Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Segunda-feira começou o mês de maio, e com ele, o mês de Maria.
- Mãe, temos de levar uma flor para Nossa Senhora! - Lembravam os meninos ao sairmos para a escola.
- Sim, vamos ter oração no pátio!
- É tão bom quando temos oração no pátio!
Chegámos ao colégio pelas oito e vinte da manhã, como costume. A manhã estava quente e, pela primeira vez este ano, os meninos iam vestidos com saias ou calções. No ar cheirava a primavera. No pátio do colégio, as crianças e os jovens estavam já agrupados por turmas, em silêncio, e a diretora do colégio, a Irmã Idalina, falava de Nossa Senhora e da forma digna como esperava que este mês fosse vivido. Aproximei-me para escutar e para rezar uma Avé-Maria em conjunto com toda a escola que escolhi para os meus filhos.
Entretanto, no edifício da creche e do pré-escolar, a excitação era muita: os meninos preparavam-se para fazer a sua homenagem à Mãe do céu e à mãe da terra, cantando e rezando. A homenagem do Dia da Mãe acontece, já há alguns anos, na primeira segunda-feira de maio, logo às nove da manhã, para não atrasar a vida das mamãs. Eu consegui trocar as duas primeiras aulas da manhã e, assim, ficar disponível para assistir a esta breve homenagem.
Concluída a oração no pátio, os mais velhos subiram para as suas aulas. Eu tinha cerca de vinte minutos livres até à homenagem dos mais novos, às nove horas. Como ocupar o tempo? Da forma que o faço sempre, ali no colégio, quando tenho de esperar por alguma reunião de pais ou algum espetáculo dos alunos: dirigi-me à capela e rezei. Que graça que é ter uma capela na escola! Em silêncio, agradeci à Mãe este dom.
Nove horas. A Sara e o António, com as suas batas vestidas, procuraram-me com o olhar e, logo que me viram, acenaram-me. Depois cantaram canção após canção, intercalando o tema da Mãe do Céu com o da mãe da terra. Não faltou o Avé de Fátima, nem o Quero ser como tu, Maria. Nas faces da maioria das mães - mesmo aquelas que, como eu, há muitos anos escutam as mesmas canções e são homenageadas da mesma forma - corriam grossas lágrimas de emoção.
Eram dez horas quando, por fim, cheguei à minha escola. Já muitos amigos e colegas me perguntaram, ao longo do tempo: Por que razão não tenho eu os meus filhos comigo no Agrupamento de Escolas de Anadia? Porque não acredito na qualidade do ensino da minha escola? Porque tenho medo das influências dos alunos problemáticos? Por causa da diferença de posicionamento no ranking? Hoje, depois de conhecer ambas as escolas e várias outras pelo país, talvez algumas destas razões tenham o seu peso. Mas a razão principal e, na altura, única que me levou a escolher o Colégio foi esta: o Niall e eu queríamos uma escola católica para os nossos filhos. Esta razão foi suficiente para nos fazer mudar de casa, de Aveiro para Anadia. Em Aveiro há muitas e belas escolas, com ótimos professores e bem posicionadas no ranking (que vale o que vale); mas não há uma única escola católica.
As escolas com contrato de associação são a oportunidade que os pobres e as famílias numerosas de classe média têm de escolher a escola dos seus filhos. Os ricos têm muitos colégios à disposição, claro. As ordens religiosas que se dedicam ao ensino e várias outras instituições laicais têm ótimos colégios em muitas cidades do país para os que podem pagar propinas. Mas não terão os pobres e as famílias numerosas de classe média direito a escolher, de igual modo, a escola dos seus filhos? São estes os valores socialistas de igualdade? "Se queres uma escola diferente da estatal, terás de pagar", ouço dizer frequentemente. Porquê? Onde é que diz na lei que os meus filhos são obrigados a frequentar o ensino laico, estatal, igual para todos? Que mania é esta agora, num mundo cada vez mais plural e diversificado, de obrigar todos os alunos - que não possam pagar - a entrar no mesmo molde e receber o mesmo estilo de educação? Será que igualdade é uniformidade? Subsidiar uma escola já existente, com ótimas instalações suportadas na sua maioria por ordens religiosas autónomas, com corpos docentes estáveis e ótimos resultados escolares parece excessivo ao Estado? Será que fica mais barato ao Estado construir mega-escolas de raiz, empenhando milhões de euros?
Claro que por detrás de tudo isto não estão os fatores económicos nem de sucesso académico, pois as evidências em contrário são muitas: por detrás de tudo isto está o ódio que o mundo tem a Jesus. Já O crucificámos, já Lhe imobilizámos as mãos e os pés com pregos, e Ele continua a incomodar tanta gente...
"Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, Me odiou a Mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Se Me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir a vós." (Jo 15, 18-20)
Se os contratos de associação terminarem, como o governo agora deseja, teremos de retirar os nossos filhos do colégio que escolhemos para eles, há quinze anos atrás. Segunda-feira, naquele pátio, sob aquele sol de primavera, escutando aquela Avé-Maria, percebi que tinha vontade de chorar.
Já assinaram as petições pela liberdade de escolha?
- David, hoje vais ter um encontro nos Salesianos. Tens aqui o lanche para partilhares com os teus amigos.
- Achas que os meus amigos vão estar lá?
- Alguns, seguramente! E será uma grande oportunidade para fazeres novos amigos. Vamos, que já são horas!
O David saiu para o seu encontro de crianças e pré-adolescentes, entusiasmado e cheio de expetativa. Ainda eu lhe dizia adeus à porta, e já a Clarinha perguntava:
- Mãe, vens comigo esta noite ao concerto-oração? Gostava tanto que fosses tu a acompanhar-me!
Conhecem as músicas da Claudine Pinheiro? Se ainda não, procurem no Youtube algumas, para escutar, porque vale mesmo a pena! A Claudine é leitora deste blogue quase desde o primeiro momento. Já nos encontrámos algumas vezes, não só nos encontros do E-vangelizar, mas também para fazer um belíssimo piquenique, no verão passado. Recordo com saudade os belos momentos que partilhámos no "nosso" lago no Caramulo. Sábado à noite, a Claudine teve mais um momento divino da sua magnífica missão de evangelização através da música. Por mail, convidou-nos a estar presentes, visto ser apenas a trinta quilómetros da nossa casa.
- Vens comigo, mãe? - A Clarinha mal podia esperar pelo concerto.
- Claro que vou. Anda, ajuda-me a arrumar esta casa!
O David regressou a casa ao fim da tarde, feliz, suado, transbordante de alegria.
- Estivemos na barriga da baleia, mãe!
- Da baleia? Qual baleia?
- Aquela que engoliu Jonas! Nem imaginas: o ginásio era a barriga da baleia, e para entrarmos tínhamos de passar pelos seus dentes, a sua boca aberta, bem desenhada na porta. Foi tão giro! E brincámos nos insufláveis. E vimos um filme. E rezámos, cantámos e fizemos muitas coisas!
- Muitas coisas?
- Muitas. Olha, havia uma pizza gigante para comer! Deliciosa! E trago presentes. Livros, postais...
Pouco depois, a Clarinha e eu saíamos para o concerto, rezando juntas o terço na meia hora de viagem. Foi a nossa vez de ficarmos deliciadas, coração cheio, lágrimas nos olhos. A Claudine não canta só com a voz maravilhosa que Deus lhe deu: canta com o sorriso, com os olhos, com os braços abertos, amplos, estendidos, com os gestos, com o coração. E o Miguel toca guitarra com a alma toda a sair-lhe pelos dedos. Não há palavras para descrever tamanha beleza! A pequena igreja paroquial de Valmaior estava cheia, e os aplausos foram sinceros e sentidos.
Domingo de manhã foi dia de primeira comunhão, na nossa paróquia. Vestidos brancos, coroas de flores, velas acesas, crianças. Crianças expectantes, de sorrisos nervosos, de olhar límpido. Jesus que vem e que desce a cada coração pela primeira vez. Ah, o primeiro beijo... A igreja está cheia, os adultos fazem algum barulho e há certamente muita dispersão da atenção. Mas nos corações infantis daqueles meninos e daquelas meninas, o Amado foi recebido num silêncio que nada nem ninguém conseguiu perturbar.
Depois do almoço, o grupo de discernimento vocacional Monte Horeb, de Barcelos, veio a nossa casa. A Paula conheceu-nos a partir deste blogue também quase desde o início, e desde então já nos encontrámos várias vezes, incluindo num retiro Famílias de Caná, em Castelo de Neiva. Como orientadora deste grupo, quis oferecer aos jovens a oportunidade de conhecer o dia-a-dia e a vida de fé de uma família católica, como exemplo possível de vocação matrimonial. Que grande festa foi o nosso encontro! Conversámos a tarde inteira, lanchámos em abundância, cantámos, vimos a magia do Francisco, brincámos com os novos gatinhos e, por fim, rezámos, ao ritmo natural que tem a oração familiar na nossa casa.
Caiu a noite... Já deitada, enquanto faço o meu exame de consciência, revejo os acontecimentos e a festa deste fim-de-semana: o encontro catequético do David, o concerto-oração com a Claudine, a missa festiva, os jovens do Monte Horeb... Encontros paroquiais, encontros de famílias, encontros virtuais que, pouco a pouco, se tornam reais e acontecem em Igreja...
Comunidade. Ser cristão é sempre, sempre, ser comunidade. Somos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e vivemos este sentido trinitário, comunitário, desde o primeiro instante de Igreja. Ninguém é cristão sozinho, porque em Jesus, todos formamos um único corpo, o Corpo Místico, onde todos nos tornamos membros uns dos outros.
Nestes dias pascais, a Igreja tem como leitura favorita os Atos dos Apóstolos, recheados de histórias e aventuras comunitárias. Aí lemos que, apesar de todos os problemas e pecados das primeiras comunidades - tão semelhantes aos problemas e pecados das nossas, e das de todos os tempos - os primeiros cristãos eram já imagem e semelhança deste Deus Trinitário, este Deus-Comunidade:
"A multidão dos que tinham abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles." (At 4, 32-33)
Que o Senhor nos ajude a fazer, cada vez mais, comunidade, uns com os outros, em Igreja, nas nossas casas, nas nossas paróquias, nos nossos movimentos, na Internet... Ámen!
Quando regressámos do Gerês, demos início aos trabalhos de manutenção da nossa casa, que já estavam projetados desde o verão passado. Uma casa onde vivem oito pessoas, algumas bastante turbulentas, tem sempre muito onde nos entretermos!
Primeiro foram os longos dias de pintura da nossa casa. Se até este mês achavam que ela era cor-de-rosa, o que dirão a partir de agora? Ah, parece nova!
No início, todos quiseram ajudar:
Depois, o pai pediu-me encarecidamente que continuasse a levar a família à praia e o deixasse trabalhar... E assim foi: partíamos de manhã, e pela hora de almoço já estava mais uma parede inteira pronta! Durante a tarde, com um pouco de sorte, o Niall tinha a ajuda do Francisco e da Clarinha:
Graças ao Francisco, temos agora a chaminé mais cor-de-rosa de Mogofores e arredores :)
Entretanto, também no interior da nossa casa se trabalhou arduamente. Ninguém ultrapassou a Sara em vontade de trabalhar!
O David teve direito a duas estantes novas, que o Francisco montou:
Digam lá se não está bonito o seu "espaço privativo" dentro de um quarto para três?
Uma das maiores bênçãos de sermos família é podermos trabalhar em conjunto na edificação da nossa vida comum. Bem mais importante do que ter uma casa pintada ou uma sala aspirada é podermos fazê-lo juntos, ajudando-nos uns aos outros. É importante que as crianças aprendam desde muito cedo que a casa é de todos, e que todos precisam de trabalhar para a manter de pé. É importante que os mais velhos descubram a alegria de ajudar os mais novos, prestando-lhes pequenos serviços, e que os mais novos aprendam imitando os mais velhos. Nada nos aproxima mais do que a partilha das dificuldades e das tarefas quotidianas!
A Casa de Deus não é muito diferente... Também a Igreja precisa de ser edificada por todos, partilhando tarefas e dificuldades, aprendendo uns com os outros, servindo-nos uns aos outros. Escreveu S. Paulo:
"Já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito." (Ef 2, 19-22)
Ainda não nos sentimos parte da família? Um novo ano pastoral está à porta... Arregacemos as mangas e ofereçamo-nos para o trabalho na paróquia e nos diferentes apostolados que nos cativam. Integremo-nos na construção do templo santo do Senhor, sem medo de "estragar a pintura", porque ninguém é demasiado novo ou demasiado velho para a tarefa. E experimentaremos a alegria imensa que é sermos família de Deus...
O dia 15 de agosto é sempre um dia de grande festa para nós - ou não fosse ele o dia da glória da nossa Mãe! E só os filhos que não se sentem amados não festejam as glórias das suas mães. Quando se discutia a diminuição do número de feriados nacionais, o nosso saudoso D. José Policarpo foi muito claro: "Nos dias santos marianos não vamos tocar!" Mãe é mãe.
Por isso, faz-me sempre muita confusão quando, vestidos de festa, cheios de expetativa e de alegria, entramos na igreja em dia 15 de agosto e a encontramos praticamente vazia. Claro, muitas pessoas estão de férias... Mas estarão as igrejas nos locais de férias particularmente cheias? Onde está a alegria da festa mariana?
Ser católico é, acima de tudo, ter a graça de nos sabermos família - família que tem no céu um Pai e uma Mãe. E as famílias gostam de se reunir, para celebrar datas especiais, na casa de família, na casa paterna. É aí que, nas grandes datas, os filhos casados se encontram com os irmãos, os cunhados, os primos, os sobrinhos, os tios, e os pais se alegram com os frutos do seu amor. Assim, não há melhor forma de celebrar os dias santos de Maria do que reunirmo-nos na Casa de Família, a Igreja, em clima de festa e gratidão!
Na véspera do dia 15, fizemos os possíveis por preparar esta grande festa. Começámos por nos confessar no santuário. O senhor padre teve a gentileza de nos confessar "em série" e de esperar pacientemente que o António tirasse os patins ou o David descesse da trotinete para a sua confissão. Só a Sara, que ainda não fez três anos, não se confessou - e olhem que não foi por falta de tentativas da sua parte, pois não há nada que os irmãos façam que ela não imite a seu jeito!
Depois, preparámos o nosso Canto de Oração com as cores marianas. Na verdade, o dia 15 de agosto é apenas o começo de uma série de festas marianas: dia 8 de setembro teremos o aniversário de Nossa Senhora, e durante todo o mês de outubro teremos o mês do rosário. Assim, o Canto de Oração fica bem caracterizado para estes próximos meses. Que vos parece?
Finalmente, na Eucaristia de dia 15, cantámos os louvores de Maria na companhia das poucas famílias que aí se reuniram também.
No Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, há uma imagem belíssima de Nossa Senhora "em saída", pronta a visitar as nossas casas como visitou Isabel, há dois mil anos atrás. No final da Eucaristia, cantando, convidámos Maria a vir connosco:
"Vem vem connosco a caminhar, Santa Maria vem!"
Uma das três Famílias de Caná que participaram na Eucaristia foi a família da Olívia e do Álvaro, que fizeram duas horas de viagem para passarem o dia connosco. Assim, durante a tarde, as crianças puseram a brincadeira em dia, os adultos a conversa, e claro, como sempre que duas Famílias de Caná se encontram, rezámos o terço, em honra da nossa Mãe e Rainha, neste dia em que o céu inteiro festejava.
O dia foi tão bom, a oração tão bela, o convívio tão simples, que por várias vezes me lembrei do Cântico de Maria, o Magnificat, escutado na missa da manhã:
"A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador!
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva,
de hoje em diante me chamarão Bem-Aventurada
todas as gerações!
O Todo Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome!"
(Lc 1, 46-49)
Maria tem esta forma tão própria de unir em oração as famílias e os amigos, criando comunidade ao redor do terço. À noite, quando me deitei, agradeci-lhe com sinceridade a graça de permitir aos meus filhos crescerem em família de famílias, como certamente Jesus cresceu em Nazaré... Não são precisamente isto, as Aldeias de Caná?...
Num dos cruzamentos da estrada nacional, que todos os dias percorro, esteve durante toda a semana passada esta bela tenda branca:
Há quatro décadas que os peregrinos de Fátima encontram aqui uma sombra fresca, água abundante e os primeiros socorros necessários, especialmente todo o cuidado dos pés e das pernas. Os bombeiros de Anadia e outras pessoas de boa vontade disponibilizam-se todos os anos para este trabalho tão bonito e necessário de serviço aos peregrinos, e a tenda branca levanta-se na estrada como símbolo concreto e real do amor cristão. Na verdade, ao ver os peregrinos descalços, com os pés dentro de bacias de água, e os voluntários ajoelhados a seu lado, tratando as bolhas dos seus pés, não pude senão lembrar-me das palavras de Jesus:
"Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros."
(Jo 13, 14)
Pensei também na parábola do Bom Samaritano:
"Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele." (Lc 10, 33-34)
Foram estas imagens do verdadeiro amor cristão que inspiraram naturalmente o Papa Francisco e oferecer-nos uma imagem da Igreja - uma imagem nova, mas antiga, tão antiga quanto o Evangelho:
«Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo».(Entrevista à Revista Brotéria, Setembro 2013)
“Essa é a missão da Igreja, que cura e cuida. Algumas vezes, eu falei da Igreja como um hospital de campanha. É verdade: quantas feridas há, quantas feridas! Quanta gente que tem necessidade de que suas feridas sejam curadas! Essa é a missão da Igreja: curar as feridas do coração, abrir portas, libertar e dizer que Deus é bom, que perdoa tudo, que é Pai, é terno e nos espera sempre”. (Homilia de 5-2-15)
A tenda branca à beira da estrada, os peregrinos a caminho de Fátima...
A Igreja à beira da estrada da vida, e cada um de nós, peregrino a caminho da verdadeira Pátria...
Não tenhamos receio de nos aproximar da Igreja, de descalçar os sapatos e de deixar que nos cuidem das feridas. Não hesitemos em estender a mão para receber o alimento, beber da Água da Vida, recuperar as nossas forças! Os sacramentos que Jesus nos deixou são os remédios mais eficazes para quem peregrina pelas estradas da vida.
Depois, assim curados e alimentados, sejamos também nós capazes de nos ajoelhar diante do irmão e de lhe lavar os pés...
Há cerca de um mês, fui fazer dois ensinamentos num retiro para pais de meninos da catequese, no seminário de Santa Joana, em Aveiro. O convite veio de um casal de leitores do blogue, catequistas na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no Mamodeiro, uma terra perto de Aveiro. Aceitei com gosto, e regressei ainda mais feliz, ao ver o trabalho lindo de evangelização que a Jacinta e o Luís têm feito. Nesse dia, prometi-lhes que em breve entraria na sua igreja paroquial, situada à beira da estrada nacional entre Aveiro e Mogofores. Há anos que passo por ela sem nunca lá ter entrado!
Na quinta-feira passada aproveitei a tarde sem trabalho na escola e fui a Aveiro, visitar a minha avó. De regresso, no carro, vinha a pensar em qual seria a melhor citação bíblica para escrever nos postalinhos da primeira comunhão do David e do Crisma do Francisco. Tinha para cada um deles uma imagem do Cristo Jovem, e queria que a citação fosse apropriada. Ocorreu-me uma das minhas frases favoritas de S. Paulo:
"Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim." (Gl 2, 20)
E ainda outra, tão apropriada a este encontro profundo com Jesus nos sacramentos:
"Todos nós, com a face descoberta, refletimos a glória do Senhor como um espelho, e somos transformados nessa mesma imagem, cada vez mais gloriosa, por ação do mesmo Senhor, que é Espírito." (2Cor 3, 18)
Vinha eu assim a meditar, quando vi que passava junto da Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Num impulso, e recordada da minha promessa, parei no estacionamento, decidida a rezar cinco minutos diante do Santíssimo. Ao sair do carro, tirei esta fotografia:
Qual não foi o meu desânimo ao ver que a porta estava trancada... Preparava-me para regressar ao carro, quando alguém se me dirigiu:
- Queria entrar?
- Sim, gostaria de rezar cinco breves minutos diante do Senhor - Expliquei à simpática senhora.
- Então venha, que eu sou catequista e tenho a chave! Também posso gastar cinco minutos a deixá-la rezar - Respondeu-me, enquanto abria a porta. - É a primeira vez que aqui vem? Ah, então vou mostrar-lhe a nossa igreja, que é tão bonita!
E é mesmo! Fiquei profundamente encantada. Mas mais belo que tudo, é o crucifixo sobre o altar. Nunca tinha visto nada igual! Ora reparem:
Sim, o Corpo de Jesus, suspenso na Cruz, é feito de múltiplos espelhos, e a luz nele refletida é a luz que entra a jorros pelas janelas superiores da igreja.
- Se caminhar pela coxia central, ver-se-á refletida no Cristo Crucificado - Explicava-me a catequista, enquanto na minha mente se misturavam as duas citações bíblicas em que eu refletia pelo caminho.
Diante da Cruz, na coxia central da igreja, tirei esta foto. Conseguem ver-me, refletida no Corpo do Senhor?
- Quando entramos na igreja, vamo-nos vendo refletidos no Corpo de Jesus - Continuava a catequista - Depois, durante a missa, todos nos podemos ver uns aos outros, refletidos na Cruz. Eu posso ver o meu irmão que está sentado no banco mais distante através do espelho de Jesus.
Quando a catequista me deixou só, para os meus cinco minutos - já bastante encurtados - de oração, caí de joelhos numa explosão de alegria. Meu Deus, acabava de encontrar o símbolo perfeito para a minha oração contínua: "Nós, Jesus!"
"Uma vez que há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão." (1Cor 10, 17)
Comungar o Corpo de Cristo, na Eucaristia, e receber o Espírito da Unidade, no crisma, faz de nós participantes da vida de Jesus.
Pouco a pouco, cristificamo-nos, adquirindo os mesmos traços de Jesus, sorrindo como Ele sorria, amando como Ele amava, sofrendo como Ele sofria. A nossa vida, como o véu de Verónica ou o espelho de Paulo, torna-se reflexo do nosso Amado, que em nós vive, ama e sofre. Nós, Jesus!
Pouco a pouco, a Palavra de Deus, feita carne no Amor até ao fim da Cruz de Jesus, torna-se o espelho que nos permite contemplar a nossa própria vida. Cada um dos nossos gestos precisa de ser confrontado com a Cruz do Senhor. Nós Jesus!
E quanto mais nos unimos a Cristo, comungando o seu Corpo e recebendo o seu Espírito, mais nos unimos aos irmãos - ao marido ou à mulher, à família, à paróquia, aos amigos, ao mundo inteiro. Na Cruz de Jesus podemos encontrar todos os irmãos em Cristo, por muito distantes que vivam, no tempo ou no espaço, em qualquer periferia da vida, como gosta de dizer o nosso querido Papa Francisco. O Corpo de Jesus somos todos nós. Nós, Jesus!
Nós, Jesus: Tu e eu, eu e a minha família, a minha família e a Igreja, Tu e o mundo inteiro: a verdadeira comunhão, aquela pela qual Tu rezaste ao Pai antes de partires, só pode acontecer quando todos nos refletirmos na tua Cruz, e a tua Cruz se refletir em todos nós. Ámen. Aleluia!
Intervalo da tarde. Sala de professores. Ao balcão, peço um copo de água, que uma hora com a turma Vocacional deixou-me com a garganta a doer. A meu lado, uma outra professora toma um chá de limão.
- Que chá delicioso!
- Claro, fi-lo com os limões do meu quintal - Explica a funcionária, sorridente.
- Deve ter um belo limoeiro!
- Tenho sim. É um limoeiro abençoado...
- ?
- Eu explico. A minha casa fica ao lado da capela da aldeia. É a capela da padroeira, e é tão linda! Mesmo em frente do sacrário, fica uma janelinha, e a luzinha vermelha do sacrário brilha através dessa janela. O meu limoeiro cresce iluminado por essa luz abençoada... De tal forma, que quando quero apanhar um limão à noite, nem preciso de acender a luz no jardim: a luz do sacrário é suficiente!
Crescendo à luz do sacrário, o limoeiro desta simpática funcionária da minha escola tornou-se forte, dando frutos saborosos, belos e abundantes... Enquanto caminhava para a minha próxima aula, dei comigo a comparar-me com um limoeiro, e sorri sozinha. Como é importante crescer perto do sacrário! Depois pensei que talvez não esteja a deixar-me iluminar pelo sacrário tanto quanto devia... Talvez os meus frutos ainda não sejam doces e abundantes, por lhes faltar a luz divina - não a luzinha vermelha que aponta para o sacrário, mas essa luz verdadeira que irradia do Pão, essa luz verdadeira que irradia da Carne de Jesus, que por nós morreu e ressuscitou, e por nós permanece vivo no sacrário de cada igreja, por mais pequena, humilde ou esquecida que seja...
Preciso de expor a minha vida mais vezes a esta luz que santifica, perdoa, cura, liberta, converte. É urgente fazer a experiência de Simeão, que ao olhar para o Menino recém-nascido, nos braços de Maria, deixou a Luz entrar a jorros na sua vida:
"Agora, Senhor, segundo a tua Palavra,
deixarás ir em paz o teu servo,
porque os meus olhos viram a Salvação
que ofereceste a todos os povos,
Luz para se revelar às nações
e glória de Israel, teu povo."
(Lc 2, 29-32)
Afinal, é esta Luz divina que hoje celebramos, no dia da Apresentação do Senhor, ou dia de Nossa Senhora das Candeias...
(Sacrário do Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, com o reflexo do vitral que fica no lado oposto.)
Turma de Curso Vocacional. Vinte rapazes e raparigas que não gostam da escola. Entro na sala, e levo quase dez minutos a conseguir que todos se sentem nas carteiras. Depois, mais dez minutos para abrirem os cadernos e a lição. No meio de uma imensa barulheira, procuro encontrar alguma paz interior. Suspiro.
- João, vira-te para a frente.
- Porquê? Tem algum mal eu estar voltado para trás?
- Manuel, abre o caderno!
- Não me apetece mesmo nada, professora. Hoje não vou escrever.
- Maria, vens ao quadro por favor?
- Nem pense, professora! Eu não percebo nada de Inglês.
Eu sei que a turma do vocacional não é uma turma "normal". Mas a crise de obediência não é típica apenas destes alunos! Ela atravessa a escola inteira, as famílias, as instituições e, naturalmente também, a Igreja.
Obedecer tornou-se sinónimo de não ser capaz de pensar por si próprio, e a obediência é vista como antónimo de criatividade ou ousadia. E no entanto, aquilo que Jesus veio fazer à Terra foi nada mais ou nada menos do que um acto de perfeita obediência ao Pai:
"Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice; contudo não se faça como Eu quero, mas como Tu queres!" (Mt 26, 39)
"O mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou." (Jo 14, 31)
E S. Paulo diz-nos, falando de Jesus:
"Tornou-se obediente até à morte, e morte de cruz!" (Fl 2, 8)
Não podemos seguir Jesus sem imitar a sua obediência. Assim fizeram Maria e José, em primeiro lugar, obedecendo sem hesitar às palavras do anjo, antes de Jesus nascer; e assim fizeram os Apóstolos, numa sucessão nunca interrompida, até hoje.
Quando vejo a Igreja em rebeldia, desafiando a Palavra que lhe é oferecida pelo Papa, contestando os seus ensinamentos e propondo aos cristãos doutrinas diferentes, sinto uma tristeza e um desalento semelhantes aos que sinto quando chego àquela turma de Curso Vocacional...
Mas o Papa não se pode enganar? Sim, pode. E desse engano, terá naturalmente de dar contas a Deus. Nós temos a vida facilitada: se não compreendermos bem as palavras de Jesus através dos ensinamentos do Papa, só precisamos de as ler novamente ou de pedir que as repita por favor... Mesmo que o Papa se engane, nós não nos enganamos, obedecendo! É que para Deus, a humildade vale mais que todas as certezas do mundo.
Mas não terão os cristãos o direito de seguir a sua consciência, se ela for oposta aos ensinamentos papais? Claro que sim! Se o cristão estiver convencido de que o seu discernimento, o seu estudo e, sobretudo, a sua oração são mais profundos do que os do Papa; se o cristão sentir que Deus o iluminou mais fortemente do que iluminou o Papa, a quem entregou as chaves do Reino; se o cristão achar que, depois de longas e profundas horas de oração intensa, Deus lhe comunicou uma mensagem diferente da que comunicou ao Papa, aí ele deve agir de acordo com a sua consciência.
Eu dou todos os dias graças a Deus por não estar nessas condições. É tão libertador não ter de "inventar a roda" a cada dia, mas poder confiar na Palavra e na Tradição que me foram entregues no meu baptismo! Em vez de desperdiçar o meu tempo contestando a doutrina, posso dedicar o meu tempo a descobrir formas ousadas, belas, diferentes, criativas e profundas de praticar essa mesma doutrina. Longe de me tolher os movimentos criativos, a obediência liberta-me para aquilo que verdadeiramente importa: procurar, com todo o coração, toda a inteligência, toda a alma, fazer tudo o que Jesus me disser. Ámen!
Oração da manhã. No carro, rezamos a consagração a Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná, que termina com este pedido:
"Ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser!"
- Como podemos nós saber o que Jesus nos diz? - Pergunto, em jeito de provocação.
- Lemos a Bíblia...
- Escutamos a voz da nossa consciência!
Silêncio.
- E mais?
- Ouvimos o Papa!
- Exactamente, ouvimos o Papa. Porquê?
- Porque ele representa Jesus na Terra!
- O Papa é o sucessor de Pedro, a quem Jesus pediu para conduzir a sua Igreja, no meio de muitas tempestades, até à margem da Vida. Assim, nós acreditamos, com toda a fé, que o Papa conduz a Igreja de Jesus aonde Ele quer. Ele permite-nos acreditar na Igreja! Quando rezamos o Credo, nós dizemos que acreditamos na Igreja:
"Creio na Igreja una, santa católica e apostólica."
- E o Papa diz assim tantas coisas?
- Diz, claro. Todas as quartas-feiras, o Papa faz uma catequese para todos os cristãos. Todos os dias, na missa, ele faz uma homilia para nos ajudar a entender a Palavra de Deus. E de vez em quando, o Papa escreve uma carta a toda a Igreja, com ideias importantes para pormos em prática.
- Eu queria ver o Papa!
- Ele há-de vir a Portugal um dia.
Chegamos ao colégio. Depois de deixar os meninos, continuo a conduzir até à minha escola, e vou relembrando a nossa conversa... Que alegria eu sinto por pertencer à Igreja de Jesus!
Ao longo de toda a Bíblia, há uma frase mágica que converte homens e mulheres vulgares em agentes da História divina:
"Eis o servo do Senhor!"
Foi assim que Abraão, David, Samuel, Gedeão, Moisés, Maria e José de Nazaré e todos os grandes homens e mulheres bíblicos disseram. E ao fazê-lo, conquistaram um lugar na Bíblia. O servo é, em primeiro lugar, aquele que escuta para poder obedecer. Maria mostrou-nos que a felicidade depende desta obediência:
"Fazei tudo o que Ele vos disser!" (Jo 2, 5)
Obedecer à voz de Jesus, que ressoa na Igreja ao longo da História e é, a cada geração, oferecida ao povo de Deus pela voz do Papa: eis a grande rampa de lançamento na aventura divina...
Escrito pela Clarinha:
Sexta-feira Santa é um dia muito solene e triste. Mas também é o dia em que Jesus deu a vida por nós, por isso é um dia feliz! Se Jesus não tivesse morrido na cruz, hoje não teríamos uma vida tão boa e com tantas alegrias. Se Jesus não tivesse sofrido por nós, não me seria tão fácil ultrapassar pequenas dificuldades.
Hoje a igreja não estava cheia. Havia inúmeros bancos vazios. Isso fez-me lembrar como, no tempo de Jesus, quase todos os seus amigos O abandonaram. Muitas pessoas hoje em dia não têm tempo para ir à missa nos dias santos. Ficam a cortar a relva, a arrumar a casa, a preparar a comida e os doces para o domingo de Páscoa. Tudo coisas que não se comparam à inocente morte de Jesus. Também no tempo de Jesus estavam com pressa para prepararem a Páscoa, e por isso sepultaram Jesus o mais próximo possível de Jerusalém. Escutei isso hoje na leitura da Paixão.
Jesus é Rei, mas por coroa teve espinhos, por trono uma cruz, por jóias, três cravos. E nós continuamos a colocar espinhos na sua Cabeça e no seu Coração!