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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No domingo dia 26 à noite, ao chegarmos do grupo de oração, encontrámos o Niall sentado diante do televisor, muito feliz. Ele costuma ficar em casa a cuidar dos mais pequeninos, enquanto o Francisco, a Clarinha e eu vamos rezar.
- Venham ver! Está a dar um programa de celebração dos 60 anos do Festival da Eurovisão!
- Do quê? - Perguntaram eles.
O Niall e eu trocámos um olhar cúmplice. Somos do tempo em que a televisão congregava as famílias em torno de um único programa, e em que o país inteiro parava para assistir em direto ao Festival da Eurovisão da Canção.
- Lembras-te do Johnny Logan? - Perguntou-me o Niall. - Ganhou por duas vezes. Era irlandês!
- Claro que me lembro! "Hold me now!" Cantámos esta música até à exaustão, no recreio da escola! E pensar que um dia havia de casar com um irlandês! Lembras-te da música do Carlos Paião: "Hei, Playback"? Nós adorámos aquela música, Portugal inteiro a cantava, mas ficou em último lugar. Foi cá um choque coletivo!
- Lembro-me, claro. Nós na Irlanda rimos à gargalhada da vossa música! Achámos muito divertida, mas um pouco tonta.
- Ora!
De repente, calámo-nos, de olhos fixos no televisor. Em palco entrava Nicole, trinta e três anos mais velha que a jovenzinha de dezoito anos, daquele longínquo serão de 1982. Visivelmente emocionada, cantou "A Little Peace", a segunda canção mais bem sucedida de todos os anos do Festival da Eurovisão. Enquanto o Niall e eu cantarolávamos a canção, acompanhando Nicole, o Francisco e a Clarinha olhavam espantados para nós.
- Quem não se lembra de "A Little Peace"? A Europa inteira cantava esta canção. - Explicou o Niall.
- E eu até a tocava na guitarra... Estou aqui a pensar, Niall, que naquela noite de 1982, tu e eu estávamos à mesma hora a escutar a mesma canção. É um bocadinho romântico, não te parece?
Rimo-nos todos. Mas a verdade nua e crua é mesmo essa...
Dizia o nosso pároco aos jovens crismados, no final da Eucaristia:
- Há três formas de encarar a vida: uma sucessão de acasos; o destino, onde tudo está pre-definido; ou então - e esta é a única forma digna de um cristão - como um chamamento, isto é, uma vocação.
Gosto de dizer aos meus filhos que o marido ou mulher que Deus sonhou para cada um deles - se os chamar ao matrimónio - já deve andar por aí a correr, a brincar, a ir à escola, a rezar... Na verdade, o acaso não existe, e ninguém tem o destino marcado, porque Deus nos fez livres.
Podemos enganar-nos? Claro! E se nos enganarmos, não estamos condenados à infelicidade. Pensemos no GPS que temos no carro: ele vai-nos indicando o caminho, mas se decidirmos ir por outra estrada, imediatamente refaz os seus cálculos e sugere nova rota que nos conduz ao mesmo destino. Também a voz de Deus dentro de nós nos vai conduzindo pelos caminhos que vamos escolhendo, para nos fazer chegar ao Céu. Nunca baixemos os braços perante um engano evidente no caminho: a Deus, nada é impossível!
Todos os dias rezamos em família para que os nossos filhos sejam capazes de reconhecer a voz do Senhor, quando Ele os chamar a um caminho específico, a uma vocação concreta. Rezamos para que tenham a audácia de responder "sim", por difícil que pareça, como difícil nos pareceu a nós construir uma família a partir da Irlanda e de Portugal. Disse Jesus:
"Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz." (Jo 10, 2-4)
E agora... Para os que foram jovens quando nós fomos - se quiserem recordar A Little Peace, aqui fica: