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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hora de oração familiar. Com grande entusiasmo, pego no evangelho do dia, que nos faz mergulhar de cabeça na grande passagem das obras de misericórdia, no capítulo 25 de S. Mateus, 31-46.
- Meninos, vejam se conseguem completar as frases da parábola de Jesus:
"Vinde, benditos de meu Pai, receber o Reino que está preparado para vós desde o início do mundo; porque tive fome...
- e destes-Me de comer!
"porque tive sede...
- e destes-Me de beber!
"estava nu...
- e destes-Me roupa!
"estava doente ou na prisão...
- e fostes visitar-Me!"
A leitura terminou com um coro perfeito de vozes infantis. Já todos sabem a leitura de cor, o que é o primeiro passo para que ela passe da mente ao coração.
- Lembram-se de que forma a Madre Teresa ensinava esta passagem às pessoas?
- Eu lembro! Nas mãos!
- Precisamente! Quando perguntavam à Madre Teresa por que razão ela se dedicava tanto aos mais pobres dos pobres, ela pegava na mão do seu interlocutor e, tocando em cada um dos dedos à vez, soletrava: "You did it to Me".
- Posso fazer na tua mão?
- Faz lá, António!
- "You did it to Me."
- E podemos também fazer em português?
- Sim. Podemos dizer assim: "Foi a Mim que fizeste."
- Agora faço eu!
- E eu também!
- "Foi a Mim que fizeste!"
- Ah, agora o importante é não esquecer... Tudo o que fazemos aos nossos irmãos, fazemos a Jesus. E tudo o que deixamos de fazer, deixamos de fazer a Jesus.
- Eu hoje ajudei os manos a arrumar os legos. E olha que eu não tinha brincado com eles! Posso pôr uma flor no Canto de Oração.
- Eu também fiz uma coisa boa a Jesus. Na escola, com um amigo... Vou pôr uma flor.
Sorrio. O Canto de Oração está a ficar muito primaveril...
- Quem me vem ajudar a tratar da horta?
- Eu!
- Eu!
- Eu!
- Eu!
Rodeado de quatro crianças, o Niall calça as galochas, pega na enxada e dirige-se para a horta. O trabalho que se segue promete ser árduo, pois a nossa horta tem estado um pouco abandonada, entre tantos trabalhos que todos os dias se nos oferecem.
- Já percebi que a minha tarde vai ser trabalhosa - Diz-me, a sorrir - Quando tenho quatro ajudantes, demoro também quatro vezes mais!
Mas o Niall sabe que o importante não é a qualidade da nossa horta. Felizmente, ela é apenas uma experiência pedagógica e não precisamos dela para comer! O importante é a qualidade do amor que os nossos filhos experimentam na sua tarde de trabalho na horta...
Mas se os mais novos adoram ajudar - desajudando -, os mais velhos já não insistem para que os deixemos trabalhar.
- Francisco, não vens comigo?
-...
- Francisco, preciso que retires todas as ervas daninhas.
- Todas, pai?
- Sim. É preciso limpar tudo para depois começar a plantar. Tens ali tudo o que é preciso, e o carrinho de mão está no pátio. Vens ou não vens?
Um suspiro quase imperceptível, o computador que se fecha, e o Francisco vai ajudar o pai.
O Niall sorri, contente. De novo, o que está em jogo é muito mais do que uma horta experimental... Importa ensinar aos nossos filhos o valor do trabalho e oferecer-lhes oportunidades para, também eles, aprenderem a amar, servindo.
Ao pôr do sol, encontro o Francisco na horta, três baldes de ervas daninhas a seu lado.
- Estás a fazer um belo trabalho! - Digo-lhe.
- Eu sei. Mas estou estafado! Hoje acordei com dores de costas por ter saltado tanto ontem com os cavalos.
- Todos nós estamos cansados. É natural! Agora importa não desperdiçares o teu trabalho desta tarde.
- Como assim, desperdiçar?
- Fizeste o que tinha de ser feito, porque o teu pai te pediu. Como filho obediente que és, não te passava pela cabeça não o fazer. Para o trabalho ficar feito, é indiferente estares de boa ou de má vontade... Mas para Deus, isso faz toda a diferença! Para Deus, só conta o que for feito por amor. O resto é pura perda de tempo.
- Eu sei. E é por isso que tenho estado a tarde inteira a oferecer a Jesus este trabalho!
Oferecer a Jesus o trabalho, por amor. Não é preciso que o trabalho nos faça sentir bem, nem que nos apeteça: basta dirigir a nossa intenção e, como o Niall e o Francisco, oferecer a Jesus o que tem de ser feito, unindo cada gesto à sua entrega na cruz. E de repente, tudo ganha sentido!
Desperdiçamos tantas oportunidades na vida, fazendo o que tem de ser feito por obrigação, contrariados, resmungando, para parecer bem, para não falarem de nós, por vaidade, por orgulho, por submissão... Dizia a Madre Teresa:
"Na nossa vida, não somos chamadas a fazer grandes coisas,
mas antes a fazer pequenas coisas com um grande amor."
E S. Paulo explica, no belíssimo capítulo 13 da sua primeira carta aos Coríntios:
"Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos
mas não tiver amor,
sou como bronze que soa ou tímpano que retine.
E se eu possuir o dom da profecia,
conhecer todos os mistérios e toda a ciência
e tiver tanta fé que chegue a transportar montanhas,
mas não tiver amor,
nada sou.
E se eu repartir todos os meus bens entre os pobres
e entregar o meu corpo ao fogo,
mas não tiver amor,
nada disso me aproveita." (1Cor 13, 1-3)
- Meninos, estudem o texto para a próxima aula e pensem nas apresentações orais.
- Mas, professora, na próxima aula são revisões!
- Revisões de quê?
- Revisões para o teste.
- Teste? Já vamos ter teste?
- Sim, a professora marcou para dia 4...
Engoli em seco, abri o calendário escolar e confirmei: sim, vão ter teste para a semana - eles e as restantes seis turmas que leciono. O que significa que tenho de o fazer, e depois tenho de o corrigir. Numa fração de segundo, passaram-me pelo pensamento todas as coisas que têm de ser feitas nos próximos dias, para além daquilo que constitui a minha função principal, ou seja, todo o trabalho familiar. Quando, alguns instantes depois, a campaínha tocou e os meus alunos saíram da sala, fui invadida por uma sensação de pânico. Como irei eu ser capaz? Desci as escadas e dirigi-me ao carro.
- Boa tarde - Murmurei apressadamente para as senhoras do bar da escola, ao passar por elas a correr.
- Boa tarde, professora! - Responderam, sorridentes. E uma delas acrescentou: - Estávamos mesmo aqui a comentar que nunca vimos uma professora a correr tanto! Parece um passarinho aos saltinhos, o dia inteiro!
Dei-lhes o meu melhor sorriso e continuei a correr. Sentei-me ao volante, e o meu pensamento voava. Tinha cerca de vinte minutos disponíveis entre uma escola e outra - quase todos os dias dou aulas em três escolas diferentes - vinte minutos que costumo aproveitar para estender uma máquina de roupa ou adiantar o jantar. Mas desta vez, o caso era urgente, e eu precisava de uma solução. A meio caminho, decidi portanto ir ter com a única pessoa capaz de resolver o meu problema: virei para a esquerda e segui pela estrada de campo, até chegar a uma pequena capela, sempre aberta, onde Jesus espera por mim diariamente no sacrário. Estacionei e entrei.
Tudo estava silencioso, e junto do sacrário brilhava tranquilamente uma luzinha vermelha. Ajoelhei-me e contei a Jesus a minha história, desabafando com Ele o meu pânico. É sempre melhor desabafar com Jesus do que cansar os outros com os nossos problemas!
Enquanto falava, contemplava o enorme crucifixo que se elevava sobre o sacrário. Pareceu-me então escutar um diálogo que a Madre Teresa de Calcutá costumava ter com as suas irmãs. Quando as via agitadas, nervosas, tristes ou cansadas, fazia-lhes uma pergunta:
- Irmã, o que é que Jesus disse: para seguirmos à frente da Cruz ou atrás?
- Atrás, Madre - Respondia a Irmã, já com um sorriso.
- Então levante esse ânimo e caminhe atrás da Cruz de Nosso Senhor!
Caminhar atrás da Cruz é realmente bastante mais simples do que ter de abrir o caminho sozinhos. Quem vai atrás não precisa de se preocupar com as direções, pois tudo é decidido por quem vai à frente. O maior esforço de quem segue atrás é não perder de vista o que abre caminho, mantendo fixo nele o seu olhar. Se eu mantiver o meu olhar fixo em Jesus, se eu estiver disposta a colocar os meus pés nas suas pegadas marcadas a sangue no chão, nada me poderá perturbar ou roubar a paz...
"Vinde a Mim, vós todos que andais cansados, que Eu vos aliviarei!
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de Coração
e achareis alívio para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve." (Mt 11, 28-30)
Quando saí da capela, sorri sozinha ao recordar o comentário das senhoras do bar. Agora sim, parecia um passarinho aos saltinhos, de tão leve estava...
Em busca daquela luz abençoada que irradia da Eucaristia, tenho procurado ir mais vezes durante a semana a uma das várias igrejas abertas, onde Jesus permanece escondido no sacrário. Geralmente, estão vazias, num silêncio quase palpável. Sabe bem, este silêncio completo, quando os meus dias são preenchidos com tantas vozes - dos alunos aos filhos!
De joelhos, em voz alta (gosto de rezar em voz alta), digo a Jesus aquilo que Lhe quero dizer, com simplicidade e sem afetação. Será isto, rezar? Será isto, rezar bem? Não sei. Tenho muitas dúvidas! Mas não me debruço demasiado sobre elas. Sei que a oração bem feita não depende dos meus sentimentos ou das minhas emoções, nem sequer da capacidade de me abstrair de tudo à minha volta para contemplar o Senhor. Às vezes, passo o tempo de oração a lutar contra as distrações; outras, sinto-me transbordante de amor. Talvez a primeira oração seja, no entanto, mais agradável ao Senhor, porque me ajuda a tomar consciência do nada que sou! E talvez a outra oração, cheia de fervor, seja também cheia de vaidade... Jesus nunca deu importância aos sentimentos. Não há nenhuma passagem no Evangelho em que Jesus diga: "Vai em paz, os teus sentimentos te salvaram." Mas há inúmeras passagens onde Jesus diz:
"Vai em paz. A tua fé te salvou!" (ex: Mc 5, 34)
Enquanto contemplava o sacrário fechado, onde apenas uma luzinha me deixava perceber a Presença Real, recordei-me de um belíssimo episódio da vida da Madre Teresa. Aquela Madre tão santa passou metade da vida numa aridez espiritual total, sem conseguir sequer sentir, por momentos que fosse, a presença de Jesus na sua alma. "Se o inferno existe, deve ser assim", desabafou ela um dia. E no entanto, quanto maiores as suas trevas interiores, mais belo o seu sorriso, que todos recordamos. No final da sua vida ocorreu o episódio que passo a citar:
"Nos últimos anos da sua vida, a Madre recebeu a graça de ter o Santíssimo Sacramento no quarto do hospital, e queria tê-l'O sempre consigo. Em Agosto teve outro ataque de coração. Meteram-lhe um tubo até aos pulmões, para a ajudar a respirar. Antes de os tubos terem sido finalmente retirados, o médico disse-me: "Padre, vá a casa buscar a caixa para a Madre." Por momentos, eu fiquei sem saber o que queria ele dizer. "Que caixa - a caixa dos sapatos?" Ele respondeu: "Aquela caixa, para onde a Madre está sempre a olhar. Quando a trazem e a põem aqui no quarto, a Madre fica calmíssima. Era bom estar aqui antes de retirar os tubos." Percebi que ele se referia ao tabernáculo com o Santíssimo Sacramento. E ele continuou: "Quando a caixa está aqui no quarto, ela fica a olhar, a olhar, a olhar para aquela caixa." O médico, que era hindu, tinha sido uma testemunha involuntária do poder que a Eucaristia tinha sobre a nossa Madre." (Vem, sê a Minha Luz, página 328)
Mesmo sem "sentir" o amor de Jesus irradiante do sacrário, a Madre vivia deste amor. A oração bem feita não depende de nada, absolutamente nada que eu faça, sinta ou pense, por muito belo que me pareça a mim. É Jesus, e só Jesus, Quem tudo faz nas almas e nas vidas...
O David nasceu em setembro, quatro meses após a morte do Tomás. O seu nascimento esteve por isso envolto em muita emoção, e os dias passavam-se com muitas lágrimas onde a tristeza e a alegria, a saudade e a felicidade alternavam a uma velocidade relâmpago, empurradas pelas alterações hormonais do pós-parto.
Esta pequena história aconteceu quando o David tinha uns oito dias de vida. Ouvi tocar a campaínha. Era a carteira. Vinha na sua motorizada, como costume. Quase todos os dias parava à nossa porta com um embrulho novo, vindo de Lisboa, da Irlanda ou de Barcelona, com um presente para o nosso bebé recém-nascido. Fui abrir.
- Bom dia! Nova prenda! De onde vem esta hoje? - Perguntei.
- Bem, esta não vem de lado nenhum - Respondeu-me a carteira, a sorrir timidamente.
- Mas... Como assim? É um embrulho...
A carteira pareceu hesitar um instante. Depois explicou:
- Já dei conta de que o seu bebé nasceu, porque vejo tantos embrulhos todos os dias. Também dei conta de que o seu outro bebé morreu... Sim, trouxe tantos telegramas e cartas de condolências... Nós os carteiros sabemos tudo... Bem... Eu também tenho filhos, e tenho chorado ao pensar na sua história! Agora quero alegrar-me consigo: esta prenda é... minha!
Abri o embrulho, com lágrimas nos olhos. Trazia dentro um lindo babygrow e um gorro pequenino. Abracei a carteira, que sorria envergonhada.
Hoje é o dia da Madre Teresa de Calcutá. E em sua honra, é também o Dia Internacional da Caridade. Foi ao ler alguns pensamentos da Madre que hoje recordei esta pequena história. Nas suas visitas ao ocidente, a Madre repetia muitas vezes as mesmas perguntas: "Será que nós sabemos onde está o nosso irmão que sofre? Conhecemos a dor dos nossos vizinhos?" Quando lhe pediam para resumir o principal do Evangelho, a Madre costumava pegar na mão aberta do seu interlocutor e soletrar, tocando em cada um dos cinco dedos: "YOU DID IT TO ME" (A Mim o fizestes). Chama-lhe o Evangelho dos Cinco Dedos...
A carteira que servia a nossa rua, na Gafanha da Encarnação, estava atenta. Distribuir o correio era para ela ocasião de fazer o bem, de partilhar a dor e a alegria do seu próximo, vivendo no trabalho o Evangelho dos Cinco Dedos.
Cá em casa, estamos todos de volta à escola e ao trabalho. É altura de todos aprendermos a praticar o Evangelho dos Cinco Dedos! A história da Madre Teresa foi uma belíssima forma de recordarmos em família o essencial da mensagem de Jesus...
"«Senhor, quando foi que Te vimos com fome ou com sede e Te demos de comer e beber, despido e Te vestimos, preso ou doente e Te visitámos, estrangeiro e Te acolhemos?» «Sempre que o fizestes a um desses vossos irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes.»" (Mt 25, 37-40)
- Diogo, o teu teste está muito bom. Tens para cima de 90%. Mas não creio que tenhas cinco no fim do ano! Já conversámos o bastante sobre a tua falta de interesse, a forma como perturbas todas, todas as aulas, a não realização dos trabalhos de casa, etc.
- Não tem qualquer problema! Não pretendo ter cinco. Só quero o Muito Bom no teste.
- Ai sim? E porquê?
- Porque são os Muito Bons, e não os cincos, que me trazem dinheiro.
- Pagam-te por cada Muito Bom que tu tiras? E pode-se saber quanto?
- Não lhe diz respeito, professora. Pagam-me o suficiente para me manterem interessado nisto.
Fiquei alguns segundos a olhar para o Diogo com tristeza, enquanto a turma ria e reforçava a sua atitude. O Diogo tem uma colecção enorme de jogos de computador, conseguida também à custa dos seus Muito Bons, que ainda vão sendo alguns. Os colegas invejam-no por isso. No entanto, não é um menino feliz. Bem pelo contrário! Conheço um pouco da sua história familiar para saber o que lhe custa a vida. E mais triste me sinto.
Um dia, um jornalista foi entrevistar a Madre Teresa de Calcutá. Depois de a ver trabalhar junto dos leprosos, que morriam caídos nas ruas, e que a Madre recolhia na sua Casa do Moribundo, o jornalista comentou, enojado:
- Não tocaria nesse leproso nem por um milhão de dólares!
- Nem eu - respondeu a Madre com simplicidade. E continuou a tratar do leproso carinhosamente.
Deve ser muito triste trabalhar, estudar, ajudar ou fazer qualquer coisa na vida por algumas - ou muitas - moedas... Que recompensa tão pobre! Tanto esforço, tanto suor, e no final, que alcançamos? Um objecto inanimado? Um pacote de gomas? Um jogo de computador? Um telemóvel novo? Ou talvez umas férias no Hawai? Ou um carro topo de gama? Ou uma casa grande? Ou a possibilidade de ficar sem trabalhar até ao fim da vida? Ou a possibilidade de contractar uma empregada doméstica? Ou uma segunda casa, para férias? Ou... Ganhar o Euromilhões continua a ser uma recompensa muito fraca para uma vida de trabalho... Que é uma casa de férias comparada com a morada que Jesus nos preparou na eternidade? Que é um pacote de gomas comparado com a doçura com que Deus nos irá cobrir, na eternidade?
"Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6, 19-21)
Significa isto que não teremos qualquer tipo de recompensa aqui na terra? Ontem à tarde fiquei uns momentos a observar o Francisco e o seu grande amigo Manuel a trabalharem no carrinho de rolamentos. Estavam, como sempre, entusiasmadíssimos. À noite, perguntei ao meu filho:
- Francisco, se vocês não ganharem a corrida e, sobretudo, o prémio de carro mais original, já na próxima quarta-feira... Como vai ser?
- Como vai ser o quê? Queremos lá saber do prémio! Foi tão divertido construir o carro! E agora que o verão e as férias estão a chegar, temos já tantos projectos para o desenvolver ainda mais! Que dizes do nosso sistema de luzes? E a pintura, que tal?
A recompensa do bem, do trabalho, do esforço, não se mede em dinheiro, nem sequer em sucesso; mede-se em felicidade!
A Lúcia é muito conhecida na missa. Ela gosta de passear pelos bancos, para a frente e para trás, sem fazer barulho (ao menos isso!) mas conversando com toda a gente. E no final sai bem recompensada! Às vezes são chocolates, outras são bolachas, outras um brinquedo... Um dia, a sua boneca recebeu uns sapatinhos de lã brancos. No domingo seguinte, ganhou um gorro vermelho. Fiquei com a sensação de estar a assistir a uma sã competição entre as avós da nossa paróquia, cada uma querendo fazer a melhor peça de roupa para o Nenuco...
Quando a Lúcia me identifica os "dadores" de tantos dons, e eu tenho a oportunidade de lhes agradecer em seu nome, escuto comentários como este:
- Tinha de lhe dar um presente, pois todos os domingos a sua menina me diz que estou linda!
Fico a pensar em Jesus. Na missa, nós damos-Lhe muito pouco... Afinal, uma hora em 168 horas que a semana tem, é mesmo pouco! Mas Ele dá-Se todo a cada um de nós.
Perguntaram um dia à Madre Teresa:
- Madre, não se assusta perante os milhões de pessoas que precisam da vossa assistência? Não desanima por não poderem socorrer a todos?
E a Madre Teresa respondeu no seu tom levemente brincalhão:
- Milhões? Eu abro a porta e só vejo um, um, um, um...
Depois acrescentou:
- Deus só sabe contar até um!
O Papa Francisco disse na homilia do dia 11 de janeiro:
"Deus ama-nos com um amor artesanal, ou seja, um amor feito à medida de cada um de nós."
Assim, durante a missa, Jesus caminha para a frente e para trás por entre os bancos, dizendo-nos palavras de amor ao ouvido do coração. A sua atenção não está na multidão que se junta na igreja, mas em cada um de nós individualmente, como se mais ninguém existisse.
Terminámos o tempo de Natal. Gosto de imaginar Jesus Menino, da idade da Lúcia, a dizer-me o quanto me ama. Já aos cinco anos, Jesus vivia para mim. É difícil acreditar nisto, mas é a mais pura verdade!