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Estrela

por Teresa Power, em 30.05.16

A nossa querida gata Tiger tem sido uma mãe exemplar. Já deu à luz duas ninhadas, e de cada vez entregámos a famílias nossas amigas todos os gatinhos exceto um, ficando assim sempre com uma cria em casa, o que nos tem permitido observar a forma carinhosa com que as gatas cuidam dos seus bebés.

Mas na semana passada ficámos muito tristes: a Estrela, a gatinha multicolor que conservámos desta última ninhada, desaparecera. A Tiger parecia irrequieta e confusa, sem nenhum dos seus gatinhos para amamentar e lamber, e os meninos suspiravam de tristeza, imaginando cenários de frio e fome para a pequena Estrela.

- Ela não morreu atropelada, isso tenho eu a certeza - Dizia o Niall, que ao serão se dedicava a percorrer a berma da estrada para cima e para baixo, à procura de sinais da Estrela. - Certamente que alguém a viu sobre o muro e a levou para sua casa.

- Achas que tratam bem dela? - Perguntava a Lúcia especialmente, muito preocupada.

- Sim, Lúcia, não tenhas medo!

Mas nem a Lúcia, nem ninguém descansou. Até que sábado de manhã bem cedo, enquanto passeava os cães, o Niall ouviu um miar aflitivo para além do jardim. Depois de procurar um bocado, descobriu a Estrela, escondida sob um carro. Feliz, aproximou-se e pegou nela com jeitinho, para logo a trazer para casa abrigada dentro do seu casaco.

- Olha, Teresa, o que eu encontrei! - Disse-me assim que abriu a porta.

Dei um pulo de alegria: - Dá cá, vou acordar a Lúcia com a gatinha!

E assim fiz: devagarinho, enfiei a gatinha na cama da Lúcia, que abriu os olhos de espanto e deu um salto como não é nada habitual nas manhãs de sábado.

- Ah! Voltaste, Estrela! Ah, querida Estrela!

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Mas se pensam que a maior festa foi a da Lúcia, estão bem enganados...

- Vamos levar a gatinha à mãe dela - disse eu por fim, pegando na Estrela e levando-a para o jardim. A Tiger estava por lá, muito parada, como costume. Pousei a gatinha no chão e chamei a Tiger. E de repente, num salto único e simultâneo, mãe e filha entrelaçaram-se, rebolando depois pelo chão. Finalmente, ronronando de pura felicidade, a Tiger lambeu a Estrela de alto a baixo, enquanto a Estrela mamava, e assim ficaram, imóveis, por longo, longo tempo.

Durante o resto do dia, mãe e filha não se separaram. No jardim, nos sofás, sobre as camas dos meninos, no meio dos bonecos e dos brinquedos, mãe e filha brincaram uma com a outra, intercalando lambidelas e mamadas com um quieto ronronar.

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Os pensamentos que às vezes me passam pela cabeça poderiam ser considerados sacrílegos, se Jesus não se tivesse também lembrado de comparações semelhantes... Sim, ao olhar para as duas gatas tão felizes com o reencontro, lembrei-me do Evangelho.

Nem sempre é fácil entender afirmações chocantes de Jesus, como por exemplo:

 

"Há mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão."

(Lc 15, 7)

 

Jesus fez esta afirmação, se bem se lembram, depois de contar a história do pastor que deixa noventa e nove ovelhas sozinhas para ir buscar uma única que andava perdida. Jesus com ovelhas, eu com gatos...

Como? Mais alegria por um que regressa do que por noventa e nove que nunca sairam de casa? O reencontro da mãe Tiger com a filha Estrela não podia ser melhor ilustração. Quanta alegria! Naturalmente que a Tiger teria preferido que a sua gatinha nunca tivesse saído de casa, mas lá que a alegria que sentiu com o seu regresso foi mil vezes superior à que sentia antes da sua partida, lá isso foi.

Assim também com o Senhor, quando de todo o coração regressamos ao aconchego do seu abraço paternal. É que todos os dias, ao fim da tarde, Ele sobe ao cimo da colina e prescruta o horizonte, desejoso de que seja esse o dia do nosso regresso...

 

"Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos." (Lc 15, 20)

 

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Go light your world

por Teresa Power, em 11.04.16

Escrito pela Clarinha:

 

Assim que soube que o colégio estava a organizar um "... got talent", decidi que queria fazer uma dança com a Lúcia. Havia uma condição para participar: todas as atuações tinham de estar relacionadas com o tema do colégio: "Olha o teu mundo de novo." Eu queria também relacionar a nossa atuação com o Ano Santo da Misericórdia.

Começámos, então, cá em casa a procurar uma música cristã que satisfizesse estas condições e, depois de muito procurar, encontrámos a música perfeita: "Go light your world".

Coreografei a dança tendo em conta a mensagem que nós queríamos transmitir. É preciso iluminar o mundo com os nossos gestos misericordiosos, de forma que as qualidades e defeitos de todos sejam vistos de outra forma. Diz Jesus:

 

"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu." (Mt 5, 14-16)

 

Deixo-vos aqui o resultado do trabalho de três semanas intensivas em que eu "dei treinos" à Lúcia, visto ela nunca ter tido aulas de dança ou de ginástica, coreografei e me diverti juntamente com a minha querida irmã, de quem estou tão orgulhosa!

 

 

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Coelhos, ovos e a cruz de Jesus

por Teresa Power, em 18.03.16

- Mãe, tens de me ajudar a desenhar coelhos.

- Sim, Lúcia, ajudo, mas para quê?

Estamos no carro, a caminho de casa, e os meninos atropelam-se para falar e contar as novidades do seu dia de escola.

- Porque o trabalho de casa é fazer um desenho sobre a Páscoa.

- E o que é que a Páscoa tem a ver com os coelhos? Não entendo, Lúcia! - Digo, fingindo-me realmente surpreendida.

- Ora, na Páscoa há coelhinhos que põem ovos de chocolate!

- Que tolice! Tu não sabes que os coelhos são mamíferos? - Pergunta o David, abanando a cabeça em jeito de censura.

- Lúcia, a Páscoa é a maior festa dos cristãos, a festa da morte e da ressurreição de Jesus. Por que não fazes tu um desenho lindo sobre a Cruz de Jesus?

- Tenho vergonha.

- Vergonha? Mas vergonha de quê?

- Vergonha que os meus amigos se riam quando eu apresentar o desenho à turma. Eles vão todos desenhar coelhos...

- Isso é que é tolice! A cruz de Jesus é muito mais bonita - Atalha a Clarinha, divertida com a conversa. - Os teus amigos fazem coelhos e ovos porque se estão a referir à festa da Primavera, não à festa da Páscoa. Como a Páscoa se celebra na Primavera, às vezes as pessoas confundem as duas coisas.

- Ah!

- Lúcia, a vida passa muito depressa, sabes? - O David parece um pequeno padre pregador, e nós escutamo-lo com gosto - O que conta mesmo é a vida eterna. E a vida eterna demora muito, muito! Nunca acaba. Se desenhares coelhos, isso não vai valer nada para a tua vida eterna. E nessa altura nem te vais lembrar de teres passado ou não vergonha! Jesus disse qualquer coisa sobre sermos capazes de falar dele... Como é mesmo a frase, mãe?

- A frase é do Evangelho. Diz assim:

 

"Todo aquele que se declarar por Mim, diante dos homens, também Me declararei por ele diante de meu Pai que está no céu. Mas aquele que Me negar diante dos homens, também o hei de negar diante de meu Pai que está no céu." (Mt 10, 32-33)

 

Chegamos a casa. A Lúcia dá-me um grande abraço e senta-se na mesa da sala, a fazer o seu desenho enquanto eu, a seu lado, escrevo este mesmo post. Terminamos quase ao mesmo tempo.

- Lúcia, não guardes sem antes eu fazer uma digitalização, sim? Vou mostrar o teu desenho no blogue...

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Guardamos as duas o nosso trabalho. Amanhã, a Lúcia dará testemunho da Cruz do Senhor. Agora, se nos permitem, vamos brincar para o jardim!

 

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Meditações desenhadas

por Teresa Power, em 01.03.16

Hora de oração familiar.

- Mãe, posso desenhar os mistérios?

- E eu também?

O David e a Lúcia olham para mim com esperança.

- Sim, claro. Hoje vamos rezar os mistérios da alegria.

- É a história de Jesus pequenino, não é?

- Sim, é. Agora despachem-se a arranjar os lápis e o papel, para começarmos!

Começamos. Instalados no sofá, almofadas ao colo a servir de mesas, papel e lápis na mão, os meninos vão rezando e vão desenhando... E que desenham eles? A sua meditação. Enquanto nós, adultos, meditamos mentalmente, construindo imagens mentais dos mistérios que contemplamos, os mais pequeninos precisam de materializar o seu pensamento. Que melhor forma do que ir desenhando o que vamos contemplando?

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O terço chega ao fim. O David e a Lúcia estendem-me os seus desenhos, orgulhosos. Vou colocá-los no Canto de Oração. Mas antes vou digitalizá-los para que vocês também os possam ver. Conseguem identificar os cinco mistérios da alegria, que o David desenhou? A Anunciação do anjo a Maria, a Visitação de Maria a Isabel, o Nascimento de Jesus, a Apresentação de Jesus no Templo, Jesus entre os doutores... Tudo aí está, desenhado com rigor!

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E os mistérios da glória, desenhados também pelo David, no domingo?

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Que dizem a esta felicidade estampada no rosto de Nossa Senhora, nos dois primeiros mistérios da alegria que a Lúcia desenhou?

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Terei eu estado tão atenta a cada mistério como o David e a Lúcia estiveram? A grande maravilha da oração do terço é precisamente permitir-nos, num ciclo semanal, meditar na vida inteira de Jesus: segundas e sábados, meditamos na sua infância: são os mistérios da alegria; quintas, meditamos na sua vida pública, entre o batismo e a instituição da Eucaristia: são os mistérios luminosos; terças e sextas, meditamos no seu sofrimento e na sua morte: são os mistérios da dor; quartas e domingos, meditamos na sua glorificação, bem como na de sua Mãe: são os mistérios da glória. As famílias que rezam o terço todos os dias têm a graça de, semana a semana, percorrer a vida inteira de Jesus, e não apenas alguns episódios. Afinal, rezar o terço é imitar a Mãe de Jesus... Diz-nos S. Lucas:

 

"Sua Mãe guardava todas estas coisas em seu coração..." (Lc 2, 51)

 

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Não fiques triste...

por Teresa Power, em 26.02.16

-Meninos, nem imaginam a bela notícia que li hoje no blog da Olívia.

- O que é? É sobre a bebé Lúcia?

- Não, é sobre a Maria.

- A minha amiga?

- Sim, Lúcia, a tua amiga. Imagina tu! Este ano, a mãe está a dar-lhe a catequese em casa, porque na sua aldeia há poucas crianças e ela não tinha oportunidade de caminhar com um grupo. Outro dia, o senhor padre foi lá a casa e disse... Esta é a boa notícia: disse que a Maria estava muito bem preparada, e portanto podia fazer a sua primeira comunhão já no domingo de Páscoa. Não é lindo?

- Que maravilha! Ela deve estar muito feliz!

- Ah, o senhor padre reconheceu o trabalho da Olívia!

- Vai ser um domingo de Páscoa muito bonito!

- E tu, Lúcia? Não dizes nada?

Mas a Lúcia não diz nada. Aliás, de repente, e como acontece com alguma frequência, os seus olhos enchem-se de lágrimas.

- Que se passa? Não ficaste feliz pela Maria?

A Lúcia diz que sim com a cabeça.

- Então...

- Mãe - Desabafa finalmente - Por que é que eu não posso fazer a primeira comunhão também na Páscoa? Não estou tão preparada como a Maria?

A Lúcia senta-se ao meu colo e conversamos um bocadinho.

- Lúcia, tu vais fazer a tua primeira comunhão com o teu grupo de amigos. Não é maravilhoso? E tens dois catequistas tão bons! Vai ser uma festa muito bonita. Não fiques triste!

A Lúcia limpa os olhos com as costas da mão.

- Mas eu queria tanto receber Jesus... Queria ter Jesus no meu coração!

- Já falta pouco, Lúcia! Vais ver...

 

À noite, sentada ao computador, contei à Olívia a reação da Lúcia. E na quarta-feira passada, ao abrir a caixa do correio, tive uma surpresa.

- Lúcia, olha só o que chegou para ti! Uma carta! - Chamei, entusiasmada. 

A Lúcia veio a correr. Com os olhos iluminados, pegou na carta, sentiu o seu peso, cheirou-a, revirou-a entre os dedos.

- É da Maria! - Disse, por fim.

- Não vais abrir?

- Vou. - Com gestos decididos, a Lúcia abriu a carta. Lá dentro, estava este lindo desenho:

 

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O entusiasmo destas duas crianças perante Jesus-Eucaristia emocionou-me. Durante muito tempo, fiquei a pensar na forma relaxada, pouco entusiasmada, frequentemente indiferente com que recebemos Jesus em cada missa. Quando foi que os nossos corações se tornaram dormentes, frios, de pedra? Quando foi que perdemos a fé límpida que o batismo nos deu? Por que permitimos nós que a rotina mate o amor? Teremos realmente fome? Teremos realmente sede? Recordei-me da promessa de Deus, ecoando desde os confins da Bíblia:

 

"Tirarei do teu peito o coração de pedra e dar-te-ei um coração de carne..." (Ez 11, 19)

 

Senhor, cumpre hoje de novo a tua promessa, a promessa de transformares os nossos corações de pedra em corações de carne, corações capazes de sentir fome, capazes de sentir sede, capazes de sofrer a tua ausência, capazes de Te desejar loucamente, capazes de pulsar apenas por Ti...  Ámen!

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Eu não sabia...

por Teresa Power, em 22.02.16

Hora de oração familiar. Sentados no sofá da sala, o Canto de Oração iluminado, a Porta Santa chamando-nos à conversão. Leio em voz alta a primeira leitura, do Livro do Levítico.

- Que livro é esse, mãe?

- O Livro da Lei do povo de Deus. Os Primeiros cinco livros da Bíblia são também chamados os livros de Moisés, e formavam a Lei de Israel. Neste livro vamos encontrar muitas palavras de Deus, que nos ensinam como nos devemos comportar. Vamos ouvir?

 

"Assim fala o Senhor: «Sede santos porque Eu, o Senhor, sou santo. Que cada um de vós respeite a sua mãe e o seu pai, e guarde os meus sábados (...) Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.»"

(Lv 19, 1-18)

 

- O que é vingar-se? - Pergunta a Lúcia.

- É pagar com o mal, o mal que te fazem. Por exemplo, um menino empurra-te, e tu empurra-lo de volta. Um menino estraga-te uma caneta, e tu rasgas-lhe um desenho. Isso é vingança.

A Lúcia fica calada, assente com a cabeça, e continuamos a oração, com a leitura do salmo e do Evangelho e com a recitação do terço. E é precisamente durante o terço que eu reparo num brilho estranho nos seus olhos.

- Lúcia, estás bem? - Pergunto. Ela assente de novo com a cabeça, mas eu percebo que nada está bem, e as lágrimas começam a rolar pela sua face. No final da oração pego-lhe ao colo e, enquanto o pai deita os mais novos, converso com ela.

- O que se passa, Lúcia?

- Mãe, eu não sabia que a vingança era pecado. Eu já fiz isso muitas vezes com os manos, porque eu não sabia. Eu achava que podia fazer se eles me faziam também. E nunca me confessei disso... Achas que agora tenho o coração metade limpo e metade sujo?

- Não, Lúcia, não acho. Acho que tens o coração todo limpo, e sabes porquê? Precisamente por causa dessas tuas lágrimas marotas... Porque tu estás arrependida de teres feito esses pecados. E o que lava o coração é o arrependimento! No preciso instante em que tu ficas triste por teres feito uma coisa feia e pedes perdão a Deus, Ele perdoa-te de imediato.

- E como faço eu para pedir perdão a Deus?

- Queres rezar comigo o Ato de Contrição?

- Sim.

- Então vamos. Dá-me a mão... "Meu Deus, porque sois tão bom, tenho muita pena de Vos ter ofendido. Ajudai-me a não tornar a pecar!"

O rosto da Lúcia abre-se num largo sorriso.

- Agora já estou limpa? Mas eu ainda não me confessei...

- Lúcia, o teu coração está todo limpo. Podes estar descansada. O teu arrependimento, a tua tristeza e o ato de contrição que acabaste de fazer são suficientes para apagar os pecados leves. Jesus abraçou-te de imediato cheio de alegria!

- O meu pecado era pequenino?

- Era porque tu não sabias que o estavas a fazer. A partir de agora já tens de ter mais cuidado, claro, porque já sabes. Tu estás a aprender, Lúcia, e Jesus está felicíssimo contigo esta noite porque aprendeste uma coisa nova. Mas quando fores à confissão da próxima vez, deves confessar-te deste pecado, porque Jesus fica contente quando somos capazes de confessar as nossas culpas sem receio ao sacerdote.

- Quantos anos é que tu tinhas quando descobriste que a vingança era pecado? Eras mais pequena do que eu?

- Oh, não, era bem mais crescida! Lembro-me de ficar sem falar com as minhas amigas durante alguns dias quando me zangava com elas, e olha que era mais velha do que tu. Pouco a pouco fui aprendendo e fui-me esforçando por ser melhor.

- Ah! Agora eu já sei e também vou ensinar às minhas amigas.

Levo-a ao colo para a cama e dou-lhe um beijo de boas noites. O seu rosto ilumina.

- Boa noite, mamã!

- Boa noite, querida!

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A Lúcia já dormia há muito tempo, e eu continuava a meditar nesta nossa conversa. Embora pequenina, a Lúcia acabava de experimentar uma das mais duras realidades do pecado: a tomada de consciência de que somos capazes de o cometer, de que não somos as pessoas imaculadas que imaginávamos ser. Foi a descoberta de S. Pedro, naquela noite de lua cheia, em que o galo cantou a sua traição; a descoberta de S. Paulo, caindo do cavalo perante a revelação de que todo o seu zelo tinha sido orientado contra o alvo errado; a descoberta do Rei David, quando o profeta Natã lhe contou uma pequena história sobre a ovelhinha do pobre e David se apercebeu do gravíssimo e duplo pecado cometido contra Urias; e a descoberta de todos nós, que olhando para o nosso passado, nos damos conta da quantidade de erros que cometemos julgando estar a fazer algo sem gravidade.

Que fazer, nestes momentos de revelação? Primeiro, agradecer. É verdadeiramente uma graça imensa que Deus nos faz, sermos confrontados com a nossa miséria antes da hora da nossa morte! Não há caminho mais seguro para uma verdadeira humildade, e sem humildade não é possível ser santo.

Depois, pedir perdão e confessar-se com simplicidade e confiança, acreditando de verdade (e é difícil acreditar...) que não há nenhum pecado que o Senhor não possa lavar por completo.

E finalmente, agradecer de novo outra e outra vez, pois não há nada mais belo sobre a Terra do que experimentar a misericórdia de Deus como uma torrente de vida dentro de nós. 

O Jubileu da Misericórdia é o tempo de graça que o Senhor nos oferece para uma profunda e completa revisão de vida. Então experimentaremos a verdadeira alegria, a alegria que nasce das lágrimas...

 

"Se o pecador renunciar a todos os pecados que cometeu, se observar todas as minhas leis e praticar o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá. Não serão lembradas as faltas que cometeu, e viverá..." (Ez 18, 21-22)

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A Lúcia e o paralítico

por Teresa Power, em 17.10.15

A propósito do post de ontem: se ainda não conhecem o vídeo da Lúcia a contar a história do paralítico que Jesus curou, vejam, que vale a pena! Foi no inverno passado, faz quase um ano...

 

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Meditações... originais

por Teresa Power, em 12.10.15

Hora de oração familiar. Sentados no Canto de Oração, rezamos o terço. Primeiro Mistério Luminoso...

- Eu sei qual é! - Grita a Lúcia, entusiasmada. - O Batismo de Jesus!

A avó, sentada ao seu lado, pisca-me o olho. As avós também servem para "Espírito Santo de orelha", claro...

- Muito bem, Lúcia. E queres fazer a meditação?

- Sim. - A Lúcia pensa um bocadinho e diz: - Jesus, ajuda-nos a batizar-Te!

- Que disparate! - Atalha o David, com ar importante - Mamã, eu faço: Jesus, envia sobre nós o teu Espírito, como uma pomba...

- Ah, pois é, tinha-me esquecido da pomba! Uma pomba linda!

- Pronto, Lúcia, fazes a meditação do próximo mistério! Agora vamos rezar: Pai-Nosso...

Mal acabamos de rezar o primeiro mistério, já a Lúcia, depois de alguns segredinhos com a avó, enuncia o segundo:

- As Bodas de Caná!

- Muito bem. Queres fazer a meditação?

- Sim... Deixa-me pensar... Já sei: Jesus, ajuda-nos a transformar a água em vinho!

Gargalhada geral.

- Cá em casa nem dava muito jeito, que ninguém bebe vinho! - Diz a Clarinha.

- Já viste o que era se todos se pusessem a transformar a água em vinho? - Continua o Francisco, divertido.

Valha-nos o David:

- Mãe, eu faço outra vez: Jesus, ensina-nos a fazer tudo o que Tu nos disseres!

E lá rezamos nós mais um mistério.

Terceiro mistério...

- A pregação de Jesus!

- Boa, Lúcia. E agora?

- Jesus com os braços muito abertos, pregado na cruz...

Mais gargalhadas.

- Lúcia, quantas vezes te explicámos que não é essa pregação? É anunciar o Evangelho!

- Ah...

- OK, Lúcia, amanhã tentas de novo fazer as meditações. Ficas dispensada por hoje!

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Aprender a meditar o rosário leva o seu tempo. Como tudo na vida, precisa de treino, e o treino implica tentativas falhadas mas corajosas. Já viram alguém aprender a nadar com aulas teóricas? Ou sem engolir água? Ou sem apanhar um susto? Hoje, a Lúcia arriscou muito... Mas dentro de dois anos terá a rapidez mental do David para fazer as meditações - curtas frases que nos ajudam a oferecer o mistério e a oração ao Senhor!

 

"Procurai e achareis; pedi e recebereis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo o que procura, encontra; e o que pede, receberá; e ao que bate, abrir-se-á." (Lc 11, 9-10)

 

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A meio da noite

por Teresa Power, em 07.10.15

Lembram-se do dia de anos da Lúcia? Pois bem, nessa noite, véspera do dia 2 de outubro, o Niall e eu acordámos com barulhos estranhos na casa. O Niall levantou-se, saiu do quarto e encontrou as luzes todas acesas entre o quarto das meninas e a sala. Seguindo o rasto de luz, encontrou finalmente a Lúcia sentada no chão da sala, rodeada de papel de embrulho rasgado e montando calmamente um puzzle novinho em folha.

- Lúcia, que fazes aqui? - Perguntou-lhe carinhosamente. - Ainda não é o teu dia de anos! Faltam algumas horas...

- Ai não?

- Não. São duas e meia da manhã... Vamos dormir?

Em silêncio, a Lúcia levantou-se, deu a mão ao pai e aceitou regressar ao quarto.

Seis e meia da manhã. O António e a Sara aparecem ao nosso lado, excitadíssimos:

- Mamã, mamã, uma coisa muito estranha! A Lúcia ainda está a dormir, mas as prendas dela estão todas desembrulhadas na sala! Quem será que veio cá durante a noite?

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É tão difícil, para uma criança, aguentar uma noite inteira, quando sabe que um belo presente a aguarda pela manhã! Como fazer para chamar o sono e esperar, de olhos fechados, que o dia amanheça, os pais acordem e as luzes se acendam?

Ah, como somos infantis! Deus tem belas prendas para cada um de nós, e tudo o que nos pede é que sejamos pacientes durante a escuridão da noite... Logo logo, o dia despontará também para nós, e então poderemos abrir as belas prendas que o seu amor preparou. Mas agora - quando as horas custam a passar, quando a tarefa parece interminável, quando chove sem parar, quando tudo é sombrio e doloroso na nossa vida - agora é tempo de esperança...

 

"A minha alma espera no Senhor

Mais do que a sentinela espera pela aurora.

Mais do que a sentinela espera pela aurora,

Israel espera pelo Senhor,

porque nele há misericórdia

e com Ele é abundante a redenção."

(Sl 130, 6-7)

 

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Rebento de oliveira

por Teresa Power, em 02.10.15

Quando viemos viver para Mogofores, em agosto de 2007, a nossa casinha estava acabada de construir, mas o jardim ainda era um monte de pedras e silvas. Trabalhando arduamente, o Niall limpou o terreno, encomendou a terra, semeou a relva, plantou árvores de fruto e flores. Que alegria, ver o jardim a ganhar forma pouco a pouco!

Entretanto, uns amigos ouviram-me falar de um dos meus sonhos: ter uma oliveira no centro do jardim. Eu cresci na Beira Baixa, e as oliveiras evocam em mim as recordações mais autênticas e doces da minha infância. A minha casinha só estaria pronta quando a oliveira chegasse...

E chegou: os nossos amigos tinham um olival, e decidiram oferecer-nos uma das suas oliveiras, frondosa e bela, com mais de duzentos anos. Que maravilha!

Mas quando o trator, em outubro, deixou a oliveira no nosso jardim, na cova que, entretanto, o Niall cavara noite após noite para a receber, a minha desilusão foi grande: a oliveira alta e frondosa era simplesmente um tronco! Nem ramos, nem folhas: um tronco castanho e seco.

 

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- Que aconteceu, Niall? - Perguntei, aflita. Ele riu-se:

- É assim mesmo! Para transplantar a oliveira foi preciso cortar os ramos, pois de outra forma, ela morria. Agora temos de esperar que voltem a crescer!

- E vão crescer?

- Claro! O senhor disse-nos que a próxima primavera será o exame final: ou a oliveira rebenta por todos os lados, lançando pequenos ramos que logo crescerão, ou não rebenta, e nesse caso, está morta.

Durante todo o inverno, cuidámos da oliveira, na esperança de que tivesse aguentado bem a mudança de habitat. Mas eu estava impaciente pela prova final: estaria ela verdadeiramente viva?

Durante todo o inverno também, parecia-me escutar a voz de Deus, pedindo-me que acolhesse um novo filho. Era um chamamento distinto, persistente, percebido no mais íntimo do meu ser. O Niall e eu estávamos abertos à vida, e esperávamos, com curiosidade, a visita do Senhor.

Manhã de fevereiro, 2008. É sábado, e por isso não há pressa em sair de casa. Já é quase primavera... Haverá sinais de vida, na nossa oliveira? Espreitar o seu tronco rugoso tornou-se um hábito matinal: dirijo-me ao jardim, e observo.

E eis que, de repente, sou tomada pela visão de uma folhinha minúscula a espreitar do tronco. Sim, é o primeiro rebento! A oliveira está viva!

Então, antes de gritar de alegria, antes de correr a anunciar a boa notícia, vem-me à memória o versículo de um salmo:

 

"Teus filhos serão como rebentos de oliveira ao redor da tua mesa." (Sl 128, 3)

 

Instintivamente, levo a mão ao ventre: não preciso de teste de gravidez. Aquele rebento de oliveira faz-me saber, com uma certeza inusitada, que o meu ventre já está habitado... Não sei que notícia dar primeiro.

Foi assim que a Lúcia se fez anunciar, há sete anos atrás. Dia 2 de outubro, dia do Anjo da Guarda, ela nascia, rebento de oliveira em flor, para encher a nossa casa de risos. Hoje, celebrando o seu aniversário, vendo-a saltar de alegria ao desembrulhar as prendas, recebendo os seus abraços, fazendo-lhe as tranças marotas, eu recordo o tronco rugoso, a espera impaciente, o rebento minúsculo a anunciar a primavera, e a Palavra surgindo cá dentro... Quem, senão o Senhor, faz milagres assim? Ele enche a Terra de sinais do seu amor, e nós andamos tão distraídos...

Parabéns, querida filha!

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