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Descer para subir

por Teresa Power, em 06.06.15

Quando vou a Fátima, nunca deixo passar a oportunidade para me confessar. Não é porque tenha dificuldade em o fazer na minha terra, mas porque não consigo olhar para a escadaria que me leva ao confessionário sem me sentir chamada a descê-la...

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Lá em baixo, uma fonte belíssima onde as pombas brancas gostam de beber recorda-me as águas do Jordão, onde Jesus foi batizado:

 

"Tendo Jesus sido batizado, e estando em oração, o Céu rasgou-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em Ti pus todo o meu agrado.»" (Lc 3, 21.22)

 

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O som da água a borbulhar no abismo e o céu azul de Fátima contra o branco do santuário são suficientes para acordar esta necessidade intensa de purificação, de regresso à pureza da veste branca do meu batismo.

Desço, porque preciso de me humilhar diante do sacerdote, nomeando um a um os meus pecados, que tanto me envergonham e que tão importantes são para me fazerem entender o nada que eu valho.

Desço e, sob a terra, numa suave penumbra e num doce silêncio, peço perdão.

Então sim, Jesus estende-me a mão e diz-me com amor e com autoridade, como disse um dia ao paralítico, à menina morta, ao filho morto da viúva, ao cego, e a tantos outros com quem se cruzou na Galileia, na Judeia e na Samaria:

 

"Levanta-te!" (ex: Lc 7, 14)

 

E eu levanto-me, e regresso à Luz, e subo degrau a degrau, cheia de transbordante alegria, a escada que me devolve ao céu azul de Fátima e do amor de Deus...

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Cá em cima, as pombas continuam a brincar ao sol.

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Bem dizia S. João da Cruz: Para Deus, sobe-se descendo...

Senhor Jesus, quantas graças Te quero dar pelo sacramento da Confissão!

 

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publicado às 06:23

Humildade e gratidão

por Teresa Power, em 12.03.15

Num destes domingos passados, na Eucaristia, tivemos uma surpresa: o senhor Martins, irmão salesiano, despediu-se de nós. Irá passar o tempo final da sua vida na casa de repouso que os salesianos têm perto de Lisboa, pois a idade já não lhe permite cumprir a rotina diária da casa de Mogofores.

O senhor Martins tem noventa e dois anos, um sorriso magnífico, e um carinho imenso para partilhar com todos os que dele se acercam. Foram noventa e dois anos ao serviço do Senhor! Nunca o vi triste, desiludido, ou dando mostras do cansaço que deve sentir. Nunca me aproximei do senhor Martins sem regressar mais cheia de Deus. Quando o conheci, há oito anos atrás, lembro-me de pensar: "Este senhor, quando morrer, vai direitinho ao Céu!" E tenho a certeza de que assim será.

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Custa-me imaginar o Santuário sem o senhor Martins, sem o seu sorriso tão bonito, sem os seus gestos tão profundos no serviço do altar, sem o carinho que sempre oferecia às crianças e os conselhos que gostava de nos dar. Enquanto o escutava, não consegui evitar que as lágrimas me molhassem os olhos.

Mas o que mais me comoveu no seu discurso de despedida foi a imensa lista de agradecimentos que o senhor Martins nos apresentou. Em vez de nos relembrar a sua obra, feita dia a dia com tanto esmero, o senhor Martins usou o seu "tempo de antena" para nos recordar todas as pessoas, sacerdotes ou leigos, que foram passando pelo Santuário durante a sua vida. Recordou as senhoras da limpeza e os diretores do colégio, as cozinheiras e os professores. De ninguém se esqueceu, e a todos se referiu com imensa gratidão. Lembrei-me do salmo:

 

"Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios." (Sl 103/102)

 

A gratidão nasce no solo fértil da humildade. Quem não é humilde, pensa sempre que tudo lhe é devido e queixa-se do que não recebe. A humildade, pelo contrário, torna-nos gratos, porque nos damos conta de que nada merecemos do bem que recebemos. 

Senhor, que eu saiba agradecer! Senhor, que eu saiba contemplar o teu amor naqueles que me rodeiam e nos gestos simples de serviço que neles descubro... Senhor, se algum dia eu vier a ter noventa e dois anos, que sejam noventa e dois anos de humilde gratidão! Ámen.

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publicado às 06:23



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