Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O Niall esteve no sábado passado na universidade para, entre outras coisas, receber três dos oitenta estudantes sírios que o governo de Portugal acolheu, num gesto de apoio às vítimas da guerra. Cá em casa, adoramos as inúmeras histórias que o Niall nos conta dos seus contactos diários com estudantes de todas as partes do mundo. Temos tido grandes sessões de cultura geral à hora de jantar, enquanto nos deliciamos com pormenores engraçados, divertidos, sérios, tristes ou simplesmente curiosos, vividos pelo Niall nas suas viagens pela Europa e pela Índia, ou no seu gabinete de Relações Internacionais, na Universidade de Aveiro.
Ontem, o Niall falou-nos dos estudantes sírios. Entrando no seu gabinete, seis dias depois de chegarem a Portugal, os três estudantes vinham cheios de perguntas. E a primeira foi esta:
- Onde estão as crianças?
- Quais crianças? - Quis saber o Niall.
- As crianças de Portugal!
- Como assim?
- As crianças! Não se vêem crianças pelas ruas... Onde estão elas?
- Bem, talvez não haja assim tantas como vocês estavam à espera - respondeu o Niall, sorrindo - Mas não me acusem a mim de falta de contributo para a natalidade deste país!
A baixa natalidade em Portugal é também ela sinal dos tempos, não apenas sinal da crise. Há um tabu generalizado em relação ao tema da fertilidade conjugal e ao que a Igreja diz sobre o assunto, pois é certamente um tema incómodo. É mesmo verdade que Deus quer que todos tenhamos muitos filhos? Ao longo de toda a Bíblia, uma família numerosa é sempre uma bênção. Mas Jesus nunca falou do número de filhos que um casal deve ter.
Disse o Papa Francisco, na homilia do dia 21 de fevereiro, que a casuística é sinal de falta de fé. Quem procura regras para tudo, quem pretende uma resposta exacta da Igreja como forma de resolver todos os assuntos, tem a atitude dos fariseus que testavam Jesus com perguntas provocadoras. Jesus sempre ofereceu respostas caso a caso, dialogando individualmente com cada homem e cada mulher com quem Se quis encontrar. E nunca impôs nada a ninguém, optando antes por desafiar os que chamava a chegar mais longe.
Jesus nunca falou do número de filhos por casal. Deus não exige que tenhamos um ou dez. Mas Jesus falou de muitas outras coisas, dando-nos pistas de reflexão: falou do abandono confiante nas mãos de Deus, que conhece as nossas necessidades e cuida das mais pequenas flores do campo (Mt 6, 25-34 - um texto para saber de cor!); falou da generosidade da viúva, que deu tudo o que tinha (Lc 21, 1-4); falou da simplicidade e da alegria das crianças, e disse-nos que quem acolher uma criança, é a Ele mesmo que acolhe (Mt 18, 5); falou de radicalidade, de coragem, de audácia; falou das surpresas de Deus, que tem o hábito de mudar os planos dos homens e converter o curso da sua vida, como fez com Abraão, com Moisés e com José; como fez com Sara, com Ana e com Maria; disse-nos que é preciso perder (deixar as nossas "zonas de conforto"...) para ganhar (em felicidade, claro!); disse-nos para não termos medo, e repetiu esta mensagem muitas e muitas vezes, antes e depois da sua ressurreição.
Que nos pede Deus então, relativamente ao número de filhos? Pede-nos, como em relação a tudo o resto, para darmos na medida da nossa generosidade e da nossa capacidade conjugal - e não esqueçamos que a viúva pobre, dando uma só moeda, deu mais do que os fariseus ricos, deixando cair muitas moedas; pede-nos para nos abrirmos aos planos de Deus e estarmos disponíveis para reformular os nossos planos, se Ele nos desafiar; pede-nos para não fazermos muitas contas nem nos preocuparmos demasiado, pois o Pai do Céu bem sabe do que precisamos; pede-nos para não termos medo.
A medida do amor de Jesus, conhecêmo-la bem: é a cruz. A nossa? Cada um de nós, e cada casal em uníssono (acima de tudo, a unidade...), deverá responder a este amor com a sua própria medida, uma medida cheia, calcada, a transbordar...