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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
A primavera chegou! Desta vez é mesmo a sério, pois tropeçamos nela logo ao sair de casa pela manhã: o céu azul, as nuvens brancas, a relva verde, as flores amarelas, vermelhas e laranjas, o cantar das cigarras, as melodias dos pássaros, os gatinhos a brincar na relva... Tudo nos repete, como o Amado no Cântico dos Cânticos:
"Levanta-te, minha irmã, minha amada!
Eis que passou o inverno, a chuva já se foi
Aparecem as flores na terra, chegou o tempo das canções
A voz da rola ouve-se na nossa terra.
A figueira já deu os seus figos verdes,
e as vinhas em flor exalam seu aroma..."
(Cant 2, 10-13)
Com a primavera, chegam os dias tranquilos e longos, e renovam-se os encontros com os amigos. A Olívia e a sua família vieram visitar-nos, e encheram a nossa casa de alegria! Que dizem a estas três princesas?
Lembram-se da pequenina Lúcia, que tanto sofreu ao nascer? Ora aqui está ela, transbordando saúde e felicidade:
Para a festa ser completa, também a Isabel e o João, catequistas da Lúcia, vieram visitar-nos e estar com a família Batista. Ser Família de Caná significa ter amigos espalhados um bocadinho por todo o país, não é verdade? Sentados no jardim, pusemos a conversa em dia. Sentados no jardim, quer dizer, alguns de nós... Outros preferiram as árvores:
Segunda-feira foi feriado, e o dia amanheceu cheio de sol. Quem lê este blogue há algum tempo já consegue imaginar onde nos dirigimos de imediato... Ou não?
A primavera está a chegar assim de repente, da noite para o dia... Na semana passada ainda acendíamos a lareira, ontem tomaram-se banhos no mar!
De repente? Ah, nós só vemos a superfície das coisas! Porque durante todo o inverno, durante os longos dias de chuva, durante os serões de frio à lareira e durante as tempestades de granizo, a terra preparava-se para esta renovação.
Há dias em que eu olho para a minha vida passada e, no meio de belas recordações, também vejo tempestades, chuva abundante, frio intenso. Por que terá sido tudo tão difícil, meu Deus? Porquê a morte, porquê a dúvida, porquê a luta, porquê a incompreensão, porquê o emprego longe, porquê as turmas complicadas, porquê? Depois contemplo os meus filhos a brincar no jardim que cultivámos, vejo os meus amigos empoleirados nas árvores que ajudámos a crescer, e escuto as gargalhadas da "Bebé de Caná" que a Olívia segura nos braços. Ao longo dos muitos invernos da nossa vida, Deus foi preparando as nossas muitas primaveras. E com o seu vento, espalhou por aí as sementes que nasceram das nossas chuvas, tal como espalha nos nossos jardins interiores sementes que nasceram em outras chuvas.
E assim continuará a ser: as tempestades que hoje experimentamos levar-nos-ão certamente a novas primaveras, e as sementes que cultivamos nos nossos jardins florirão certamente noutros quintais, porque o nosso Deus é o Deus das estações, o Senhor da vida e da morte, Aquele que, no primeiro livro da Bíblia, tudo cria do nada, e no último livro da Bíblia, tudo recria, já não do nada, mas a partir de tudo o que Lhe oferecermos:
"Eis que faço novas todas as coisas!" (Ap 21, 5)
Ámen!
O frio que se tem feito sentir neste inverno obrigou-nos a comprar mais dois metros de lenha, pois durante o fim-de-semana, é preciso manter a lareira acesa durante todo o dia. Contudo, a lenha que comprámos nesta segunda leva não tem a qualidade da primeira: está verde, cheia de água, assobiando na lareira quando tentamos acender o lume. Que difícil que é fazer arder lenha verde! Acendalha após acendalha, fósforo após fósforo, e o fogo não se ateia. Que desilusão! Chegar a casa ao fim do dia e ter de me concentrar na lareira, enquanto tantas outras coisas - e pessoas - precisam da minha atenção, é desesperante!
- Tu consegues, mamã, força! - Animam-me os mais novos, a meu lado, estendendo-me pequenas achas. E depois dizem uma frase muito simpática: - Se cá estivesse o papá, já tinha conseguido!
Mas o pai só chega perto da hora do jantar, e entretanto é preciso aquecer a sala. Finalmente, com o fogo aceso, escutando a água a evaporar-se lentamente da lenha a arder, deixo-me cair ao lado da lareira com a Sara ao colo. E fico a pensar naquela belíssima e épica passagem do profeta Elias: reunindo todo o povo, Elias preparou um altar de pedra, colocou nele a lenha e sobre esta, o animal para o sacrifício. Depois, fez um sulco a toda a volta do altar, derramando nele doze talhas de água, que fizeram transbordar o sulco. Como podia o fogo atear-se sobre um altar encharcado assim?
“À hora do sacrifício, o profeta Elias aproximou-se, dizendo: ‘Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. Responde-me, Senhor, responde-me! Que este povo reconheça que Tu, Senhor, é que és o Deus, aquele que converte os corações.’ De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco.” (1Rs 18, 36-38)
Uma leitora muito querida do blogue enviou-me o mail, falando-me do seu esforço vão em procurar crescer na fé. Já abrira a Bíblia várias vezes, já procurara contar as histórias da Bíblia à filha mais velha, de seis aninhos, e vira-se incapaz de lhe responder às suas mais elementares perguntas infantis. "Não vale a pena!" Dizia-me ela.
Quando nos descobrimos lenha verde, achamos que nunca vamos conseguir "pegar fogo", não importa o quanto nos esforcemos. Mas a boa notícia é que, a Deus, nada é impossível, e a história do profeta Elias prova-o bem! Não foi a qualidade da lenha, muito menos toda a porcaria e toda a lama que a rodeava, que fez atear o fogo, mas tão somente a graça divina, que sempre se sente atraída por tudo o que é fraco, pobre, pequeno e mal cheiroso.
Eu também sou lenha verde, encharcada de pecado, de vaidade, de orgulho, de ignorância, de respeitos humanos. Sozinha, nunca conseguirei atear em mim o fogo do Senhor... No entanto, se eu perseverar em oração, como Elias, se eu me ajoelhar e suplicar ao Senhor que converta o meu coração, que me responda, que faça descer sobre mim o seu fogo, então verei como num instante, tudo será consumido - o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até a própria água do sulco...
Este inverno tem sido luminoso, azul, e gelado. Lembra-me os invernos da minha infância, em Castelo Branco, onde eu precisava de mergulhar as mãos em água quente antes de praticar as lições de piano...
Cá em casa está muito frio. Na sala, o lume arde lentamente na lareira, mas os quartos estão gelados. Contudo, ninguém parece importar-se muito: quando os meninos estão a estudar, acendem um pequeno aquecedor a óleo; quando estão a brincar, nem dão pelo frio, porque brincar como eles brincam aquece o corpo e a alma!
Entre uma casa aquecida como as casas "do estrangeiro", e uma casa fria como a da minha infância e a nossa actual, claro que qualquer um escolheria a primeira. Eu sofro bastante com o frio e adoraria poder passear-me de manga curta entre a cozinha e os quartos! Mas fico contente por não poder escolher, pois sei que a falta deste conforto extra me faz melhor ao espírito. E porquê? Porque como já disse e repeti várias vezes neste blogue, um bocadinho de desconforto, um bocadinho de dificuldade, ajuda-nos a crescer!
- Este ano, pela primeira vez em muitos anos, o frio chegou na altura certa - dizia-nos o senhor Manel, dono da mercearia onde compramos fruta e vegetais - e isso significa que a fruta vai ser boa!
Santa Teresinha do Menino Jesus confessou, no final da sua vida de 24 anos, que o maior sofrimento físico da vida conventual fora... o frio. Imaginem a França do final do século XIX, um convento antigo, em pedra, uma única lareira no coro, onde as irmãs se reuniam, e depois o frio gelado das celas pobres e despidas, aonde se chegava atravessando os claustros descobertos... Santa Teresinha tinha uma única coberta remendada para se aquecer durante a noite, e nunca ouvira falar em aquecimento central, naturalmente. Confessou que muitas noites não era capaz de dormir, tal o frio que sentia! Hoje, a maior parte dos conventos estão bem aquecidos, mas nem por isso têm mais habitantes.
Claro que não vamos ficar nem deixar os nossos filhos ficar acordados de noite com o frio; mas também não precisamos de os tratar - a eles e a nós - como "coitadinhos", incapazes de sofrer algum tipo de desconforto! Façamos deles homens e mulheres fortes nos pequenos detalhes da vida, capazes de aceitar, com um descontraído encolher de ombros, pequenas contrariedades - como por exemplo, e no meu caso, o frio. Porque se o frio e as pequenas dificuldades da vida chegarem na altura certa, os frutos serão certamente muito bons no verão...
"Servo bom e fiel, porque foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei." (Mt 25, 21)