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A Providência Divina

por Teresa Power, em 23.10.15

Catequese. O meu grupo é constituído por adolescentes de catorze anos, atentos e mais ou menos interessados. Juntos, lemos o Evangelho:

 

"Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? E nem um deles cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai! Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados! Não temais, pois valeis muito mais do que os pássaros." (Mt 10, 29-31)

 

- Acreditam mesmo, mesmo nas palavras que acabámos de escutar? - Pergunto, perante o silêncio. Um encolher de ombros, alguns sorrisos.

- Isso é simbólico, Teresa!

- Alguém aqui acredita que Deus sabe quantos cabelos temos na cabeça?

Silêncio.

- Alguém acredita que Deus tem tempo para se preocupar com os passarinhos que caem do céu?

- Eu acho que não...

- Eu também acho que não deve ser bem assim...

A conversa está a ganhar forma. Durante meia hora, conversamos sobre a Providência Divina.

Mais tarde, de regresso a casa, escuto um piar aflitivo vindo do galinheiro. Os pintaínhos nasceram há poucos dias, e fazem as delícias dos mais novos. Que se passará? Corro ao galinheiro, e reparo que um deles, muito pequenino, conseguiu sair pela rede e está a tentar regressar, numa grande algazarra. Carinhosamente, pego-lhe com uma mão e devolvo-o à sua pobre mãe, que cacareja incessantemente.

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Depois recordo-me da conversa com os meus catequisandos. Será que eu acredito verdadeiramente que Deus cuida dos meus pintainhos, das minhas galinhas, dos cabelos da minha cabeça? Será que acredito verdadeiramente que Deus cuida de cada refugiado sírio, de cada criança com fome, de cada mãe abandonada? Segundo a Clarinha aprendeu em Geografia, parece que a cada trinta segundos morre uma criança com malária no mundo. Acredito verdadeiramente que Deus cuida dela?

O que é isto da Providência Divina? Até que ponto eu acredito - sem ver, sem compreender, sem sondar as profundezas, sem encontrar nenhum sentido - num Deus que me deixa livre de fazer o bem e de fazer o mal, num Deus que me ama mas permite que O não ame, num Deus que me acolhe mas permite que O rejeite, num Deus que morreu para que eu vivesse, num Deus que é só Amor?...

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publicado às 06:00

Harmonia - ou convivência forçada?

por Teresa Power, em 24.07.15

A nossa casa é uma casa extremamente barulhenta, entre crianças, galinhas, gatos e cães; mas é também uma casa extremamente pacífica. Senão vejam:

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 Sim, os cães e os gatos gostam de se enroscar uns nos outros e de brincar em grande grupo!

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 Se repararem bem nestas fotos, verão como os gatinhos se entretêm a observar os franguinhos, sem um único gesto ofensivo. Afinal, nasceram quase ao mesmo tempo!

Mais ainda: numa noite de inverno, no ano passado, descobri que a Tiger - a mãe dos gatinhos - dormia encostada às galinhas, provavelmente à procura de calor... A sério!

Já observaram esta oliveira florida? Aposto que não conheciam esta espécie, capaz de produzir flores brancas tão belas...

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Ora aqui fica a solução deste enigma: não, as flores não são da oliveira, mas de uma lindíssima trepadeira que decidiu abraçar a nossa oliveira, casando-se com ela vestida de alvura!

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Às vezes, também os nossos filhos experimentam momentos de intensa harmonia. Vejam, por exemplo, a felicidade dos mais novos, quando o Francisco se oferece para os ajudar a construir objetos especiais em lego:

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Ou a alegria da Sara, aos saltos nas ondas com os mais velhos:

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O David só se aventura nas ondas grandes se a Clarinha ou o Francisco estiverem por perto...

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E o António também!

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 Reparem neste trabalho conjunto na cozinha, enquanto a mãe escreve um "post"... O David lê a receita a partir do tablet da Clarinha, a Lúcia vai encontrando o material necessário, a Clarinha faz o bolo e a Sara, claro, rapa as tigelas!

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Depois, o piquenique no jardim sabe bem melhor:

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 - Lúcia, a Sara quer uma história, mas eu tenho de ir levar a Clarinha ao treino! Contas-lha tu?

- Sim, mamã!

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Os cães, os gatos e as galinhas não têm alternativa senão dar-se bem. A nossa casa não permite que vivam separados, e a porta do galinheiro está constantemente a ser aberta por mãozinhas pouco cuidadosas, que se esquecem de a fechar... A oliveira e a trepadeira também não têm alternativa: o espaço é pouco e ambas precisam de crescer!

Quanto aos nossos filhos... Bem, talvez o segredo não seja muito diferente! Um mesmo espaço continuamente partilhado por uma família numerosa, e multiplas ocasiões para se servirem uns aos outros e para cuidarem uns dos outros...

 As férias são tempo privilegiado para que os irmãos brinquem juntos, trabalhem juntos, se aborreçam juntos, discutam juntos, e se ajudem uns aos outros. Nos dias que correm, é frequente as férias separarem as famílias: os mais novos têm de frequentar o ATL, porque os pais trabalham; os jovens participam em inúmeras atividades longe de casa... Tudo faz parte e tudo é bom, claro! Mas corremos o grande risco de transformar as férias em mais uma sessão de "cada um por si".

Para que os irmãos aprendam a ser irmãos, é necessário que nós, pais, lhes ofereçamos contínuas oportunidades de cuidarem uns dos outros, dando-lhes responsabilidades de acordo com as suas idades e capacidades. Que não falte, nas férias, um tempo largo para unir pais e filhos e para unir os irmãos entre si!

 

"Como é bom e agradável os irmãos viverem em harmonia!" (Sl 133)

 

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publicado às 06:10

A cobra

por Teresa Power, em 03.06.15

Cheguei a casa apenas com os dois mais novos - A Sara e o António - e, como costume, abri a porta da cozinha para que ambos pudessem brincar alegremente no jardim. De repente, os cães começaram a ladrar aflitivamente. Deixei o que estava a fazer e corri para o jardim. Os cães estavam à porta da garagem, numa grande algazarra. Aproximei-me, curiosa. Que teria acontecido? Entrei na garagem, e no momento em que passei pela porta, um enorme e prolongado "zzzzzzzzzzzzzzzzz" fez-me gelar. Não havia dúvidas de que era uma cobra. Mas onde? Sem me mexer, fui procurando com os olhos, até que dei um salto para trás: a cobra estava mesmo ao meu lado, no cimo do escadote que está à entrada da garagem.

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- O que se passa, mamã? - Perguntou então o António, entrando na garagem com a Sara. Com um grito, afastei-os e levei-os para a cozinha. Depois telefonei ao Niall.

- Estou quase a chegar a casa - Respondeu-me ele. - Por favor, não faças nada! Eu morria de pena se não chegasse a tempo de ver a cobra!

O Niall tem uma paixão por cobras. Em jovens, ambos fizemos expedições na natureza com um sacerdote jesuíta profundamente conhecedor de cobras, que aliás possuía várias no seu gabinete, o padre Carlos Azevedo Mendes. Uma das coisas que nos ensinou foi precisamente a não ter medo e a saber como lhes pegar.

- Niall, mas há os gatinhos e os pitinhos!

Mesmo que esta cobra fosse inofensiva para o ser humano, eu sabia que uma das funções que a natureza lhe atribui é manter controladas as ninhadas de ratos e afins. Os nossos quatro gatinhos e os quatro pintaínhos que entretanto também nasceram corriam sério risco.

- Tens razão. Retira imediatamente os gatinhos do armário e tranca a garagem.

Entrei na garagem com um salto. Rapidamente, abri o armário e reuni os quatro gatinhos num cestinho, que levei para dentro de casa, para deleite da Sara e do António. Depois tranquei a cobra na garagem, e suspirei de alívio.

O Niall chegou entretanto. Entusiasmado, dirigiu-se à garagem, onde foi recebido por um enorme "Zzzzzzzzzzz".

- Ena, que bonita! Mas está tão agressiva! Mantém as crianças longe. Vou baixar o escadote, para ser mais fácil apanhá-la. Depois levo-a para longe da nossa casa, fica descansada.

Assim que o Niall baixou o escadote, uma cena curiosa aconteceu: a Winnie e o Jack, os nossos dois rafeiros atiraram-se à cobra e agarraram-na com os dentes, à vez, chicoteando-a contra o chão com violência. Em menos de dez segundos - para frustração do Niall e para meu alívio - a cobra estava morta.

No galinheiro, os pintaínhos saíram debaixo das asas da sua mamã:

 

E os gatinhos regressaram ao seu armário, onde a mamã se apressou a lambê-los vigorosamente e a dar-lhes de mamar:

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Quais as "cobras sibilantes" que pretendem roubar-nos as nossas "ninhadas"? Deveremos nós, pais, separar os nossos filhos dos contactos humanos "perigosos", impedindo que se relacionem com todo o tipo de pessoas, nomeadamente na escola e noutros lugares lícitos? Não o creio. Afinal, a Boa Notícia do Evangelho é que Jesus, o Filho de Deus, se senta à mesa com os publicanos e as prostitutas, recusando o medo farisaico do contágio. E o que está bem para Jesus, está bem para mim.

Mais perigosos são os canais abertos de "cobras" para o interior das nossas casas e dos corações dos nossos filhos, através dos livros, de várias redes sociais, dos programas de televisão e dos jogos de computador que são visionados sem qualquer discriminação e que nenhum pai ou mãe consegue acompanhar convenientemente. Na verdade, muito do que por aí se produz nos meios de comunicação social tem um objetivo claro ou oculto de destruir os valores da nossa civilização cristã.

Se substituirmos o tempo gasto em visionamentos deste tipo por conversas familiares honestas e profundas em torno de valores, estaremos a equipar os nossos filhos com o necessário para saberem escolher as suas amizades e avaliar os comportamentos de quem os rodeia. Diz-nos S. Paulo:

 

"Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é respeitável, tudo o que possa ser virtude e mereça louvor, ocupe o vosso pensamento." (Fl 4, 8)

 

É o que nós procuramos fazer todos os dias, no tempo de oração familiar, quando confrontamos o dia de cada um com a Palavra de Deus! E para uma maior certeza da vitória, confiamos no auxílio daquela que esmagou a serpente com o calcanhar...

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publicado às 06:12

O jasmim florido

por Teresa Power, em 17.04.15

O nosso jardim tem sofrido muito ao longo dos anos. Coitado dele! Este pedaço de terra à volta da nossa casa é alvo das mais acérrimas lutas entre flores e bolas de futebol, relva a crescer e sopas para bonecas em panelinhas de plástico, couves verdinhas e galinhas que se soltam do galinheiro. No outro dia de manhã, à hora do pequeno-almoço, os nossos filhos assistiram, boquiabertos, a esta discussão entre o Niall e eu:

- Niall, há galinhas à solta no jardim, olha só pela janela!

- O quê???? Depois de eu ter passado o fim-de-semana curvado a plantar a horta? Será possível? É desta que acabamos com o galinheiro.

- Nem penses! Eu adoro escutar o cacarejar das galinhas logo de manhã!

- Mas eu adoro ver uma horta bonita, e olha só para a desgraça da nossa horta! E esta primavera vou ter de vedar parte do jardim para a relva poder recuperar.

- Não vedas não, que os meninos precisam de espaço para jogar à bola.

- E como queres que tenham relva para jogar à bola se eu nunca lhe der uma oportunidade para recuperar?

- Mãe, pai, está na hora de irmos para a escola - Interrompeu a Clarinha, trocando olhares divertidos com o Francisco.

- OK, falamos de galinhas e crianças mais tarde - Concluí.

Pela hora de almoço, como costume, telefonei ao Niall.

- Niall, desculpa esta manhã. Se achas melhor destruir o galinheiro, eu aceito - Disse-lhe. - E se quiseres, vedamos parte do jardim também.

- Oh, não, eu queria mesmo telefonar-te para te pedir desculpa - Respondeu-me ele - Eu sei que tu gostas das tuas galinhas e que as achas fofinhas. No sábado vou arranjar o galinheiro e refazer a horta. E a relva há-de crescer, deixa lá!

- Não, destruímos o galinheiro.

- Não, não é preciso. As tuas galinhas são umas queridas...

- Mas eu aceito!

- Mas eu não aceito!

E lá discutimos nós novamente... Desta vez, para decidir quem era o primeiro no amor!

 

O jardim, as bolas de futebol, as sopas de ervinhas para as bonecas, as galinhas e a horta lá continuam a conviver, e nós vamos gerindo tudo isto com muita paciência e, sobretudo, muito amor.

Ontem de manhã acordei com um perfume delicioso, vindo do jardim. Um perfume tão forte, que atravessava as janelas fechadas. Abri as cortinas e as portadas, e deparei-me com o jasmim todo em flor:

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 Lembrem-me então de um dos meus livros preferidos na Bíblia, o Cântico dos Cânticos. Diz o Amado:

 

"Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha Amada!

Eis que o inverno já passou,

a chuva parou e foi-se embora;

despontam as flores na terra,

chegou o tempo das canções,

e a voz da rola já se ouve na nossa terra;

a figueira faz brotar os seus figos

e as vinhas floridas exalam perfume.

Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha Amada!"

(Ct 2, 10-13)

 

Abracei o Niall. O jasmim florido era a prova de que necessitávamos para acreditar que mesmo os terrenos mais sofridos se podem deixar trabalhar e cobrir de perfume. O mundo, o outro, os meus defeitos e os problemas que se abatem sobre nós ameaçam destruir o pouco que vamos conseguindo construir? O poder de Deus é muito maior! Os jardins da nossa vida e do nosso sucesso teimam em murchar? O importante é que o nosso jardim interior esteja coberto de flores, e o Senhor se agrade passeando nele...

 

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publicado às 06:28

Raiz em terra árida

por Teresa Power, em 03.04.15

Até ao ano passado, a D. Isaura ajudava-nos com a lida da casa duas ou três vezes por semana. Este ano letivo já não tivemos esta grande ajuda, mas a D. Isaura continua a visitar-nos regularmente, cada vez que passa de bicicleta diante da nossa casa. Às vezes, levamo-lhe uma galinha para ela fazer o favor de matar e preparar (que nós não gostamos de fazer esse serviço), e pedimos-lhe conselhos sobre a melhor forma de cuidar da nossa horta, que a D. Isaura é muito mais sábia do que nós nessas matérias. Mas acima de tudo, acarinhamos a sua amizade bondosa.

Assim, no sábado, os meninos gritaram de alegria e os cães saltaram de satisfação, e todos - crianças e cães - correram para o portão: era a D. Isaura!

- Bom dia, meninos! Que lindos, a brincar no jardim!

A Sara saltou-lhe para o colo, e o António deu-lhe a mão. Depois, a D. Isaura deu uma volta ao nosso jardim, onde o Niall trabalhava afincadamente.

- Que bonita que está a horta! - Disse-nos.

O Niall sorriu: - Estaria muito mais bonita se não tivéssemos cães, gatos ou crianças. Estes três grupos de seres vivos destroem tudo o que eu tento construir, e pisam onde eu acabo de plantar. Enfim, D. Isaura, cada um tem o que merece!

A D. Isaura deu uma gargalhada e dirigiu-se ao galinheiro. Tal como eu, também ela adora ver as galinhas a esgravatar e escutar o seu cacarejar contínuo.

- Já repararam que têm um pessegueiro a crescer no galinheiro? - Disse-nos a D. Isaura, depois de breves segundos de inspeção.

- Um pessegueiro? - O Niall não conteve o espanto. - Está a falar desta erva daninha?

- Erva daninha qual quê! Um pessegueiro, sim senhor. A terra dos galinheiros costuma ser muito fértil, pois por um lado, atiramos para lá todo o tipo de restos de alimentos, caroços de fruta, etc., e por outro lado, está bem regada de estrume...

Bem, a D. Isaura estava a falar disto:

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E o galinheiro em questão é este:

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 - Ai, D. Isaura, quantas vezes eu me estafo a comprar e a plantar belas árvores, que depois não consigo que floresçam! E este pessegueiro brotou no meio do estrume. Que ironia! - O Niall estava divertidíssimo com o achado - A D. Isaura tem de ir passando por aqui para me dar estas boas notícias!

Todos nos rimos. Ficou combinado transplantarmos o pessegueiro daqui a algum tempo, quando estiver suficientemente forte para aguentar a mudança. Foi também assim que, no ano passado, colhemos os melhores tomates alguma vez produzidos no nosso quintal! A D. Isaura descobriu a dita erva no galinheiro e o Niall transplantou-a para a horta, onde veio a dar muito fruto. Esperemos que o mesmo aconteça agora.

 

Ao fim do dia, muito depois da nossa simpática visita ter ido embora, fui fotografar o pessegueiro e escutar o cacarejar das minhas queridas galinhas. Enquanto observava a natureza, lembrei-me da descrição que o profeta Isaías faz do Messias Doloroso, do Servo de Deus:

 

"O Servo cresceu diante do Senhor como um rebento,

como raiz em terra árida,

sem figura nem beleza.

Vimo-lo sem aspeto atraente,

desprezado e abandonado pelos homens,

como alguém cheio de dores,

habituado ao sofrimento,

diante do qual se tapa o rosto..."

(Is 53, 2-3)

 

Perdoem-me a expressão: na estrumeira deste mundo, Deus plantou a Árvore da Cruz do seu próprio Filho, para que crescesse sem beleza nem esplendor, mas capaz de dar muito fruto... Quanto amor!

Dentro de cada um de nós há certamente "estrume" suficiente para que o amor cresça e frutifique. O sofrimento de cada dia, as dificuldades, os obstáculos, a nossa insuficiência de tudo, a nossa imensa pobreza, e até o nosso pecado assumido e chorado - tudo pode ser terreno fértil! Precisamos de treinar o nosso olhar, para não confundirmos a Cruz que o Senhor nos oferece com qualquer erva daninha...

 

PS - Hoje vamos começar a rezar a Novena à Divina Misericórdia, como expliquei neste post do ano passado. Alinham?

 

 

 

 

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publicado às 06:20

Galinhas no choco

por Teresa Power, em 30.06.14

O nosso jardim rebenta de vida nova! Como contei aqui, temos três novos gatinhos:

 

 

E no galinheiro, saltitam e esgravatam cinco novos pintaínhos! Ontem, quando nasceram, ninguém saía de junto do galinheiro... Aqui ficam 20 segundos de animação:

 

 

Os meninos não se cansam de brincar com os gatinhos e de contemplar os pintaínhos! Os meninos, e não só: eu e o Niall divertimo-nos imenso a admirar estes pequenos milagres da natureza, e damos por nós parados diante do galinheiro, com um sorriso nos lábios, enquanto a mãe galinha ajuda os seus pequeninos a encontrar alimento.

 

Contemplar a vida nascente é sempre já uma forma de rezar. Tudo na natureza nos fala de Deus e nos conduz a Deus, se a soubermos ler! Jesus também estava acostumado a ver galinhas com os seus pintaínhos, e muito provavelmente cresceu, como os meus filhos, a escutar o seu cacarejo constante. Imagino Nossa Senhora, com Jesus Menino pela mão, mostrando-lhe as galinhas e falando-lhe de Deus, como eu procuro também fazer aos meus filhos... Tenho a certeza de que muitas das parábolas de Jesus surgiram na sua mente como recordações das palavras sábias e extremamente simples da sua mãe!

Um dia, ao entrar em Jerusalém para a sua derradeira visita, Jesus chorou sobre a cidade e lembrou-se destas imagens da sua infância:

 

"Quantas vezes, Jerusalém, Eu quis juntar os teus fihos como a galinha junta a sua ninhada debaixo das asas, e tu não quiseste!" (Lc 13, 34)

 

A imagem de um Deus Amor que nos reune com carinho sob as suas "asas" atravessa toda a Bíblia. Mas ontem, diante daquela galinha feliz com os seus pintaínhos, foi uma outra imagem que me veio à mente:

Sabem que para nascerem estas lindas bolinhas de penas foi preciso que a galinha estivesse três longas semanas sentada sobre os seus ovos, sem se mexer? Bem, eu só descobri isto quando vim viver para o campo... Eu sabia, vá lá, que as galinhas precisam de chocar os ovos, mas não sabia que precisavam de estar tão quietas sobre eles durante tanto tempo! De dois em dois dias deixam o choco para comer e esticar um pouco as pernas, mas não se demoram mais de cinco minutos, pois se o fizerem, os pintaínhos morrem dentro do ovo! Os meus filhos ficam sempre muito admirados a olhar para as galinhas chocas: como é que elas conseguem?

- Não se admirem assim tanto! - Expliquei-lhes eu então - Para o Francisco nascer, eu também tive de ficar, não apenas três semanas, mas cinco longos meses de cama!

Pois é... A minha primeira gravidez terminuou num aborto espontâneo, com toda a dor psicológica que isso acarreta. Sim, sofri muito então, sem imaginar que havia de sofrer ainda muito mais, anos mais tarde, com a morte do Tomás! Ainda bem que não conhecemos o futuro... Quando engravidei novamente, tive algumas perdas de sangue e contracções constantes. O obstetra recomendou-me repouso absoluto, e eu obedeci, cheia de medo de perder o meu bebé. Fui uma bela "galinha choca", muito quietinha durante um verão inteiro! Enquanto os meus amigos iam à praia, eu ficava ali, na cama... Depois, claro, veio a recompensa, e que recompensa!

 

Sei que não sou a única mamã a quem recomendam repouso absoluto durante a gravidez. Sei que não sou a única mamã a enfrentar perdas, a ver os seus sonhos desmoronarem-se, a sofrer derrotas... Sei que há mamãs aí desse lado a lerem este blogue deitadas na cama, para que os seus bebés possam nascer! Nada é em vão. Deus dá sentido a todas as nossas dores, e nem sequer precisamos de esperar pela vida futura para experimentarmos a sua recompensa... A felicidade está ao alcance da mão!

Hoje, como Maria de Nazaré e o seu Menino, contemplo as galinhas no meu galinheiro e penso em Deus. Hoje penso também  em todas as mamãs que aguardam, um pouco impacientes, a chegada dos seus bebés. Que ninguém se ofenda com a comparação... Se o próprio Deus Se comparou, na Bíblia, a uma galinha reunindo os seus pintaínhos! É para essas mamãs este post.

 

 

 

 

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publicado às 07:51

Galinhas à chuva

por Teresa Power, em 25.02.14

Numa das noites de temporal deste inverno, o Niall sentiu pena das galinhas e colocou-lhes dentro das suas "casas" (umas casotas de cães no fundo do galinheiro) umas mantas velhas, para minimizar os efeitos da lama e da água que por lá corria. Antes de nos deitarmos, dada a quantidade de chuva que caía do céu e o vento que uivava lá fora, o Niall decidiu espreitar pela janela e verificar o estado das árvores e do galinheiro. E o que viu deixou-o boquiaberto: com medo das ditas mantas, as galinhas recusavam-se a entrar nas casotas, aninhando-se umas nas outras no telhado das mesmas, completamente enxarcadas. Suspirando, o Niall calçou as galochas, enfiou uma gabardine e saiu para o jardim. Retirou as mantas das casotas e, uma a uma, obrigou as galinhas a entrar nelas, para passarem a noite um pouco menos molhadas. Depois, o meu pobre marido regressou a casa, para se secar junto do lume.

 

Talvez pensem que estou a escrever esta história para elogiar o atitude nobre do Niall - capaz de enfrentar a tempestade por um bando de galinhas. Podia fazê-lo, acrescentando uma série de outros exemplos igualmente notáveis de respeito pela vida animal, pois o meu marido até as moscas respeita. Mas não é esse o meu objectivo.

 

Acontece simplesmente que aquelas galinhas com medo fizeram-me pensar na quantidade de pessoas que se recusam a entrar na Igreja Católica porque não entendem, não aceitam ou se assustam diante de algum dos seus ensinamentos.

Ter fé não significa, naturalmente, deixar de fazer uso da razão. Ter fé é pensar os assuntos de Deus, questioná-los e explorá-los o mais possível. Mas ter fé implica também confiar com coração infantil. Precisamos de olhar para os ensinamentos da Igreja, as palavras do Papa, as exigências do catecismo ou da lei moral cristã com a certeza de que não há neles nenhuma ameaça à nossa felicidade.

Mesmo que alguma "manta" do cristianismo nos pareça absurda ou ameaçadora, não fiquemos ao relento, aguentando sozinhos a chuva fria do mundo; entremos confiantes na casa da Igreja, e encontraremos o abrigo de que necessitamos.

 

Ah, deixamo-nos morrer de frio, e Deus aqui tão perto...

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publicado às 09:01

Ele já lá vem

por Teresa Power, em 05.02.14

Acordar de manhã, abrir as portadas de par em par, e dar de caras com... a chuva. Chuva, chuva, sempre chuva. Filas intermináveis para a escola, que todos querem ir de carro, pois está a chover. O jardim é um lamaçal tão grande, que as únicas criaturas que lá se atrevem a brincar são... as galinhas:

 

 

Na verdade, o galinheiro está tão cheio de lama, que não temos coragem de as manter lá dentro. Assim, enquanto a chuva for caindo abundante, as nossa galinhas têm tratamento VIP e direito a um jardim inteiro só para elas:

 

A confiança é tal, que gera alguns abusos, como podem ver na foto que se segue:

 

 

Enfim, ainda não choveu o suficiente para as abrigar dentro de casa...

 

Mas ontem, do meu quarto, olhei com um pouco mais de atenção o meu jardim da frente. E o que vi encheu-me de alegria. Abrindo as portadas, saltei para a relva para me certificar de que não me enganara. Depois peguei na máquina fotográfica e tirei esta foto, para poder partilhar convosco o que vi:

 

 

É mesmo verdade: a primavera já está a caminho! E por muita chuva que caia, por muito frio que faça, no meu jardim há testemunhas de que ela já lá vem! Nada a poderá deter agora!

 

O mundo de hoje assemelha-se muitas vezes a um dia frio de inverno. Por todo o lado vemos sofrimento, crise, desespero. As televisões falam das histórias tristes da guerra lá longe, das praxes cá dentro, da violência generalizada entre seres humanos. Quando nos cruzamos com as pessoas e perguntamos "Como estás?" as respostas variam entre o "Vai-se andando" até ao "Menos mal".

E no entanto, a primavera já está a caminho. Nos primeiros tempos do cristianismo, os cristãos tinham muita pressa em anunciar a todos o Evangelho, pois acreditavam que Jesus estava mesmo a chegar, e tudo se resolveria numa questão de dias, talvez meses. Depois, com o passar do tempo, os cristãos tomaram consciência de que o "breve" de Deus é diferente do nosso "breve". E perdeu-se o entusiasmo.

Mas o Senhor está a chegar! Não há como deter os seus passos apressados. E nós, cristãos, somos os rebentos floridos da sua vinha, testemunhas da sua presença escondida mas actuante. É preciso que as nossas palavras, o nosso sorriso, a nossa alegria, os nossos gestos e a nossa oração encham o mundo de sinais primaveris.

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publicado às 08:41

Letreiro: "Frágil"

por Teresa Power, em 28.12.13

Esta manhã, a mãe-galinha estava a passear sozinha no jardim. Saíra do galinheiro e entretinha-se a comer as couves da horta. Mas onde estariam os seus pintaínhos? Eles costumam andar sempre atrás da mãe, para se esconderem sob as suas asas à mais leve ameaça... Soubemos instantaneamente que só podiam estar mortos. Em silêncio, entrámos no galinheiro, levantámos a casota... Lá estavam os dois pintaínhos, caídos na lama, mortos. Imaginámos a cena da tarde do dia anterior, os pintaínhos a escorregar na lama por causa do temporal, a galinha a tentar retirá-los de baixo da sua casota, em vão... Tinham certamente morrido de frio, longe do alcance das asas de sua mãe. 

Para alegrar um pouco a mãe-galinha sem filhotes, deixámo-la passear no nosso jardim com as suas amigas:

 

Um pouco triste, decidi abrir o meu missal nas leituras do dia. E foi quando percebi que a Igreja celebra hoje os Santos Inocentes, ou seja, os bebés de Belém, que o rei Herodes mandou matar indiscriminadamente, com a intenção de matar também Jesus.

O Natal não é um conto de fadas ou uma historieta para crianças. O nascimento de Jesus esteve sempre rodeado de morte. A gruta onde Jesus nasceu não foi muito diferente da gruta onde depositaram o seu corpo morto, trinta anos mais tarde. O trajecto até Belém, o parto fora de portas, a fuga de Herodes deixaram no Natal um traço de sangue e de morte. Jesus incarnou na nossa vida real, concreta, de todos os dias. Jesus veio habitar todos os nossos abismos, conhecer todas as nossas dores. Assim, três dias depois do Natal, celebramos a morte dos bebés de Belém, que sem o saberem, deram a vida por Jesus.

 

A morte prematura dos meus pintaínhos e as leituras da missa de hoje deixaram-me a pensar no valor da vida...

A vida é frágil, frágil, frágil. Num momento estamos vivos, no momento seguinte podemos não estar. Nesta quadra de Natal, os noticiários já nos deram a conhecer tantas mortes acidentais de jovens e até de famílias completas! Se viemos no bico das cegonhas, então o pacote que nos embrulhava trazia o letreiro "Frágil" em letras bem marcadas. Diz o salmista:

 

"O homem não é mais do que um sopro!

Ele passa como simples sombra!" (Sl 39/38)

 

A vida é dom. Ninguém pede para nascer, todos recebemos a vida de outrém, e acima de tudo, de Deus:

 

"Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só dia à duração da sua vida?" (Mt 6, 27)

 

A vida é preciosa, a vida é um verdadeiro milagre. Se um pintaínho escondido nas asas da mãe é uma visão de ternura, quanto mais uma criança o é! Assim, a vida de cada ser humano é intocável, desde o ventre materno, e está nas mãos de Deus. Diz Jesus:

 

"Não vos preocupeis! Valeis muito mais do que os pássaros." (Mt 6, 26)

 

Talvez o amanhã nunca chegue. Só tenho o dia de hoje para viver, para disfrutar da companhia do meu marido e dos meus filhos, para os ajudar a crescer, para os ensinar a amar. Por isso, vou deixar a roupa por passar, vou deixar a casa por limpar, vou desligar este computador, e vou até ao parque brincar com a minha família!

 

 

 

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publicado às 14:00

Pintaínhos

por Teresa Power, em 14.12.13

Hoje foi um dia de grande animação. Os meninos passaram muito tempo no galinheiro, especialmente o António, que nunca perde uma oportunidade para ajudar o pai:

 

 

A cena mais repetida foi esta:

 

 

Que há de tão atrativo dentro do galinheiro? Oram vejam:

 

 

 

Há poucas coisas mais ternurentas na natureza do que assistir em direto ao nascimento de um animal. Cá em casa, já vimos nascer duas ninhadas de cães e muitas de pintaínhos. A emoção é sempre grande! Quando os primeiros ovos começam a eclodir, as galinhas ficam muito quietas, procurando aquecer com o seu corpo os recém-nascidos. Às vezes ajudam-nos a sair do ovo, utilizando os seus bicos de mãe para escavar um buraquinho um pouco maior. E depois esperam, até os pintaínhos ganharem coragem para sair debaixo das suas penas quentes. O momento em que um biquinho muito pequeno espreita por sob as penas bem abertas da galinha é um momento fascinante, que as crianças aguardam impacientes:

 

 

E pouco a pouco, os pintaínhos começam a explorar o espaço exterior, sempre sob o olhar atento da mãe, e sem nunca se afastarem dos seus carinhos e do calor das suas penas:

 

Nas próximas três semanas, a mãe galinha será uma mãe amorosa, capaz de tudo para proteger os seus filhotes, atenta ao menor sinal de perigo, venha ele de um rato ou de uma criança. Observando atentamente a mãe e imitando tudo o que ela faz, os pintainhos aprenderão a distinguir os melhores grãos para se alimentarem, aprenderão a escavar, a apanhar minhocas e a correr para as migalhas de pão que lhes deitamos depois de todas as refeições. Afinal, como também as crianças fazem, aprendendo junto dos adultos que as amam, repetindo os seus gestos mais do que as suas palavras e correndo a refugiar-se no seu colo quando se sentem ameaçadas.

 

Um dos mais belos salmos da Bíblia diz-nos:

 

"Deus te cobrirá com as suas penas. Debaixo das suas asas encontrarás refúgio." (Sl 91/90, 4)

 

S. Lucas diz-nos que, um dia, Jesus chorou sobre Jerusalém (cf. Lc 19, 41). E S. Mateus traduziu assim as suas lágrimas:

 

"Jerusalém! Jerusalém! Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, e tu não quiseste!" (Mt 23, 37)

 

Eu sou uma "mãe-galinha", mas Deus é-o muito mais! Sim, Deus é Pai e é Mãe, e como a galinha, tudo o que mais deseja é guardar os seus pintaínhos sob as suas asas, ajudando-os a crescer e defendendo-os dos perigos. Mas é preciso que nós queiramos ser estes pintaínhos dóceis, totalmente entregues ao seu cuidado amoroso... Se assim o fizermos, debaixo das suas asas encontraremos sempre, sempre refúgio!

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 23:11



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