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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No domingo passado teve lugar um encontro histórico entre o Papa Francisco, o presidente de Israel e o presidente da Palestina, acompanhados pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu. Nos Jardins do Vaticano, durante duas horas e meia, os três chefes de estado rezaram. Estavam presentes judeus, cristãos e muçulmanos, e no mundo inteiro, certamente milhares de pessoas uniram os seus corações e rezaram com eles pela paz.
Liguei a televisão para poder acompanhar a oração, mas nenhum canal a transmitiu na íntegra. Assim, acabei por o fazer através da net. Enquanto escutava belíssimos cantos israelitas e a repetição constante da palavra Shalom (paz em hebraico), fui cozinhando, passando a ferro e brincando com os meninos. De vez em quando, lembrava-lhes: "Vamos rezar um bocadinho com o papa!"
Nos poucos minutos em que tive a televisão ligada, antes de optar pela net, pude escutar os comentários politicos de alguns "sábios e entendidos" (Mt 11, 25). Diziam eles que é preciso muito mais do que uma oração para se alcançar a paz, e também diziam que os políticos não depositam qualquer esperança neste acto. Santa ignorância! Não há nada na Terra mais poderoso do que a oração. E se somos capazes de gestos de paz, é porque rezamos, ou porque alguém reza por nós!
Na entrada da nossa casa, está este quadro com a Oração de S. Francisco de Assis:
"Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz:
onde houver ódio, que eu leve o amor;
onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
onde houver discórdia, que eu leve a união;
onde houver dúvida, que eu leve a fé;
onde houver erro, que eu leve a verdade;
onde houver desespero, que eu leve a esperança;
onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu
procure mais consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe;
é perdoando que se é perdoado;
e é morrendo que se ressuscita para a vida eterna."
Temos este quadro na entrada da casa, bem visível quando abrimos a porta da rua para entrar ou sair. De manhã, quando é preciso ir trabalhar e ir ao encontro do outro, precisamos destas palavras. Mas quando regressamos a casa tantas vezes cansados e levemente irritados com o dia, precisamos delas também, para que a nossa família possa permanecer em paz.
O Papa Francisco rezou esta oração na presença dos chefes de estado de dois países em guerra. Quero hoje rezar esta oração, recordando uma família que eu conheço, onde a mãe e a filha, já casada, não se falam. Se não conseguimos viver a paz na nossa casa, como queremos que o mundo a viva?
Pelo contrário, uma outra mãe, mãe de uma das muitas Famílias de Caná que já fizeram um dos nossos retiros, escreveu-me há uns tempos atrás: "Um dos mais belos frutos do retiro foi que, desde então, o meu marido reza connosco diariamente e escuta as histórias da Bíblia connosco. Graças ao retiro, re-aproximou-se da Igreja e, consequentemente, da família".
E a Liliana escreveu num maravilhoso comentário ao post O carteiro:"Graças ao seu blog já não ralho tanto com os meus filhos, o que acontecia diariamente..." Permitam-me corrigir apenas uma coisa ao comentário da Liliana: não é graças ao blog, mas graças à Palavra de Deus, claro!
Estas duas mães e esposas já perceberam que, ao aproximarmo-nos de Deus, nos aproximamos também dos irmãos, sejam eles o marido, a mulher, os filhos ou os pais. Por isso, o ditado já velhinho "Família que reza unida permanece unida" é profundamente verdadeiro! A oração, levando-nos ao encontro de Deus, leva-nos sempre também ao encontro do irmão. Rezar é o começo da paz.
Ajuda-me hoje, Senhor, como escreveu S. Francisco, a dar o primeiro passo, perdoando o outro e morrendo para o meu orgulho e a minha satisfação pessoal... Ajuda-me hoje, Senhor, como disse o Papa Francisco no domingo, a ter a coragem de fazer a paz, pois é preciso muito mais coragem para fazer a paz do que para fazer a guerra... Faz de mim um instrumento da tua paz, na minha casa, na minha rua, na minha terra, no meu trabalho, no mundo inteiro! Ámen.
Os meus filhos mais novos gostam muito de brincar aos pais e às mães. O António é o filho, a Lúcia a mãe, o David o pai, e vão trocando papéis até todos estarem felizes na sua função. Mas ontem dei com eles a brincar de forma diferente: estavam a brincar aos manos.
- Olá mana! - Dizia o António.
- Olá mano! - Respondia a Lúcia.
- Vamos dar um passeio, mana? - Perguntava o António.
- Vamos, mano! - Respondia a Lúcia.
Fiquei a observá-los durante uns instantes. Depois não resisti:
- A que é que vocês os dois estão a brincar?
- Aos manos! - Foi a resposta.
- Mas vocês são mesmo manos!
- Pois, mas agora estamos a brincar aos manos. É diferente - Explicaram.
Fiquei a pensar na utilidade de tal brincadeira.
Também nós, cristãos, somos todos irmãos. A nossa oração distintiva diz assim: "Pai Nosso..." No entanto, quantas vezes nos lembramos de que somos, de facto, irmãos? Se nos lembrássemos disso mais vezes, haveria tanta gente a morrer de fome no mundo?
Timothy Tadcliffe, um autor que muito admiro, escreveu assim a propósito do baptismo:
"Muitas vezes, os pais preferem um baptismo privado, em família. Mas isto é um pouco estranho, já que no baptismo a criança é entregue à família mais alargada do amor ilimitado de Cristo. E por isso, faz mais sentido realizar-se o baptismo no dia de reunião de assembleia paroquial e, até, que haja muitos bebés diferentes a serem baptizados ao mesmo tempo, rodeados dos seus novos irmãos e irmãs em Cristo, o primeiro e mais importante título de cada cristão." (Imersos na Vida de Deus, página 64)
E Bento XVI escreveu, quando ainda era cardeal:
"A Eucaristia não é um assunto privado no círculo de amigos que constituem um clube de pessoas com as mesmas afinidades, em que todas se buscam reciprocamente. Pelo contrário, do mesmo modo que o Senhor Se submeteu publicamente à cruz, fora das muralhas da cidade, à vista de todo o mundo, e do mesmo modo que as suas mãos se estenderam de tal forma que abraçam a todos, assim também a celebração da Eucaristia significa uma assembleia pública de culto de todos os convocados pelo Senhor, a Quem é indiferente quem são os que a compõem. Os homens de qualquer partido, de qualquer posição ou de qualquer ideologia são congregados no momento culminante da sua palavra e do seu amor." (Homilia para a festa do Corpo de Deus, 25-5-78)
Enquanto os cristãos de todas as confissões e com diferentes visões da Igreja não viverem como irmãos, partindo um só Pão, o mundo não vai acreditar no nome de Jesus. Foi Ele quem o disse:
"Que eles sejam um, para que o mundo acredite que Tu, ó Pai, Me enviaste." (Jo 17, 21)
Aos domingos, na missa, somos tratados por "irmãos" e tratamos os estranhos que se sentam ao nosso lado por "irmãos" também:
"Confesso a Deus, Todo Poderoso, e a vós, irmãos..."
"Orai, irmãos, para que este sacrifício seja aceite..."
Pelo baptismo, somos irmãos de Jesus e irmãos uns dos outros. A missa é uma bela ocasião para "brincar aos manos", treinando em oração o grande jogo da vida!
(Festa da Palavra, novembro 2012)
Esta pergunta de S. Paulo, em tom de provocação, foi o lema da semana de oração pela unidade dos cristãos, este ano. Na verdade, desde o seu início que os cristãos tiveram de lutar contra a divisão. Os doze apóstolos não podiam ser mais diferentes uns dos outros! E como se não bastasse, pouco depois de Jesus ressuscitar veio juntar-se ao grupo "um de fora", alguém que não comera com Jesus, que não sofrera com Ele, que não testemunhara os seus milagres nem escutara as suas palavras: Paulo. As suas cartas e o livro dos Actos dos Apóstolos reflectem muitos dos conflitos que entretanto surgiram na Igreja por causa deste "intruso" escolhido pelo próprio Jesus!
No dia 25 de Janeiro, o papa afirmou aquilo que todos sabemos: "a divisão dos cristãos é um escândalo". E contudo, ela continua! Todos os anos temos uma semana de oração pela unidade. Quando a semana termina, regressamos às nossas vidas e às nossas divisões, e durante mais um ano inteirinho não voltamos a pensar no assunto... É de facto escandaloso.
Em Fátima, na semana passada, o Niall e eu participámos numa Eucaristia concelebrada por católicos, ortodoxos e anglicanos. E todos comungámos o mesmo Pão e bebemos do mesmo Cálice. Enquanto os teólogos vão debatendo as suas questões, a Igreja de Cristo tem de ir procurando viver a unidade no terreno. É preciso que o espírito se antecipe à letra, ou arriscamos esperar mais alguns milénios pela unidade pedida por Jesus.
Cá em casa, os frutos do ecumenismo são belos e doces: com a Família Duggar, uma família americana evangélica, aprendemos muitas coisas, entre elas, a contar histórias da Bíblia aos nossos filhos; com uma família metodista suiça, que conheci quando tinha quinze anos, aprendemos a cantar antes das refeições; com as igrejas pentecostais, aprendemos a louvar o Senhor cantando e dançando; com os ortodoxos, descobrimos ícones belíssimos, que veneramos e contemplamos...
A unidade não significa anulação da diversidade. Pelo contrário! É maravilhoso sermos todos tão diferentes e termos formas tão diferentes de rezar e evangelizar. Mas não pode haver unidade sem os dois grandes focos que permitiram a unidade dos cristãos no seu início:
- a Eucaristia, Corpo e Sangue de Jesus, que faz da Igreja uma mesma família, porque um único Corpo onde corre o mesmo sangue, e sangue divino;
- e Maria, a Mãe que congregava em oração os doze apóstolos. Maria, oferecida por Deus à Igreja como Mãe, para que a Igreja seja família e não um partido ou uma ONG. Maria que em Fátima, na sua Casa, congregou cristãos de confissões tão diversas, todos de terço na mão!
"A Deus nada é impossível" (Gen 18, 14; Lc 1, 37), repete-nos a Bíblia...
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