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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Os nossos gatinhos têm sido uma fonte de animação cá em casa. Lembram-se de como deixámos a Tiger e os seus quatro filhotes fechados na garagem, para que ela se ajeitasse com eles durante a noite e encontrasse um ninho fofo para os criar? Pois bem, no dia seguinte, logo de madrugada, descalços e em pijama, corremos para a garagem. Estávamos desejosos de ver como os gatinhos tinham passado a noite.
Qual não foi a nossa desilusão quando, ao entrar na garagem, não encontrámos sinais dos gatinhos! Que se teria passado? Procurámos debaixo da mesa, dentro da máquina da roupa, sobre as estantes de sapatos e ferramentas, até que a porta entreaberta de um roupeiro chamou a atenção:
Naquele armário só temos roupa fora de uso, à espera que sirva a alguém. Cá em casa, reciclamos a roupa entre irmãos e entre família e amigos. Será que...? Decidimos espreitar:
Que belo ninho a Tiger arranjou! Não teríamos escolhido melhor!
A Tiger saiu do ninho, e pudemos contemplar os seus filhotes:
Ei-los!
Temos dois branquinhos como o pai, um todo preto e um preto e branco. Não são lindos?
Ontem fiz este curto filme, para poderem também aí em casa, com os vossos filhos se for o caso, contemplar esta maravilha da natureza que é o instinto maternal em ação:
Quando contemplo a ternura de uma gata ou de qualquer outra mãe do reino animal; quando contemplo a ternura de uma mãe humana para com o bebé, não posso deixar de pensar no amor infinito de Deus...
Diz-nos o Génesis que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Portanto, se a natureza é capaz de gestos maternais desta intensidade, é poque antes de existirmos, já Deus era maternal. Jesus tratava-O por Pai, Pai que é também Mãe, e muito mais do que Mãe. S. Paulo diz-nos:
"Dobro o meu joelho diante do Pai, do qual procede toda a paternidade que há no céu e na terra." (Ef 3, 14-15)
Que a contemplação da natureza e a intensidade dos nossos próprios sentimentos nos desafie a acreditar no amor infinito que Deus tem por cada um de nós!
- A partir de hoje, desisto do meu filho - Gritava uma mãe, visivelmente aborrecida, diante da pauta com as notas da turma. Eu estava a atender os pais e a entregar as avaliações da minha direção de turma, antes das férias da Páscoa. O filho em questão tem quase dezassete anos e continua no nono ano. É um rapaz simpático e muito trabalhador - no mini-mercado dos pais, que na escola só gosta de brincadeira.
Senti-me constrangida diante do desespero daquela mãe. Ela parecia ignorar os olhares dos outros pais, e continuava, gesticulando e falando muito alto:
- Cria uma mãe um filho para isto! Só o temos a ele, o pai e eu não fazemos outra coisa senão trabalhar, trabalhar, trabalhar de manhã à noite, para ele, naturalmente. E como é que ele agradece? Repetindo o ano novamente, claro!
Tentei acalmá-la, mas percebi que não tinha palavras suficientes. Tudo o que ela dizia era verdade, e o meu aluno não faz um esforço, por pequeno que seja, para dar alegria aos seus pais nos estudos. Registei interiormente a necessidade de conversar com o rapaz, assim que recomeçasse a escola. Sabia, no entanto, que a minha tarefa seria quase impossível se a mãe, de facto, desistisse de lutar pelo sucesso do seu filho.
Oito e meia da manhã, primeiro dia de aulas do terceiro período. À porta da minha sala, tenho a mesma mãe, acompanhada do filho.
- Bom dia, professora! Tem um minuto para falar connosco?
- Claro que sim! Daqui a quarenta e cinco minutos tenho hora de atendimento. Aguarda um bocadinho?
Quarenta e cinco minutos depois, a mãe e o filho estavam sentados diante de mim. O meu aluno mantinha a cabeça baixa, enquanto a mãe, com os olhos cheios de lágrimas, falava.
- Professora, eu vou fazer tudo o que puder para ajudar o meu filho a passar o ano - Disse-me, sempre emocionada. - Ele é tudo o que nós temos. Acha que ainda vamos a tempo?
Recordei-me desta conversa ontem, enquanto rezava diante da imagem de Nossa Senhora, na oração do Mês de Maria.
Olhando para a imagem da Senhora Auxiliadora dos cristãos, eu dizia interiormente:
- Querida mãe, deves estar cansada das desilusões que te causei ao longo da minha vida, e que te continuo a causar! Será que ainda acreditas que sou capaz de santidade?
Foi então que me lembrei da mãe do meu aluno. Uma mãe que o seja verdadeiramente nunca desiste do seu filho, mesmo que, num momento de desespero, tenha a intenção de o fazer. Maria não é apenas uma mãe, mas a melhor das mães. Em Medjugorje, Maria disse um dia: "Se soubesseis quanto vos amo, choraríeis de alegria." No Livro de Isaías, o Senhor diz-nos:
"Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria." (Is 49, 15)
Nem Deus, nem Maria alguma vez desistirão de nós. Ao longo da nossa vida, o Senhor irá servir-se de tudo para nos ajudar a encontrar o Caminho para Casa. Servir-se-á de um amigo, de um problema, de uma doença, de uma crise, de um momento de oração, de um blogue, de um retiro (já se inscreveram no Retiro de Neiva?) e até de um pecado. Não seremos nunca capazes de O desiludir ao ponto de nos abandonar!
E Maria, que viu o Filho morrer por nossa causa, continua a visitar a Terra para nos aconselhar, nos corrigir e nos encorajar... Conhecemos nós a mensagem de esperança que nos deixou em Fátima? Ah, como é forte e poderoso, o amor de uma mãe!...
Há dois anos, recebi um mail com a notícia de um funeral festivo, que atraíra multidões em Itália: o funeral de uma jovem mãe de vinte e oito anos, vítima de cancro. E porque fora o funeral uma festa? Porque Chiara vivera e morrera como testemunha do amor de Deus, deixando na Terra um rasto de santidade.
Chiara espalhava a alegria, a paz e a confiança em Deus por onde passava. Casada com Enrico, vivia a sua fé intensamente. Nos primeiros anos de casada, Chiara dera à luz dois bebés que tinham morrido poucos minutos depois do parto, e fizera-o sempre com uma serenidade invulgar. Em ambos os casos, recusara o aborto proposto pelos médicos, ao tomar consciência das mal-formações dos bebés.
A terceira gravidez fora finalmente de uma criança saudável, mas ao quinto mês de gestação, o cancro atacou Chiara. Caramba, não teria ela já tido uma dose suficiente de dor? Não. Da dor, nasce o amor, e Chiara é a prova disso mesmo: recusando a quimioterapia que a podia salvar, mas que mataria o bebé, Chiara assumiu a sua doença em favor da vida do seu filho. Quando finalmente pôde fazer os tratamentos, depois do bebé nascer, já não foi a tempo. Morreu um ano depois.
A história que, há dois anos, me foi contada por mail, podemos agora lê-la em livro. Melhor: quem vive em Lisboa ou no Porto poderá assistir ao lançamento do livro em português, com a presença do marido e do filho de Chiara! Aqui fica o cartaz que publicita este maravilhoso evento, em Lisboa e no Porto, nos dias 28 e 30, respectivamente: CARTAZ_Chiara.jpg
Vivemos tempos difíceis de relativismo, onde tudo parece depender dos nossos sentimentos e onde as atitudes radicais são apelidadas de fundamentalistas. Chiara parece ter vivido com uma missão: mostrar ao nosso mundo de hoje que é possível ser cristão até ao mais profundo de cada decisão; que podemos acreditar na Palavra de Jesus, quando Ele nos diz: "Não tenhais medo!" E que a verdadeira felicidade só se encontra no cumprimento perfeito da vontade de Deus.
"Quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la." (Lc 9, 24)
Neste dia de Cristo Rei, deixo-vos com um vídeo pequenino sobre a vida e a morte de Chiara. Que ela nos ajude a ver a verdade e a seguir o nosso Rei até ao fim!
Num destes domingos, no final da missa, uma mãe muito querida veio ter comigo. Empurrava a cadeira de rodas do seu filho do meio, um menino lindo, de cabelos encaracolados escuros e olhos grandes, com paralisia cerebral profunda. Debrucei-me sobre o menino, acariciei-lhe os caracóis e afaguei-lhe as faces:
- Como estás, Nuno? Há uns tempos que não te via! Lembras-te de mim?
- Claro que se lembra! - Respondeu-me a mãe - Quando a Teresa começa a cantar, na missa, ele bate logo palmas e faz os seus sons de mimo, a querer dizer que reconhece! - Depois a mãe mudou de tom, os olhos cheios de lágrimas:
- Venho pedir-lhe orações... O meu menino vai ser operado novamente, e desta vez com a coluna aberta de alto a baixo... - Chorou durante alguns minutos, enquanto eu acariciava o rostinho do seu filho. E continuou: - Os médicos têm medo que ele não acorde...
Olhei de novo para a criança, e de novo para a mãe. Conheço bem o amor que circula entre os dois! Em silêncio, dei graças a Deus pelo dom magnífico que Ele nos faz da maternidade. Aquela mãe, numa lógica que é tão divina como materna, estava a pedir a Deus que não a libertasse ainda do seu "fardo"... Que lhe devolvesse o seu menino, esse mesmo menino que a prende em casa, que a impede de "tirar férias dos filhos", como tanto se ouve dizer por aí, que não lhe permite sonhar: "Um dia, quando eles crescerem e saírem de casa, ou quando eles deixarem as fraldas e se tornarem independentes, então vou aproveitar a vida!"
Fico a pensar no egoísmo deste nosso mundo ocidental moderno, que aceita com naturalidade as nossas "queixinhas" porque a vida não é fácil e ter filhos é trabalhoso. Lembro-me da mãe sudanesa que tem de cuidar de dois bebés com os pés acorrentados, como referi aqui e aqui. Lembro-me das mães indianas que não têm que dar de comer a seus filhos. Lembro-me das mães sírias, palestinianas, israelitas, que vêem os seus filhos serem mortos na guerra. E lembro-me de todas aquelas que, como a minha amiga, têm filhos diferentes. Com que direito nos queixamos nós?
Depois recordei-me do que Jesus nos disse:
"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de Coração, e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." (Mt 11, 28-30)
Hoje - o amor é um verbo que se conjuga sempre no presente! - não me vou queixar de nada, "pois Deus ama a quem dá com alegria" (2Cor 9, 7).
O amor torna leve os fardos pesados que vão surgindo, e um coração manso e humilde encontra a paz no meio da dor...
Hoje, quarta-feira, é o dia da longa operação do Nuno. Estará na sala de operações o dia inteiro... Rezemos juntos por ele e pela sua família!
O António chorava desalmadamente, como acontece com alguma frequência. E eu, como também acontece com alguma frequência, fingia que não estava a ouvir.
Mas houve alguém que ouviu: a Sara. E cheia de ternura, do alto do seu ano e meio, tentou acarinhar o irmão, fazendo-lhe festinhas na cara:
Durante alguns segundos, pareceu resultar. Mas foi só o tempo de eu tirar esta fotografia, pois logo depois, o António recuperou o fôlego e recomeçou o choro. A Sara tentou então uma nova estratégia: agarrou na manga do António e puxou-o pelo braço, enquanto com a outra mãozinha apontava para mim. E na sua língua de trapos, repetia: "Mamã!" Os seus esforços foram tão engraçados, que o António quase, quase sorriu:
Quando os amigos choram no nosso ombro, quando os filhos, os alunos, os vizinhos nos pedem conselho, quando nos apercebemos da dor do nosso irmão, para quem apontamos nós? Por muito fortes que pareçamos, por muito boas ideias e bons conselhos que tenhamos, não temos grande poder para mudar o que está errado e secar as lágrimas dos irmãos. Como a Sara, somos impotentes e demasiado pequenos!
Mas como a Sara, podemos "puxá-los pela manga" e levá-los à Mãe...
Maio é o mês de Maria, a Mãe. Há muito tempo que me habituei a oferecer um terço a quem vem desabafar comigo. Sei por experiência que só a Mãe nos pode consolar!
Uma destas noites, antes de me deitar, abri a porta do frigorífico e deparei com este bilhetinho, pousado sobre a última fatia de crumble de maçã:
"Querido Francisco: esta fatia de crumble de maçã é para a mãe. Um abraço, Pai" (O Niall exprime-se sempre com os filhos em inglês, sua língua materna)
Sorri. Mais uma brincadeira entre pai e filho mais velho! O Francisco costuma "assaltar" o frigorífico todas as noites antes de se deitar, e de manhã, os efeitos do "assalto" fazem-se notar. Desta vez, o pai quis ter a certeza de que o seu querido filho não iria engolir de uma só vez o que restava da sobremesa preferida da mãe.
As mães deixarem a melhor fatia aos filhos, é instintivo e absolutamente natural. Até as minhas galinhas, quando têm pintaínhos, o fazem, e é ternurento observar como a mãe-galinha escolhe com o bico os grãos mais tenros para depois os colocar aos pés dos pintaínhos mais frágeis.
Mas os filhos deixarem a melhor fatia para as mães, é algo que precisa de ser treinado, e pode ser treinado a brincar.
Cresci a ver a minha avó cuidar da sua mãe até ao fim, na sua própria casa. E agora vejo a minha mãe cuidar da minha avó, já muito enfraquecida de mente e de corpo, com toda a ternura do mundo. Quando a minha vez chegar, quero estar à altura. E quando for a vez dos meus filhos, desejo de todo o coração que sejam capazes de um amor que dá até doer.
O quarto mandamento da Lei de Deus diz-nos assim:
"Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Senhor te dá." (Ex 20, 12)
Ou seja: honra teu pai e tua mãe, se queres ser feliz. O amor é a única fonte de felicidade.
Depois de ler o bilhete, e de reparar que a fatia estava mesmo intacta - o Francisco tinha uma piada divertida na ponta da língua, na manhã seguinte - sentei-me calmamente na mesa da cozinha, com uma chávena de chá e a dita fatia à frente. Sem complexos de culpa, deliciei-me com a minha sobremesa preferida.