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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Escrito pela Clarinha:
Assim que soube que o colégio estava a organizar um "... got talent", decidi que queria fazer uma dança com a Lúcia. Havia uma condição para participar: todas as atuações tinham de estar relacionadas com o tema do colégio: "Olha o teu mundo de novo." Eu queria também relacionar a nossa atuação com o Ano Santo da Misericórdia.
Começámos, então, cá em casa a procurar uma música cristã que satisfizesse estas condições e, depois de muito procurar, encontrámos a música perfeita: "Go light your world".
Coreografei a dança tendo em conta a mensagem que nós queríamos transmitir. É preciso iluminar o mundo com os nossos gestos misericordiosos, de forma que as qualidades e defeitos de todos sejam vistos de outra forma. Diz Jesus:
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu." (Mt 5, 14-16)
Deixo-vos aqui o resultado do trabalho de três semanas intensivas em que eu "dei treinos" à Lúcia, visto ela nunca ter tido aulas de dança ou de ginástica, coreografei e me diverti juntamente com a minha querida irmã, de quem estou tão orgulhosa!
Termino hoje a "saga" da Clarinha, tal como espero e desejo que tenha terminado cá em casa, e termino esta pequena "série" de posts sobre os tempos livres dos Power. Quem chegar ao blogue aqui pela primeira vez, talvez seja conveniente ler esta sequência de seis posts antes deste!
Depois de jantar, na sala, fazemos alguns jogos ou lemos histórias todos juntos. São apenas dez minutos do nosso serão, o suficiente para nos divertirmos em família, antes da nossa oração familiar. Numa destas noites, durante um animado jogo em que o monstro maior da casa procurava agarrar os seus pequenos prisioneiros, que fugiam aos gritos e às gargalhadas, a Clarinha fez uma roda e um pino tão entusiásticos, que atirou para o chão a fotografia do Tomás e a imagem de S. Tiago vinda diretamente de Compostela.
- Clarinha, por favor, sabes bem que a nossa sala é pequena para os teus pinos! - Ralhei. Ela desatou a chorar:
- Mãe, eu não aguento ficar sem fazer ginástica! Eu não sou capaz de passar os dias sem me esticar muito bem esticadinha!
Suspirei fundo e abracei-a.
- Clarinha, podes sempre voltar às aulas de ginástica sem estares em competição...
- Sabes bem que não, mãe. Outras poderão, não eu. As professoras iriam pressionar, porque não me querem perder. Eu ajudo a dar nome ao clube... Não. Não posso arriscar. Além disso, as aulas são iguais para todos, estejam ou não em competição, e deixa-me que te diga... são uma seca! Temos de treinar em silêncio completo, se nos distraímos ou rimos, gritam logo connosco. Não quero isso para mim! Só quero descontrair e divertir-me ao fim de um dia de escola...
- Mas se precisas assim tanto de fazer ginástica, temos de encontrar uma alternativa à ginástica rítmica.
Ela acalmou um pouco, perante os olhares espantados dos irmãos mais novos, que com o aparato, se tinham esquecido de fugir do "monstro". Ouvi o David a murmurar baixinho, abanando a cabeça com sabedoria: "Não entendo nada... Chora por fazer, e chora por não fazer..."
De repente, lembrei-me de uma conversa que tivera há alguns dias com uma amiga.
- Clarinha, disseram-me que no velódromo, ao mesmo tempo que há aulas de ginástica rítmica, também há de artística. É verdade?
- Sim, é. Mas iria ser a mesma coisa, mãe. Quando os treinadores vêem do que eu sou capaz, começam a pressionar.
- Contudo, disseram-me que tu já és demasiado crescida para começar competição agora, em artística. Disseram-me que o professor se concentra nos pequeninos, que vão trabalhar para competir, e vai ensinando os mais crescidos de forma descontraída, sem lhes dedicar demasiada atenção. No fundo, o que tu queres...
No dia seguinte, levei a Clarinha à sua primeira aula de artística. O professor disse-me que, a começar nesta altura do ano, só seria possível se a Clarinha soubesse fazer uma roda, um pino, uma cambalhota... Descansei-o. Depois expliquei-lhe que a Clarinha não tem espírito de competição, e que seria melhor não a abordar sequer sobre tal. Foi a sua vez de me descansar.
Quando a aula terminou, a Clarinha vinha radiante, e o seu sorriso iluminava.
- Então, Clarinha, gostaste?
- Adorei! Podemos conversar e rir enquanto treinamos. Já fiz amigas! Adoro ir ter com as meninas e apresentar-me: "Olá, sou a Clara." É tão bom conviver! O professor nem acreditava, quando eu lhe disse que aprendi a roda sem mãos sozinha, pela internet. Ia ensinar-me o flick, mas descobriu que eu já sei fazer dez seguidos. Na próxima aula ensina-me a fazer um mortal! Fiz uma aranha na trave e não tive medo. Não te preocupes: temos uma piscina de esponjas espetacular por baixo, se por acaso cairmos! - Atirou-se para o sofá, esgotada e feliz. E acrescentou: - Eu adoro ginástica, eu preciso de ginástica, mas a ginástica não é a minha vida. Nestas novas aulas tenho espaço para conversar, rir, descontrair enquanto treino, que é o que eu preciso ao fim de um dia de escola e estudo... Tive um sonho, concretizei-o, já é passado.
Tenho tido oportunidade de escutar a Clarinha a responder a quem lhe pergunta pelas suas razões de desistência. "Foi a professora?" "Ela não exigia o suficiente de ti, que podias dar mais?" "Ela exigia demasiado de ti?" "Ela era fria?" A resposta da Clarinha tem-me surpreendido: "Não, não saí por causa da professora. Saí por minha causa. A professora fez o que tinha de fazer. Eu é que não estava bem." E uma das maiores alegrias da Clarinha nos últimos dias foi um abraço e um sorriso da sua antiga treinadora (a que a acompanhava mais de perto), que no velódromo lhe estendeu os braços: "Clarinha, parabéns, tens imenso jeito para a artística! O importante é estares feliz."
Às vezes, na cama, a Clarinha chora um bocadinho com saudades das bolas, das fitas, dos arcos, das cordas. Também eu recordo, com alguma emoção, a alegria imensa da Clarinha durante o verão, quando, com o pai, fez a sua encomenda, pela Internet, da bola e da fita mais lindas do mundo, o cuidado que pôs na escolha, a festa que fez ao receber a encomenda... Depois, recordo-me da história de Lot e da sua mulher, habitantes de Sodoma, a cidade pecadora que o Senhor queria destruir. Conhecem o episódio? O anjo do Senhor foi enviado a Lot e disse-lhe:
"Foge, se quiseres conservar a tua vida. Não olhes para trás nem te detenhas em parte alguma do vale. Foge para o monte, de contrário morrerás." (Gn 19, 17)
Há passagens da Bíblia que só conseguimos entender quando vivemos a sua força. Esta é uma delas. De facto, às vezes é preciso partir sem olhar para trás, para não corrermos o risco de sermos transformados, como a mulher de Lot, numa estátua de sal. Ao longo da nossa vida, Deus irá desafiar-nos a abandonarmos tudo aquilo que nos prende ao mundo, incluindo - sim, incluindo - os nossos próprios sonhos. Porque, se não nos detivermos em parte alguma do vale, em breve alcançaremos o único monte que existirá para sempre, o Coração de Deus...
- Mãe, eu não quero mais fazer ginástica - A confissão da Clarinha apanhou-me totalmente desprevenida. Estávamos a falar de que, brevemente, teríamos de investir algum dinheiro num fato de ginástica, pois ela não podia continuar eternamente a competir com fatos emprestados. E estávamos a pensar num como prenda de Natal.
- Mas, Clarinha, o que aconteceu? Não é o que tu mais gostas de fazer?
A Clarinha desatou a soluçar. Eu sabia que ela tinha tido alguma dificuldade em se adaptar à nova treinadora principal (que orientava os treinos principais), mais fria e severa que a professora dos treinos normais, mas estava longe de imaginar tal coisa. Havia, claro, alguns sinais de mal-estar, como uma irritação excessiva nos dias anteriores às provas. E havia alguns comentários desta treinadora que me deixavam um nó no estômago, como por exemplo este: "As meninas que querem ginástica a sério têm de esquecer os tempos perdidos com missas, catequeses, coros e outras atividades", comentário que mereceu da Clarinha um encolher de ombros e uma gargalhada.
Quando, por fim, conseguiu falar, desabafou:
- Mãe, eu adoro ginástica, quer dizer, eu adorava ginástica, mas... Eu detesto competições! Eu não quero ir a mais nenhuma competição.
- E pode-se saber porquê?
- Passo o dia sozinha. Em grande solidão.
- Sozinha? Mas tu passas o dia inteiro rodeada de meninas, a treinar!
- Sim, e esse é que é o problema: estamos todas sozinhas, mãe! Cada qual está a treinar o seu esquema, e ninguém fala com ninguém... Eu bem tento sorrir, eu bem tento falar, perguntar o nome, saber o que mais gostam de fazer, saber a que escola vão ou qual a música que gostam de ouvir. Mas ninguém me devolve o sorriso... Ninguém fala comigo! É horrível!
E a Clarinha soluçou ainda mais. Abracei-a. Começava a entender.
- Clarinha, queres dizer que nas competições as meninas só estão a pensar em ganhar?
- Sim, mãe. Quando cheguei à última competição, a professora apresentou-me a uma menina da sua outra escola. Sabes como me apresentou? Não foi: "Olha, esta é a Clarinha". Foi: "Olha, chegou a tua competição".
- Que queria ela dizer com isso?
- Que eu e ela estávamos a lutar pelo mesmo lugar, claro.
- Mas eu pensei que as competições eram para cada uma se superar a si mesma, não para cada uma superar a outra.
- Também eu... E sabes o que me disse mais, quando acabei a minha prova?
- Sei, tu disseste-me na altura. Ela disse: "Tenho orgulho em ti!"
- Não, mãe, não memorizaste as suas palavras exatas, mas eu memorizei. Ela disse: "Tenho orgulho em te mostrar." É bem diferente!
Não era só o ambiente das competições que magoava a Clarinha. Era também o tempo dispendido com os treinos, e que a professora aumentava progressivamente. Mais horas de treino significavam, para a Clarinha, menos horas a fazer outras coisas também interessantes, como culinária, costura, guitarra, bandolim, brincadeiras com os irmãos, jantares em família. E a Clarinha não tinha a certeza de que o sacrifício valesse mesmo a pena.
A conversa prolongou-se por vários dias e vários treinos. Pedi à Clarinha que não desistisse sem ter a certeza de que o queria fazer. Assegurei-a do que ela já sabia: de que eu não tinha para ela qualquer sonho relacionado com a ginástica, que nunca me passara pela cabeça fazer ginástica ou ter uma filha ginasta, e portanto, ela não me desiludiria desistindo, antes simplificaria a vida de todos lá em casa. E dei-lhe espaço para chorar, pensar, decidir. Assim, durante as férias do Natal, a Clarinha ainda fez um estágio de um dia inteiro e uma competição. A última.
Finalmente, conversámos com a professora que a acompanhava nos treinos semanais, que foi extremamente compreensiva e ficou tão surpreendida quanto eu. Com muita elegância, procurou encorajar a Clarinha a continuar. Em vão.
- Clarinha, recebi um mail da tua professora, a dar-te os parabéns - Disse-lhe, quando uma tarde a fui buscar ao colégio.
- Parabéns porquê?
- Porque já sairam os resultados da tua última prova... Ficaste em quarto lugar, com uma pontuação de... 9000 pontos! O primeiro lugar teve uma pontuação de 10 250 pontos. Não ficaste longe!
Silêncio. Depois, a Clarinha começou a chorar baixinho. Deixei-a chorar, sabendo que no seu interior as cambalhotas eram muitas.
- Clarinha, não estavas à espera de tanto, pois não?
- Não.
- Sabes que podias chegar a um primeiro lugar um dia, não sabes? Na segunda divisão, claro...
- Sei. A professora disse-me.
- E queres mesmo desistir?
- Não estou na ginástica por causa do pódio.
A decisão estava tomada.
- Clarinha, podemos dizer que foi um final feliz, então! Terminaste em beleza!
Um sorriso. Definitivo.
A história da Clarinha não é, claro, a história de todos os meninos que fazem desporto de competição. Não quero, com estes posts, generalizar, nem sobre atletas, nem sobre treinadores, nem sobre clubes. No entanto, nestes dois anos descobri muita coisa que antes desconhecia por completo. Descobri, por exemplo, que são muitas as crianças que detestam as competições e os treinos exagerados que as precedem; que são muitos os treinadores interessados nos atletas como fonte de promoção pessoal ou do clube, e não enquanto pessoas; que é muito difícil resistir às lisonjeiras palavras dos treinadores, convencendo-nos de que a competição é o melhor para os nossos filhos; que são muitos os pais "treinadores de bancada", decididos a fazer dos seus filhos campeões olímpicos - porque se eu me queixo de que a professora exigia demais da Clarinha, outros pais, e relativamente à mesma professora, queixam-se precisamente do contrário... Nestes dois anos, descobri que, como diz o Livro do Eclesiastes,
"vaidade das vaidades, tudo é vaidade" (Ecl 1, 2)
Penso nos pais que impõem aos filhos atividades desportivas, musicais ou outras, sem se darem conta do cansaço que eles têm receio de exteriorizar, por medo de serem uma desilusão; penso nos pais que projetam nos filhos a realização dos sonhos que não conseguiram realizar, ou pelo contrário, a continuação da educação que receberam em pequenos; penso nos pais que não permitem aos filhos desistir - e me aconselharam a não permitir à Clarinha desistir - porque a adrenalina é uma vitamina que faz crescer.
Penso em Maria de Nazaré, que não percebia as escolhas do seu Filho, mas as aceitava como fazendo parte do grandioso mistério da sua vida e tudo guardava no Coração.
Possamos nós também escutar o que os nossos filhos nos dizem com as suas atitudes, os seus silêncios, as suas lágrimas, os seus risos... Só quando se sentirem escutados, sem julgamentos; só quando sentirem que não nos vão desiludir com as suas escolhas, eles irão abrir-nos o seu mundo interior para que entremos, pé ante pé, descalçando as sandálias porque o terreno é sagrado.
E entretanto, que aconteceu à Clarinha? Não, não ficou sentada no sofá... Olha quem! O final da história amanhã, se Deus quiser :)
A Clarinha tem catorze anos e frequenta o nono ano. Desde pequenina que a Clarinha manifestava um talento especial para ginástica. Com cinco anos, e sem qualquer treino específico, a Clarinha fazia rodas, pinos, espargatas e muito mais. Depois, quando no segundo ciclo teve acesso ao desporto escolar, a Clarinha começou a ocupar as tardes livres de quarta-feira (e só as tardes livres de quarta-feira), no colégio, com ginástica artística. Desafiando-se e superando-se a si mesma continuamente, a Clarinha aprendeu a fazer coisas que, a mim, nem em sonhos me ocorriam. Fazer ginástica assim, sem qualquer outro objetivo senão o superar-se a si mesma e o divertir-se, aproveitando ao máximo as possibilidades que o seu corpo treinado lhe permitia, era para a Clarinha uma fonte de alegria e de força interiores.
Para terem uma ideia das coisas que ela aprendeu a fazer, (re)vejam estes doze segundos de flicks, durante um piquenique na Irlanda, há dois anos atrás:
Entretanto, o professor de ginástica da Clarinha saiu do colégio. A Clarinha ficou desolada, pois mais nenhum professor, no colégio, tinha conhecimentos para a fazer evoluir.
Por outro lado, com o seu tablet a Clarinha tinha descoberto um outro tipo de ginástica que a encantava e a fazia sonhar: a rítmica. Na rítmica não se fazem mortais, nem flicks, nem barras, nem traves, mas dança-se com bolas, fitas, arcos, cordas, e fazem-se espargatas bem mais abertas que na artística.
Foi mais ou menos por esta altura que eu esbarrei com aquele cartaz, à entrada da minha escola: a dez minutos da nossa casa, iam pela primeira vez abrir aulas de ginástica rítmica. A Clarinha podia concretizar o seu sonho. Peguei num papel e num lápis e rabisquei um número de telefone, e ali mesmo, antes de entrar para a minha aula, fiz o telefonema que lançou a Clarinha na ginástica rítmica.
Quando cheguei a casa, não consegui conter a minha alegria:
- Clarinha, acabo de te inscrever... Clarinha, vão abrir aulas de ginástica no velódromo! Vais poder concretizar o teu sonho!
A Clarinha saltou de alegria. Depois parou:
- Mas, mãe, como vais fazer para me levar e buscar? Tu sempre disseste que as nossas atividades devem ser na escola ou perto de casa, para estarmos independentes... Tens os manos para tomar conta... Vais conseguir?
A Clarinha conhecia as nossas prioridades. Sabia que a sua ginástica iria perturbar o nosso ritmo de vida e nos iria obrigar a algumas acrobacias de logística e tempo. Mas nesse dia, a Clarinha também ficou a saber que, para nós, cada filho é único, cada filho tem as suas características e necessidades próprias, e em nome da sua felicidade pessoal, podemos fazer cedências, abrir exceções, dar algumas cambalhotas e, talvez, fazer alguns mortais.
Durante os dois anos seguintes, a Clarinha teve treinos duas ou três vezes por semana, ao fim do dia, e obrigou-nos a vários ajustes no nosso tempo de família, sobretudo por causa da oração familiar. Como costume, contámos com a colaboração dos amigos, partilhando boleias para os treinos. E tudo se fez.
A dada altura, a treinadora pediu a nossa autorização para a Clarinha entrar em competição, juntamente com várias outras meninas. Depois de me certificar que não iria ter mais do que três treinos de hora e meia por semana, nem ocupar mais do que cinco sábados por ano, aceitei.
Mal sabia eu que, assinando a entrada da Clarinha para o mundo da competição - em que, descobri mais tarde, o objetivo número um deixa de ser a alegria do desporto, para ser o pódio - eu estava a assinar o fim do seu amor pela ginástica. Mas isso fica para amanhã... Por hoje, deixo-vos com o vídeo da sua penúltima competição, em Dezembro:
Em julho passado, a professora de ginástica rítmica da Clarinha emigrou para a Alemanha, deixando as ginastas muito tristes. A federação tem tido alguma dificuldade em colmatar a falta desta professora, pelo que as aulas ainda não recomeçaram. Segundo fomos informados, recomeçarão no dia 1 de outubro.
Mas pode uma ginasta fazer uma pausa de dois meses? Claro que não: duas semanas de férias já equivalem a uma perda muscular significativa, quanto mais dois meses! A Clarinha sabe disso. Assim, durante todo o verão, fez para si própria um horário de treino intensivo e diário. Outro dia encontrei-a a treinar... com um quilo de arroz em cada perna:
Infelizmente, a ideia não foi assim tão luminosa: um dos pacotes de arroz rebentou, e o resto, teremos nós de imaginar - digo "nós", porque a Clarinha só me contou das suas aventuras depois de ter apanhado o arroz todo!
Quando a Clarinha treina em casa, raramente o faz sozinha. Reparem nesta foto:
- Conta até dez, Sara, para eu aguentar! - Pedia ontem a Lúcia, espargata aberta no chão da sala.
- Um, dois, tês, nove, quinze, dezasseis... - Contava a Sara, do alto dos seus três anos, muito séria. E depois, ainda mais séria, perguntou à irmã: - Já dói? Já dói?
A Lúcia e a Sara aprenderam que, nos treinos, é preciso aguentar alguma dor...
"É preciso dar até doer", dizia muitas e muitas vezes a Madre Teresa de Calcutá às suas missionárias. Tudo o que não for isso, é simplesmente um despejo de sobras.
A Clarinha adora entrar em competições e sonha em ser treinadora de ginástica. E eu delicio-me a admirar a sua técnica, o rigor dos seus treinos caseiros, a disciplina que impõe a si mesma e às suas pequenas atletas, a capacidade de aguentar a dor e de não desistir.
A mim, ninguém me apanha a fazer uma espargata, claro! Mas ontem, às seis da tarde, olhei para o relógio e lembrei-me de que ainda não fizera o meu quarto de hora de oração silenciosa. De que estava à espera para rezar? Do cansaço extremo da noite? Como a Clarinha, preciso de fazer para mim mesma um horário de "treino intensivo". Marquei quinze minutos? Pois serão quinze minutos, bem contados - e não como a Sara os contaria... Dói, encontrar esse tempo no meio da corrida de cada dia? Dói, mas se não doer, não estou a dar nada ao Senhor.
Diz Jesus no Evangelho:
"Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas." (Lc 21, 19)
Ensina-me, Senhor, a levar a sério o tempo que Te quero oferecer todos os dias! Do meu "treino diário" dependerá o sucesso das "competições" que preparaste para mim...
Quando o Senhor nos chama para orientarmos um Retiro Famílias de Caná, eu fico sempre cheia de curiosidade. Sim, curiosidade ante as surpresas que o Senhor nos reserva! Esta vida de missão tem-me revelado um Deus que nunca Se deixa vencer em generosidade. No Evangelho, Jesus disse:
"Quem der um copo de água fresca a um destes pequeninos por ele ser meu discípulo, não ficará sem recompensa." (Mt 10, 42)
Jesus não estava a brincar quando disse isto! Ele falava a sério. Na verdade, nos Retiros Famílias de Caná nós oferecemos aos pequeninos do Reino um pouco de água fresca, nas bilhas singelas da nossa vida; e que nos oferece Deus em troca? Amigos em todo o país e doses extra de felicidade!
É realmente giro escutar os mais novos a falar dos amigos que têm em Viana e na Raposa, em Almada e em Cascais, em Coimbra e em Proença; ou escutar o Francisco a conversar sobre cavalos com cavaleiros a sério, daqueles que o Francisco só via em filmes... e que agora são Famílias de Caná!
Bem, escutem então a surpresa deste nosso retiro:
A Clarinha foi para o Retiro de Proença a coxear, como se devem lembrar. Uma lesão nos ligamentos impedira-a de participar no espetáculo final do ano do clube de ginástica, arrancando à Clarinha muitas lágrimas e um sorriso de aceitação. Em vez de sessões de ginástica, a Clarinha passara a ter sessões de fisioterapia, mas a dor no joelho não cedia. E foi assim que chegámos ao retiro.
Ora quis a Providência Divina que uma das famílias participantes neste retiro - e que já conhecíamos do Retiro de Natal e do Retiro de Quaresma - fosse um casal de fisioterapeutas. O Tiago tem uma vasta experiência no trabalho com atletas de alta competição, bem como uma vasta experiência de ensino de fisioterapia como professor universitário. Enquanto caminhávamos da igreja paroquial para o seminário, depois da missa, fomos conversando, e lembrei-me de lhes falar da Clarinha.
- Terei todo o gosto em ver o que se passa com o seu joelho - Disse o Tiago, como se uma sessão de fisioterapia de alta qualidade, gratuita, no meio de um retiro fosse a coisa mais natural deste mundo.
Agradeci-lhe a generosidade, e depois do almoço, a Clarinha, de calças de ganga, deitou-se num dos bancos compridos do seminário. O Tiago manipulou o joelho da Clarinha através da ganga, durante algum tempo, sem recorrer a qualquer tipo de instrumento. Meia hora mais tarde, a Clarinha apareceu ao meu lado, com um sorriso de orelha a orelha:
- Mãe, estou curada!
Olhei para a minha filha sem conseguir falar. Como podia ser isso? Depois sorri, piscando interiormente o olho a Jesus, capaz de me surpreender a cada dia com a sua generosidade. E lembrei-me que o grande objetivo do retiro era encontrarmo-nos pessoalmente com o mesmo Cristo que passou na Galileia fazendo o bem e curando todas as doenças... Naquela tarde de domingo, como há dois mil anos atrás, Jesus passou e tocou a minha filha, devolvendo-lhe a saúde. Fê-lo através da generosidade e do talento de um outro seu filho muito amado, porque acima de tudo, Deus gosta de fazer os seus milagres através uns dos outros!
Ontem, a Clarinha regressou aos treinos de ginástica e às piruetas na praia. A sua felicidade transbordante encheu o meu coração de gratidão. Que o Senhor abençoe quem assim nos ajudou! E que o nosso coração seja sempre um coração agradecido. Ámen!
Há cerca de duas semanas, a Clarinha caiu mal durante um exercício de ginástica (em casa...), ficando com uma dor persistente no joelho. Durante vários dias, a Clarinha continuou a sua vida normal, embora com dor. Mas como não melhorasse, antes se sentisse cada vez pior, teve de ir a uma consulta de fisiatria. A resposta foi clara: a Clarinha tinha uma rotura de ligamentos e não podia fazer ginástica durante, pelo menos, três semanas. Estávamos em vésperas do grande espetáculo de final de ano, que há meses a fazia sonhar...
Na noite em que chegou a casa, depois da primeira avaliação do seu problema, a Clarinha chorou, e nós sentimos o coração partido. Sabíamos que ela precisava de deitar cá para fora toda a frustração de não poder participar no espetáculo da Menina do Mar, onde iria dançar como uma alga agitando-se nas ondas azuis.
Mas algumas horas depois, quando se foi deitar, as lágrimas já tinham dado lugar a um sorriso. Não terá sido um sorriso espontâneo, antes o sorriso treinado de quem está habituado a sofrer alguma dor para conseguir os resultados de beleza e ritmo de cada exercício. O sorriso que nasce na dor é certamente bem mais precioso do que o que nasce na alegria... Como Chiara Badano, em situação bem mais grave, também a nossa Clarinha precisava de aprender a dizer: "Tu queres, Jesus? Então eu também quero."
A ginástica foi substituída pela fisioterapia, os treinos por consultas de fisiatria e, para a semana, ortopedia. As férias da Clarinha prometem ser bem mais calmas do que esperávamos, ou pelo menos, com menos saltos e piruetas! A "bilha" do "Nós, Jesus" vai sendo cheia da água dos seus pequenos sacrifícios.
A vida, como o desporto, oferece-nos oportunidades contínuas de lidar com a frustração. Podemos desperdiçá-las, queixando-nos da sorte e resmungando de tudo e de todos; ou podemos agarrá-las com ambas as mãos, forçando um sorriso, oferecendo a Jesus a nossa dor e avançando, com humildade nova, no caminho que se nos abre.
Nestes dias, temos vindo a escutar, na primeira leitura da missa diária, a história de José, filho de Jacob, traído pelos irmãos e vendido como escravo para o Egito, e finalmente tornado poderoso administrador do faraó. Perdoando de coração aos seus irmãos, José faz esta afirmação:
"Vós planeastes fazer o mal contra mim. Deus, porém, teve em mente com isso um bem." (Gn 50, 20)
Na tarde do espetáculo, em vez de dançar no palco, a Clarinha tocou guitarra sentada no sofá da sala, enquanto os irmãos mais novos dançavam e batiam palmas. Escutando a sua voz alegre e forte, capaz de afastar para longe todos os fantasmas, eu pensava...
Educar os filhos é também ajudá-los a gerir o seu desapontamento e a sua frustração, acreditando que não há mal que Deus não possa transformar em bem, se lho entregarmos com confiança e humildade. Na vida, nem sempre os ventos nos são favoráveis - e ainda bem, pois o que faríamos nós com ventos favoráveis o tempo todo? Os aviões descolam sempre contra o vento...
- Meninos, preparem-se, amanhã vamos à praia!
- Viva!
- Urra!
- Uau!
- Vamos!
- E se chover?
- Se chover vamos na mesma! Estamos sempre a adiar o primeiro dia de praia, ou porque está frio, ou porque está chuva, ou porque não temos tempo. Amanhã não há nada que nos impeça de ir à praia. Portanto, podem sonhar com o mar esta noite!
O sábado amanheceu nublado e fresco, mas a decisão estava tomada. Levámos os cães connosco, calculando que a praia estaria suficientemente deserta para lhes permitir brincar sem incomodar ninguém, e durante a meia hora de viagem que nos separa do mar rezámos o terço, como costume. Ainda não eram nove e meia da manhã e já todos saltávamos na areia, felizes e animadíssimos.
Premiando a nossa confiança e ousadia, o sol decidiu espreitar, e num instante aqueceu a praia. Tanto, tanto, que os meninos passaram a manhã assim:
E para os nossos leitores mais novos irem treinando aí em casa (ou não!), dois vídeos, de oito e de cinco segundos:
Não chegaram a três horas de praia, mas foi tempo suficiente para encher de canções, gritos de excitação, palmas, saltinhos nas ondas, gargalhadas, corridas e abraços. A alegria, a serenidade e a sensação de perfeição prolongaram-se ao longo de todo o dia, e à noite, durante a oração familiar, todos agradeceram esta prenda que o Senhor nos ofereceu.
Quando olho as ondas do mar recortadas no céu azul e polvilhadas de gaivotas, penso sempre na eternidade. Eu sei que a eternidade me devolverá todo o tempo de felicidade que experimentei aqui na Terra, todas as gargalhadas e as brincadeiras partilhadas com o Niall e os meus filhos; e sei que me devolverá todas as gargalhadas e as brincadeiras que não tive tempo de partilhar com o Tomás... Em Deus, no seu amor infinito e perfeito, tudo se torna também infinito e perfeito. Cada instante de pura alegria que nos é concedido ou impedido experimentar nesta vida será multiplicado e tornado a multiplicar na eternidade... Confuso? Escreveu S. Paulo:
"Nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem o coração do homem pressentiu o que Deus preparou para aqueles que O amam..."
(1Cor 3, 9)
Se na Terra podemos experimentar tamanha felicidade, como será no Céu, Senhor?...
Como já contei, a Clarinha praticou ginástica artística no Colégio, como desporto escolar, até ao ano passado, altura em que finalmente abriu um clube de ginástica rítmica perto de nós, no Velódromo Nacional de Sangalhos. A Clarinha pôde assim concretizar o seu sonho e iniciar a competição em ginástica rítmica. Desde então, de aula em aula, de competição em competição, a Clarinha tem crescido como atleta e como pessoa. E com ela, todos temos crescido também!
Quando entrou para a ginástica rítmica, a Clarinha já fazia a espargata com muita facilidade. No entanto, um ângulo de 180º é pouco na ginástica rítmica. Assim, a professora ensinou a Clarinha a treinar a espargata apoiada num banquinho primeiro, depois em duas cadeiras. O treino é duro, mas eficaz: um bocadinho mais de cada vez, durante cinco ou dez minutos, aguentando alguma dor ou até limpando alguma lágrima fortuita, enquanto se põe a conversa em dia com as amigas, e a espargata vai abrindo...
- Eu nunca seria capaz de fazer a espargata - Digo-lhe eu muitas vezes.
- Eras, se treinasses - Responde-me a Clarinha. - Na ginástica estão algumas meninas que não conseguiam fazer espargata alguma, e agora já treinam com um banquinho. Um bocadinho mais de cada vez!
Um bocadinho mais de cada vez. Não apenas na ginástica, claro... "Um bocadinho mais" tornou-se o nosso lema no treino da santidade. É preciso treinar a generosidade, a oração, a renúncia, a vontade, a gratidão...? Um bocadinho mais de cada vez:
Hoje, fazemos quinze minutos de oração; amanhã, podemos fazer dezoito, e depois de amanhã, já conseguiremos fazer vinte minutos...
Hoje, rezamos um mistério do terço em família; amanhã, podemos rezar dois; em breve rezaremos o terço inteiro...
Hoje, levantamos a mesa sem que nos peçam; amanhã, levantamos a mesa e colocamos a louça na máquina; em poucos dias, somos capazes de arrumar a cozinha sozinhos...
Hoje, mordemos o lábio quando queremos responder a alguém que nos insulta; amanhã, um suspiro será suficiente; em breve seremos capazes de sorrir de volta a quem nos insultar...
Hoje, gerimos com facilidade dois filhos; amanhã seremos capazes de arriscar um terceiro; em breve deixaremos de ter medo de uma família numerosa...
Doi? Um bocadinho. Como a espargata. Nada que não se aguente...
Jesus deixou-nos este conselho no Evangelho:
"Se alguém te tirar a túnica, dá-lhe também a capa; e se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas." (Mt 5, 40-41)
No domingo, a Clarinha competiu nas distritais. A sua alegria, às seis da manhã, antes de sair de casa, era imensa! As distritais foram o culminar de um treino longo e intensivo, e a recompensa do seu esforço. Também nós vivemos um tempo de treino intensivo: a quaresma. Um bocadinho mais cada dia, e a Páscoa despontará finalmente, bela e luminosa, na nossa vida...
No sábado, a Clarinha teve a sua segunda competição de ginástica rítmica (a primeira, com vídeo, está aqui).
- Desta vez, adorava que tu me pudesses ver! - Disse-me. - O papá já viu, agora adorava que visses tu!
- Bem, eu também adorava ir. Onde é?
- Em Cacia. Achas que o papá pode dar a tua catequese e tomar conta dos manos durante a tarde?
- Claro que sim. Eu falo com ele!
Mas não foi preciso. O Niall já tinha decidido isso mesmo! Assim, no sábado, a Clarinha e eu almoçámos às onze da manhã, e ao meio-dia estávamos no pavilhão desportivo de Cacia.
Fazia muito, muito frio. O termómetro do carro marcava seis graus, e chovia. Dentro do pavilhão estava ainda mais frio; e também chovia em alguns lugares...Todos os pais comentavam a falta de condições, mas as atletas não pareciam minimamente preocupadas: com caras felizes, saltavam e repetiam os exercícios da prova. Eu regressei ao carro, onde pude ligar o ar condicionado e aquecer um pouco os pés, e fiquei a corrigir testes até à uma e meia, hora do desfile inicial. Depois regressei ao pavilhão, para me emocionar diante do milagre que estava diante de mim: a minha filha estava novamente a pisar o chão dos seus sonhos, indiferente ao frio que se fazia sentir, indiferente à certeza que tinha de não conseguir obter uma classificação muito alta (afinal ia competir com meninas que faziam ginástica há anos e anos...), indiferente ao júri sentado diante dela. Quando chamaram o seu nome e ela fez o movimento de resposta apropriado, senti as lágrimas a toldar-me a vista:
Depois do desfile, começou a competição. As meninas mais novas foram as primeiras a actuar. Uma a uma, música a música, deslizavam sobre o praticável, com sorrisos felizes. Olhei para o relógio: três horas... A tremer de frio, procurei encontrar um espacinho na bancada para colocar os meus testes, e continuei a corrigir. Uma turma de testes terminada, e a Clarinha continuava aos saltos no praticável de treino. Arrumei a turma de testes e retirei outra da minha mala. Sempre a tremer de frio, corrigi a segunda turma por completo, enquanto no praticável as meninas se sucediam, ao ritmo da música. Bolas, arcos, fitas, e muita beleza. Suspirei. Quando seria a vez da Clarinha? Duas turmas arrumadas, horas de abrir o computador e começar a escrever retiros, ensinamentos... E a Clarinha sem actuar. Seis horas...
De repente, alguém me faz um gesto: é preciso preparar a máquina fotográfica! A Clarinha já está a tirar a camisola, mostrando o seu fatinho azul... Levanto-me. É agora! Com um sorriso, a minha filha faz a sua prova com corda, e meia hora e muitas meninas mais tarde, fará novamente a prova de maças (uma espécie de pinos usados em ginástica). Para mim, pareceu-me perfeito, claro; para o júri, teve falhas; para a Clarinha, foi um momento de pura magia.
Quando terminou as provas, pensei que ia sentar-se um bocadinho e descansar: qual quê! "Vai treinar os exercícios que falhaste, Clarinha" Disse-lhe a professora, sorridente. E a Clarinha regressou ao praticável de treino para repetir, repetir, repetir... Olho para o relógio: será possível? Sete horas da tarde! Sinto os pés, as mãos e até o pensamento congelados.
Por fim, o dia termina. Há bolos e croissants para o lanche. A Clarinha suspira, feliz. Fez novas amigas, reviu caras já conhecidas da primeira competição, conversou, trocou ideias e descobriu novos movimentos. Eu também aprendi algumas coisas: conversando com as outras mães, já depois da actuação da Clarinha, descobri que há uma forma de saber a que horas as nossas filhas vão competir; e essa forma é... consultar o site! Viva, Teresa, descobriste o óbvio, mas mais vale tarde do que nunca!
A caminho de casa, no carro quentinho, a Clarinha a dormitar a meu lado, vou pensando... Estar ao frio durante sete horas, para ver duas actuações de um minuto e meio cada, foi o preço a pagar pelo imenso amor que tenho à minha menina. Foi difícil? Foi... Voltava a fazê-lo? Claro! É normal fazer isto por um filho? Normalíssimo! Não tem nada de mais...
Por sua vez, a Clarinha também teve um preço a pagar pelo seu imenso amor à ginástica: trabalhou durante sete horas no duro, repetindo e repetindo, e tornando a repetir os mesmos gestos. Foi difícil? Foi... Voltava a fazê-lo? Claro! Foi a única? Não: todas treinavam com o mesmo afinco. Não tem nada de mais...
E quando chega a hora de trabalhar pelo Senhor? Custa, levantar cedo para ir à missa ou para rezar? Custa, perder uma tarde de sábado para visitar os velhinhos ou os doentes, ou ir à catequese? Custa, enfrentar o confessionário? Custa, dar um pouco de tempo para servir os outros, na paróquia ou no bairro? Claro que sim! É normal fazer isto pelo Senhor a quem amamos? Normalíssimo! Não tem nada de mais...
Diz-nos o Senhor no Evangelho:
"Quando fizerdes tudo o que vos foi mandado, dizei:
'Somos servos inúteis. Fizemos apenas o que tínhamos de fazer.'"
(Lc 17, 10)