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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O primeiro período está a chegar ao fim. Para o Francisco, foi o primeiro período da sua vida numa escola que não o Colégio Nossa Senhora da Assunção. Outro dia, quando fui ao Colégio buscar os mais novos, encontrei sentados nos degraus da entrada dois meninos do primeiro ciclo com o Cubo de Rubik na mão, procurando animadamente resolvê-lo. Sorri para comigo, enquanto pensava: "Marcas do Francisco no Colégio..." De facto, foi o Francisco a levar a "moda" do cubo para o colégio, "moda" que vai passando de criança para criança, de jovem para jovem, arrancando meninos aos telemóveis e aos jogos de computador para o entusiasmo com um desafio tri-dimensional, como o Francisco gosta de explicar.
Entretanto, na Escola Básica e Secundária de Anadia, onde eu leciono e o Francisco frequenta o 12º ano por não ter possibilidade de escolher Física no Colégio neste ano letivo, há já um pequeno grupo de alunos de cubo na mão, nos intervalos. Não foram precisas mais do que algumas semanas para o Francisco contagiar vários colegas com o seu entusiasmo por desafios e quebra-cabeças!
- Mãe, hoje estou muito contente - Disse-me o Francisco outro dia, quando entrou no carro para regressar comigo a casa depois das nossas aulas.
- Então, tiveste entrega de algum teste?
- Não. Estou contente por outra razão. Sabes, um dos meus colegas, com quem me estou a dar particularmente bem, agradeceu-me ter vindo para esta escola.
- Que bom! E que te disse ele?
- Disse-me que sempre foi uma criança e um adolescente entusiasmado com a vida, a ciência, os desafios, enfim, todas as coisas que a mim me entusiasmam também. No entanto, para se poder integrar nos grupos e escolas por onde foi passando, foi esquecendo essa sua paixão. Há já muito tempo que não agarrava novos desafios... Então eu cheguei a esta escola com o cubo, o ilusionismo, os sites de ciência e de desafios que vejo na net, o meu canal e toda esta minha forma de encarar a vida, e ele redescobriu a sua antiga paixão. Agora, disse-me ele, está de novo entusiasmadíssimo com projetos, ideias e desafios, e agradeceu-me por isso.
Sorri, enquanto conduzia por entre a chuva. Deus faz destas coisas, e não me admirava nada que Ele tivesse conduzido o Francisco até esta escola por causa deste rapaz!
Outro dia, num debate sobre a existência de Deus na aula de Português, a propósito de um poema de Pessoa, o Francisco descobriu que só tinha na turma uma colega católica assumida. Depois de uma troca de argumentos apaixonada e divertida, sob a moderação da professora, a turma regressou à sua natural bonomia. Feliz, o Francisco contou-me que os colegas tinham ficado surpreendidos com alguns dos seus argumentos. "Foi giro falar destas coisas na escola", disse-me, mais tarde.
O que faz com que o Francisco não tenha vergonha de se afirmar cristão, em qualquer grupo onde se insira? O que lhe dá esta confiança de ser ele próprio e esta vontade de "arrancar amigos ao sofá", como costuma dizer? O testemunho de vida cristã não passa apenas pela forma de viver a religião, mas também pela forma de estar na vida de todos os dias e em todos os campos do saber humano. E as obras de misericórdia espirituais incluem o esforço de sair de nós próprios para ir ao encontro do outro e o ajudar a ir mais longe, corrigindo-o, desafiando-o, acompanhando-o no caminho.
Uma das perguntas que as pessoas mais fazem ao Francisco e à Clarinha, nos nossos encontros e retiros, é esta: "Viver a fé da forma que o fazem não vos afasta dos amigos?" Eles riem-se sempre, sem entender o que querem as pessoas dizer com esta pergunta, pois nunca, até hoje, deixaram de ter amigos ou de ser altamente respeitados na escola, seja ela escola católica ou - como o Francisco me está a provar - estatal.
Pela nossa parte, o Niall e eu escutamos muitas vezes também outra pergunta: "Não têm medo que os vossos filhos percam a fé e os valores cristãos, no contacto com os colegas e a escola em geral?" Mas como podemos nós ter medo, se todos os dias, sem exceção, rezamos em família e fazemos evangelização familiar? Não confiaremos nós nas promessas do Senhor, que nunca Se deixa vencer em generosidade? S. Paulo dá-nos uma Palavra magnífica:
“Se Deus está por nós, quem estará contra nós?
Em tudo somos vencedores
Naquele que nos amou.
Pois estou convencido de que
nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os poderes celestiais,
nem o presente, nem o futuro,
nem as forças cósmicas,
nem a altura, nem a profundeza,
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus
manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor.”
(Rom 8, 31-39)
Na nossa "Declaração de missão", que o Niall e eu escrevemos pouco depois de nos casarmos e que temos emoldurada na parede da sala, está escrito: "Queremos ser luz em casa, na escola, no trabalho, na Igreja, em todo o lado..." Queremos estar onde as pessoas estão, queremos estar no mundo sem ser do mundo, queremos ajudar os outros a descobrir o melhor de si próprios, queremos viver plenamente e sem medo a nossa vocação de leigos, que é precisamente a de iluminar, com a nossa presença, os ambientes da vida de cada dia...
A Família Duggar tem um lema:
J.O.Y.: JESUS first, OTHERS second, YOU last, that is the secret of joy!
O acrónimo funciona muito bem em inglês: JESUS em primeiro lugar, OS OUTROS em segundo, TU em terceiro, eis o segredo da ALEGRIA. Como a nossa família é bilingue, nós decidimos adoptar este lema também na nossa casa. Alguém nos sugere um acrónimo que funcione em português, mantendo a mesma mensagem?
Cá em casa, quando duas crianças lutam por um brinquedo, pelo banquinho vermelho à mesa, pelo primeiro lugar nas cavalitas do pai ou por qualquer outra coisa, nós lembramos: Jesus first, others second, you last... Nem sempre resulta, e na maior parte das vezes, a única solução é mesmo um berro. Mas o lema vai entrando e vai fazendo o seu caminho.
A prova disso são os mais velhos.
Às vezes, a Clarinha precisa de ajuda com os trabalhos de casa de Matemática e vai ter com o Francisco, o único que lhe pode valer. Sentado ao computador, de auscultadores nos ouvidos, o Francisco está a praticar os seus truques de ilusionismo. A Clarinha pede uma, duas vezes, depois dá um grito, atira com os livros para o chão e diz que assim nunca vai conseguir e que assim não vale a pena ter irmãos e que... Decido que tenho de intervir. Entro na sala e retiro os auscultadores da cabeça do Francisco:
- Não ouviste a tua irmã?
- Sim, mas ela não sabe que eu agora estou ocupado? E sempre com dúvidas tão parvas!
- Francisco, quem está em primeiro lugar na tua vida?
O Francisco suspira. Longe de se revoltar, o Francisco quer fazer o que está certo, e só precisa de ser recordado disso quando está um pouco distraído. Carregando na "pausa" do vídeo, levanta-se e vai ter com a Clarinha. E de repente, é todo atenção, e só regressa ao computador quando a irmã tem o trabalho feito. De volta ao ilusionismo, o Francisco vem mais feliz, pois sabe que, uma vez mais, Deus ganhou na sua vida.
A Clarinha gosta muito de dançar e fazer ginástica no seu quarto, ao som da música, de porta fechada. Vendo o seu prazer, procuro afastar os irmãos para que não a incomodem. Mas às vezes, a Lúcia, a Sara e o António entram no quarto e recusam-se a sair. Eu estou preparada para enfrentar as birras e obrigá-los a sair, mas a Clarinha é generosa e não mo deixa fazer. Baixando a música, decide incluir os irmãos nas danças e na ginástica, passando de bailarina a professora. Depois, com a mesma autoridade, manda-me embora:
- Vai descansada fazer o que tens a fazer, que eu tomo conta deles!
À noite, quando rezamos, não me esqueço de mencionar os gestos generosos do Francisco e da Clarinha, agradecendo ao Senhor por eles. Quero que saibam o quanto Deus se alegra por os ver crescer no amor. E o quanto eu me alegro por os ver nos caminhos de Deus.
Educar segundo o evangelho não é fácil. Mas se somos cristãos, não temos alternativa! É preciso que a Palavra de Jesus atravesse todos os aspectos da nossa vida e modele a nossa forma de agir, de falar e de pensar. É preciso que os nossos filhos aprendam a amar, a servir e a dar, e descubram a alegria profunda que os ensinamentos de Jesus provocam na alma.
Como mãe, fico muito feliz quando os meus filhos têm bons resultados escolares. Mas fico muito mais feliz quando os vejo a praticar o Evangelho. E eles sabem disso. O Niall e eu não os estamos a educar para terem o primeiro lugar no mundo, mas no céu. Não queremos que recebam recompensas dos homens, mas de Deus. Não queremos que recebam muito dinheiro, queremos que recebam muitas graças. E que sejam santos, isto é, profundamente felizes. Tudo o resto, como já disse noutro post, é esterco.