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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Esta manhã, a mãe-galinha estava a passear sozinha no jardim. Saíra do galinheiro e entretinha-se a comer as couves da horta. Mas onde estariam os seus pintaínhos? Eles costumam andar sempre atrás da mãe, para se esconderem sob as suas asas à mais leve ameaça... Soubemos instantaneamente que só podiam estar mortos. Em silêncio, entrámos no galinheiro, levantámos a casota... Lá estavam os dois pintaínhos, caídos na lama, mortos. Imaginámos a cena da tarde do dia anterior, os pintaínhos a escorregar na lama por causa do temporal, a galinha a tentar retirá-los de baixo da sua casota, em vão... Tinham certamente morrido de frio, longe do alcance das asas de sua mãe.
Para alegrar um pouco a mãe-galinha sem filhotes, deixámo-la passear no nosso jardim com as suas amigas:
Um pouco triste, decidi abrir o meu missal nas leituras do dia. E foi quando percebi que a Igreja celebra hoje os Santos Inocentes, ou seja, os bebés de Belém, que o rei Herodes mandou matar indiscriminadamente, com a intenção de matar também Jesus.
O Natal não é um conto de fadas ou uma historieta para crianças. O nascimento de Jesus esteve sempre rodeado de morte. A gruta onde Jesus nasceu não foi muito diferente da gruta onde depositaram o seu corpo morto, trinta anos mais tarde. O trajecto até Belém, o parto fora de portas, a fuga de Herodes deixaram no Natal um traço de sangue e de morte. Jesus incarnou na nossa vida real, concreta, de todos os dias. Jesus veio habitar todos os nossos abismos, conhecer todas as nossas dores. Assim, três dias depois do Natal, celebramos a morte dos bebés de Belém, que sem o saberem, deram a vida por Jesus.
A morte prematura dos meus pintaínhos e as leituras da missa de hoje deixaram-me a pensar no valor da vida...
A vida é frágil, frágil, frágil. Num momento estamos vivos, no momento seguinte podemos não estar. Nesta quadra de Natal, os noticiários já nos deram a conhecer tantas mortes acidentais de jovens e até de famílias completas! Se viemos no bico das cegonhas, então o pacote que nos embrulhava trazia o letreiro "Frágil" em letras bem marcadas. Diz o salmista:
"O homem não é mais do que um sopro!
Ele passa como simples sombra!" (Sl 39/38)
A vida é dom. Ninguém pede para nascer, todos recebemos a vida de outrém, e acima de tudo, de Deus:
"Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só dia à duração da sua vida?" (Mt 6, 27)
A vida é preciosa, a vida é um verdadeiro milagre. Se um pintaínho escondido nas asas da mãe é uma visão de ternura, quanto mais uma criança o é! Assim, a vida de cada ser humano é intocável, desde o ventre materno, e está nas mãos de Deus. Diz Jesus:
"Não vos preocupeis! Valeis muito mais do que os pássaros." (Mt 6, 26)
Talvez o amanhã nunca chegue. Só tenho o dia de hoje para viver, para disfrutar da companhia do meu marido e dos meus filhos, para os ajudar a crescer, para os ensinar a amar. Por isso, vou deixar a roupa por passar, vou deixar a casa por limpar, vou desligar este computador, e vou até ao parque brincar com a minha família!
Durante a oração familiar meditamos no mistério do nascimento de Jesus, segundo S. Lucas. A Clarinha lê em voz alta a passagem do Evangelho, e termina com estes dois versículos incómodos:
"Estando eles em Belém, completaram-se os dias do parto, e Maria deu à luz o seu filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria." (Lc 2, 6-7)
- Mãe, já viste a surpresa que os donos da hospedaria tiveram ao chegar ao céu? Eles e todos os habitantes de Belém que não abriram a porta a Maria e a José? Quando perceberam que afinal tinham fechado a porta na cara ao próprio Deus, devem ter ficado tão envergonhados!
- Sim, Francisco, mas olha que nenhum de nós vai escapar a essa surpresa... Quantas vezes não fechamos a porta na cara ao Senhor? E ainda por cima, não podemos dizer que não sabíamos, como puderam certamente dizer os habitantes de Belém. Nós temos o Evangelho, e lá está bem claro:
"Afastem-se de mim, porque Eu tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, fui peregrino e não me destes abrigo, estive nu e não me vestistes, enfermo e na cadeia e não me visitastes." "Senhor, quando foi que Te vimos faminto ou sedento, peregrino ou enfermo ou na cadeia e não Te servimos?" "Em verdade vos digo: sempre que deixastes de fazer isso a um desses pequeninos, foi a Mim que não o fizestes." (Mt 25, 41-46)
- Então Jesus anda disfarçado?
- Anda sim, David, e bem disfarçado! Jesus esconde-Se dentro de cada ser humano, da nossa família, desconhecido, rico, pobre, emigrante, estrangeiro, de outra cor, de outra fé. Deus levou o mistério da encarnação mesmo muito a sério! Temos de estar atentos, para podermos servir Jesus em cada irmão. Então sim, será Natal.
Ficamos por instantes a pensar neste grande desafio do Evangelho. Talvez possamos abrir a porta a Jesus, este Natal, servindo algum irmão mais necessitado de ajuda e de amizade... E já sabemos quem! Mas isso não o vamos dizer aqui...