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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Queridos amigos leitores, o site está pronto, com a graça de Deus. E todos podem assistir em direto ao seu lançamento, quer aqui connosco, quer nas vossas casas. Será no domingo, dia 3 de julho, na Eucaristia das 10 h no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, Mogofores. O Santuário tem cobertura de internet e tem projeção de imagem, pelo que no final da Eucaristia, pelas 11h, faremos o lançamento.
Convido para este momento de graça as Famílias de Caná, mas convido também todos os nossos amigos e todos os nossos leitores, com fé ou sem fé, católicos ou evangélicos, cristãos ou ateus. Façam festa connosco! Acompanhem-nos, aqui ou nas vossas casas! Pelas 11h, entrem connosco no site. Depois, os que estiverem connosco no Santuário continuarão a fazer festa no pátio, no meio das brincadeiras das crianças e das conversas dos crescidos, e em seguida partilharemos o almoço na cantina do colégio salesiano, onde está o Santuário. Tragam portanto um piquenique para partilharmos entre nós! Teremos ainda tempo para refletir sobre a nossa caminhada de Famílias de Caná, pois farei um ensinamento no início da tarde. Terminaremos com oração familiar.
Li atentamente todos os comentários que fizeram ao último post. Rezei a partir deles e com eles. E quero dar-vos a minha palavra de que o site é mesmo para todos, Famílias de Caná ou não, pessoas mais religiosas e pessoas menos religiosas. Há tantos e tão variados "menus", que ninguém ficará de fora!
Na página principal, eu continuarei, como sempre fiz, a escrever para todos, a partir da vida e da Palavra, com a simplicidade e a profundidade deste blogue. Em literatura, sempre recusei ler ou dar a ler aos meus filhos as "obras simplificadas" dos grandes autores clássicos, preferindo ler menos a ler resumos, que matam a letra e o espírito da obra. Assim também com a Palavra de Deus: sempre anunciei e continuarei a anunciar a Palavra na sua integridade, tanto a quem não tem fé, como a quem tem mais fé do que eu. De outra maneira, não sei falar ou escrever.
O desafio que faço pois a todos e a cada um de vós é o mesmo: o desafio da santidade. Cada um responde a ele com os dons e a fé possíveis em cada momento. Nunca falei para um "clube", e as Famílias de Caná são tudo menos um "clube de sócios", porque a sua vocação já foi há muito definida por Jesus:
"Ide às encruzilhadas dos caminhos e chamai para as Bodas a todos quantos encontrardes."
(Mt 22, 9)
Encontramo-nos domingo, e encontramo-nos sempre que Deus quiser! A todos, a promessa da minha oração e o convite do Senhor: vinde às Bodas!
E antes de fechar definitivamente este blogue, deixo-vos um breve resumo fotográfico dos nossos últimos dias, dos tempos em família que conseguimos encaixar entre exames, festas de final de ano, espetáculos de dança, ginástica e ilusionismo, testemunhos, trabalho no site e arranjos na casa...
Os buracos que o Niall escava no jardim à procura de canalização rota são ótimos para brincar:
A pizza sai sempre melhor a quatro pares de mãos:
Ao fim da tarde, nada como um passeio em família:
E a oração familiar também se faz no meio do campo:
Às vezes distraímo-nos, e não nos apercebemos de que alguém adormeceu no meio da brincadeira:
Entretanto, há quem aproveite as férias para pôr a leitura em dia:
Subir às árvores é uma paixão familiar bem experimentada:
E este ano, tanto a Clarinha como o Francisco fazem mortais na praia! Ainda não os apanhei em pleno salto, com a máquina fotográfica, por isso deixo-vos com um pino:
Por falar em subir às árvores... Conseguem identificar alguém neste eucalipto de Náturia?
Eu sei que é difícil de acreditar, mas há quem o suba quando precisa de espaço e silêncio para pensar... Vou fazer zoom:
E se estiverem no cimo das vossas árvores, desçam depressa e venham às bodas! Venham às Bodas, que os servos estão preparados:
Ámen!
Férias! Não há nada de que eu mais goste do que ter estes dias inteiros em casa, vendo os meus filhos saltitar a meu lado, brincando e desarrumando, rindo e chorando, descobrindo mundos novos em Náturia, passeando de bicicleta...
...fazendo origamis, construindo puzzles, espalhando os legos pelo chão e migalhas de bolo pela casa inteira, e chegando ao ponto de usar um sapato diferente em cada pé porque não se conseguem lembrar onde puseram o par completo. Às vezes parece-me que talvez fosse boa ideia dar uma arrumação à casa, mas logo desisto. Quando eles regressarem à escola penso nisso!
Cuidado ao sair da cozinha para o jardim! Ainda fico presa nalgum desenho...
Realmente, procurar botas e sapatos na gaveta do calçado é um bocadinho perda de tempo:
- Mãe, vamos ver o mar? Por favor! Há tanto tempo que não vamos à praia!
Bem, a verdade é que na Semana Santa o tempo não esteve muito propício a praia. Deixo-vos algumas fotos sugestivas, e poupo-vos os detalhes relacionados com a excitação, a alegria e a confusão em nossa casa durante os vinte minutos em que durou a tempestade - e nas horas que se seguiram:
Durante as férias fomos ainda várias vezes ao parque:
Férias é também o tempo ideal para o encontro com os amigos, e nestas férias tivemos e fizemos várias visitas muito simpáticas, que nos encheram de alegria.
E férias é também tempo para o encontro com a família alargada, especialmente os tios e os primos, já que a avó é presença mais frequente em nossa casa. Ora vejam só se conseguem identificar os seis Power, no meio destes doze Castel-Branco:
Hoje, a mãe e os seis filhos regressam à escola (o pai não chegou a ter férias)... Olhamos para estes quinze dias - de sol e de granizo, de frio e de calor, de neve e de mar - como uma verdadeira bênção do Senhor, que nos permitiu fazer tantas coisas boas. Lembro-me do salmo:
"Terra, louva o Senhor!
Monstros do mar e todos os abismos,
fogo e granizo, neve e neblina
vento tempestuoso, que obedece à sua Palavra,
montanhas e todas as colinas,
árvores de fruto e todos os cedros,
feras e todos os rebanhos!
Louvai-O, jovens e donzelas, velhos e crianças!
Aleluia!" (Sl 148)
E olhamos para este novo período como outra verdadeira bênção do Senhor, naturalmente! A escola, os amigos, os livros, os exames... Quantas crianças e quantos jovens no mundo davam tudo para ter esta oportunidade?
Agora que eles estão todos na escola, volto a ter o meu tempo de oração diante do sacrário, e algum tempo para escrever. E todos nós, pais e filhos, voltamos a experimentar aquela alegria magnífica do reencontro diário, depois de um dia de escola, em que nos abraçamos e todos falamos ao mesmo tempo, desejosos de partilhar a vida. Outra bênção...
A chuva cai desalmadamente do céu, como tem acontecido quase ininterruptamente nas duas últimas semanas. No jardim, apenas as galinhas esgravatam, felizes. Já pensámos até em vestir os fatos-de-banho para fazer natação no jardim, pois não sabemos de que outra forma podemos aproveitar o "lindo" relvado...
Mas é o último dia de Natal, e há que festejar! À mesa, acendemos as cinco velas da nossa "Coroa de Advento" e cantamos cânticos natalícios.
Durante a tarde, ao desmanchar e arrumar o Presépio e a Árvore de Jessé, recordamos as férias de Natal.
- Lembras-te do passeio de bicicleta que fizemos?
- Sim, David, e aquele jogo de bola?
- Ah, a mãe fez um castelo de legos comigo!
- E o pai levou-nos ao parque...
- Estava tanto sol!
Sorrio, enquanto escuto os meus filhos a conversar sobre tanta brincadeira. Férias significa muita coisa. E uma das mais importantes é, sem dúvida alguma, a brincadeira. Em férias, temos tempo para brincar juntos, pais e filhos, sem pressas, sem horários. Ah, com que sofreguidão nós aproveitámos aqueles dias bonitos de sol! Mal sabíamos que seriam os últimos durante longas semanas!
Brincámos na praia...
Brincámos no parque da Mealhada...
Brincámos no parque da Curia...
Brincámos no dia do Retiro, brincámos ao acordar e brincámos ao deitar. Quando chegou a chuva, brincámos em casa, pois então...
E não pensem que só brincamos com os mais novos! Vejam como o Niall e o Francisco têm passado os seus serões, desde que o Natal trouxe este lindo presente ao Francisco...
- Teresa, já reparaste no tempo que passamos a brincar? - Pergunta-me o Niall, feliz, depois de todos os enfeites de Natal arrumados e da sala aspirada. - Há quarenta e poucos anos que, mais do que tudo, brincamos... Brincámos em crianças, brincámos em jovens, os filhos vieram pouco depois e retomámos a brincadeira. E como ainda não deixámos de ter crianças em casa, ainda não deixámos de brincar!
- Tens razão!
- Para muitas pessoas, brincar é uma memória do passado, uma memória da sua infância ou da infância do seu filho, que entretanto cresceu. Há dezassete anos que temos crianças pequeninas... Ainda vai faltar algum tempo para que brincar com elas seja uma memória!
- Bem, o mais provável é que, ao deixarmos de brincar com os filhos, comecemos sem intervalo a brincar com os netos...
Retomamos a conversa já depois dos filhos estarem todos a dormir.
- Sabes, Niall, para brincar com os filhos, como tu dizes, é preciso algum esforço. A brincadeira de que tu falas não é a brincadeira infantilizada de muitos adultos, que ocupam os seus tempos livres à volta de si mesmos, deixando a família sentada diante do televisor. Tu falas de uma brincadeira diferente, a brincadeira de quem se esquece de si mesmo para dar alegria ao outro...
- Sim, claro que sim. A partir do momento em que temos uma família ao nosso cuidado, a nossa felicidade passa sempre por ela. Brincar com os filhos, ou proporcionar aos filhos momentos divertidos, é bem mais interessante do que deixar os filhos em casa para satisfazer os nossos interesses pessoais!
- Nem todos acham isso...
- Porque nunca experimentaram verdadeiramente esquecer-se de si. Como fez Maria, correndo a visitar Isabel.
- Sabes o que descobri outro dia? Descobri que o Antigo Testamento termina com uma frase muito sugestiva.
- Ai sim? E que frase é essa?
- Ora escuta:
"Fará com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais..." (Ml 3, 24)
- E assim somos lançados no Novo Testamento, com Jesus. Não é bonito? Só Jesus pode fazer com que os corações dos pais e dos filhos se aproximem. Porque só Jesus pode dar sentido à nossa renúncia, à capacidade de nos esquecermos de nós para que o outro, o filho, se sinta amado.
- E o paradoxal é que é precisamente nesse esquecimento que encontramos a felicidade... Não te sentes plenamente feliz com tanta brincadeira, mesmo que com isso não tenhas tanto tempo para os teus hobbies pessoais?
- Se queres que seja sincera, nunca reparei numa contradição entre uma coisa e outra... Os meus hobbies pessoais passam cada vez mais pelo tempo de qualidade que passamos juntos. Acho que faz sentido: quando Deus repara no nosso esforço em renunciar ao nosso tempo livre para o dar à família, Ele também aumenta o prazer que encontramos neste tempo familiar, ao mesmo tempo que nos faz perder o interesse nos prazeres também bons, mas mais egoístas.
- Oh, de que maneira! Deus nunca Se deixa vencer em generosidade...
Em julho passado, a professora de ginástica rítmica da Clarinha emigrou para a Alemanha, deixando as ginastas muito tristes. A federação tem tido alguma dificuldade em colmatar a falta desta professora, pelo que as aulas ainda não recomeçaram. Segundo fomos informados, recomeçarão no dia 1 de outubro.
Mas pode uma ginasta fazer uma pausa de dois meses? Claro que não: duas semanas de férias já equivalem a uma perda muscular significativa, quanto mais dois meses! A Clarinha sabe disso. Assim, durante todo o verão, fez para si própria um horário de treino intensivo e diário. Outro dia encontrei-a a treinar... com um quilo de arroz em cada perna:
Infelizmente, a ideia não foi assim tão luminosa: um dos pacotes de arroz rebentou, e o resto, teremos nós de imaginar - digo "nós", porque a Clarinha só me contou das suas aventuras depois de ter apanhado o arroz todo!
Quando a Clarinha treina em casa, raramente o faz sozinha. Reparem nesta foto:
- Conta até dez, Sara, para eu aguentar! - Pedia ontem a Lúcia, espargata aberta no chão da sala.
- Um, dois, tês, nove, quinze, dezasseis... - Contava a Sara, do alto dos seus três anos, muito séria. E depois, ainda mais séria, perguntou à irmã: - Já dói? Já dói?
A Lúcia e a Sara aprenderam que, nos treinos, é preciso aguentar alguma dor...
"É preciso dar até doer", dizia muitas e muitas vezes a Madre Teresa de Calcutá às suas missionárias. Tudo o que não for isso, é simplesmente um despejo de sobras.
A Clarinha adora entrar em competições e sonha em ser treinadora de ginástica. E eu delicio-me a admirar a sua técnica, o rigor dos seus treinos caseiros, a disciplina que impõe a si mesma e às suas pequenas atletas, a capacidade de aguentar a dor e de não desistir.
A mim, ninguém me apanha a fazer uma espargata, claro! Mas ontem, às seis da tarde, olhei para o relógio e lembrei-me de que ainda não fizera o meu quarto de hora de oração silenciosa. De que estava à espera para rezar? Do cansaço extremo da noite? Como a Clarinha, preciso de fazer para mim mesma um horário de "treino intensivo". Marquei quinze minutos? Pois serão quinze minutos, bem contados - e não como a Sara os contaria... Dói, encontrar esse tempo no meio da corrida de cada dia? Dói, mas se não doer, não estou a dar nada ao Senhor.
Diz Jesus no Evangelho:
"Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas." (Lc 21, 19)
Ensina-me, Senhor, a levar a sério o tempo que Te quero oferecer todos os dias! Do meu "treino diário" dependerá o sucesso das "competições" que preparaste para mim...
No domingo passado, fomos fazer um piquenique a um dos nossos "paraísos" preferidos: uma pequena aldeia na serra do Caramulo, onde podemos nadar, passear e contemplar a Criação sem pressas e sem ruídos, para além do cantar dos grilos, do coaxar das rãs ou do balir das ovelhas.
- Mãe, já viste aquela ovelhinha tão pequenina?
- Sim, Lúcia, olha, ela vai mamar!
Nalguns dos nossos piqueniques neste refúgio natural, o coaxar das rãs é tão intenso, que abafa o som da nossa própria conversa. Os meninos adoram procurar rãs e sapos no charco junto ao lago.
- Olha, papá, vês aquela rã?
- E a outra ali? Se olharem com atenção, verão dezenas... talvez centenas de rãs, que se confundem com o verde do charco!
Com as suas redes, apanham rãs que logo depois voltam a libertar na água fresca.
- Cuidado, António, não magoes essa rã!
- Liberta-a, David, que essa já foi apanhada duas vezes. Agora vamos para outro lado!
- Mamã, olha só que linda rã!
O Francisco, armado com a máquina fotográfica, dá alguns passeios pelos trilhos da montanha, captando imagens como esta:
Apesar de sermos oito, as únicas marcas da nossa passagem neste local de sonho são as migalhas do nosso piquenique. Ah, e provavelmente algum incómodo causado à população animal pelo nosso nível de ruído natural... Ou pelo tocar da guitarra, pois geralmente é em sítios como este que eu escrevo os meus cânticos!
No último domingo, enquanto os meninos brincavam na água e descobriam rãs, eu pensava na Laudato Si, a encíclica do nosso querido Papa Francisco. O papa relembra-nos o belíssimo texto o Génesis:
"O Senhor levou o homem e colocou-o no jardim do Eden, para o cultivar e, também, para o guardar." (Gn 2, 15)
Depois, o papa aprofunda a sua meditação:
"Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras." (LS 67)
Ao ver o cuidado com que os meus filhos protegem a mais pequenina rã e observam, sem lhe tocar, na mais breve borboleta, recordo os ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica, também citados pelo Santo Padre:
"Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, refletem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus." (CIC nº339)
Senhor, ensina-me a cuidar de cada criatura como Tu queres que eu cuide! Ensina-me a encontrar o teu amor refletido como num espelho em toda a tua Criação...
Louvado sejas!
Escrito pela Clarinha:
Houve um dia durante as férias na serra do Gerês em que eu me senti um pouco assustada, nervosa e ansiosa. Foi o que eu chamei "o momento do cavalo".
No dia anterior, ouvi os meus pais a falarem em me inscreverem a mim e ao Francisco num passeio a cavalo, com monitores, no Centro de Atividades da Montanha, que víamos todos os dias na estrada da barragem de Vilarinho das Furnas. Quando eu era mais nova, eu também montava a cavalo, mas um dia caí do cavalo, e alguns dias mais tarde desisti. Depois apaixonei-me pela ginástica e já nem me passava pela cabeça montar outra vez. Portanto, quando soube que ia voltar a montar um cavalo, senti-me assutada. O meu irmão procurava acalmar-me. Ele estaria sempre a meu lado.
Chegou a hora...
"Mãe, dói-me a barriga!"
"Como é que eu subo?"
"Será que me lembro do que tenho de fazer?"
Mas em poucos minutos, já todos os movimentos me eram familiares e relaxei.
Partimos! Que bom! Atravessámos a estrada. O cavalo da frente começou a descer por um trilho pequeno, mas inclinado. O meu coração desatou aos saltos, mas fui acalmando à medida que avançávamos em terreno de terra batida e floresta e pedras e buracos.
Valeu a pena! Chegámos à crista da montanha e tudo o que víamos à nossa volta era montanha. Ao longe víamos a aldeia onde ficámos. Era tudo tão belo! Apetecia montar umas tendas e passar ali a noite!
Por fim, regressámos ao Centro de Atividades da Montanha. Tinha passado uma hora! Não podia ser, pareciam apenas uns minutos!
Todo aquele medo inicial para quê? Ao ver o belo que me rodeava tudo desapareceu. Fiquei eu, o cavalo e Deus. Não posso esperar por uma aventura igual!
Num dia de manhã cedo, nas nossas férias na serra do Gerês, fizemos, como costume, a viagem até à barragem de Vilarinho das Furnas, rezando o terço no carro. O dia estava luminoso, tranquilo e quieto, e tudo respirava paz. Ao chegar, também nós ficámos sem palavras diante desta paisagem:
A montanha não parecia uma, mas duas, tal a nitidez e a tranquilidade do reflexo sobre a superfície das águas! Que maravilha! Até fazia pena mergulhar ali, quebrando o espelho em mil estilhaços... Bem, com pena ou sem ela, não resistimos:
Apeteceu-me ficar ali para sempre, quieta como a montanha, silenciosa como a água antes de nela mergulharmos. Depois lembrei-me do texto de S. Paulo:
"Todos nós que, com o rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor como um espelho, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória..." (2Cor 3, 18)
O lago só reflete a montanha se se mantiver sereno e tranquilo. A minha alma só refletirá a glória do Senhor se não se deixar perturbar por coisa alguma... Serei eu capaz de tal tranquilidade, diante das tempestades que a vida vai trazendo? Estarei eu totalmente abandonada à vontade do Pai, confiante no seu amor infinito e absoluto? Escrevia Santa Teresa de Ávila:
"Nada te perturbe,
nada te espante.
Tudo passa,
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem,
nada lhe falta.
Só Deus basta!"
Ah! No dia em que nos abandonarmos assim, a glória do Senhor refletir-se-á como num espelho, e seremos transfigurados, renovados, recriados no seu amor... Que felicidade! Custa assim tanto deixarmo-nos amar?...
- Já foram lá acima ao Bom Jesus das Mós? - Perguntou-nos um dia a senhora responsável pela casa onde estávamos de férias, na serra do Gerês.
- Não, mas já vimos indicações na estrada para lá chegar! - Respondemos.
- Ah, não percam! Vale bem a pena! Nós vamos lá acima todos os dias, em caminhada. Rezamos o terço e andamos um bocadinho!
Nessa altura, eu já me acostumara à vivacidade destas mulheres serranas, fortes, simpáticas e conversadoras. Decidimos aceitar a sugestão, e lá fomos nós até ao cimo do monte.
Valeu a pena? Oh, se valeu...
As catorze estações da Via Sacra marcavam o caminho, sempre a subir. Esperamos, para o ano, fazer a Via Sacra aqui, porque desta vez pareceu-nos demasiado difícil o percurso para a Sara, o António, a Lúcia e até a mãe e por isso, fomos de carro. Ao chegar ao cimo do monte, esperáva-nos um magnífico monumento ao Sagrado Coração de Jesus, que nos deixou sem palavras:
- Que lindo! Vamos subir lá acima?
- Força! Todos a subir! Cuidado, ninguém se debruça!
- Ah, como é bonita a vista a partir do Coração de Jesus!
- Já espreitaram pela cruz? É bem mais seguro, porque não corremos o risco de cair!
Na igreja mesmo ali ao lado, fomos surpreendidos por um tronco de árvore artisticamente decorado. Aproximámo-nos, e vimos que nele tinham sido gravadas a canivete as palavras da Mãe de Jesus guardadas no Evangelho. Que maravilha!
- Mãe, já viste o que está aqui escrito?
"Fazei o que Ele vos disser" (Jo 2, 5)
No cume da montanha, acariciados por uma brisa quente e em silêncio quase absoluto, não pude deixar de pensar na Mãe... Hoje é a festa da sua assunção, da sua subida ao cume dos cumes, da sua entrada triunfal no verdadeiro santuário, que é o Coração de Jesus. E que melhor forma de a honrarmos do que procurarmos imitá-la?
Como Maria, subamos um a um todos os degraus do amor, acolhendo a Via Sacra de Jesus na vida de todos os dias... Como Maria, coloquemo-nos ali, de pé, diante do Coração donde jorra a fonte da Vida... Como Maria, não hesitemos em contemplar o mundo através da cruz, pois não há vista mais bela do que aquela que a cruz abarca!
Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná,
Ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser.
Ámen!
Durante as nossas férias na montanha, os cães estiveram sempre connosco. Que alegria para nós e para eles, podermos disfrutar juntos de tanta natureza!
À noite caíam, redondos, no tapete da sala, donde só se levantavam de manhã. Mas houve uma noite em que ladraram imenso, excitadíssimos. Que se passaria lá fora? Decidimos esperar pelo dia para descobrir, pois já estávamos todos na cama.
E descobrimos: de manhã, o saco de três quilos de comida de cão tinha... desaparecido! Como era possível? Quem teria vindo roubar a comida dos cães? Surpreendidos e ávidos de aventura, os meninos decidiram investigar.
Descobriram então um rasto abundante de comida de cão desde o portão da casa até ao tanque. Que estranho fenómeno!
- Cá para mim foi uma raposa - Disse o Niall, verdadeiramente surpreso. - Nenhum ladrão que se preze deixaria um rasto assim!
- Ou um lobo. Há lobos no Gerês, não há?
- Há, claro. Alguns. Pode ter sido um lobo...
À medida que o dia passava, as pistas iam-se acumulando:
- Mãe, mãe, vê só o que encontrei! - Gritou a Lúcia, entrando a correr em casa.
- O que foi, filha?
- Isto!
Olhei. Era uma pena de galinha.
- O que é que tem?
- É uma pista! Esta pena estava junto do portão. Acho que quem roubou a comida foi um monstro!
- Um monstro com penas?
Nesse momento, o António chamou da rua:
- Anda, Lúcia, vem investigar mais!
- Já vou! - Respondeu-lhe ela, correndo para fora. Mais uns minutos, e voltaram ambos a entrar.
- Mãe, mãe, encontrámos mais pistas!
- O que foi agora?
- Estamos cheios de medo! Ouvimos gargalhadas de monstro ao pé do tanque!
- Sim, é mesmo um monstro, tipo fantasma, e está a dar gargalhadas! Ele não quer que a gente encontre a comida de cão!
Entre brincadeiras e investigações, apercebi-me de que o António e a Lúcia, levados por uma fértil imaginação, estavam a ficar realmente com medo. Foi mais ou menos nessa altura que os vizinhos nos perguntaram:
- Ouviram barulho ontem à noite? Sim? Anda aí um cão a incomodar. Penso que o dono o solta à noite para ele passear, mas tem causado estragos.
- Terá sido ele a roubar a comida dos nossos cães? - Perguntei, contando a história.
- Ah, certamente que sim! É um cão muito grande. Era bem capaz de arrastar o saco pelo monte abaixo!
Mistério resolvido. A Lúcia e o António ficaram um bocadinho desiludidos - afinal, o seu monstro com penas e gargalhadas não passava de um cão...
Lembrei-me então de Moisés e dos investigadores de Canaã. Conhecem a história? Lemo-la a semana passada, nas leituras da missa diária. É uma história muito importante da Bíblia, pois o acontecimento em causa foi responsável pela demora de quarenta anos do povo no deserto.
O povo estava acampado diante da terra prometida de Canaã. Antes da conquista final, era preciso conhecer o terreno, os povos, as culturas, as histórias. Moisés enviou investigadores, que durante quarenta dias visitaram Canaã, provaram os seus frutos e conheceram as suas gentes. Por fim, regressaram. Mas o seu relato não foi o esperado:
"«A terra que fomos observar é um país que devora os seus habitantes e toda a gente que ali vimos são homens de grande estatura. Vimos lá os gigantes, os filhos de Anac, descendentes de gigantes. Ao seu lado, nós parecíamos gafanhotos e era assim que eles também nos olhavam.» Então toda a comunidade de Israel levantou a voz em altos brados e o povo passou aquela noite a chorar." (Nm 13, 32.14, 1)
O que o medo é capaz de fazer! Quando o deixamos dominar as nossas emoções e o nosso pensamento, o medo alimenta a imaginação, transformando os cães em monstros, os irmãos em gigantes, os vizinhos em gafanhotos, a vida numa grande e difícil batalha sem vencedores. Quantas vezes recuamos perante os desafios que se nos propõem - o trabalho na vida da paróquia, a decisão por uma vocação, o assumir de mais um filho, a mudança de terra ou emprego - porque vemos gigantes e gafanhotos por todo o lado?
Jesus ensinou-nos que Deus dá de acordo com a nossa fé. Se esperarmos muito, muito alcançaremos; se esperarmos pouco, pouco alcançaremos. Israel não acreditava na vitória? A resposta veio de acordo com a sua fé: o povo de Deus vagueou quarenta anos no deserto, um ano por cada dia que os exploradores passaram em Canaã a duvidar do poder do Senhor.
E nós? Quantos anos passaremos no deserto, cheios de medo e sem fé, rodeados de gigantes e gafanhotos ou, como o António e a Lúcia, de monstros com penas e gargalhadas aterradoras?
Senhor, dá-nos a tua paz, a tua serenidade, a tua confiança, para assumirmos os desafios que colocas no nosso caminho e entrarmos vitoriosos na "terra" onde corre leite e mel, a terra que prometeste a nossos pais, a Abraão e a toda a sua descendência para sempre. Ámen!
Há já alguns anos que temos uma tradição de férias muito divertida: durante a semana que passamos fora de casa, todas as noites jogamos às cartas com os mais velhos, enquanto bebemos chávenas de chá e comemos bolachas. A casa enche-se então de gargalhadas e de muita animação, porque o único jogo de cartas que gostamos de jogar é extremamente divertido.
Este ano, o Niall recordou-se de um jogo que a mãe costumava jogar com os filhos mais pequenos. É um jogo muito simples, tão simples que qualquer criança o pode jogar, com um bocadinho de ajuda. Chama-se "House": distribuem-se quatro cartas a cada jogador. Depois, uma outra pessoa - no nosso caso, a mãe - pega no restante baralho e vai colocando cartas na mesa, chamando-as em voz alta: "Dama", "Sete", "As", etc. Os jogadores que têm uma carta igual, apressam-se a virá-la ao contrário, até conseguirem virar as quatro. Então é hora de gritar bem alto: "House!"
Para facilitar, o Francisco fez par com o António e a Clarinha com a Sara, pois o António e a Sara não têm obrigação de distinguir todos os números. E lá começámos o nosso jogo familiar.
Não tenho como vos descrever a excitação, a alegria, os gritos e as gargalhadas que este simples jogo causou. A Sara percebeu perfeitamente como se jogava, e a sua carita ao virar a última carta, gritando muito alto "Hooose!" era digna de um vídeo, que infelizmente não conseguimos fazer. Ficam as fotos:
Quinze minutos de pura alegria! Em quinze minutos, quantas gargalhadas! Em quinze minutos, quanta cumplicidade ganha, quanta amizade alimentada, quanta harmonia vivida!
Concluíamos o nosso jogo sempre da mesma maneira: ali mesmo, à volta daquela mesa, enquanto as estrelas nasciam lá fora, alguém trazia a guitarra e o missal, e rezávamos. Os cânticos a várias vozes, as aventuras de Moisés pelo deserto, que há duas semanas nos acompanham, a consagração à Mãe de Caná e a partilha da ação de graças e do louvor (o terço era rezado pela manhã a caminho da barragem)... Mais quinze minutos de pura alegria!
S. Paulo, o Apóstolo da Alegria, escreveu aos cristãos de Corinto, falando da sua missão:
"Queremos contribuir para a vossa alegria!" (2Cor 1, 24)
Talvez seja essa a grande missão de cada pai e cada mãe: contribuir para a verdadeira alegria que só Deus pode dar aos nossos filhos. Missão difícil? Nem por isso! Bastam quinze minutos de cada vez...