito" (e do "querer sempre mais", e do "controlar toda a vida", e da "autosuficiência") para a felicidade do Reino...

Náturia 1 (2).JPG

                                  (Vista romântica de Náturia)

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:20

Fardos leves e jugos suaves

por Teresa Power, em 18.06.14

Num destes domingos, no final da missa, uma mãe muito querida veio ter comigo. Empurrava a cadeira de rodas do seu filho do meio, um menino lindo, de cabelos encaracolados escuros e olhos grandes, com paralisia cerebral profunda. Debrucei-me sobre o menino, acariciei-lhe os caracóis e afaguei-lhe as faces:

- Como estás, Nuno? Há uns tempos que não te via! Lembras-te de mim?

- Claro que se lembra! - Respondeu-me a mãe - Quando a Teresa começa a cantar, na missa, ele bate logo palmas e faz os seus sons de mimo, a querer dizer que reconhece! - Depois a mãe mudou de tom, os olhos cheios de lágrimas:

- Venho pedir-lhe orações... O meu menino vai ser operado novamente, e desta vez com a coluna aberta de alto a baixo... - Chorou durante alguns minutos, enquanto eu acariciava o rostinho do seu filho. E continuou: - Os médicos têm medo que ele não acorde...

Olhei de novo para a criança, e de novo para a mãe. Conheço bem o amor que circula entre os dois! Em silêncio, dei graças a Deus pelo dom magnífico que Ele nos faz da maternidade. Aquela mãe, numa lógica que é tão divina como materna, estava a pedir a Deus que não a libertasse ainda do seu "fardo"... Que lhe devolvesse o seu menino, esse mesmo menino que a prende em casa, que a impede de "tirar férias dos filhos", como tanto se ouve dizer por aí, que não lhe permite sonhar: "Um dia, quando eles crescerem e saírem de casa, ou quando eles deixarem as fraldas e se tornarem independentes, então vou aproveitar a vida!"

 

Fico a pensar no egoísmo deste nosso mundo ocidental moderno, que aceita com naturalidade as nossas "queixinhas" porque a vida não é fácil e ter filhos é trabalhoso. Lembro-me da mãe sudanesa que tem de cuidar de dois bebés com os pés acorrentados, como referi aqui e aqui. Lembro-me das mães indianas que não têm que dar de comer a seus filhos. Lembro-me das mães sírias, palestinianas, israelitas, que vêem os seus filhos serem mortos na guerra. E lembro-me de todas aquelas que, como a minha amiga, têm filhos diferentes. Com que direito nos queixamos nós?

 

Depois recordei-me do que Jesus nos disse:

 

"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de Coração, e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." (Mt 11, 28-30)

 

Hoje - o amor é um verbo que se conjuga sempre no presente! - não me vou queixar de nada, "pois Deus ama a quem dá com alegria" (2Cor 9, 7).

O amor torna leve os fardos pesados que vão surgindo, e um coração manso e humilde encontra a paz no meio da dor...

Hoje, quarta-feira, é o dia da longa operação do Nuno. Estará na sala de operações o dia inteiro... Rezemos juntos por ele e pela sua família!

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:41

O carteiro

por Teresa Power, em 08.05.14

O António acha que o carteiro é a pessoa mais generosa do mundo. De vez em quando, ele toca à campaínha e oferece-lhe um embrulho grande, castanho, cheio de selos. Geralmente vem da Irlanda e traz dentro uma prenda dos avós, que lá longe, se lembram dos seus netos portugueses. Mas o António não percebe muito bem o que se passa. Para ele, o presente é oferecido por quem lho coloca nas mãos, e nada mais.

Hoje de manhã, enquanto o vestia, tivémos esta conversa:

 

- António, vem depressa vestir estes calções e ver se servem. Se servirem, levas hoje para a escolinha.

- São novos?

- Mais ou menos. Para ti, são.

- Quem deu?

- Não sei. Anda, veste-te!

- Foi o carteiro?

- Foi o carteiro o quê?

- Foi o carteiro que me deu os calções?

 

O António fez-me sorrir. Depois fez-me pensar... Quantas vezes me lembro de agradecer os presentes da minha vida ao seu verdadeiro Doador? Geralmente, como o António, fico-me pelos intermediários, os inúmeros "carteiros" que mos entregam... O dia correu bem? Encontrei as chaves do carro depois de revolver os sofás e as gavetas dos brinquedos, e ainda cheguei a tempo à escola? O sol brilhou no exacto dia em que decidimos fazer um piquenique? Consegui resolver aquele assunto complicado, que andava há semanas para resolver? Tomei a decisão correcta? O carro derrapou, mas parou mesmo a tempo de evitar um acidente?

A sorte não existe. O acaso também não. E tudo, tudo o que temos e somos, todos os nossos talentos, todas as oportunidades que recebemos na vida para sermos felizes, todas as nossas conquistas, tudo é dom de Deus. A sua providência acompanha-nos sem que dela tenhamos consciência. É o Senhor, e só Ele, quem envia os embrulhos bonitos que os muitos carteiros da nossa vida nos deixam à porta!

 

A Bíblia é a narrativa da História de um povo à luz deste amor providencial de Deus. Ao longo dos séculos, Israel aprendeu a ler os acontecimentos da sua História a partir da Palavra de Deus, e a ler a Palavra de Deus a partir dos acontecimentos da sua História. Assim, tudo na vida de Israel era atribuído ao Senhor:

 

"Diante de seus pais, Deus fez maravilhas,

na terra do Egipto, nos campos de Soan.

Abriu o mar para os fazer passar,

conteve as águas como um dique.

Conduziu-os, de dia, com uma nuvem,

e de noite, com o seu clarão de fogo.

Fendeu os rochedos do deserto

e deu-lhes a beber águas abundantes.

Fez soprar dos céus o vento leste

e, com o seu poder, fez vir o vento sul..." (Sl 78/77)

 

Quando hoje saborear o meu almoço; quando chegar a hora de abraçar de novo os meus filhos; quando regressar a casa e reparar que ela está intacta, cheia de conforto e rodeada de um belo jardim; quando me deitar numa cama macia, exausta mas feliz, quero lembrar-me a Quem devo tantos dons e agradecer-Lhe, rezando...

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:16

A mãe que eles fizeram nascer

por Teresa Power, em 04.05.14

Estou e estarei sempre grata aos meus filhos pela mãe que eles fizeram de mim. Na verdade, os meus filhos têm sido os melhores professores da minha vida. A cada novo dia, eles exigem de mim, sem sequer o saberem, maior generosidade, mais paciência, um sorriso, maior capacidade de escuta e de acolhimento. Graças a eles, vou-me tornando num ser humano mais bondoso e mais sábio e crescendo no conhecimento de Deus.

Nos meus primeiros anos de maternidade sentia-me muito frequentemente frustrada, irritada, perdida e confusa. Tudo parecia tão complicado! Queria fazer tudo bem, e achava que fazia tudo mal. Mas à medida que os filhos foram nascendo, e à medida que fui lendo, perguntando e procurando respostas - se eu tenho alguma virtude, é a de nunca me acomodar ao que já sei ou julgo saber, e procurar sempre aprender com quem me rodeia - fui também aperfeiçoando a arte de gerir as rotinas e os desafios de uma família numerosa.

 

Mas só mais tarde descobri o imenso poder da oração neste percurso da maternidade. De joelhos, rezando sozinha e em família, compreendi que sem o Espírito Santo, nunca poderia ser uma mãe cristã autêntica. Só Ele pode formar em mim e na minha família o Corpo de Jesus, como formou em Maria de Nazaré. De joelhos, aprendi a pedir perdão sempre que falho. De joelhos, aprendi a vencer o complexo de culpa que nos impede de saborear o momento presente. De joelhos, aprendi a pedir a ajuda do céu para lidar com os problemas que vão surgindo. De joelhos, aprendi a estar em cada momento onde Deus quer que eu esteja, e não onde eu acho que uma super-mulher devia conseguir estar. E tudo se tornou muito mais simples! Compreendi finalmente que Deus não nos pede o impossível - Deus pede-nos que Lhe entreguemos tudo o que somos, com generosidade, para depois Ele mesmo fazer o impossível. Educar uma família numerosa não é uma batalha, mas a escola de santidade onde Deus, meu Pai, me inscreveu. Educar é portanto, em primeiro lugar, pôr-me à escuta do Senhor, para aprender a fazer a sua vontade.  O salmista explica isto como ninguém:

 

"Se o Senhor não edificar a casa,

em vão trabalham os construtores.

Se o Senhor não guardar a cidade,

em vão vigiam as sentinelas." (Sl 127/126)

 

Os meus filhos ensinam-me muitas coisas boas pelo seu exemplo de vida. Eles fizeram-me interessar por temas que nunca antes me haviam entusiasmado, como ilusionismo, ginástica artística, equitação, parkour, engenharia, trabalhos manuais, carros de rolamentos, costura.

Mas eles ensinam-me também por aquilo que a sua educação exige de mim:

Com o Francisco, vou crescendo na escuta - ele é capaz de contar um episódio inteiro de um programa do National Geographic ou do mais recente site matemático que visitou, durante a nossa refeição familiar, sem que o choro ou o barulho dos irmãos o pareçam incomodar!

Com a Clarinha, torno-me mais carinhosa, pois ela precisa de muitos abraços para crescer.

Com o António, treino-me na paciência. Todos os dias peço ao Espírito Santo o seu dom de paciência, mas é graças ao António que eu o vou alcançando!

Com a Lúcia, cresço em doçura e treino-me a ralhar sem gritar, pois a Lúcia não suporta um grito - e eu sou capaz de gritar bastante!

O David arranca de mim um sorriso quase permanente.

A Sara relembra-me que não posso estar desatenta nem demasiado confortável, enquanto, com o seu passinho incerto, ela caminha de perigo em perigo.

O Tomás abriu em mim a fonte da fortaleza. Depois da sua morte, aprendi a não me queixar da vida.

Os meus filhos obrigam-me a vencer o meu egoísmo e o meu comodismo e a crescer, a cada dia, em generosidade e amor.

Os meus filhos fizeram de mim uma mãe.

 

Espero que, um dia, eles se orgulhem da mãe que tiveram e do que com ela aprenderam, como eu me orgulho - e muito - da mãe que tenho e de tudo o que com ela continuo a aprender. Mas já não me julgo tão importante nas suas vidas como julguei, já não tenho tanto medo de fracassar como tive, já não me culpabilizo de tudo o que corre mal, já não perco a cabeça porque nada corre como planeei. Agora sei que os meus filhos são antes de tudo, filhos de Deus, e precisam mais de Deus do que de mim. Terá de ser "o Senhor a edificar a casa", e não eu. Se Deus me escolheu para os conduzir até Ele, eu só tenho de agradecer tão grande privilégio! Pois como continua o salmista a dizer:

 

"Os filhos são uma bênção do Senhor,

o fruto das entranhas, uma verdadeira dádiva." (Sl 127/126)

 

Cada momento passado com os meus filhos é para mim mais uma oportunidade de aprender nesta escola onde o Senhor me inscreveu e onde Ele Se quer encontrar comigo, agora e na eternidade.

Obrigada Francisco, Clarinha, Tomás, David, Lúcia, António e Sara, pela mãe que fizeram nascer!

Obrigada, Senhor, pelo dom da maternidade!

Ámen.

 

 

 

 

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 08:36

Que desperdício!

por Teresa Power, em 05.03.14

A Clarinha tem andado muito ocupada a costurar aventais, cintos, coroas de flores e outras maravilhas, para que o traje que vai vestir nas Jornadas Culturais do Colégio fique perfeito. Cheia de entusiasmo, procurou pela casa trapos e tecidos esquecidos para cortar, coser e enfeitar. Encontrou muita coisa, mas o avental foi feito especialmente a partir de uma toalha de linho antiga, guardada num armário da garagem.

A Isabel, nossa grande amiga e madrinha da Lúcia, costuma dar uma ajuda (uma grande ajuda...) nestas coisas da costura, pois infelizmente eu não sei fazer nada com uma agulha. Ora bem, quando a Isabel viu o pano que a Clarinha tinha cortado e cosido e voltado a cortar e voltado a coser, levou as mãos à cabeça. E no seu tom brincalhão, mas falando a sério, comentou:

- Que desperdício! Já não existe linho puro assim! Tu nem imaginas a relíquia que tinhas aqui, e agora está transformada num avental para brincar... Que desperdício!

Confesso que fiquei bastante admirada. Para mim, um pano de linho não é muito diferente de um pano de qualquer outro material. Se precisar de repente de um trapo para limpar uma janela ou atar uma ferida a sangrar, não saberei distinguir entre um trapo de qualidade e um trapo sem qualidade. Desculpem-me os entendidos nestas matérias!

Depois da Isabel levar o avental para sua casa e de lhe dar "um jeitinho", cosendo-lhe um magnífico pedaço de tecido colorido e um bordado para rematar, o avental da Clarinha ficou assim:

 

 

Mas eu fiquei a pensar...

Quantas vezes desperdiço o dom de Deus?

Recebi o baptismo em bebé, que fez de mim filha do Rei do Universo, e portanto, Princesa do Reino de Deus. Comporto-me como filha de quem sou? Sou fiel às minhas promessas?

Quantas vezes comungo, ao domingo na missa, para logo me esquecer de Quem recebi no meu coração, não Lhe dedicando nem um minuto de atenção?

Quantas vezes desperdiço o tempo que Deus me oferece, sentada em frente do televisor ou entregando-me a futilidades?

Quantas vezes desperdiço as ocasiões que Deus me dá para ser melhor, para ser feliz, para ser santa?

Quantas vezes desperdiço os talentos que o Senhor me confiou?

 

A minha vida é um pano de linho do mais puro e do mais caro. Afinal, a minha salvação custou todo o sangue de Jesus! S. Pedro lembra-nos na sua carta:

 

"Não fostes resgatados da vossa conduta fútil por meio de bens perecíveis como a prata e o ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo." (1Pe 1, 18-19).

 

Fomos comprados por um alto preço! E no entanto, como aquele pano de linho antigo, às vezes deixamo-nos transformar em trapos...

 

A quaresma, que hoje começa, parece-me a mim ser o tempo ideal para recuperar a nossa beleza e a nossa glória, vivendo à altura do sonho de Deus!

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 08:11

Lanterna

por Teresa Power, em 29.12.13

Um dos objectos mais cobiçados cá em casa é a lanterna que o Niall tem guardada na mesa-de-cabeceira, para utilizar quando, durante a noite, alguma criança acorda. Com três filhos em cada quarto, não podemos acender as luzes de cada vez que temos de encontrar, a meio da noite, uma chupeta perdida ou levar alguém a fazer chichi, e daí a lanterna bem guardada na mesa-de-cabeceira. Bem guardada não é a palavra exacta, pois a maior parte das vezes, a lanterna anda desaparecida, para finalmente ser encontrada no meio dos brinquedos dos mais novos.

 

Assim, quando pensámos nos presentes de Natal, a lanterna estava no topo da lista. Nos sapatinhos do António, do David e da Lúcia, ao lado da bola e dos carrinhos da HotWheels, ao lado das fraldas e da chupeta do Nenuco, estava uma pequena lanterna.

 

Durante todo o dia de Natal, o António brincou com a sua lanterna. E tanto brincou, que a perdeu. A torrente de lágrimas dos seus olhos e o som terrível dos seus gritos obrigou toda a família a correr a casa inteira à procura da famosa lanterna. Mas foi preciso o David chutar a sua bola de futebol nova para cima do armário do quarto (a chuva lá fora faz com que se jogue futebol cá dentro...) para a lanterna aparecer. Como é que a lanterna foi parar em cima do armário do quarto, não me perguntem, nem perguntem ao António, porque segundo consta, ele também não sabe!

 

No dia seguinte, o António continuou a brincar com a sua lanterna. Mas quando chegou a hora de dormir, nova torrente de lágrimas: desta vez, a lanterna estava partida! Um dia de brincadeira, e já não dá luz! Seria das pilhas? Não: o António tinha muita curiosidade em conhecer os mecanismos ocultos da lanterna, e decidira desmontá-la...

- Agora arranja, papá! - Pediu ele, ou melhor, ordenou, estendendo os pedaços de lanterna ao Niall. E o Niall, desejoso de estancar as lágrimas e os berros, lá juntou todas as peças o melhor que pôde.

Parece que agora a lanterna funciona só quando lhe dá na "cabeça". Quanto tempo durará?

 

 

Às voltas com a lanterna do António, fiquei a pensar nos presentes que Deus nos dá. Quantos dons Ele coloca nas nossas mãos! Alguns chegam de surpresa, outros são ardentemente desejados, como o António desejou a lanterna.

Todos os dias, Deus presenteia-nos com 24 horas novinhas em folha, novos relacionamentos, oportunidades no trabalho, ocasiões para amarmos e crescermos em família, talentos pessoais para O servirmos nos irmãos, e até dificuldades e problemas para nos tornarmos mais fortes e mais corajosos. E que fazemos nós com tanto dom?

Desperdiçamos o tempo, estragamos as relações, descuidamos o casamento, resmungamos dos problemas, atiramos com os nossos talentos para cima de um armário poeirento...

Como o António com a sua lanterna, tratamos os presentes de Deus com muito pouco cuidado. Às vezes perdemo-los, outras vezes escondemo-los, outras ainda, quebramo-los em pedaços.

E depois?

Depois, pegamos nos cacos e vamos ter com Deus, para que Ele os conserte...

 

 

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 09:11



Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds


livros escritos pela mãe

Os Mistérios da Fé
NOVO - Volume III

Volumes I e II



Pesquisa

Pesquisar no Blog  


Arquivos

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D