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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O nosso jardim tem sofrido muito ao longo dos anos. Coitado dele! Este pedaço de terra à volta da nossa casa é alvo das mais acérrimas lutas entre flores e bolas de futebol, relva a crescer e sopas para bonecas em panelinhas de plástico, couves verdinhas e galinhas que se soltam do galinheiro. No outro dia de manhã, à hora do pequeno-almoço, os nossos filhos assistiram, boquiabertos, a esta discussão entre o Niall e eu:
- Niall, há galinhas à solta no jardim, olha só pela janela!
- O quê???? Depois de eu ter passado o fim-de-semana curvado a plantar a horta? Será possível? É desta que acabamos com o galinheiro.
- Nem penses! Eu adoro escutar o cacarejar das galinhas logo de manhã!
- Mas eu adoro ver uma horta bonita, e olha só para a desgraça da nossa horta! E esta primavera vou ter de vedar parte do jardim para a relva poder recuperar.
- Não vedas não, que os meninos precisam de espaço para jogar à bola.
- E como queres que tenham relva para jogar à bola se eu nunca lhe der uma oportunidade para recuperar?
- Mãe, pai, está na hora de irmos para a escola - Interrompeu a Clarinha, trocando olhares divertidos com o Francisco.
- OK, falamos de galinhas e crianças mais tarde - Concluí.
Pela hora de almoço, como costume, telefonei ao Niall.
- Niall, desculpa esta manhã. Se achas melhor destruir o galinheiro, eu aceito - Disse-lhe. - E se quiseres, vedamos parte do jardim também.
- Oh, não, eu queria mesmo telefonar-te para te pedir desculpa - Respondeu-me ele - Eu sei que tu gostas das tuas galinhas e que as achas fofinhas. No sábado vou arranjar o galinheiro e refazer a horta. E a relva há-de crescer, deixa lá!
- Não, destruímos o galinheiro.
- Não, não é preciso. As tuas galinhas são umas queridas...
- Mas eu aceito!
- Mas eu não aceito!
E lá discutimos nós novamente... Desta vez, para decidir quem era o primeiro no amor!
O jardim, as bolas de futebol, as sopas de ervinhas para as bonecas, as galinhas e a horta lá continuam a conviver, e nós vamos gerindo tudo isto com muita paciência e, sobretudo, muito amor.
Ontem de manhã acordei com um perfume delicioso, vindo do jardim. Um perfume tão forte, que atravessava as janelas fechadas. Abri as cortinas e as portadas, e deparei-me com o jasmim todo em flor:
Lembrem-me então de um dos meus livros preferidos na Bíblia, o Cântico dos Cânticos. Diz o Amado:
"Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha Amada!
Eis que o inverno já passou,
a chuva parou e foi-se embora;
despontam as flores na terra,
chegou o tempo das canções,
e a voz da rola já se ouve na nossa terra;
a figueira faz brotar os seus figos
e as vinhas floridas exalam perfume.
Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha Amada!"
(Ct 2, 10-13)
Abracei o Niall. O jasmim florido era a prova de que necessitávamos para acreditar que mesmo os terrenos mais sofridos se podem deixar trabalhar e cobrir de perfume. O mundo, o outro, os meus defeitos e os problemas que se abatem sobre nós ameaçam destruir o pouco que vamos conseguindo construir? O poder de Deus é muito maior! Os jardins da nossa vida e do nosso sucesso teimam em murchar? O importante é que o nosso jardim interior esteja coberto de flores, e o Senhor se agrade passeando nele...
- Mãe, estive a ler a Bíblia.
- A Bíblia, David? A tua Bíblia ilustrada?
- Não, a tua Bíblia. A azul, sabes.
- Ai sim? E que leste tu?
- Estive a ler a Carta aos Romanos. Aquela Carta de S. Paulo!
Troquei um olhar cúmplice com o Niall, que escutava a conversa divertido. Sentado no sofá, o David tinha num dos lados a Bíblia, e no outro, um livro de Asterix, que ele adora ler. Calculei imediatamente o porquê da "Carta aos Romanos"...
- Olha lá, o que é que tu leste nessa carta?
- Não percebi muito bem. Mas era sobre Deus, lá isso era!
- Também me parece que sim - Atalhei. E continuei: - David, porque é que tu gostas dos Romanos?
- Porque são soldados! Pelo menos no Asterix são.
- Sabes que S. Paulo escreveu um texto especial para os soldados?
O David olhou-me com os olhos muito abertos e estendeu-me a Bíblia:
- Lê-me esse texto!
- Ora escuta então:
"Revesti-vos da armadura de Deus, para terdes a capacidade de vos manterdes de pé contra as maquinações do diabo. Mantende-vos, portanto, firmes, tendo cingido os vossos rins com a verdade, vestido a couraça da justiça e calçado os pés com a prontidão para anunciar o Evangelho da paz; acima de tudo, tomai o escudo da fé, com o qual tereis a capacidade de apagar todas as setas incendiadas do maligno. Recebei ainda o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus." (Ef 6, 10-17)
Quando terminei, o David tinha um sorriso largo na cara.
- Ena, pá! Diz lá outra vez como é essa roupa!
Repeti cada detalhe, devagar, fazendo os gestos com ele. Por fim, rimo-nos juntos. S. Paulo tinha cá cada ideia!
Sabes, David, a vida cristã é e será sempre uma batalha, e só vencerá quem souber lutar. Podia ler-te muitas outras passagens de S. Paulo, em que o Apóstolo nos fala da luta entre a carne e o espírito, entre a vontade do homem e a vontade de Deus... Mas esta chega para entenderes que precisas de te preparar para a batalha, se quiseres ser vencedor!
David, não penses que a obediência a Deus é tarefa fácil, ou tarefa de um dia! Não penses que conseguirás ser santo sem muita luta. Mas de uma coisa podes ter a certeza: Jesus está lá, na frente da batalha, dando a vida para que nós sejamos, n'Ele, vencedores. Assim, não te esqueças de enfrentar as guerras com as palavras mágicas: "Nós, Jesus, Tu e eu..." Ámen!