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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No sábado, a Clarinha teve a sua segunda competição de ginástica rítmica (a primeira, com vídeo, está aqui).
- Desta vez, adorava que tu me pudesses ver! - Disse-me. - O papá já viu, agora adorava que visses tu!
- Bem, eu também adorava ir. Onde é?
- Em Cacia. Achas que o papá pode dar a tua catequese e tomar conta dos manos durante a tarde?
- Claro que sim. Eu falo com ele!
Mas não foi preciso. O Niall já tinha decidido isso mesmo! Assim, no sábado, a Clarinha e eu almoçámos às onze da manhã, e ao meio-dia estávamos no pavilhão desportivo de Cacia.
Fazia muito, muito frio. O termómetro do carro marcava seis graus, e chovia. Dentro do pavilhão estava ainda mais frio; e também chovia em alguns lugares...Todos os pais comentavam a falta de condições, mas as atletas não pareciam minimamente preocupadas: com caras felizes, saltavam e repetiam os exercícios da prova. Eu regressei ao carro, onde pude ligar o ar condicionado e aquecer um pouco os pés, e fiquei a corrigir testes até à uma e meia, hora do desfile inicial. Depois regressei ao pavilhão, para me emocionar diante do milagre que estava diante de mim: a minha filha estava novamente a pisar o chão dos seus sonhos, indiferente ao frio que se fazia sentir, indiferente à certeza que tinha de não conseguir obter uma classificação muito alta (afinal ia competir com meninas que faziam ginástica há anos e anos...), indiferente ao júri sentado diante dela. Quando chamaram o seu nome e ela fez o movimento de resposta apropriado, senti as lágrimas a toldar-me a vista:
Depois do desfile, começou a competição. As meninas mais novas foram as primeiras a actuar. Uma a uma, música a música, deslizavam sobre o praticável, com sorrisos felizes. Olhei para o relógio: três horas... A tremer de frio, procurei encontrar um espacinho na bancada para colocar os meus testes, e continuei a corrigir. Uma turma de testes terminada, e a Clarinha continuava aos saltos no praticável de treino. Arrumei a turma de testes e retirei outra da minha mala. Sempre a tremer de frio, corrigi a segunda turma por completo, enquanto no praticável as meninas se sucediam, ao ritmo da música. Bolas, arcos, fitas, e muita beleza. Suspirei. Quando seria a vez da Clarinha? Duas turmas arrumadas, horas de abrir o computador e começar a escrever retiros, ensinamentos... E a Clarinha sem actuar. Seis horas...
De repente, alguém me faz um gesto: é preciso preparar a máquina fotográfica! A Clarinha já está a tirar a camisola, mostrando o seu fatinho azul... Levanto-me. É agora! Com um sorriso, a minha filha faz a sua prova com corda, e meia hora e muitas meninas mais tarde, fará novamente a prova de maças (uma espécie de pinos usados em ginástica). Para mim, pareceu-me perfeito, claro; para o júri, teve falhas; para a Clarinha, foi um momento de pura magia.
Quando terminou as provas, pensei que ia sentar-se um bocadinho e descansar: qual quê! "Vai treinar os exercícios que falhaste, Clarinha" Disse-lhe a professora, sorridente. E a Clarinha regressou ao praticável de treino para repetir, repetir, repetir... Olho para o relógio: será possível? Sete horas da tarde! Sinto os pés, as mãos e até o pensamento congelados.
Por fim, o dia termina. Há bolos e croissants para o lanche. A Clarinha suspira, feliz. Fez novas amigas, reviu caras já conhecidas da primeira competição, conversou, trocou ideias e descobriu novos movimentos. Eu também aprendi algumas coisas: conversando com as outras mães, já depois da actuação da Clarinha, descobri que há uma forma de saber a que horas as nossas filhas vão competir; e essa forma é... consultar o site! Viva, Teresa, descobriste o óbvio, mas mais vale tarde do que nunca!
A caminho de casa, no carro quentinho, a Clarinha a dormitar a meu lado, vou pensando... Estar ao frio durante sete horas, para ver duas actuações de um minuto e meio cada, foi o preço a pagar pelo imenso amor que tenho à minha menina. Foi difícil? Foi... Voltava a fazê-lo? Claro! É normal fazer isto por um filho? Normalíssimo! Não tem nada de mais...
Por sua vez, a Clarinha também teve um preço a pagar pelo seu imenso amor à ginástica: trabalhou durante sete horas no duro, repetindo e repetindo, e tornando a repetir os mesmos gestos. Foi difícil? Foi... Voltava a fazê-lo? Claro! Foi a única? Não: todas treinavam com o mesmo afinco. Não tem nada de mais...
E quando chega a hora de trabalhar pelo Senhor? Custa, levantar cedo para ir à missa ou para rezar? Custa, perder uma tarde de sábado para visitar os velhinhos ou os doentes, ou ir à catequese? Custa, enfrentar o confessionário? Custa, dar um pouco de tempo para servir os outros, na paróquia ou no bairro? Claro que sim! É normal fazer isto pelo Senhor a quem amamos? Normalíssimo! Não tem nada de mais...
Diz-nos o Senhor no Evangelho:
"Quando fizerdes tudo o que vos foi mandado, dizei:
'Somos servos inúteis. Fizemos apenas o que tínhamos de fazer.'"
(Lc 17, 10)
O frio que se tem feito sentir neste inverno obrigou-nos a comprar mais dois metros de lenha, pois durante o fim-de-semana, é preciso manter a lareira acesa durante todo o dia. Contudo, a lenha que comprámos nesta segunda leva não tem a qualidade da primeira: está verde, cheia de água, assobiando na lareira quando tentamos acender o lume. Que difícil que é fazer arder lenha verde! Acendalha após acendalha, fósforo após fósforo, e o fogo não se ateia. Que desilusão! Chegar a casa ao fim do dia e ter de me concentrar na lareira, enquanto tantas outras coisas - e pessoas - precisam da minha atenção, é desesperante!
- Tu consegues, mamã, força! - Animam-me os mais novos, a meu lado, estendendo-me pequenas achas. E depois dizem uma frase muito simpática: - Se cá estivesse o papá, já tinha conseguido!
Mas o pai só chega perto da hora do jantar, e entretanto é preciso aquecer a sala. Finalmente, com o fogo aceso, escutando a água a evaporar-se lentamente da lenha a arder, deixo-me cair ao lado da lareira com a Sara ao colo. E fico a pensar naquela belíssima e épica passagem do profeta Elias: reunindo todo o povo, Elias preparou um altar de pedra, colocou nele a lenha e sobre esta, o animal para o sacrifício. Depois, fez um sulco a toda a volta do altar, derramando nele doze talhas de água, que fizeram transbordar o sulco. Como podia o fogo atear-se sobre um altar encharcado assim?
“À hora do sacrifício, o profeta Elias aproximou-se, dizendo: ‘Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. Responde-me, Senhor, responde-me! Que este povo reconheça que Tu, Senhor, é que és o Deus, aquele que converte os corações.’ De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco.” (1Rs 18, 36-38)
Uma leitora muito querida do blogue enviou-me o mail, falando-me do seu esforço vão em procurar crescer na fé. Já abrira a Bíblia várias vezes, já procurara contar as histórias da Bíblia à filha mais velha, de seis aninhos, e vira-se incapaz de lhe responder às suas mais elementares perguntas infantis. "Não vale a pena!" Dizia-me ela.
Quando nos descobrimos lenha verde, achamos que nunca vamos conseguir "pegar fogo", não importa o quanto nos esforcemos. Mas a boa notícia é que, a Deus, nada é impossível, e a história do profeta Elias prova-o bem! Não foi a qualidade da lenha, muito menos toda a porcaria e toda a lama que a rodeava, que fez atear o fogo, mas tão somente a graça divina, que sempre se sente atraída por tudo o que é fraco, pobre, pequeno e mal cheiroso.
Eu também sou lenha verde, encharcada de pecado, de vaidade, de orgulho, de ignorância, de respeitos humanos. Sozinha, nunca conseguirei atear em mim o fogo do Senhor... No entanto, se eu perseverar em oração, como Elias, se eu me ajoelhar e suplicar ao Senhor que converta o meu coração, que me responda, que faça descer sobre mim o seu fogo, então verei como num instante, tudo será consumido - o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até a própria água do sulco...
Este inverno tem sido luminoso, azul, e gelado. Lembra-me os invernos da minha infância, em Castelo Branco, onde eu precisava de mergulhar as mãos em água quente antes de praticar as lições de piano...
Cá em casa está muito frio. Na sala, o lume arde lentamente na lareira, mas os quartos estão gelados. Contudo, ninguém parece importar-se muito: quando os meninos estão a estudar, acendem um pequeno aquecedor a óleo; quando estão a brincar, nem dão pelo frio, porque brincar como eles brincam aquece o corpo e a alma!
Entre uma casa aquecida como as casas "do estrangeiro", e uma casa fria como a da minha infância e a nossa actual, claro que qualquer um escolheria a primeira. Eu sofro bastante com o frio e adoraria poder passear-me de manga curta entre a cozinha e os quartos! Mas fico contente por não poder escolher, pois sei que a falta deste conforto extra me faz melhor ao espírito. E porquê? Porque como já disse e repeti várias vezes neste blogue, um bocadinho de desconforto, um bocadinho de dificuldade, ajuda-nos a crescer!
- Este ano, pela primeira vez em muitos anos, o frio chegou na altura certa - dizia-nos o senhor Manel, dono da mercearia onde compramos fruta e vegetais - e isso significa que a fruta vai ser boa!
Santa Teresinha do Menino Jesus confessou, no final da sua vida de 24 anos, que o maior sofrimento físico da vida conventual fora... o frio. Imaginem a França do final do século XIX, um convento antigo, em pedra, uma única lareira no coro, onde as irmãs se reuniam, e depois o frio gelado das celas pobres e despidas, aonde se chegava atravessando os claustros descobertos... Santa Teresinha tinha uma única coberta remendada para se aquecer durante a noite, e nunca ouvira falar em aquecimento central, naturalmente. Confessou que muitas noites não era capaz de dormir, tal o frio que sentia! Hoje, a maior parte dos conventos estão bem aquecidos, mas nem por isso têm mais habitantes.
Claro que não vamos ficar nem deixar os nossos filhos ficar acordados de noite com o frio; mas também não precisamos de os tratar - a eles e a nós - como "coitadinhos", incapazes de sofrer algum tipo de desconforto! Façamos deles homens e mulheres fortes nos pequenos detalhes da vida, capazes de aceitar, com um descontraído encolher de ombros, pequenas contrariedades - como por exemplo, e no meu caso, o frio. Porque se o frio e as pequenas dificuldades da vida chegarem na altura certa, os frutos serão certamente muito bons no verão...
"Servo bom e fiel, porque foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei." (Mt 25, 21)
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