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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Outro dia, ao ler alguns comentários no post sobre a nossa festa das Bodas de Caná, apanhei um valente susto: será possível que haja por aí leitores convencidos de que a Clarinha aprendeu comigo a costurar e a cozinhar? Bem, fico muito lisonjeada que tenham pensamentos tão positivos sobre os meus talentos, mas... a sério que acreditam nisso??? Não, a Clarinha não aprendeu comigo. E também não treina ginástica duas horas por dia, ou sequer todos os dias, como alguém me perguntava no retiro de Natal. Socorro! Andam por aí muitas ideias erradas sobre a ocupação dos tempos livres dos Power, e porque eu gosto da verdade acima de tudo, decidi escrever uma semana de posts sobre o tema. Preparem-se!
Nunca o fiz até agora, porque não é objetivo deste blogue a discussão das diferentes perspetivas de educação, e porque em matéria de educação não me considero mais "expert" que qualquer de vós. Como dizia John Wilmot - e eu posso assinar por baixo - "antes de casar, tinha seis teorias sobre educação e nenhum filho; hoje tenho seis filhos e nenhuma teoria."
De qualquer forma, achamos importante explicar os nossos princípios, sabendo à partida que muitos discordarão deles. Mas porque são um dos pilares da educação dos Power, vou tentar apresentá-los por tópicos, algo que me obrigou a alguma reflexão, pois nunca antes pensei neles de forma tão sistematizada.
Aqui ficam:
- Nenhuma atividade extracurricular dos nossos filhos os deve fazer passar fora de casa mais tempo do que o que passam connosco, em família. De outra forma, correm o risco de serem educados mais pelos professores e treinadores do que por nós.
- Nenhuma atividade extracurricular os pode ocupar, por norma, ao fim-de-semana e muito menos impedir-nos de irmos à missa todos juntos, em família. Sem o nosso "tempo de família", não seríamos a família unida e feliz que hoje somos.
- Nenhuma atividade extracurricular lhes pode roubar o seu direito inalienável a brincar e a... não fazer nada. O ligeiro aborrecimento de uma criança desocupada, quando acompanhado por algumas palavras de encorajamento dos pais, é o furo na rocha que permite fazer jorrar a fonte da criatividade.
- Nenhuma atividade extracurricular é imposta pelos pais, e ninguém desilude os pais por desistir do que quer que seja.
- Nenhuma atividade extracurricular começa antes dos oito, nove anos, ou seja, antes da criança demonstrar uma vontade específica de experimentar alguma coisa, e antes da criança ter tempo para brincar, brincar, brincar e... brincar.
- Aliás: nenhuma atividade extracurricular é mais importante do que brincar.
Não, não há competição de basquetebol mais importante que... isto:
E não há competição de ginástica mais importante que... esta, filmada na nossa sala há dois anos atrás:
Não partilhamos a crença de que as crianças trabalham melhor sob stress, ou de que há linguagens, como a música, que é mesmo preciso aprender em profundidade, ou que a única alternativa à televisão é não ter tempo para ela, ou de que os banhos de adrenalina das competições melhoram a personalidade.
Também não achamos que o papel do pai ou da mãe seja fazer de motorista dos filhos, correndo de atividade em atividade para que eles aprendam tudo a que têm direito - há tanta coisa que podem aprender em casa, e que devem aprender em casa!
Por outro lado, e no outro extremo, rejeitamos o papel de professores ou de treinadores dos nossos filhos (tentação que um professor por profissão tem de continuamente combater) por uma razão, para nós, bastante evidente: os nossos filhos têm a oportunidade, na vida, de ter os mais variados professores e treinadores, aprendendo com cada um e crescendo com cada um - quer por empatia, quer por rejeição; mas pais, os nossos filhos só têm dois. Quando os pais se assumem também como professores ou treinadores (não falo de vida ou de fé, mas dos saberes do mundo, claro), correm o risco de serem rejeitados como pais, se por acaso vierem a ser rejeitados como professores ou treinadores. Em que ombro irá então a criança chorar para se queixar do excesso de trabalhos de casa ou da dureza do treino?...
Espero não desiludir demasiado alguns leitores ao afirmar, humildemente, que não tenho outras provas em defesa de todos estes princípios senão o reino de Náturia e seis filhos felizes. Acredito que haja muitos outros filhos felizes com outros princípios, claro. Estes são os princípios dos Power, não os princípios das famílias felizes, ou das famílias católicas, ou das Famílias de Caná. Os próximos posts vão ser uma partilha singela do que, filho a filho, ano a ano, prece a prece, fomos descobrindo. A nosso favor, temos apenas uma vontade muito grande de nos aperfeiçoarmos continuamente como família. Em nossa casa, não conhecemos a frase: "Sempre se fez assim, e pronto." Preferimos a Palavra da Sabedoria:
"A sabedoria facilmente se deixa ver por aqueles que a amam, e encontrar por aqueles que a buscam. Antecipa-se a manifestar-se aos que a desejam. Quem por ela madruga, não se cansará; há de encontrá-la sentada à sua porta. Pois ela própria vai à procura dos que são dignos dela e vai ao encontro deles, em cada um dos seus pensamentos. O princípio da sabedoria é o desejo sincero de ser instruído por ela, e desejar instruir-se é já amá-la." (Sb 6, 12-16)
Até amanhã!
Na quarta-feira fomos passar a tarde ao pequeno refúgio da serra do Caramulo, onde gostamos de fazer piqueniques e de nadar. Pela primeira vez desde que conhecemos este lugar paradisíaco, há três anos, partilhámos o "nosso" lago com desconhecidos: duas crianças, talvez da idade do David, brincavam alegremente na água. A sua conversa em francês permitiu-nos concluir que se tratavam de filhos de emigrantes, de férias na sua aldeia natal.
Surpreendidos com estes companheiros inesperados de brincadeira, o David, a Lúcia e o António tentaram uma aproximação. As crianças eram simpáticas e bem dispostas, mas estavam a fazer algo que horrorizou os nossos filhos: pegavam em pequenas rãs e apertavam-nas entre os dedos.
- Deixa-a em paz! - Gritava o David, muito aflito. - Não vês que vais matar a rã?
- Mas ela é venenosa! - Respondia o rapazinho, num português trapalhão. - Sabes que as rãs são venenosas?
Os nossos filhos abriam os olhos de espanto:
- Venenosas? As rãs?
- Sim! Elas têm uns furinhos na cabeça por onde ejetam um veneno que te pode cegar para sempre! Para sempre! São muito, muito más!
E com um gesto propositado, o rapazinho estendia o punho cerrado com a rã lá dentro diante do narizito da Sara, tentando assustá-la. A Sara, claro, ficava impávida e serena.
Observando a interação entre as crianças, passaram-me muitas perguntas pela mente.
Como terão aquelas crianças chegado à conclusão de que as rãs são animais perigosos e merecedores da morte? E da mesma forma - como terão os meus filhos descoberto a beleza das rãs, a sua fragilidade e a sua riqueza? (Bem, esta é fácil...)
De que forma olhamos nós para o mundo que nos rodeia, em particular os nossos vizinhos, as nossas escolas, os nossos locais de trabalho? Vemos veneno em toda a parte, ou procuramos encontrar em tudo a beleza escondida de Deus? Há tantas "teorias da conspiração" a sugar-nos a alegria de viver!
Deverei eu afastar os meus filhos dos locais onde convivem meninos "maldosos"? Serão eles más companhias? De novo, prefiro a perspetiva oposta: os meus filhos é que são boas companhias para essas crianças... Serão as escolas locais seguros? A esmagadora maioria dos professores são pessoas bem intencionadas, procurando educar as crianças nos valores humanos universais.
Quem poderá destruir os nossos filhos e roubar-lhes a inocência? Bem, muita gente, mas apenas - e esta é a grande questão - se nós, pais, deixarmos brechas abertas por onde os ladrões assaltem. Pais que abandonam os seus filhos em frente do televisor ou do computador, ou por horas sem fim no ATL ou na escola; pais que não têm tempo para escutar e observar, conversar e ensinar, são pais que deixam assaltar o seu castelo.
Há um caminho seguro para educarmos uma criança. Tem sido percorrido pelos crentes desde o tempo de Moisés:
"Estes mandamentos que hoje te imponho estarão no teu coração. Repeti-los-ás aos teus filhos e refletirás sobre eles, tanto sentado em tua casa, como ao caminhar, ao deitar ou ao levantar. Escrevê-los-ás sobre as ombreiras da tua casa e nas tuas portas." (Dt 6, 6-9)
Na sua catequese nesta mesma quarta-feira, 26 de agosto, o Papa atualizou esta Palavra:
"Na vida da família, além das horas de trabalho e dos momentos de festa, há também o tempo da oração. Sabemos como o tempo é sempre pouco; nunca chega para tudo. É frequente ouvir este lamento: «Devia rezar mais…, mas não tenho tempo». Quem tem uma família, aprende a resolver uma equação que nem os grandes matemáticos conseguem: dentro das vinte e quatro horas do dia, fazem entrar o dobro. Há pais e mães que merecem o Prémio Nobel por isso! O segredo está no afecto que provam pelos seus.
É belo ver as mães ensinando aos filhos pequeninos a mandar um beijo a Jesus ou à sua Mãe bendita. Está aqui o espírito da oração, que nos leva a arranjar tempo para Deus, fazendo-nos sair da obsessão duma vida onde sempre falta tempo, para encontrar a paz das coisas necessárias. E a coisa verdadeiramente essencial, a «parte melhor» do tempo é aquela em que se escuta o Senhor, como fez Maria de Betânia. O Evangelho, lido e meditado em família, é como um pãozinho bom que nutre o coração de todos."
Sejamos então capazes de resolver a grande equação que nos propõe o Papa e, nas vinte e quatro horas de cada dia, dar à catequese e oração familiares o primeiro lugar! A Palavra de Deus, escutada, meditada, partilhada compensará qualquer outra influência que os nossos filhos possam ter recebido durante o seu dia e moldará os seus corações e as suas vidas. Olhemos para Santa Mónica e Santo Agostinho, que a Igreja celebra nos dias 27 e 28 de agosto: a oração da mãe obteve do céu a santidade do filho...
Na última semana, passei algumas tardes a recolher as avaliações de todos os meus filhos. Só numa tarde fui prendada com quatro entregas de avaliações! Foi uma semana muito interessante, por tudo aquilo que escutei e refleti sobre cada um dos meus filhos, sobre a sua escola e sobre os seus professores.
Em cada sala, para além dos resultados escolares medidos em números, procurei informar-me sobre o caráter, as qualidades e os defeitos de cada um dos Power. Esforçam-se? Dão o seu melhor? São honestos com os professores quando se esquecem dos trabalhos de casa? Ajudam os colegas? Dão bom exemplo? Contribuem para manter o bom ambiente na sala de aula? São criativos? O que devem melhorar? O que podem corrigir?
Confiar seis irmãos a uma mesma escola é uma fonte de aprendizagem para todos. Ao longo dos anos, os professores de uns tornam-se também professores dos outros, e pouco a pouco, todos conseguem comparar os Power entre si. Felizmente - e essa é a primeira grande lição -, já todos se deram conta de que há coisas que não são comparáveis, como a personalidade e a capacidade de cada um e, consequentemente, os resultados escolares. Assim, alguns dos Power são teimosos, outros dóceis; alguns são belíssimos alunos, outros mais medianos; alguns são faladores, outros calados. Como me disse a auxiliar que toma conta do recreio, foi preciso a Lúcia entrar na escola para ela chamar à atenção um Power... Espere até chegar o António!
Porque os Power são todos diferentes, estamos a ser injustos comparando resultados e sucessos. É que o sorriso pronto da Lúcia pode ter menos mérito que o sorriso esforçado do António, e as notas mais medianas, mas esforçadas, do David podem ter mais mérito que as notas excelentes do Francisco.
Conversando com os professores, apercebi-me que, apesar de todas estas diferenças, há coisas que são comparáveis e que permitem dizer: "Aquela menina é uma Power". Que coisas são essas? Talvez não sejam fáceis de nomear... Talvez seja apenas um traço de alegria, uma presença tranquila, uma forma simples de estar na vida. Talvez seja apenas o facto de se deixarem amar e educar pelo mesmo pai e pela mesma mãe...
Não seria fantástico se os cristãos fossem facilmente identificáveis pela educação recebida do mesmo Pai e da mesma Mãe? Diferentes em personalidades, capacidades, histórias de vida, diferentes nos genes, na inteligência, no sotaque, na cor, na classe social, diferentes em tudo - mas iguais no amor... ?
"Permanecei unidos no mesmo pensar, no mesmo amor, no mesmo ânimo, no mesmo sentir. Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus." (Fl 2, 2.5)
Num dia de manhã, na semana passada, entrámos na garagem e tivémos uma bela surpresa: a Tiger decidira que chegara a hora de tirar os seus quatro gatinhos do ninho, e de os pousar suavemente no chão, para descobrirem o mundo.
Que entusiasmo! Os meninos não sabiam para onde se virar: de todo o lado apareciam gatinhos, pequenas bolas de pelo tropeçando umas nas outras e miando baixinho. A Tiger, muito senhora de si, vigiava os filhotes a uma distância segura, aproximando-se quando pressentia perigo e oferecendo-lhes de mamar, cheirando-os e lambendo-os quando os ouvia queixar.
Pela primeira vez, os nossos filhos puderam pegar nos gatinhos e acariciá-los. Até então, eles não saíam do ninho, e para não interferirmos na ordem da natureza, ninguém lhes tocava. Que festa, naquela garagem! Para aí em casa poderem - sobretudo os mais novos - partilhar da nossa alegria, aqui ficam dois pequenos vídeos deste dia fantástico:
- Os teus meninos estão a crescer, não é verdade, Tiger? - Perguntei-lhe suavemente, acariciando-a - E tu percebeste que chegou a hora de os fazer sair do ninho, mesmo que ainda tropecem um pouco e andem cambaleantes... No ninho, nunca iriam fortalecer as pernas. Tiveste toda a razão!
Nesse dia, o Niall e eu conversámos sobre a sabedoria da natureza, que inscreve nos genes dos animais as leis do crescimento. A nós, Deus dotou-nos de menos instinto, mas em contrapartida, ofereceu-nos uma inteligência superior, capaz de discernir os sinais dos tempos, como Jesus dizia aos seus ouvintes.
Cá em casa, também os nossos filhos estão a crescer. O que a Tiger descobriu por instinto, nós somos chamados a descobrir por atenção à voz do Senhor... Os nossos filhos nunca "fortalecerão as suas pernas" se não os colocarmos no chão para que caminhem. O importante, como a Tiger nos demonstrou, é manter a atenção em alerta máximo e o abraço pronto a acolher. Depois - como a Tiger - há que confiar: se fizermos bem o nosso trabalho, colheremos os seus frutos. Diz-nos a Bíblia:
"Habitua o menino no caminho a seguir, e mesmo velho, não se afastará dele." (Pro 22, 6)
Senhor, que eu seja sempre capaz de acompanhar o crescimento dos meus filhos, sabendo identificar os tempos certos para os retirar suavemente do ninho e os encorajar no chão da sua aventura! Ámen.
- Mamã, posso comer uma maçã?
- Podes, claro. Podes colher da macieira, se preferires, e assim não precisas de lavar.
- Mas eu quero que tu cortes, para eu ver a estrela!
- Então traz cá... Pronto, já está! Que estrela tão bonita!
Todas as maçãs escondem uma estrelinha no seu interior. Para a encontrarmos, precisamos de cortar a maçã da forma correcta, que é geralmente a forma menos comum de a cortar. A recompensa é este lindo desenho, capaz de extrair grandes exclamações de miúdos e graúdos cá em casa. É que não há duas estrelas iguais, e algumas são tão perfeitas, que custa a acreditar que tenham estado escondidas no interior de uma simples maçã...
Há uma estrela no interior de cada criança. Só Deus a conhece, pois
"o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração." (1Sm 16, 7)
Para a encontrarmos, precisamos de educar a criança, amando-a e disciplinando-a. É preciso cortar, sim, é preciso abrir, é preciso trazer para fora a estrela de cada um. Ah, mas é preciso fazê-lo de forma correcta, porque de outra forma, a estrela morre...
Cá em casa vemos muito pouca televisão, como já referi diversas vezes. O televisor está sempre desligado, pois já temos ruído que chegue na vida de todos os dias, e liga-se quando desejamos ver algum programa. Foi o que aconteceu nestas férias, no dia em que chegou a nossa encomenda da Amazon: para além de uma colecção de livros sobre os sacramentos, de Scott Hahn, que há muito desejava ter e que a todos recomendo vivamente, mandámos vir uma colecção de filmes das nossas memórias de adolescentes. É engraçado como os filmes que marcaram o Niall, na longínqua Irlanda, marcaram também a minha geração portuguesa!
Começámos por Home Alone (Sozinho em Casa). Lembrei-me várias vezes deste filme durante a nossa viagem apressada para a Irlanda, pois passei o tempo a contar os meus filhos. Apercebendo-se do meu gesto ao entrar no avião, uma hospedeira de ar sorriu-me e murmurou divertida: "Home Alone!" Foi quando decidimos encomendar o filme.
O Niall e eu divertimo-nos imenso não tanto com o filme, mas com as gargalhadas hilariantes do David, da Clarinha e do Francisco (os mais novos já estavam deitados) perante as diabruras do pequeno Kevin. Um serão delicioso!
No dia seguinte, ocorreu-me a ideia: que foi feito de Macaulay Culkin, o pequeno actor? Era na altura uma criança cheia de talento, viva, divertida, bonita, enfim, continha em si uma promessa de futuro... Não me recordo de ver o seu nome em nenhum outro filme! Uma rápida pesquisa no Google trouxe-me a resposta: Macaulay tornou-se milionário aos doze anos, aos quinze já era senhor do seu próprio dinheiro porque os pais se divorciaram e, depois de lutarem em tribunal pelo dinheiro do filho, perderam; alguns anos mais tarde, Macaulay encontrou refúgio no mundo da droga. Hoje, aos 34 anos, as imagens de Macaulay são reveladoras de uma vida desperdiçada...
Terá sido o dinheiro a causa da infelicidade de Macaulay? O divórcio dos pais? Nem um, nem outro conduzem fatalmente à morte da alma. Há gente muito rica que é profundamente feliz, e filhos de pais divorciados plenamente realizados. O que correu mal então para Macaulay? Na sua biografia, não se diz em ponto algum que os pais, ao se divorciarem, lutaram pelo filho; o que está escrito é que ambos lutaram pela fortuna do filho; e diz-se também que, a partir desse dia, o pai deixou de ver o filho...Aos quinze anos, Macaulay recebeu nas mãos uma fortuna, ao mesmo tempo que lhe roubavam brutalmente o bem a que ele tinha direito: o amor.
Um dos ingredientes do amor é a ternura, que Macaulay não teve; outro, é a disciplina, que também lhe faltou, pois só disciplinamos quem amamos. Quem não ama não se dá ao trabalho (porque a disciplina é muito trabalhosa), substituindo antes disciplina por violência ou negligência. Sem disciplina, nenhum adolescente aprende a gerir o seu dinheiro, os seus talentos e, por fim, a sua vida! Cabe-nos a nós, pais, orientar as suas escolhas, colocando setas no caminho, sinais de proibição, sinais de obrigatoriedade, sinais de velocidade aconselhada, sinais luminosos. Um dia, ser-nos-ão pedidas contas da forma como disciplinámos os nossos filhos e os orientámos na vida...
No início de mais um ano lectivo, penso muitas vezes se estou oa dar aos meus filhos aquilo a que eles têm direito: muito amor, com doses extra de ternura; e disciplina q.b., para que o caminho que vão trilhar seja caminho de felicidade. O resto virá por acréscimo...
Continuando a citar S. Paulo, que leio sempre com muito agrado:
"Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor, pois é isso que é justo. Honra teu pai e tua mãe, tal é o mandamento, com uma promessa: para que sejas feliz e gozes de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não exaspereis os vossos filhos, mas criai-os com a educação e correcção que vêm do Senhor." (Ef 6, 1-4)
- Tenho lido tudo o que posso sobre educação, crianças, alimentação saudável, etc. Antecipo-me assim a todos os problemas que ele possa vir a ter, de saúde e de personalidade, para que se torne então num adulto feliz.
Escutei esta frase ontem na praia, à beira-mar, enquanto "ele" e os meus quatro mais novos brincavam juntos na água, em alegres gargalhadas. Não tenho qualquer dúvida sobre a boa intenção desta mãe e as suas capacidades maternais, que são evidentes. Mas embora, como esta mãe, eu também me empenhe o mais que posso na educação dos meus filhos, não me identifico com a sua segurança. Porque esta segurança transforma-se muito depressa em culpabilização, se por acaso as coisas não correrem tão bem assim.
Os nossos filhos são antes de tudo filhos de Deus. Em oração e através do estudo - sim, é importante estudar, ler e reflectir sobre educação - precisamos de encontrar caminhos de felicidade para eles. Mas nunca nos esqueçamos de que o Pai dos nossos filhos é também o nosso Pai, e portanto, diante do Senhor somos todos irmãos.
- Só podemos fazer o que está ao nosso alcance. O resto, temos de entregar nas mãos de Deus. Peço todos os dias a Nossa Senhora que me ajude a educar estas crianças como educou Jesus - Dizia-me uma outra mãe, numa outra tarde, desta vez no parque. Estava preocupada, porque depois de ler tudo e tentar todas as técnicas, continuava sem ver resultados num determinado campo da vida de um dos seus filhos. A sua confiança em Deus, contudo, despertou em mim a certeza de que tudo irá correr bem com a sua família. Pois quando aceitamos o Senhor como o Pai dos nossos filhos e o nosso Pai, quando confiamos em Maria como a Mãe dos nossos filhos e a nossa Mãe, nada temos a temer.
Quando o povo de Deus chegou à Terra Prometida, Deus explicou-lhe:
"A terra em que vais entrar para dela tomar posse não é como a terra do Egito de onde saíste, onde lançavas a semente e a regavas bombeando com os pés, como se rega uma horta. A terra que ides ocupar é uma terra de montes e vales, que bebe a água das chuvas do céu. É uma terra da qual o Senhor teu Deus cuida e pela qual olha continuamente, desde o começo até ao fim do ano." (Deut 10, 10-12)
A educação assemelha-se mais a Canaã que ao Egito. Educar uma criança é semear, cuidar, plantar, fazer crescer; mas se Deus não cuidar desta terra continuamente, desde o começo até ao fim do ano, ela não dará fruto, por muito que nos esforcemos! Assim, rezemos pelos nossos filhos e com os nossos filhos, para que a chuva do céu nunca deixe de cair...
Todos os verões, e com excepção dos curtos quinze dias de férias do Niall, faço praia sozinha com as crianças. Saímos de manhã cedo, percorremos trinta quilómetros de carro, e regressamos pela hora do almoço. Nalguns anos, estava grávida de fim de tempo, e portanto arrastava-me pelo areal com uma barriga bem redonda; noutros, levava no "pano" o bebé da barriga do ano anterior, pelo que continuava a arrastar-me pelo areal com uma "barriga" bem redonda. Assim, os outros meus filhos têm de colaborar, transportando as mochilas com as toalhas, o lanche, os brinquedos, o guarda-sol, as pranchas e, se necessário, levando um irmão às cavalitas. Eles nunca se queixaram, mas concordo que a "procissão" a atravessar o areal é sempre bastante caricata, sobretudo no regresso, quando os mais pequenos já fazem birra de sono e se recusam a caminhar. Foi certamente depois de um desses dias, no ano passado, que a minha mãe, bem longe da praia, escutou o seguinte comentário:
- Coitados dos seus netos! Contaram-me que todos os dias têm de atravessar o areal da Costa Nova bem carregados... E ainda têm de tomar conta dos irmãos! Coitados!
Quando soube disto, dei uma boa gargalhada: coitados? Porque têm uma mãe que, com ou sem "barriga", quase todos os dias de férias os leva até à praia? Coitados porque, durante os dez minutos que leva a "montar o acampamento" e outros dez a "levantar o acampamento" e os cinco minutos que demora a percorrer o areal, precisam de ajudar? O Francisco e a Clarinha acharam imensa graça a este comentário e aproveitam-se bastante dele, na brincadeira, quando lhes peço para fazer alguma coisa:
- Coitados de nós, mãe!
O psicólogo italiano Andrea Fiorenza disse um dia numa entrevista (tenho um recorte de jornal com a entrevista mas não tenho a referência donde a tirei, peço desculpa):
"Atravessar dificuldades estimula a criança e ajuda-a a crescer. Oxalá o teu filho tenha alguma dificuldade em cada dia para enfrentar! E se a não tem, oferece-lhe tu uma diariamente."
Celebrámos no domingo a festa de S. Pedro e de S. Paulo, as duas colunas da Igreja. E que colunas! S. Paulo, o grande aventureiro de Deus, percorreu trinta mil quilómetros a pé, de cavalo, de carroça, de barco; foi assaltado, preso, chicoteado, perseguido. Tantas dificuldades! Leiam o capítulo 11 da segunda carta aos Coríntios, 23-28. Escreveu ele:
"De mil maneiras somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não derrotados. Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo."(2Cor 4, 8-10)
Para um cristão, educar é formar santos. E os santos, meus senhores, precisam de uma forte coluna vertebral...
Um dos passatempos preferidos do Francisco é ir para Náturia fazer tiro com arco. O arco e a flecha, profissionais, foram presente de aniversário há alguns anos. Serviram para grandes viagens imaginárias no tempo e no espaço, que incluiram combates entre tribos de índios e batalhas medievais. Hoje, segundo me parece, são simplesmente uma forma de fazer tiro com arco, procurando que a flecha acerte num dos muitos pedaços de lixo (o Francisco que me perdoe chamar assim aos restos de objectos dispersos por Náturia) atrás da nossa casa. O lixo é especialmente visível agora, pois os donos verdadeiros de Náturia decidiram (finalmente) cumprir a lei e limpar o seu terreno - era ver a escavadora a levantar tendas, bandeiras, bocados de mangueira, bocados de contraplacado, sofás velhos e tantos outros objectos do Reino de Náturia, juntamente com as canas e as silvas... Em breve, tudo voltará a crescer - o Reino e as silvas - e Náturia recuperará o seu "esplendor" (perdoe-me de novo o Francisco pelas aspas).
Numa tarde em que o Francisco praticava tiro com arco no "seu" Reino, eu conversava com uns amigos no nosso jardim. Observando-o, o meu amigo, professor como eu, comentou:
- Fazer tiro com arco é um desporto magnífico. Ajuda tanto na concentração!
- Nunca tinha pensado nisso - atalhei.
- Repara: o Francisco está todo concentrado no alvo, todo o seu corpo está tenso, pronto para lançar a flecha. Ele está alheio a qualquer ruído exterior, e nada parece distraí-lo do essencial! Vê como ele retesa o arco e larga a flecha. Olha que perfeição! E tudo fruto de uma enorme concentração.
De repente, lembrei-me do salmo 127/126:
"Os filhos são uma bênção do Senhor,
o fruto das entranhas, uma verdadeira dádiva.
Como flechas nas mãos de um guerreiro,
assim os filhos nascidos na juventude.
Feliz o homem que deles encheu a sua aljava!
Não será envergonhado pelos seus inimigos,
quando com eles discutir às portas da cidade."
E lembrei-me também de um texto belíssimo de O Profeta, de Kahlil Gibran:
"Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.(...)
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são
arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica
com toda a sua força,
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa
alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável."
Que maravilha! Saber que os nossos filhos não são nossos, mas de Deus, transforma imediatamente a maternidade e a paternidade num privilégio, "uma verdadeira dádiva", e não num direito, como tantas vezes se ouve dizer por aí. E consequentemente, educar uma criança torna-se uma honra e não um fardo!
Como se educa? Mantendo humildemente o nosso "arco" curvado nas mãos de Deus, sem afrouxar, sem facilitar, sem desistir. Eis o segredo: permanecer nas mãos de Deus! Se nos mantivermos curvados nas suas mãos, atentos às suas instruções, veremos a beleza do voo das pequenas flechas. Não tenhamos medo de "encher a aljava" - o Divino Arqueiro sabe bem do que somos capazes, e não nos "curva" mais do que podemos curvar...
Como o Francisco, precisamos de nos concentrar, os ouvidos atentos à voz do Senhor, os olhos fixos no alvo.
Mas que alvo? As melhores notas da turma? A vitória na competição de basket? Uma profissão de sucesso? O dinheiro, a fama, a glória? O alvo de um cristão é o Céu. Só a eternidade nos pode saciar! Não deixemos que o mundo nos distraia, atraindo-nos para alvos sem valor. Não lancemos as nossas pequenas flechas ao acaso, confiados na sorte ou na genética. E não nos esqueçamos nunca de Quem nos sustém em suas mãos!
Lá fora, o meu filho pratica tiro com arco. Que "flecha" tão bonita ele é! Senhor, mantém o "arco" que eu sou sempre curvado nas tuas mãos paternais. Porque este "encurvamento" - muito mais do que o próprio voo das flechas - é a fonte da verdadeira felicidade. Assim o dizem o salmista e Gibran, e assim o sei eu por experiência. Ámen!
- Amanhã começamos a Novena do Pentecostes.
- O que é o Pentecostes?
- É o dia em que o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e Maria, Mãe de Jesus. A partir do dia em que Jesus subiu aos Céus, eles rezaram todos os dias juntos, pedindo a Jesus que lhes enviasse o seu Espírito, como prometido. E finalmente, nove dias depois, o Espírito Santo desceu sobre eles.
- Como é que era o Espírito Santo?
- Não podemos ver o Espírito Santo, David, porque Deus não cabe nos nossos olhos! Mas para que eles compreendessem o que era o Espírito Santo, Deus mostrou-lhes o fogo. Um fogo bom, que não queimava e que lhes aquecia o coração.
- O fogo do Amor!
- Isso mesmo, Clarinha.
Há duas semanas atrás, uma mãe veio cá a casa pedir-me ajuda. Estava com problemas com um dos filhos e não sabia o que fazer para os resolver. Segundo me disse, já tinha lido toda a literatura que há para ler sobre educação, e não havia conceito que não dominasse. Mesmo assim, nenhum dos livros que lera lhe oferecia a resposta.
Basta-nos passar um olhar distraído pelas estantes das principais livrarias para nos depararmos com uma vasta literatura sobre educação. Cada especialista tem a sua escola, a sua doutrina, os seus defensores e os seus atacantes, e é capaz de debater cada tema até à exaustão. A verdade é que eu conheço crianças perfeitamente sãs e equilibradas, educadas a partir de escolas de psicologia opostas. E a História tem provado que aquilo que hoje defendemos tão acerrimamente, amanhã deixará de fazer sentido. Onde estará pois o segredo de uma educação feliz? Que conselho posso eu dar à mãe que me veio procurar, tão aflita?
O único verdadeiro educador é o Espírito Santo. Segundo as Palavras de Jesus:
"O Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse." (Jo 14, 26)
Todos os dias, peço ao Espírito Santo que me ilumine, para que eu possa educar os meus filhos para a santidade. Sei que, sem Deus, nada alcançarei, a não ser a frustração de falhar continuamente como mãe. Mas se abrir o meu coração ao Espírito, esse Espírito que Jesus derramou sobre mim na Cruz, então Ele mesmo conduzirá a minha família "por sendas direitas, para glória do seu nome; e nenhum mal temerei" (Sl 22/23). Só o Espírito Santo nos poderá fazer compreender as Escrituras Sagradas e nos permitirá praticar os seus ensinamentos. É à sua luz que todas as noites lemos em família as três leituras da missa do dia, procurando encontrar nelas propostas concretas de felicidade. Diz o Livro da Sabedoria, falando do Espírito Santo:
"A sabedoria facilmente se deixa ver por aqueles que a amam e encontrar por aqueles que a buscam. Antecipa-se a manifestar-se aos que a desejam." (Sb 6, 12-13)
De joelhos, tudo se torna tão simples! Até mesmo a educação dos nossos filhos...
Deus olha para os nossos esforços e não para os nossos sucessos. E se estiver contente com os nossos esforços, dar-nos-á de acordo com os nossos desejos!
Hoje, no carro a caminho da escola, começámos a fazer a Novena do Espírito Santo. Escrevi esta novena a partir das palavras da Escritura, pois é assim que gostamos de rezar e meditar cá em casa. A Bíblia tem milhões de palavras por onde escolher! Se quiserem rezar connosco, podem abrir este PDF e imprimi-lo: Novena do Pentecostes.
Depois, abandonem qualquer receio, qualquer sentimento de culpa, qualquer resto de frustração, e entreguem todos os assuntos da educação ao Divino Educador...
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