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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Chegou, finalmente, a noite mais santa do ano! O Senhor Jesus ressuscitou, tal como havia prometido, e precede-nos a caminho de Casa! Cantemos aleluias sem fim, exultemos de alegria e festejemos!
Ao fim da tarde, à lareira, conto aos mais novos as histórias das leituras bíblicas desta noite santa, e que os mais velhos irão escutar pela noite dentro, na Vigília Pascal. Uma pequena Bíblia ilustrada fornece-nos as imagens, e todos recordam as histórias já bem conhecidas: A Criação do Mundo, Abraão, Moisés... Por fim, contamos com entusiasmo a história da ressurreição. Que maravilha!
- Agora conto eu, mamã - Diz-me a Sara, tirando-me a Bíblia ilustrada das mãos e sentando-se num banquinho. É a minha vez de escutar com atenção!
Entretanto, o Canto de Oração vestiu-se de festa: é a Páscoa do Senhor!
Depois de jantar, reunimo-nos para fazer a nossa "vigília pascal caseira", como todos os anos. Os meninos apressam-se a ir buscar as suas velas batismais e acendem-nas à entrada da sala, para a nossa breve procissão.
De pé, cantando aleluias, levantamos bem alto as velas acesas dos nossos batismos. A luz que um dia se acendeu dentro de nós ilumina a noite, ilumina a vida, ilumina o mundo...
Há sempre muita competição para ver quem segura a vela do batismo do Tomás!
Depois, ajoelhados, fazemos a Novena da Divina Misericórdia, com especial empenho neste Ano Santo.
O Niall e os mais velhos saem para a Vigília Pascal. Os quatro mais novos vão para a cama, e em breve dormem a sono solto, cansados das longas noites da Semana Santa e da muita brincadeira com os primos. A casa fica mergulhada em silêncio...
O silêncio do túmulo vazio.
"Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou, como havia dito!" (Lc 24, 5)
Amanhã de manhã - muito, muito cedo - acordaremos com o repicar dos sinos, anunciando a visita pascal, que começa às nove horas no início da rua, praticamente em nossa casa. Sim, Ele ressuscitou, não podemos ficar a dormir! Anunciemos por todo o mundo que Ele está vivo, que Ele nos dá a Vida, que n'Ele vivemos para sempre!
Uma Santa Páscoa para todos, todos vós! Aleluia! Aleluia!
Em Viana, ouvimos pela primeira vez falar no Bem-aventurado Frei Bartolomeu dos Mártires. Sim, somos muito ignorantes ainda! Não sabíamos nada sobre a vida extraordinária deste santo português, nascido há quinhentos anos atrás. Foi preciso ir a Viana e participar na eucaristia no convento de S. Domingos para ficar a conhecer este grande homem. O padre Vasco Gonçalves teve a gentileza de nos oferecer algumas lembranças depois do nosso encontro com os pais da catequese familiar, e entre elas, um livro sobre este santo.
Frei Bartolomeu nasceu em Lisboa em 1514 e entrou na Ordem Dominicana em 1528. Foi professor e foi Prior de conventos, tornando-se depois Arcebispo de Braga. Deu um contributo enorme para as reformas da Igreja no seu tempo, insistindo sobretudo em dois pontos tão queridos ao nosso Papa Francisco: a proximidade dos Pastores para com o seu povo, e a simplicidade do clero.
(Eucaristia paroquial no convento de S. Domingos)
Ontem, o Niall partiu de viagem. Como costume, ao chegar ao aeroporto, telefonou-me. Eu sei que é difícil de acreditar, mas a verdade é que, de todos os temas possíveis e imaginários, a nossa conversa foi sobre... Frei Bartolomeu dos Mártires!
- Teresa, acabo de ler um bocadinho do livro que o padre Vasco nos deu - Disse-me ele ao telemóvel. O Niall aproveita sempre as viagens ao estrangeiro para pôr a leitura em dia.
- E então? O que descobriste?
- Escuta só o lema deste santo: "Arder e iluminar"! Imagina tu! Que bonito!
- Arder e iluminar?
- Sim. Diz aqui que Frei Bartolomeu gostava muito da figura de João Batista, que foi uma grande testemunha de Jesus. Jesus dizia que João era uma "lâmpada ardente e luminosa" (Jo 5, 35). A luz, para iluminar, tem de arder, tem de se deixar consumir... Dizia João Batista:
"É preciso que Ele cresça e eu diminua." (Jo 3, 30)
- Que bonito, Niall! É isso mesmo que precisamos de fazer na nossa vida. Para que a luz de Jesus brilhe em nós, temos de deixar que o seu fogo nos queime todas as impurezas...
- E não podemos ter medo ao trabalho, ao sofrimento, à renúncia, à entrega. Temos de levar a nossa missão até ao fim, como João Batista. Como Frei Bartolomeu. Arder e iluminar.
- Sim. Se não arder, não ilumina! Como podemos iluminar os outros sem morrer para nós mesmos?
- Bem, está na hora do meu voo. Se quiseres, escreve um post sobre isto!
- Olha que escrevo mesmo!
Aqui fica ele! Amanhã é Dia de Pentecostes. O fogo de Deus vai descer, vai consumir, vai queimar, vai purificar, vai transformar, e finalmente, vai iluminar... Não fujamos com o pavio da nossa vida! Deixemos que Ele venha e que incendeie o nosso coração.
Hoje, de forma solene, rezaremos esta oração que vos propus como novena há um ano atrás: novena do pentecostes
Rezem-na connosco também! E que o Espírito Santo nos faça fiéis ao lema do Frei Bartolomeu: Arder e iluminar. Ámen!
O António entrou a correr no quarto, com a cara cheia de terra e o cabelo transpirado.
- Ena, António, isso é que é brincar! - Comentei, enquanto procurava abraçá-lo para depois lhe retirar a camisola. Mas o António afastou-me:
- Tens de ir embora, porque eu vou fazer uma coisa e não quero que tu vejas!
O seu sorriso maroto não deixava margem para dúvidas:
- Bem, se tu não queres que eu veja, é porque é asneira! Vais guardar algum pedaço de terra na gaveta, como da última vez? Ou, deixa-me adivinhar: vais guardar um pedaço partido de um vaso de cerâmica, como naquele dia em que as tuas gavetas apareceram cheias de pedaços de vidro? Ou... Não estás a pensar em fazer um ninho de minhocas debaixo da cama?
O António abanou a cabeça, muito sério. Entretanto, a Clarinha chamou-me do seu quarto, e baixinho, informou-me:
- O pai comprou um pacote de pastilhas ao António, e ele escondeu-as para as comer sem tu dares conta...
Enquanto deixava o António sozinho com a sua "marotice", fiquei a pensar nas palavras de S. Paulo:
"Antigamente éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz, pois o fruto da luz manifesta-se em toda a bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor e não participeis nas obras estéreis das trevas. Pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque é até vergonhoso falar das coisas que estas pessoas fazem em segredo. Mas todas as coisas condenadas são postas a descoberto pela luz, pois tudo o que é manifestado torna-se luz." (Ef 5, 8-14)
Como o António, também eu sei perfeitamente o que devo ou não devo fazer, e para calar a minha consciência, evito cruzar o meu olhar com o do Senhor quando pratico o mal... Mas as minhas "marotices" são bem menos inocentes que as do António! Se vivesse mais consciente do olhar constante do Senhor pousado sobre mim, não pecaria tanto.
Há duas formas belíssimas de me colocar à luz do olhar do Senhor: uma delas acontece no sacramento da Confissão, quando descubro o meu pecado e o conto com simplicidade a Jesus, na pessoa do seu sacerdote; a outra, através da adoração de Jesus-Eucaristia, ou simplesmente de uma oração diante do sacrário. Nem sempre consigo falar com Ele, porque me faltam as palavras e me foge o pensamento, mas sempre, sempre me posso deixar contemplar, amar e iluminar por Aquele que é a Luz...
Hoje, a pedido do Papa Francisco, irão começar um pouco por todo o mundo vinte e quatro horas de adoração eucarística. Nós também iremos oferecer algumas das nossas horas familiares para adorar o Senhor!
Francisco:
"Eu e a Clarinha nunca fazemos trabalhos em conjunto na escola. Primeiro porque temos dois anos e meio de diferença, mas essencialmente porque temos gostos e talentos muito diversos. No entanto, nas Jornadas Culturais do nosso colégio este ano, tivemos a oportunidade rara de trabalharmos em conjunto no mesmo projeto, cada um a fazer coisas completamente diferentes mas de tal modo que, sem um, o trabalho do outro não faria sentido: juntos e com mais uma colega do 9º ano, preparámos uma dança executada pelas duas, com efeitos especiais feitos por mim e projetados nelas. A inspiração veio de um vídeo do Youtube, que procurámos imitar e adaptar.
Fazer isto não foi fácil. Foi necessário uma sincronização perfeita (ou quase!) entre as bailarinas e o vídeo com os efeitos especiais. Isso foi possível filmando as bailarinas, contruindo os efeitos nesse vídeo, removendo o fundo e adicionando outro. Uma complicação! Eu tive de seguir as mãos das bailarinas com pontos a cada segundo do vídeo, o que deu uma trabalheira enorme. Só assim pude, por exemplo, unir as bailarinas com raios de luz.
Depois de dois dias a fazer o vídeo sem parar, chegou a vez da Clarinha e a amiga começarem a treinar os movimentos todos de modo a sincronizarem com o vídeo que foi feito sincronizado com elas (sim, eu também fiquei confuso!). Isso requereu prática, mais uns ajustes da minha parte, umas improvisações da parte delas, mas creio que no final tudo ficou bem, como podem avaliar pelo vídeo.
Foi muito interessante trabalhar em conjunto com a minha irmã. Primeiro porque podia ir consultando uma das bailarinas para ver se ela “aprovava” o meu trabalho, segundo porque ela podia ir vendo e imaginando na sua mente o que teria de fazer em palco, no dia das Jornadas, por último porque… bem, é minha irmã e é raro fazermos este tipo de trabalhos! Foi divertido, valeu a pena!"
Clarinha:
"Este ano participei de uma forma diferente nas Jornadas Culturais. Um grupo de professores desafiou-me a mim, a uma amiga e ao meu irmão a construir uma "dança das estrelas".
A primeira vez que experimentámos dançar com a projeção foi no ensaio geral, e por vezes não conseguimos fazer a dança sincronizadas com os efeitos especiais. Tivemos de encontrar estratégias, contar os passos, etc.
Depois de muito praticar com a minha colega, entrámos em palco. Foi engraçado como, sem ver, tínhamos de "agarrar as estrelas" sem nos enganarmos.
Quando terminámos a apresentação, saímos do palco e demos saltos de alegria por termos conseguido trabalhar em equipa e lançar estrelinhas!"
Foi preciso concentrar toda a sua atenção no outro, no trabalho do outro, nos movimentos do outro, no talento do outro...
Foi preciso ser generoso e oferecer o seu tempo livre...
Foi preciso ter fé para acreditar que os gestos e movimentos no ar, aparentemente vazios, lançaram estrelas no palco.
Alguns santos receberam de Deus dons especiais, permitindo-lhes ver a luz ou as trevas que iluminam ou escurecem o interior de cada pessoa. Deus ofereceu-lhes a oportunidade de ver os homens como Ele os vê. S. João, na sua primeira Carta, diz-nos:
"Deus é Luz e n'Ele não há nenhuma espécie de trevas. Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros..." (1Jo 1, 5-7)
O Francisco, a Matilde e a Clarinha descobriram que estavam unidos por fios de luz; e que, mesmo sem verem nem sentirem, podiam agarrar as estrelas.
Seremos nós capazes, ao cruzarmos todos os dias a nossa vida com a dos irmãos, ao rezarmos no silêncio de uma igreja vazia... de fazer a mesma descoberta?
Intervalo da tarde. Sala de professores. Ao balcão, peço um copo de água, que uma hora com a turma Vocacional deixou-me com a garganta a doer. A meu lado, uma outra professora toma um chá de limão.
- Que chá delicioso!
- Claro, fi-lo com os limões do meu quintal - Explica a funcionária, sorridente.
- Deve ter um belo limoeiro!
- Tenho sim. É um limoeiro abençoado...
- ?
- Eu explico. A minha casa fica ao lado da capela da aldeia. É a capela da padroeira, e é tão linda! Mesmo em frente do sacrário, fica uma janelinha, e a luzinha vermelha do sacrário brilha através dessa janela. O meu limoeiro cresce iluminado por essa luz abençoada... De tal forma, que quando quero apanhar um limão à noite, nem preciso de acender a luz no jardim: a luz do sacrário é suficiente!
Crescendo à luz do sacrário, o limoeiro desta simpática funcionária da minha escola tornou-se forte, dando frutos saborosos, belos e abundantes... Enquanto caminhava para a minha próxima aula, dei comigo a comparar-me com um limoeiro, e sorri sozinha. Como é importante crescer perto do sacrário! Depois pensei que talvez não esteja a deixar-me iluminar pelo sacrário tanto quanto devia... Talvez os meus frutos ainda não sejam doces e abundantes, por lhes faltar a luz divina - não a luzinha vermelha que aponta para o sacrário, mas essa luz verdadeira que irradia do Pão, essa luz verdadeira que irradia da Carne de Jesus, que por nós morreu e ressuscitou, e por nós permanece vivo no sacrário de cada igreja, por mais pequena, humilde ou esquecida que seja...
Preciso de expor a minha vida mais vezes a esta luz que santifica, perdoa, cura, liberta, converte. É urgente fazer a experiência de Simeão, que ao olhar para o Menino recém-nascido, nos braços de Maria, deixou a Luz entrar a jorros na sua vida:
"Agora, Senhor, segundo a tua Palavra,
deixarás ir em paz o teu servo,
porque os meus olhos viram a Salvação
que ofereceste a todos os povos,
Luz para se revelar às nações
e glória de Israel, teu povo."
(Lc 2, 29-32)
Afinal, é esta Luz divina que hoje celebramos, no dia da Apresentação do Senhor, ou dia de Nossa Senhora das Candeias...
(Sacrário do Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, com o reflexo do vitral que fica no lado oposto.)
De entre as muitas fotos de férias que a Nathalie (nossa querida jovem leitora a partir do Brasil) me enviou, houve duas que chamaram a minha atenção - as fotos da Catedral de Brasília, dedicada a Nossa Senhora Aparecida:
A Catedral é toda circular, as paredes são vitrais e não existem sequer colunas a sustentar o magnífico teto! Fiquei absolutamente encantada. Que maravilha! E que sensação deve ser, estar no interior de tão bela Catedral, onde também se encontra a cruz de madeira construída para a primeira missa em Brasília, no mato.
Cada um destes vitrais pequeninos deixa passar a luz celeste, colorindo-a com a sua própria cor, mas sem com isso lhe retirar o brilho. Antes pelo contrário! Filtrada através de cada vitral, a luz que ilumina o interior da Catedral torna-se ainda mais bela.
Quando Adão e Eva se descobriram pecadores, optaram por se esconder do Senhor e por tapar a sua vergonha:
"Então abriram-se os olhos dos dois e perceberam que estavam nus; entrelaçaram folhas de figueira e cingiram-se." (Gn 3, 7)
Mais tarde, Jesus disse-nos no Evangelho:
"Não há nada oculto que não venha a ser descoberto" (Mt 10, 26)
Este "vir a ser descoberto", quanto a mim, não significa que a nossa vida tenha de ser exposta num grande "Big Brother" televisivo, mas antes que a nossa vida deve ser exposta ao olhar luminoso do Senhor, sem qualquer receio, sem qualquer hesitação. Tudo, bom e mau, deve ser confiado à misericórdia divina, que tudo perdoa, que tudo corrige, que faz crescer todo o bem. O sacramento do perdão, que obriga ao segredo absoluto da parte do confessor, obriga-nos também à exposição absoluta do nosso pecado diante de Deus, sem "folhas de figueira". Não há caminho mais simples para se deixar atravessar pela luz celeste!
Cada um de nós é um vitral colorido, destinado a deixar passar a luz de Deus, colorindo-a com a sua própria vida, a sua personalidade distinta, as suas boas obras, as suas virtudes e até o seu pecado, desde que entregue à misericórdia divina. Nada do que somos e fazemos, nada mesmo, deve impedir a luz de passar através de nós para iluminar os que se abrigam sob o nosso olhar - os nossos filhos, amigos, vizinhos, colegas.
Quando assim o fizermos, o pequeno vitral que somos, ligado por Deus aos pequenos vitrais de cada um dos nossos irmãos, sustentará a Igreja do Senhor...
Ontem de manhã, na Abertura Solene do Colégio Nossa Senhora da Assunção, onde estão os meus filhos, falou-se de James Foley.
No ecran gigante no ginásio, a sua imagem surgia como uma luz a brilhar nas trevas, ilustrando o tema cultural deste ano lectivo no Colégio: "Enche-te de Luz!" E na escuridão do ecran vazio, brilhou com simplicidade um extracto da carta que James Foley fez o seu amigo memorizar:
«Sei que pensam em mim e rezam por mim e estou agradecido. Sinto a vossa presença, sobretudo quando rezo. Rezo por vós, para que sejam fortes e acreditem. Sinto, de facto, que, quando rezo, vos consigo tocar mesmo nesta escuridão»
Já tive muita ocasião para meditar na fé e na humanidade deste grande homem, que perdeu a vida às mãos de terroristas sem coração; já tive muita ocasião para meditar na capacidade de suportar a dor que Deus parece oferecer-nos quando tocamos o limite, e na serenidade e maturidade que parecem envolver os que atravessam o limiar desta curta passagem pela terra. Mas ali, na escuridão do ginásio, enquanto no ecran brilhavam as últimas palavras de James Foley, o meu pensamento foi para o seu amigo de cativeiro. E enquanto a música de fundo dava relevo às palavras ditadas, eu pensava na concentração, no sentido de dever e no sentido de responsabilidade do amigo de Foley. E sobretudo, na sua capacidade de escuta, abstraindo-se dos barulhos terríveis que os cercavam como cães raivosos. Escutando as palavras que lhe eram entregues como um tesouro, aquele amigo vislumbrou de repente um sentido todo novo para a sua vida. Afinal, ele levava agora na sua memória um testamento espiritual único, que precisava de entregar com urgência. As palavras de Foley tinham sido proferidas para iluminarem as trevas dos que lhe sobreviveriam, e havia uma urgência enorme em fazê-las chegar ao seu destino.
Depois lembrei-me de S. Paulo (outra vez!):
"Trazemos este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não nosso." (2Cor 4, 7)
Antes de morrer, Jesus também deixou aos seus amigos um testamento espiritual. Falava de amor. E nele, Jesus dizia:
"Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei." (Jo 13, 34)
Imagino a concentração, o sentido de dever e o sentido de responsabilidade dos amigos de Jesus... Imagino a atenção com que escutaram, quase que bebendo uma a uma as palavras do mestre, para nunca mais as esquecerem... Também eles levavam na sua memória um testamento espiritual único, que precisavam de entregar com urgência. E a sua missão foi levada tão a sério, que as palavras de Jesus chegaram até nós, de testemunha em testemunha, de amigo em amigo.
As Palavras que Deus confiou ao seu povo foram entregues para serem luz que brilha nas trevas. No mundo árabe, onde James Foley foi cruelmente assassinado, há cristãos que memorizam o Evangelho para poderem meditar nele, pois é perigoso ser apanhado com uma Bíblia. O Papa Francisco sugeriu recentemente aos cristãos ocidentais, que não correm esse perigo, que trouxessem no bolso ou na carteira os Evangelhos, para assim poderem escutar a Palavra de Jesus numa breve pausa durante o dia.
Olhei para aquele ginásio cheio de crianças e jovens, professores, funcionários e pais. Teremos nós o mesmo sentido de urgência e responsabilidade, perante este tesouro que trazemos em vasos de barro? Seremos nós capazes, no corropio do dia-a-dia, de encontrar tempo para a escuta do Testamento de Jesus, que nos foi entregue no dia do nosso baptismo? Seremos nós capazes de o memorizar, de o viver e de o transmitir com fidelidade, como o amigo de James Foley fez com a carta que lhe foi confiada? Se assim fizermos, então a luz brilhará nas trevas...
(A "nossa" praia fluvial da Redonda, anteontem à luz do entardecer...)
Há muito, muito tempo, entre os séculos V e XIII, os monges irlandeses habitavam este simples mosteiro à beira-mar:
Há muito, muito tempo, no século XIII, o Lorde de Leinster construiu aquele que é hoje o farol operacional mais antigo do mundo, o farol de Hook:
Para o farol iluminar a noite e os navios, que frequentemente embatiam contra as falésias magníficas da costa, era necessário transportar uma tonelada de carvão por dia até ao cimo. Quem estaria disponível para o fazer? O lorde de Leinster teve uma ideia: convidou os monges a abandonar o seu mosteiro frio e húmido e a habitar no farol. Ofereceu-lhes os campos em redor para cultivar e o acesso livre às águas cheias de peixe do mar, e em troca pediu-lhes para manterem o fogo sempre aceso no cimo do farol.
Assim, todos os dias os monges carregavam uma tonelada (uma tonelada!!!) de carvão pela escada em caracol até ao cimo do farol. Todos os dias os monges rezavam as suas orações, celebravam a missa e entoavam salmos e hinos ao Senhor. O farol – casa da luz, “lighthouse” – tornou-se assim verdadeiramente Casa da Luz. E os monges ficaram conhecidos como os Guardiães da Luz – “The Keepers of the Light”.
Ontem subimos as escadas em caracol até ao cimo, para escutar esta história e contemplar a Criação...
O rei Henrique VIII expulsou os monges do farol, mas não conseguiu destruir a sua história.
Caminhando com a minha família pelas falésias, brincando junto do mar, escalando as rochas, contemplando o horizonte, não posso deixar de pensar no símbolo magnífico que a História criou: os monges habitando um farol, o farol transformado em mosteiro, a luz que brilha no cimo, os guardiães da luz transportando diariamente o carvão até ao cume…
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no céu." (Mt 5, 14-16)
Será que a minha casa, a minha família e a minha vida são verdadeiramente “Lighthouses”, Casas da Luz? Estarei eu disposta a transportar todos os dias o carvão necessário para que a luz nunca deixe de brilhar? Serei eu capaz de transformar qualquer farol em mosteiro, a minha casa em igreja doméstica? Serei eu Guardiã da Luz que recebi no dia do meu baptismo?
Também a mim, como àqueles monges, Deus ofereceu uma casa, um trabalho e uma paisagem para cultivar e amar. Em troca, pede-me que nunca deixe a Luz apagar…
- É verdade que tu no blogue disseste que eu agora me porto sempre bem?
- É sim, António. Escrevi um post sobre isso!
- Ah, então tenho mesmo que me portar bem!
Pois é... Que responsabilidade a dos cristãos! Afirmamos publicamente a nossa fé pelo simples acto de entrarmos numa igreja, de frequentarmos os sacramentos, de baptizarmos os nossos filhos, e depois? Que mensagem transmitimos nós ao mundo? Se eu tenho ritos cristãos, mas obras pagãs, que testemunho dou? Está na hora de ser cristão por dentro e por fora... Escreveu o papa Francisco no Twitter no dia 7 de abril:
"Como nos faz bem deixar que o Senhor sacuda a nossa vida tíbia e superficial!"
No evangelho, Jesus disse:
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no céu." (Mt 5, 14-16)
O António, com os seus quatro anos fresquinhos, já pressente a responsabilidade cristã do testemunho de vida. A pequena visualização deste nosso blogue familiar é para ele a luz que se coloca no candelabro e ilumina quem se aproxima. E para poder assim iluminar os outros, o António deixa que Jesus "sacuda a sua vida", como disse o papa. Então, pelo António, vou continuar a escrever...
(António cowboy)
Ontem, por causa da tempestade, o serão foi à luz de uma pequena vela, já bastante gasta, que todos os dias acendemos no Canto de Oração; e, claro, à luz das várias lanternas do António que, como se devem lembrar, é viciado em lanternas, tendo várias meio avariadas espalhadas um pouco por toda a casa.
No Evangelho deste domingo, escutámos:
"Vós sois a luz do mundo; não se acende uma lâmpada para colocar debaixo da mesa, mas para se pôr no candelabro, a fim de iluminar todos os da casa." (Mt 5, 14-16)
E alguns domingos atrás, Isaías dizia:
"Os homens que andavam nas trevas viram uma grande luz; para os que viviam na escuridão da noite, uma luz apareceu." (Is 9, 2)
Estamos de tal forma habituados à luz eléctrica, que temos dificuldade em descobrir o enorme alcance destas palavras. Naquele tempo, como ontem à noite, a luz não era um dado adquirido, uma banalidade, que acendemos quando assim desejamos. Quem queria ver, tinha de se acercar da única fonte de luz da casa e aí permanecer. A toda a volta, a escuridão era poderosa e ameaçadora, pronta a devorar quem se afastasse um pouco da pequena chama brilhante e quente. A luz era verdadeiramente um dom, e como tal era acolhida.
Ontem, enquanto trabalhava na escuridão, tacteando o meu caminho por entre as camas das crianças para o último aconchego, tacteando o meu caminho na cozinha para as últimas preparações do dia seguinte e, finalmente, tacteando o meu caminho até ao meu quarto para dormir, ontem apercebi-me da profundidade das palavras de Jesus.
Neste minúsculo planeta perdido entre galáxias imensas, um dia Deus veio habitar. E de repente, a escuridão do universo ficou atravessada de luz. Jesus é a única luz a brilhar nas trevas da humanidade. Se nos mantivermos junto d'Ele, seremos aquecidos e iluminados pelo seu amor absolutamente avassalador e a escuridão deixará de nos magoar. Mas se nos afastarmos um pouco, seremos engolidos pela noite universal. Um passo em falso, e cairemos no abismo.
Escutando a tempestade a rugir lá fora, sentei-me por instantes diante do Canto de Oração e saboreei como nunca antes estas palavras de Jesus:
"Eu sou a luz do mundo..." (Jo 8, 12)
Pude ouvi-las a ressoar dentro de mim e imaginei o espanto e a alegria da multidão diante delas. A revolução que Jesus veio trazer foi, num plano diferente, equivalente à revolução provocada pela descoberta do fogo ou, milénios mais tarde, pela descoberta da electricidade. Como Simeão no Templo, naquele dia longínquo da Apresentação do Senhor, experimentei a alegria de finalmente caminhar à claridade do amor.
E antes de me deitar, ainda ouvi Jesus dizer:
"...Aquele que Me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida..." (Jo 8, 12)
Neste mês de fevereiro, propus às Famílias de Caná uma reflexão sobre o poder do sacramento do baptismo na nossa vida. Nele, recebemos definitivamente a Luz! Se o quiserdes ler, fica aqui: Família de baptizados_1_2_14.pdf
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