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Liberdade de educação?

por Teresa Power, em 03.05.16

Segunda-feira começou o mês de maio, e com ele, o mês de Maria.

- Mãe, temos de levar uma flor para Nossa Senhora! - Lembravam os meninos ao sairmos para a escola.

- Sim, vamos ter oração no pátio!

- É tão bom quando temos oração no pátio!

Chegámos ao colégio pelas oito e vinte da manhã, como costume. A manhã estava quente e, pela primeira vez este ano, os meninos iam vestidos com saias ou calções. No ar cheirava a primavera. No pátio do colégio, as crianças e os jovens estavam já agrupados por turmas, em silêncio, e a diretora do colégio, a Irmã Idalina, falava de Nossa Senhora e da forma digna como esperava que este mês fosse vivido. Aproximei-me para escutar e para rezar uma Avé-Maria em conjunto com toda a escola que escolhi para os meus filhos.

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Entretanto, no edifício da creche e do pré-escolar, a excitação era muita: os meninos preparavam-se para fazer a sua homenagem à Mãe do céu e à mãe da terra, cantando e rezando. A homenagem do Dia da Mãe acontece, já há alguns anos, na primeira segunda-feira de maio, logo às nove da manhã, para não atrasar a vida das mamãs. Eu consegui trocar as duas primeiras aulas da manhã e, assim, ficar disponível para assistir a esta breve homenagem.

Concluída a oração no pátio, os mais velhos subiram para as suas aulas. Eu tinha cerca de vinte minutos livres até à homenagem dos mais novos, às nove horas. Como ocupar o tempo? Da forma que o faço sempre, ali no colégio, quando tenho de esperar por alguma reunião de pais ou algum espetáculo dos alunos: dirigi-me à capela e rezei. Que graça que é ter uma capela na escola! Em silêncio, agradeci à Mãe este dom.

Nove horas. A Sara e o António, com as suas batas vestidas, procuraram-me com o olhar e, logo que me viram, acenaram-me. Depois cantaram canção após canção, intercalando o tema da Mãe do Céu com o da mãe da terra. Não faltou o Avé de Fátima, nem o Quero ser como tu, Maria. Nas faces da maioria das mães - mesmo aquelas que, como eu, há muitos anos escutam as mesmas canções e são homenageadas da mesma forma - corriam grossas lágrimas de emoção.

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Eram dez horas quando, por fim, cheguei à minha escola. Já muitos amigos e colegas me perguntaram, ao longo do tempo: Por que razão não tenho eu os meus filhos comigo no Agrupamento de Escolas de Anadia? Porque não acredito na qualidade do ensino da minha escola? Porque tenho medo das influências dos alunos problemáticos? Por causa da diferença de posicionamento no ranking? Hoje, depois de conhecer ambas as escolas e várias outras pelo país, talvez algumas destas razões tenham o seu peso. Mas a razão principal e, na altura, única que me levou a escolher o Colégio foi esta: o Niall e eu queríamos uma escola católica para os nossos filhos. Esta razão foi suficiente para nos fazer mudar de casa, de Aveiro para Anadia. Em Aveiro há muitas e belas escolas, com ótimos professores e bem posicionadas no ranking (que vale o que vale); mas não há uma única escola católica.

As escolas com contrato de associação são a oportunidade que os pobres e as famílias numerosas de classe média têm de escolher a escola dos seus filhos. Os ricos têm muitos colégios à disposição, claro. As ordens religiosas que se dedicam ao ensino e várias outras instituições laicais têm ótimos colégios em muitas cidades do país para os que podem pagar propinas. Mas não terão os pobres e as famílias numerosas de classe média direito a escolher, de igual modo, a escola dos seus filhos? São estes os valores socialistas de igualdade? "Se queres uma escola diferente da estatal, terás de pagar", ouço dizer frequentemente. Porquê? Onde é que diz na lei que os meus filhos são obrigados a frequentar o ensino laico, estatal, igual para todos? Que mania é esta agora, num mundo cada vez mais plural e diversificado, de obrigar todos os alunos - que não possam pagar - a entrar no mesmo molde e receber o mesmo estilo de educação? Será que igualdade é uniformidade? Subsidiar uma escola já existente, com ótimas instalações suportadas na sua maioria por ordens religiosas autónomas, com corpos docentes estáveis e ótimos resultados escolares parece excessivo ao Estado? Será que fica mais barato ao Estado construir mega-escolas de raiz, empenhando milhões de euros?

Claro que por detrás de tudo isto não estão os fatores económicos nem de sucesso académico, pois as evidências em contrário são muitas: por detrás de tudo isto está o ódio que o mundo tem a Jesus. Já O crucificámos, já Lhe imobilizámos as mãos e os pés com pregos, e Ele continua a incomodar tanta gente...

 

"Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, Me odiou a Mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Se Me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir a vós." (Jo 15, 18-20)

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Se os contratos de associação terminarem, como o governo agora deseja, teremos de retirar os nossos filhos do colégio que escolhemos para eles, há quinze anos atrás. Segunda-feira, naquele pátio, sob aquele sol de primavera, escutando aquela Avé-Maria, percebi que tinha vontade de chorar.

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Já assinaram as petições pela liberdade de escolha?

Façam-no aqui! E aqui!

 

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Go light your world

por Teresa Power, em 11.04.16

Escrito pela Clarinha:

 

Assim que soube que o colégio estava a organizar um "... got talent", decidi que queria fazer uma dança com a Lúcia. Havia uma condição para participar: todas as atuações tinham de estar relacionadas com o tema do colégio: "Olha o teu mundo de novo." Eu queria também relacionar a nossa atuação com o Ano Santo da Misericórdia.

Começámos, então, cá em casa a procurar uma música cristã que satisfizesse estas condições e, depois de muito procurar, encontrámos a música perfeita: "Go light your world".

Coreografei a dança tendo em conta a mensagem que nós queríamos transmitir. É preciso iluminar o mundo com os nossos gestos misericordiosos, de forma que as qualidades e defeitos de todos sejam vistos de outra forma. Diz Jesus:

 

"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu." (Mt 5, 14-16)

 

Deixo-vos aqui o resultado do trabalho de três semanas intensivas em que eu "dei treinos" à Lúcia, visto ela nunca ter tido aulas de dança ou de ginástica, coreografei e me diverti juntamente com a minha querida irmã, de quem estou tão orgulhosa!

 

 

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Com o dedo na areia

por Teresa Power, em 29.02.16

Grande agitação na minha turma do Curso Vocacional.

- Meninos, por favor, sentem-se! Mas que se passa? O que aconteceu?

- Foi a J. Ela colocou umas fotos no Facebook sobre uns assuntos que já se espalharam por todo o lado.

J. chora a um canto.

- Pronto, meninos, párem com essa conversa. De certeza de que J. já está arrependida do que fez. Vamos esquecer!

- Esquecer como, professora? Todo o mundo pode ver! A professora não sabe que já não dá para apagar? O que está online está online!

- Sim, e não adianta ela dizer que não é verdade, porque todos o podemos provar!

- E agora está cheia de problemas, e por isso é que está a chorar. Se desse para voltar atrás...

A conversa prolonga-se por toda a aula, sem que eu tenha a capacidade (ou o jeito) para a interromper e para ensinar algum Inglês. J. sai para apanhar um pouco de ar, e regressa com grande tristeza. Uns choram com ela, outros riem, outros encolhem os ombros, outros lançam mais achas para a fogueira.

 

J. precisa de aprender a lidar com a internet, e creio que o susto que apanhou lhe servirá de lição, a ela e aos colegas. Mas as novas gerações, que vivem no mundo real e no mundo virtual quase indistintamente, que assistem aos grandes "reality shows" modernos e que se comprazem na descoberta dos pecados alheios também precisam de aprender algo sobre o perdão.

Lembro-me da história do Evangelho, em que uma mulher, apanhada em flagrante delito de adultério, é conduzida à presença de Jesus. O evangelista recorda um pormenor curioso, aparentemente sem qualquer importância:

 

"Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra." (Jo 8, 6)

 

É difícil, hoje, um jovem recuperar de um pecado grave passado, pois a internet e os telemóveis não perdoam, e no espaço virtual não há absolvição. Deus, pelo contrário, não coloca os nossos pecados online, não os revela ao mundo inteiro num grande Big Brother televisivo, nem os escreve na pedra ou no bronze: inclinando-Se para o chão, Deus escreve os nossos pecados sobre a areia... E uma única onda do seu amor misericordioso apaga-os de uma vez.

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O carnaval da Heidi

por Teresa Power, em 09.02.16

Quatro meninos vestidos a preceito, sexta-feira de manhã, a caminho da escola:

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- Eu sou a Heidi - Afirma a Sara, feliz.

- Não, Sara, a tua professora disse que os meninos da escolinha iam vestidos com roupa tradicional portuguesa, por isso tu és uma... bem, uma espécie de varina, misturada com minhota, com um estilo saloio de trazer por casa. Entendeste?

- Sim - Anui a Sara, muito séria - Sou a Heidi...

- OK, se calhar tens razão, com esse chapéu de palha amarrotado, o xaile barato e a saia costurada pela Clarinha com todo o amor do mundo... Sim, acho que és a Heidi!

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Deus ama tanto a brincadeira, que criou algumas criaturas só para com elas brincar:

 

"No mar passeiam os navios e ainda o Leviatã, monstro que Tu criaste, para ali brincar!" (Sl 104, 26)

 

Há alguns dias do ano que foram feitos para... brincar! E às vezes os adultos complicam tanto com uma seriedade desproporcionada na escolha da roupa mais perfeita, mais cara e mais elegante, que roubam às crianças o prazer simples da fantasia infantil... Quanta vaidade paternal a estragar a festa dos pequeninos! Penso na Heidi, a menina dessa belíssima história de Joana Spyri, que longe das montanhas, guardava no fundo do baú o seu chapéu amarrotado e o seu vestido vermelho, juntamente com a sua infância feliz. É tão bom ser criança...

 

PS - Despachem-se a inscrever-se no Retiro Famílias de Caná, em Coimbra, já no dia 14! Não tenham receio, que apesar de ser um "retiro", tem muita brincadeira à mistura!

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Tempos livres I

por Teresa Power, em 25.01.16

Outro dia, ao ler alguns comentários no post sobre a nossa festa das Bodas de Caná, apanhei um valente susto: será possível que haja por aí leitores convencidos de que a Clarinha aprendeu comigo a costurar e a cozinhar? Bem, fico muito lisonjeada que tenham pensamentos tão positivos sobre os meus talentos, mas... a sério que acreditam nisso??? Não, a Clarinha não aprendeu comigo. E também não treina ginástica duas horas por dia, ou sequer todos os dias, como alguém me perguntava no retiro de Natal. Socorro! Andam por aí muitas ideias erradas sobre a ocupação dos tempos livres dos Power, e porque eu gosto da verdade acima de tudo, decidi escrever uma semana de posts sobre o tema. Preparem-se!

Nunca o fiz até agora, porque não é objetivo deste blogue a discussão das diferentes perspetivas de educação,  e porque em matéria de educação não me considero mais "expert" que qualquer de vós. Como dizia John Wilmot - e eu posso assinar por baixo - "antes de casar, tinha seis teorias sobre educação e nenhum filho; hoje tenho seis filhos e nenhuma teoria."

De qualquer forma, achamos importante explicar os nossos princípios, sabendo à partida que muitos discordarão deles. Mas porque são um dos pilares da educação dos Power, vou tentar apresentá-los por tópicos, algo que me obrigou a alguma reflexão, pois nunca antes pensei neles de forma tão sistematizada.

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Aqui ficam:

- Nenhuma atividade extracurricular dos nossos filhos os deve fazer passar fora de casa mais tempo do que o que passam connosco, em família. De outra forma, correm o risco de serem educados mais pelos professores e treinadores do que por nós.

- Nenhuma atividade extracurricular os pode ocupar, por norma, ao fim-de-semana e muito menos impedir-nos de irmos à missa todos juntos, em família. Sem o nosso "tempo de família", não seríamos a família unida e feliz que hoje somos.

- Nenhuma atividade extracurricular lhes pode roubar o seu direito inalienável a brincar e a... não fazer nada. O ligeiro aborrecimento de uma criança desocupada, quando acompanhado por algumas palavras de encorajamento dos pais, é o furo na rocha que permite fazer jorrar a fonte da criatividade.

- Nenhuma atividade extracurricular é imposta pelos pais, e ninguém desilude os pais por desistir do que quer que seja.

- Nenhuma atividade extracurricular começa antes dos oito, nove anos, ou seja, antes da criança demonstrar uma vontade específica de experimentar alguma coisa, e antes da criança ter tempo para brincar, brincar, brincar e... brincar.

- Aliás: nenhuma atividade extracurricular é mais importante do que brincar.

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Não, não há competição de basquetebol mais importante que... isto:

E não há competição de ginástica mais importante que... esta, filmada na nossa sala há dois anos atrás:

Não partilhamos a crença de que as crianças trabalham melhor sob stress, ou de que há linguagens, como a música, que é mesmo preciso aprender em profundidade, ou que a única alternativa à televisão é não ter tempo para ela, ou de que os banhos de adrenalina das competições melhoram a personalidade.

Também não achamos que o papel do pai ou da mãe seja fazer de motorista dos filhos, correndo de atividade em atividade para que eles aprendam tudo a que têm direito - há tanta coisa que podem aprender em casa, e que devem aprender em casa!

Por outro lado, e no outro extremo, rejeitamos o papel de professores ou de treinadores dos nossos filhos (tentação que um professor por profissão tem de continuamente combater) por uma razão, para nós, bastante evidente: os nossos filhos têm a oportunidade, na vida, de ter os mais variados professores e treinadores, aprendendo com cada um e crescendo com cada um - quer por empatia, quer por rejeição; mas pais, os nossos filhos só têm dois. Quando os pais se assumem também como professores ou treinadores (não falo de vida ou de fé, mas dos saberes do mundo, claro), correm o risco de serem rejeitados como pais, se por acaso vierem a ser rejeitados como professores ou treinadores. Em que ombro irá então a criança chorar para se queixar do excesso de trabalhos de casa ou da dureza do treino?...

Espero não desiludir demasiado alguns leitores ao afirmar, humildemente, que não tenho outras provas em defesa de todos estes princípios senão o reino de Náturia e seis filhos felizes. Acredito que haja muitos outros filhos felizes com outros princípios, claro. Estes são os princípios dos Power, não os princípios das famílias felizes, ou das famílias católicas, ou das Famílias de Caná. Os próximos posts  vão ser uma partilha singela do que, filho a filho, ano a ano, prece a prece, fomos descobrindo. A nosso favor, temos apenas uma vontade muito grande de nos aperfeiçoarmos continuamente como família. Em nossa casa, não conhecemos a frase: "Sempre se fez assim, e pronto." Preferimos a Palavra da Sabedoria:

 

"A sabedoria facilmente se deixa ver por aqueles que a amam, e encontrar por aqueles que a buscam. Antecipa-se a manifestar-se aos que a desejam. Quem por ela madruga, não se cansará; há de encontrá-la sentada à sua porta. Pois ela própria vai à procura dos que são dignos dela e vai ao encontro deles, em cada um dos seus pensamentos. O princípio da sabedoria é o desejo sincero de ser instruído por ela, e desejar instruir-se é já amá-la." (Sb 6, 12-16)

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 Até amanhã!

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Trabalhar de graça?

por Teresa Power, em 20.01.16

Aula de Inglês. Turma de sétimo ano, muito simpática e participativa. Há vários anos que não tinha tanto prazer em dar aulas a uma turma.

- Meninos, amanhã quero este trabalho terminado - Digo, pouco antes do final da aula.

- Professora, não vou conseguir, porque hoje tenho catequese - Diz um rapazinho.

- Catequese? Quem é que ainda vai à catequese?! - Desafia um colega. Gargalhada geral, apenas quebrada pelo silêncio incomodado do colega.

- Foi um comentário pouco apropriado, João - Intervenho eu. - Certamente que não gostarias que eu, ou outro colega, falássemos assim nesse tom sarcástico sobre uma atividade de que tu gostes. Por exemplo, sobre o futebol...

- Mas pelo menos os futebolistas ganham dinheiro - Responde outro aluno, lá do fundo da sala.

- Ora, e os catequistas também! - Atalham logo dois ou três.

Grande burburinho. A campainha está quase a tocar, mas é preciso esclarecer este ponto. Bato na mesa para repor a ordem, e finalmente consigo que me escutem:

- Não há nenhum catequista que receba dinheiro por dar catequese. Todos o fazem gratuitamente.

- Como é que sabe? Claro que ganham dinheiro! Ninguém trabalha sem ser por dinheiro!

- Achas mesmo?

- Olha se calhar a professora é catequista! É?

- Sou.

- E não ganha dinheiro?! Então por que é que dá catequese?

A campainha toca, e todos se levantam para sair. Fico incomodada com o diálogo que acabo de ter... Já não é a primeira vez que refiro isto aqui no blogue. Aos doze anos, eu sonhava em ser muita coisa: cantora, missionária, escritora, assistente social, professora, pintora... Se pensava em ganhar dinheiro? Que detalhe tão sem graça quando se é criança! Ganhar a vida, ganhar dinheiro é muito pouco romântico nesta idade.

Talvez eu me tivesse interessado mais por dinheiro se tivesse sentido a sua falta, ao crescer. É compreensível que quem passe por graves necessidades na infância, equacione tudo em torno do dinheiro. Mas não é o caso na turma em questão, nem no aluno em questão.

De onde vem, pois, esta febre de ter, de ganhar, de gastar? Que vêem as crianças em casa, que preocupações escutam nas palavras e nos silêncios dos pais, que programas de televisão invadem os seus sonhos, que canções atacam o seu mundo interior? Como ocupam os nossos jovens os seus tempos livres? Estarão eles a brincar o suficiente? Não estarão os adultos a levar as crianças vezes demais aos centros comerciais, onde tudo custa dinheiro e nada se faz sem dinheiro? Não estará o tempo em família, dos fins-de-semana às férias, demasiadamente dependente do dinheiro? Que fizemos nós da criatividade, da alegria, da simplicidade, da inocência?...

Ah, tantas perguntas a que todos sabemos responder...

Não, os catequistas não ganham dinheiro. A hora de catequese semanal que oferecem é roubada ao seu tempo de lazer, ao seu direito ao descanso, às suas horas de sono. Compensa? Às vezes sim, outras não. Já vi catequistas encantados com o progresso das suas crianças, e já vi catequistas totalmente desmotivados com a falta de atenção, interesse e, até, educação dos meninos. Eu já me incluí em ambos os grupos...

Então, se não ganham dinheiro, se nem sempre compensa, por que raio é que são catequistas??? Os meus alunos têm a sua razão ao perguntar!

Na semana passada, lemos na nossa hora de oração familiar a história do chamamento de Levi. O momento, de um extraordinário dramatismo, capaz de transformar um simples publicano em Apóstolo Evangelista e Santo aclamado em toda a História da Igreja, está condensado num único versículo:

 

"Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança e disse-lhe: «Segue-Me.» Ele, levantando-se, seguiu Jesus."

(Mc 2, 14)

 

Só quem alguma vez experimentou na sua vida o poder do chamamento de Jesus, o magnetismo do seu olhar, a força da sua voz, consegue entender passagens como esta. E consegue entender por que razão um catequista não desiste e não recua, semana após semana.

Não, querido aluno. Não é por dinheiro: é por amor...

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Cubos, fé e amigos

por Teresa Power, em 15.12.15

O primeiro período está a chegar ao fim. Para o Francisco, foi o primeiro período da sua vida numa escola que não o Colégio Nossa Senhora da Assunção. Outro dia, quando fui ao Colégio buscar os mais novos, encontrei sentados nos degraus da entrada dois meninos do primeiro ciclo com o Cubo de Rubik na mão, procurando animadamente resolvê-lo. Sorri para comigo, enquanto pensava: "Marcas do Francisco no Colégio..." De facto, foi o Francisco a levar a "moda" do cubo para o colégio, "moda" que vai passando de criança para criança, de jovem para jovem, arrancando meninos aos telemóveis e aos jogos de computador para o entusiasmo com um desafio tri-dimensional, como o Francisco gosta de explicar.

Entretanto, na Escola Básica e Secundária de Anadia, onde eu leciono e o Francisco frequenta o 12º ano por não ter possibilidade de escolher Física no Colégio neste ano letivo, há já um pequeno grupo de alunos de cubo na mão, nos intervalos. Não foram precisas mais do que algumas semanas para o Francisco contagiar vários colegas com o seu entusiasmo por desafios e quebra-cabeças!

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 - Mãe, hoje estou muito contente - Disse-me o Francisco outro dia, quando entrou no carro para regressar comigo a casa depois das nossas aulas.

- Então, tiveste entrega de algum teste?

- Não. Estou contente por outra razão. Sabes, um dos meus colegas, com quem me estou a dar particularmente bem, agradeceu-me ter vindo para esta escola.

- Que bom! E que te disse ele?

- Disse-me que sempre foi uma criança e um adolescente entusiasmado com a vida, a ciência, os desafios, enfim, todas as coisas que a mim me entusiasmam também. No entanto, para se poder integrar nos grupos e escolas por onde foi passando, foi esquecendo essa sua paixão. Há já muito tempo que não agarrava novos desafios... Então eu cheguei a esta escola com o cubo, o ilusionismo, os sites de ciência e de desafios que vejo na net, o meu canal e toda esta minha forma de encarar a vida, e ele redescobriu a sua antiga paixão. Agora, disse-me ele, está de novo entusiasmadíssimo com projetos, ideias e desafios, e agradeceu-me por isso.

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Sorri, enquanto conduzia por entre a chuva. Deus faz destas coisas, e não me admirava nada que Ele tivesse conduzido o Francisco até esta escola por causa deste rapaz!

Outro dia, num debate sobre a existência de Deus na aula de Português, a propósito de um poema de Pessoa, o Francisco descobriu que só tinha na turma uma colega católica assumida. Depois de uma troca de argumentos apaixonada e divertida, sob a moderação da professora, a turma regressou à sua natural bonomia. Feliz, o Francisco contou-me que os colegas tinham ficado surpreendidos com alguns dos seus argumentos. "Foi giro falar destas coisas na escola", disse-me, mais tarde.

O que faz com que o Francisco não tenha vergonha de se afirmar cristão, em qualquer grupo onde se insira? O que lhe dá esta confiança de ser ele próprio e esta vontade de "arrancar amigos ao sofá", como costuma dizer? O testemunho de vida cristã não passa apenas pela forma de viver a religião, mas também pela forma de estar na vida de todos os dias e em todos os campos do saber humano. E as obras de misericórdia espirituais incluem o esforço de sair de nós próprios para ir ao encontro do outro e o ajudar a ir mais longe, corrigindo-o, desafiando-o, acompanhando-o no caminho.

Uma das perguntas que as pessoas mais fazem ao Francisco e à Clarinha, nos nossos encontros e retiros, é esta: "Viver a fé da forma que o fazem não vos afasta dos amigos?" Eles riem-se sempre, sem entender o que querem as pessoas dizer com esta pergunta, pois nunca, até hoje, deixaram de ter amigos ou de ser altamente respeitados na escola, seja ela escola católica ou - como o Francisco me está a provar - estatal.

Pela nossa parte, o Niall e eu escutamos muitas vezes também outra pergunta: "Não têm medo que os vossos filhos percam a fé e os valores cristãos, no contacto com os colegas e a escola em geral?" Mas como podemos nós ter medo, se todos os dias, sem exceção, rezamos em família e fazemos evangelização familiar? Não confiaremos nós nas promessas do Senhor, que nunca Se deixa vencer em generosidade? S. Paulo dá-nos uma Palavra magnífica:

 

“Se Deus está por nós, quem estará contra nós?
Em tudo somos vencedores
Naquele que nos amou.
Pois estou convencido de que
nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os poderes celestiais,
nem o presente, nem o futuro,
nem as forças cósmicas,
nem a altura, nem a profundeza,
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus
manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor.”

(Rom 8, 31-39)

 

Na nossa "Declaração de missão", que o Niall e eu escrevemos pouco depois de nos casarmos e que temos emoldurada na parede da sala, está escrito: "Queremos ser luz em casa, na escola, no trabalho, na Igreja, em todo o lado..." Queremos estar onde as pessoas estão, queremos estar no mundo sem ser do mundo, queremos ajudar os outros a descobrir o melhor de si próprios, queremos viver plenamente e sem medo a nossa vocação de leigos, que é precisamente a de iluminar, com a nossa presença, os ambientes da vida de cada dia...

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Andorinhas

por Teresa Power, em 05.11.15

- Mãe, mãe, vem cá fora depressa! Olha para o céu!

São oito horas da manhã e é suposto os meus filhos estarem todos sentados dentro do carro, prontos para irem à escola. Contudo, quando corro para o pátio, estão todos a olhar para o céu. Levanto também eu os meus olhos, e eis o que vejo:

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Um após outro, bandos de andorinhas cruzam os ares. São centenas, talvez milhares de aves que deslizam no céu, como um exército em ordem de batalha. Parece que todas as andorinhas do mundo decidiram partir ao mesmo tempo. Ficamos em silêncio diante da grandiosidade do milagre que a manhã nos apresenta.

- Meninos, agora toca a entrar no carro, para não nos atrasarmos! - Digo, interrompendo a contemplação.

Durante a curta viagem para a escola, e depois da nossa oração da manhã, falamos de andorinhas.

- Mamã, para onde vão elas?

- Para longe, para muito longe, António.

- Vão para África, não é mãe?

- Sim, David.

- O professor explicou-nos! Ele disse que a andorinha da frente tem de aguentar com o vento todo, e por isso o seu trabalho é o mais difícil. Assim, elas vão dando a vez umas às outras.

- Ah, eu consegui ver duas andorinhas a trocar de posição!

- Viste mesmo, Lúcia? Uau, tens visão de águia!

- Estás a mentir!

- Não estou nada!

- Pronto, pronto, deixem a Lúcia em paz.

- Mamã, e como é que elas sabem que têm de ir para África? Quer dizer, como é que elas sabem todas ao mesmo tempo?

- Sendo o Criador de todas as coisas, Deus arranjou formas diferentes para que as suas criaturas pudessem conhecer e fazer a sua vontade. Às andorinhas, como a todos os animais, Deus ofereceu uma coisa chamada instinto. Deus inscreveu nos seus genes a sua vontade, e elas não precisam de pensar, nem de estudar, nem de terem lições para aprender o que quer que seja. Nenhuma andorinha precisa de ir à escola pra aprender a fazer um ninho, ou para saber quando são horas de partir. Elas fazem a vontade do seu Criador simplesmente por instinto.

- Que sorte!

- Nós também temos um bocadinho de instinto, não é, mãe?

- Sim, Clarinha, um bocadinho. Temos por exemplo o instinto maternal, que nos faz ter uma ligação imediata ao bebé que nasce, etc. Mas o ser humano tem uma dose muito pequena de instinto.

- Porquê?

- Porque a nós, Deus deu-nos o maior dos dons: a liberdade. Somos livres de cumprir ou não a sua vontade. 

- E podemos saber qual a vontade de Deus?

- Claro! Foi para isso que Deus nos dotou de inteligência e da capacidade de escutar a sua voz.

- Ah!

Chegamos ao colégio. Os meninos saem do carro e correm para as suas aulas, porque são crianças e não andorinhas. Eu continuo viagem até à minha escola e vou pensando nos bandos de passarinhos a cruzar os ares nesta manhã...

Penso na viagem do Povo de Deus através do deserto, e penso na "andorinha da frente", o grande Moisés. Antes de morrer, Moisés falou ao seu povo e deu-lhe as suas últimas instruções. A Bíblia guardou-as nos últimos capítulos do Deuteronómio. Que texto lindo! É, para mim, um dos textos mais belos da Bíblia, e leio-o muitas vezes. Hoje recordo em especial um parágrafo:

 

"Ponho diante de vós a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele, porque Ele é a tua vida e prolongará os teus dias para habitares na terra, que o Senhor jurou que havia de dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacob." (Dt 30, 19-20)

 

Estaciono na minha escola. Posso, agora mesmo, escolher a bênção, a alegria, a paz, a vida... Posso, agora mesmo, escutar a voz que me desafia a partir, a não fazer aqui morada permanente, a não me deixar perturbar... É o voo de hoje que começa.

 

 

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O toque da campainha

por Teresa Power, em 27.10.15

- Professora, falta muito para tocar?

- Porquê, João, já estás cansado da aula?

Bocejos - Se calhar...

- Pois eu acho que a aula passou bem depressa!

- Isso és tu, Mariana, que gostas de Inglês!

- Tu já não dizes o mesmo quando estamos em Matemática, pois não?

- Não, Matemática passa devagar...

Mas todas as aulas acabam por passar, mais ou menos lentamente, e o toque da campainha acaba sempre por chegar.

Uma das maiores lições da escola é o toque da campainha. Eu sei que há movimentos contrários, defendendo as aulas de duração variável, e até há quem defenda que se deve apenas estudar o que apetece, quando apetece e se apetece.Também reconheço que todos precisamos de um tempo sem "toques de campainha" - e que bem que sabem as férias! Mas eu continuo a achar que há algo de libertador no toque da campainha.

A campainha liberta-me das tarefas cansativas ou indesejadas; mas também me liberta do excessivo apego às tarefas desejadas. Se é bom ser interrompido a meio de algo aborrecido, é ainda melhor ser interrompido a meio de algo agradável... É que esta interrupção é uma forma magnífica de treinar a vontade, e com ela, a minha liberdade interior. Este treino será extremamente útil ao longo de toda a vida, quando precisar de desligar o televisor para cuidar do recém-nascido, ou ligar o despertador para chegar a tempo ao trabalho, ou pousar o jornal para fazer o jantar.

Deverei, então, acolher com a mesma serenidade os diversos tempos do meu dia, bons ou maus, ao ritmo dos sucessivos "toques de campainha"? Bem, há um "tanto faz" negativo, provocado pela desilusão ou pela falta de criatividade, muito comum em alguns alunos pouco motivados para o estudo; mas há um "tanto faz" cristão, aquele que santificou Chiara Luce e todos os santos: "Tu queres, Jesus? Então eu também quero." Santo Inácio de Loyola chamava-lhe "indiferença".

Este "tanto faz" cristão ensina-me a dar o meu melhor tanto na aula de Inglês, como na aula de Matemática, tanto com professores simpáticos, como com professores antipáticos, tanto com turmas calmas como com turmas barulhentas, tanto com alunos queridos como com alunos problemáticos. Fácil? Para mim, neste ano letivo, tem sido extremamente difícil... Mas tem sido também a forma de me libertar de mim mesma, dos meus gostos e desejos, para experimentar a única felicidade, aquela que vem de cumprir a vontade do Senhor, agora.

A sabedoria do "toque da campainha" percorre a mais nobre tradição monástica, desde as suas origens - para saber o que está uma carmelita a fazer a qualquer hora do dia, basta consultar o horário do seu convento -, e vai ainda mais atrás, ao livro do Eclesiastes:

 

"Para tudo há um momento

e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu;

Tempo para nascer e tempo para morrer,

tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou,

tempo para destruir e tempo para edificar,

tempo para chorar e tempo para rir..." (Ecl 3, 1-8)

 

Quatro horas da tarde. Está na hora de ir buscar os meus filhos ao colégio. É o "toque da campainha", a lembrar-me de que devo interromper o trabalho, desligar o computador e desligar os problemas da escola, para toda eu me concentrar nos meus filhos. Pelo caminho, ainda terei outro "toque": quinze minutos na capela perto do colégio, em colóquio a sós com o meu Senhor...

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Homens de joelhos

por Teresa Power, em 19.10.15

- Lara, a tua terra tem uma igreja muito bonita!

- Conhece, professora?

- Fui lá ontem pela primeira vez. Era quinta-feira, e disseram-me que às quintas há adoração ao Santíssimo todo o dia. Como fica aqui perto da escola, fui lá rezar.

- Ah, tem lá umas cenas assim, tem... Já tinha ouvido falar!

- E tu não costumas ir?

- Acha, professora?

- Isso não é para velhotes? - Atalha a Ana, curiosa.

- O quê - adorar Jesus? Ana, tu vais à catequese?

- Vou, estou quase a fazer o crisma. Pensei que essa cena era para velhotes!

- Eh, malta, estão a falar das cenas da igreja? Eu até já vi a professora numa missa ou coisa assim. Estava a cantar!

Sorri - Sim, costumo cantar no coro.

- Eu até ia à missa quando era miúdo, e andei na catequese, mas agora já sou homem!

- E os homens não vão à igreja, Mateus?

- Os homens não precisam de lamechices! Já viu algum homem a sério na igreja?

- Olha, o meu marido vai sempre à missa. E é um homem a sério!

- Que estranho...

Sorrio, enquanto procuro retomar a aula de Inglês nesta turma barulhenta do Curso Vocacional. É, na verdade, bastante comum ver os homens sentados nos bancos de trás da igreja, ou até lá fora à espera, enquanto as mulheres se aproximam do altar. Parece que a religião é coisa de mulheres... E segundo a percepção dos meus alunos, coisa de "velhotas"! O que há de lamechas na capacidade de dar a vida por outro? Lembro-me da passagem do Livro de Josué, em que este grande líder, bem masculino, afirma a sua fé em nome pessoal e em nome da sua família, perante os perigos do paganismo à sua volta:

 

"Escolhei hoje a quem quereis servir: quereis adorar os deuses cananeus? Quereis antes adorar os deuses egípcios, donde Moisés vos foi buscar? Ou quereis adorar o Senhor nosso Deus, o único Senhor, que vos tirou do Egipto e vos conduziu pelo deserto? Eu e a minha família serviremos o Senhor.” (Js 24, 15)

 

Uma mãe de joelhos a rezar é uma imagem poderosa numa casa; mas um pai de joelhos a rezar, no mundo de hoje, é-o muito mais. No debate da Renascença no dia 4 de outubro, do qual participei, o padre Rui Pedro Trigo Carvalho, que esteve no recente encontro mundial de famílias em Filadélfia, falou num estudo curioso apresentado ao papa: quando procuramos evangelizar a família começando pela criança, como acontece com a catequese, alcançamos 5% das famílias; quando começamos pela mãe, cerca de 20%; mas se for o pai o primeiro a converter o seu coração, o sucesso é de 90%. 

Uma criança, um adolescente, um jovem que vê o pai de joelhos, em oração, jamais o esquecerá. "Ena, Deus deve ser mesmo importante, para até o meu pai, que não tem tempo para nada, se ajoelhar diante d'Ele!" Rezar em família não pode ser adiado para quando formos "velhotes". Tem de ser aqui e agora, no meio da agitação da vida moderna, quando os filhos estão em crescimento.

Todas as noites, na nossa casa, o chefe da família ajoelha-se para rezar. É ele quem começa e termina a oração "em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". É ele quem traz para a oração o que acontece pelo mundo fora, depois de escutar o relato das notícias na rádio, durante os três quartos de hora de viagem até casa, ao fim do dia. E muitas vezes, é ele quem segura nos braços os mais pequeninos, enquanto passa nos dedos as contas do terço. Haverá maior conforto do que adormecer ao colo do pai, ao som das avé-marias?

Ontem, pela primeira vez na História, o Papa canonizou um casal em conjunto: os pais de Santa Teresinha do Menino Jesus. Sobre o seu pai, escreveu Teresinha: "Bastava olhar para ele, durante a oração familiar, para ver como rezam os santos."

Não, Mateus, a oração não é coisa de mulheres; não, Ana, "essas cenas" da Igreja não são coisa de "velhotes". Ontem, no Vaticano, o Papa deu um sinal magnífico ao mundo inteiro, oferecendo-nos a imagem de uma família que reza como modelo de santidade. Imitemo-los...

canonização dos pais de santa teresinha.jpg

 Estandarte no Vaticano, durante a missa de canonização

 

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