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Corpo de Deus

por Teresa Power, em 09.06.15

No domingo (ou na quinta-feira anterior, noutros países, tal como acontecia cá até há dois anos atrás), a Igreja celebrou a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Este mistério da Presença de Jesus no Pão e no Vinho consagrados já tinha sido celebrado na quinta-feira santa, naturalmente; mas nesse dia santíssimo, a nossa meditação centrou-se na instituição do sacramento, que antecipa a morte de Jesus na cruz. No domingo, a celebração do Corpo de Deus - o Corpo de Jesus, oferecido todo, até ao fim - centra-se na festa, na alegria, no louvor, na ação de graças.

A tradição diz que, neste dia, a Igreja deve sair à rua em solenes procissões. É preciso afirmar publicamente que acreditamos na Presença Real de Jesus entre nós, no sacramento da Eucaristia. Não será constrangedora esta caminhada de fé? Não será demasiado forte, para quem não é católico ou - e isto acontece cada vez mais - mesmo sendo, não acredita no milagre da Eucaristia? Sim, é. É preciso passar pela vergonha da nossa fé, pela humilhação de acreditar em algo tão pouco intelectual, tão pouco politicamente correto, tão desprezível aos olhos do mundo. Como pode aquele pedaço de pão ser Corpo de Deus? Como pode Deus abaixar-se tanto? A Eucaristia é e será sempre uma pedra de escândalo, como escandalosa foi a morte de Jesus numa cruz, Rei que morre como escravo. Na verdade, de todos os dons que Deus nos faz, este é o maior: o dom do seu amor entregue até ao fim.

Aqui em Anadia, o domingo foi um dia particularmente quente, e às seis horas da tarde só apetecia tomar um duche frio... No entanto, às seis horas da tarde começava a procissão, com a presença de todas as paróquias das redondezas. Não podíamos faltar! Embora não tenhamos ido todos, porque os mais pequeninos estavam mesmo muito rabugentos e cansados com o calor, e a caminhada ao sol ainda seria longa, fomos alguns. 

O sol brilhava no céu, o suor escorria dos nossos rostos, mas diante de nós caminhava Jesus, o nosso verdadeiro Sol, o Senhor, o Rei, o Amigo, o Esposo:

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- Vês, David, ali debaixo vai o Senhor, no ostensório... Vês a hóstia consagrada? Não percas Jesus de vista...

- Eu sei que é Jesus. Sei muito bem! E estou a olhar para Ele, sempre que me lembro!

- Isso, David. Não O percas de vista...

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No chão, pétalas de rosas... As rosas desfolhadas da nossa fraqueza, do nosso pecado, da nossa falta de fé. E o Senhor tudo recolhe com carinho, contente com a nossa humildade.

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- Não O percas de vista, Clarinha... Francisco, estás a tirar fotografias?

- Sim, mãe, e vou meditando também. É difícil concentrar-me neste calor, mas vou meditando!

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Os altifalantes espalham pela cidade as palavras de Jesus: Pai Nosso...

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E o eco devolve-as, depois de tocarem os corações: Que estais nos céus...

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Quem está acostumado a visitar o sacrário e a perder-se alguns minutos em contemplação diante de Jesus-Eucaristia, sabe bem como Ele é fonte fresca nos dias de maior deserto interior.

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"Quem tem sede, venha a Mim e beba! Quem crê em Mim, como diz a Escritura, do seu seio correrão rios de água viva!" (Jo 7, 37-38)

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Não O percas de vista...

Jesus, que eu fixe em Ti o meu olhar e proclame sem medo que sim, que estás presente na Eucaristia, que estás presente e com poder, que ninguém Te vence em humildade, que só Tu para Te baixares até à poeira do chão e levantares o pecador, que o teu amor é suficiente para saciar a nossa fome e a nossa sede, e que um dia, inundará a Terra!

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 Ámen.

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publicado às 06:20

Três mil pessoas...

por Teresa Power, em 09.04.15

Terça-feira da oitava da Páscoa. Oração familiar. O Francisco lê a primeira leitura da missa do dia, do Livro dos Atos dos Apóstolos. Durante os cinquenta dias de Páscoa, a Igreja medita diariamente neste livro, lendo-o assim praticamente de ponta a ponta. É uma ótima oportunidade para o ficar a conhecer! Cá em casa, adoramos as aventuras e desventuras dos Apóstolos, cheias de emoção, milagres, suspense, perigos e tudo o que pertence a uma boa história - sobretudo, à história mais bela do mundo - a história do nascimento do cristianismo.

 

"No dia de Pentecostes, disse Pedro aos judeus: «Saiba com absoluta certeza toda a casa de Israel que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes.» ouvindo isto, sentiram todos o coração trespassado e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: «Que havemos de fazer, irmãos?» Pedro respondeu: «Convertei-vos e peça cada um de vós o batismo.» Naquele dia juntaram-se aos discípulos cerca de três mil pessoas." (At 2, 36-41)

 

 - Eles com três mil pessoas, e nós não conseguimos três famílias em Viana para um retiro - Suspirei.

- Tens de compreender que era mais fácil então!

- Mais fácil, Clarinha? Achas? Ora vamos lá pensar... Imagina-te ali, a escutar Pedro, que não conhecias de lado nenhum, a expor uma doutrina nova e diferente de tudo o que já ouviras, a falar da ressurreição de alguém que não fazias ideia quem era, muito menos que estava essa coisa de ressuscitado... Terá sido mesmo mais fácil para eles acreditarem?

- Realmente, agora que falas, já tinha pensado nisso. - Observou o Francisco - Deve ter sido complicado para as pessoas acreditarem... Afinal, Pedro e os Apóstolos não tinham o apoio dos chefes do povo!

- O mesmo com S. Paulo. Como é que ele podia convencer as pessoas de que estava a falar a verdade? De que o cristianismo era para valer? Com que autoridade?

- Tanto Pedro como Paulo falaram com a autoridade do Espírito Santo - Disse o Niall. - Só o Espírito Santo pode abrir os corações e as mentes dos ouvintes, e colocar na boca das testemunhas da fé as palavras certas.

- Por isso, a fé é um dom!

- Sim, temos de pedir ao Senhor o dom da fé. Hoje devia ser mais fácil para nós acreditar... Afinal, temos vinte séculos de histórias da Igreja, histórias da sua presença no mundo, as vidas dos santos ... Só santos canonizados, temos mais de 20 000! Tantas histórias de bondade para nos ajudarem a acreditar em Jesus! E mesmo assim, continuamos a recusar-Lhe o nosso tempo, o espaço da nossa vida.

- Vais cancelar o retiro por falta de famílias?

- Vou. Infelizmente, terá de ser. As famílias que estão inscritas poderão certamente participar no próximo, em Neiva, e não precisam de fazer nova inscrição. Entretanto, rezemos para que o Espírito Santo abra os corações, e para que nos santifique a nós, a fim de podermos ser instrumentos nas mãos de Deus...

 

O retiro de Viana está então cancelado. Mas em maio estaremos em Neiva... Peçamos aos Apóstolos que intercedam por nós, para que todos nos saibamos abrir ao dom do Espírito Santo. Ámen!

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publicado às 06:26

Aquela caixa

por Teresa Power, em 09.02.15

Em busca daquela luz abençoada que irradia da Eucaristia, tenho procurado ir mais vezes durante a semana a uma das várias igrejas abertas, onde Jesus permanece escondido no sacrário. Geralmente, estão vazias, num silêncio quase palpável. Sabe bem, este silêncio completo, quando os meus dias são preenchidos com tantas vozes - dos alunos aos filhos!

De joelhos, em voz alta (gosto de rezar em voz alta), digo a Jesus aquilo que Lhe quero dizer, com simplicidade e sem afetação. Será isto, rezar? Será isto, rezar bem? Não sei. Tenho muitas dúvidas! Mas não me debruço demasiado sobre elas. Sei que a oração bem feita não depende dos meus sentimentos ou das minhas emoções, nem sequer da capacidade de me abstrair de tudo à minha volta para contemplar o Senhor. Às vezes, passo o tempo de oração a lutar contra as distrações; outras, sinto-me transbordante de amor. Talvez a primeira oração seja, no entanto, mais agradável ao Senhor, porque me ajuda a tomar consciência do nada que sou! E talvez a outra oração, cheia de fervor, seja também cheia de vaidade... Jesus nunca deu importância aos sentimentos. Não há nenhuma passagem no Evangelho em que Jesus diga: "Vai em paz, os teus sentimentos te salvaram." Mas há inúmeras passagens onde Jesus diz:

 

"Vai em paz. A tua fé te salvou!" (ex: Mc 5, 34)

 

Enquanto contemplava o sacrário fechado, onde apenas uma luzinha me deixava perceber a Presença Real, recordei-me de um belíssimo episódio da vida da Madre Teresa. Aquela Madre tão santa passou metade da vida numa aridez espiritual total, sem conseguir sequer sentir, por momentos que fosse, a presença de Jesus na sua alma. "Se o inferno existe, deve ser assim", desabafou ela um dia. E no entanto, quanto maiores as suas trevas interiores, mais belo o seu sorriso, que todos recordamos. No final da sua vida ocorreu o episódio que passo a citar:

 

"Nos últimos anos da sua vida, a Madre recebeu a graça de ter o Santíssimo Sacramento no quarto do hospital, e queria tê-l'O sempre consigo. Em Agosto teve outro ataque de coração. Meteram-lhe um tubo até aos pulmões, para a ajudar a respirar. Antes de os tubos terem sido finalmente retirados, o médico disse-me: "Padre, vá a casa buscar a caixa para a Madre." Por momentos, eu fiquei sem saber o que queria ele dizer. "Que caixa - a caixa dos sapatos?" Ele respondeu: "Aquela caixa, para onde a Madre está sempre a olhar. Quando a trazem e a põem aqui no quarto, a Madre fica calmíssima. Era bom estar aqui antes de retirar os tubos." Percebi que ele se referia ao tabernáculo com o Santíssimo Sacramento. E ele continuou: "Quando a caixa está aqui no quarto, ela fica a olhar, a olhar, a olhar para aquela caixa." O médico, que era hindu, tinha sido uma testemunha involuntária do poder que a Eucaristia tinha sobre a nossa Madre." (Vem, sê a Minha Luz, página 328)

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Mesmo sem "sentir" o amor de Jesus irradiante do sacrário, a Madre vivia deste amor. A oração bem feita não depende de nada, absolutamente nada que eu faça, sinta ou pense, por muito belo que me pareça a mim. É Jesus, e só Jesus, Quem tudo faz nas almas e nas vidas...

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publicado às 06:36

O céu nocturno

por Teresa Power, em 12.03.14

A noite, ontem, estava tão amena, o céu tão cheio de estrelas, que decidi levar as crianças ao jardim, depois da oração familiar.

- Depressa! - Disse - O céu está lindo lá fora! Venham ver!

Excitadíssimas por poderem ir ao jardim à noite, as crianças correram lá para fora. Que magnífico céu nos esperava! Ao longe, os sons da primavera enchiam o ar, entre grilos, cigarras e rãs. Passeámos pelo jardim contemplando a noite...

 

 

- Que constelação é aquela tão bonita?

- Onde está o "T" do teu nome, mãe?

- Vi um avião! Olha a luzinha a brilhar!

- Dad, uma estrela cadente! Olhem todos para ali!

 

 

 

- Onde está o Francisco? Ficou lá dentro?

- Estou aqui! - Ouviu-se uma voz vinda do alto. Claro, devíamos ter imaginado...

 

De pé sobre o tecto da garagem, o Francisco foi-nos apontando as constelações que conhece e informando àcerca das últimas descobertas da NASA sobre o universo.

- E pensar que cada uma destas estrelas está a anos-luz de distância! - Exclamou a Clarinha, contente por já ter aprendido em Físico-Química tanta coisa importante.

 

Dez minutos mais tarde estávamos de volta à sala.

- Mamã, porque é que não vemos as estrelas durante o dia? - Quis saber a Lúcia.

- Eu não sabia que havia tantas tantas tantas! - Acrescentou o António.

 

Sorri diante das suas perguntas. Depois pensei em como o céu nocturno nos fala de Deus...

Na vida, é preciso esperar pela noite - pelas dificuldades, pelos obstáculos, pela doença, pela solidão, pela morte... - para descobrir as estrelas. Só avançando no escuro, guiados pela fé, descobrimos a imensidão de Deus. As cores do dia escondem o segredo das estrelas nocturnas. A mundanidade e a superficialidade escondem o mistério de Deus.

E afinal, tal como as estrelas, Ele está sempre lá...

 

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publicado às 21:14

Nos braços do Pai

por Teresa Power, em 21.02.14

Há uma brincadeira que a Sara adora: de pé no sofá, atira-se de costas para os braços do pai, que a agarra e a relança no ar, no meio de muitas gargalhadas e beijos. Assusto-me sempre que a vejo entre o sofá e os braços do Niall, naquela fracção de segundo que faz a diferença entre uma queda redonda no chão e o aconchego feliz do amor.

Sei que, dentro de muito pouco tempo, a Sara perderá esta capacidade de se lançar no vazio em queda livre; sei que em breve ela perderá a confiança e terá medo de cair, desprotegida, no chão. Será então altura de a encorajar a arriscar, com segurança, passos mais ousados. Ao longo da sua infância, terá de vencer muitas batalhas para aprender a equilibrar-se na sua bicicleta, a deslizar com os patins dos irmãos, a trepar às árvores, a saltar da oliveira, a dar lanço no baloiço, a descer sozinha no escorrega, a mergulhar nas ondas do mar. Mas nunca mais a Sara terá a confiança necessária para se lançar de costas nos braços do pai.

 

Ter fé é lançarmo-nos de costas nos braços do Pai. Ter fé é ter a certeza de que Ele está lá, silencioso mas atento, pronto para nos agarrar quando decidirmos retirar os pés das nossas seguranças. Ter fé é percorrer o caminho que nos leva da desconfiança do adulto até à simplicidade de um bebé. Ter fé é reaprender a capacidade infantil de confiar.

Como a Sara, experimentaremos então o milagre daquela fracção de segundo, suspensos entre os nossos receios e o abraço de Deus.

O céu está cheio de gargalhadas!

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publicado às 08:43



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