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Irmãos e companheiros

por Teresa Power, em 18.12.14

Durante este primeiro período, o David sentiu-se sempre um pouco desanimado com a Matemática, e eu também. O professor foi repetindo que o David tinha capacidade para ser aluno de excelência, mas os resultados não correspondiam.

- Deixa lá, David, tu estás a dar o teu melhor! - Consolava-o eu. Como professora, conheço muitos alunos a quem os pais precisam de castigar quando tiram maus resultados. Os meus filhos, porém, castigam-se a si próprios, com mais ou menos lágrimas de tristeza, e por isso, a mim cabe apenas consolar. Antes isso!

- Talvez o David precise de uma ajuda maior da nossa parte - Dizia-me o Niall. Como ele chega sempre a casa depois dos trabalhos de casa estarem arrumados, essa ajuda, subentende-se, seria minha. Mas os meus fins de tarde são muito atribulados, com a Lúcia a aprender a ler, o António e a Sara a querer atenção, o jantar para fazer... Foi então que me lembrei do Francisco, para quem a Matemática é um hobby engraçado:

- Francisco, tenho um desafio a fazer-te: o David não está a conseguir ter bons resultados a Matemática. Precisamos que lhe dês, por semana, pelo menos uma hora de explicação. Que dizes?

O Francisco ficou calado por uns momentos. Depois tentou esquivar-se:

- Não faço a menor ideia do que ele anda a aprender! Além disso, não tenho jeito para professor.

- Eu também não faço a menor ideia do que ele anda a aprender, mas há uma maneira de ficarmos a saber: consultamos o manual. Quanto ao jeito para professor, Francisco, não te preocupes, que ao fim de duas semanas já o adquiriste!

Com um suspiro, o Francisco percebeu que não tinha alternativa. E com a sua natural paixão por desafios, decidiu agarrar este serviço com ambas as mãos. Assim, nas últimas semanas repetiram-se cenas como esta:

IMG_6724.JPG

Na última semana de aulas, o David chegou a casa exultante: tinha conseguido mais de 90% a Matemática! Feliz, deu um abraço ao irmão.

Agora, que estão de férias, o Francisco decidiu ensinar o David a jogar xadrez. E não é que o David está a ficar um craque?

DSC00260.JPG

Escreveu S. Paulo aos filipenses:

 

"Não cuideis apenas dos vossos próprios interesses, mas tende sempre em mira os interesses dos outros." (Fil 2, 4)

 

Uma das nossas maiores preocupações enquanto pais é assegurarmo-nos de que os irmãos crescem solidários. Conheço cada vez mais famílias em que cada filho faz a sua vida, independente dos irmãos e sem qualquer tipo de responsabilidade para com eles. Tive há uns anos duas alunas gémeas que tinham inveja das notas uma da outra e nunca se ajudavam! Também conheço famílias em que os pequenos serviços prestados entre irmãos são pagos pelos pais... Que tipo de humanidade estamos nós a educar?

O David melhorou o aproveitamento a Matemática; mas o Francisco melhorou aspectos da sua personalidade bem mais importantes que a Matemática! Ajudando o irmão, venceu-se a si próprio, aprendeu a renunciar a um bocadinho do seu tempo para servir o outro, e descobriu a alegria de dar. Isto sim, é crescer...

 

 

 

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publicado às 06:32

Visitação e matemática

por Teresa Power, em 13.11.14

Um fim de tarde bastante agitado de segunda-feira. O António queixava-se de uma unha que já não tinha, e que lhe deixava o dedo a descoberto; a Sara esqueceu-se de ir ao bacio quando sentiu necessidade (e não foi uma necessidade qualquer...); a Lúcia não se recordava se tinha de fazer um desenho sobre "agonia", "alergia", "alegria" ou outra coisa qualquer terminado em -ia, e tinha lágrimas nos olhos enquanto todos nos afadigávamos a procurar descobrir (como o tema geral era a paz, concluímos por fim, sabiamente, que seria "harmonia"); e de repente, fechada no seu quarto, a Clarinha rompeu em pranto. Chorava tão alto, que a Sara me veio avisar, puxando-me pela mão para me conduzir à irmã.

- Que se passa, Clarinha? - Perguntei, já em pânico, enquanto da cozinha me chegava um cheiro a queimado.

- Não consigo fazer nem um único exercício de matemática, dos que saem amanhã na mini-ficha! - E continuava a soluçar em alta voz.

- Clarinha, claro que consegues, tu sabias tudo no domingo, segundo disseste!

- MAS AGORA NÃO ME LEMBRO DE NAAAAAADA!

 

Corri à cozinha para desligar o fogão, e ouvi na rua uma buzinadela. Era a Carla, mãe de uma bela Família de Caná, a chamar a Clarinha para lhe dar boleia até à ginástica. A Clarinha soluçou do quarto:

- Diz à Carla que se vá embora, porque hoje eu não posso ir. NÃO POSSO IR! NÃO SEI NADA DE MATEMÁTICA!

Sem refilar, entreguei o recado direitinho. E agora vou reproduzir aqui a conversa que a Carla e eu podíamos ter tido. Podíamos, porque não tivemos. Podia ter sido assim:

- Carla, a Clarinha hoje não vai, está para ali a chorar por causa da matemática.

- Ok, queres que dê o recado à professora?

- Se fizeres o favor! Obrigada! Até amanhã!

- Bom trabalho para a Clarinha!

 

Este diálogo nunca existiu. Em vez dele, aconteceu isto:

- Carla, a Clarinha hoje não vai, está para ali a chorar por causa da matemática.

- Chorar por causa da matemática? Matemática é comigo! Deixa-me estacionar melhor. Posso entrar? Onde está ela?

- Está no quarto...

- Clarinha, filha, o que se passa?

Soluços e mais soluços - Esqueci-me de tudo!

- Mostra-me lá o que estás a dar. Ah, já vi, estas potências... E o que é que tu esqueceste?

Bem, agora não vos posso contar mais pormenores, porque de matemática do oitavo ano não entendo nada (para ser honesta, desde que Nuno Crato está no governo deixei também de perceber a matemática a partir do terceiro ano, mas isso é outra história).

A conversa prolongou-se durante uns bons quinze minutos, quinze minutos que atrasaram a aula da filhota da Carla, naturalmente; mas que secaram as lágrimas da Clarinha e abriram um sorriso na sua cara molhada.

- Ah, já me lembro! Acho que já me lembro de tudo... Pois é, é isso mesmo!

A Carla regressou ao carro, a Clarinha continuou a trabalhar na matemática, agora muito calmamente, e eu respirei de alívio, enquanto terminava o jantar. Mentalmente, pedi ao Senhor uma bênção dupla ou tripla para a Carla, que nos tinha visitado como Maria visitou Isabel, trazendo-nos a paz, a alegria e o amor de Jesus...

 

"Maria dirigiu-se a toda a pressa a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel." (Lc 1, 39-40)

Clarinha a estudar.JPG

Aqui há algum tempo, várias Famílias de Caná disseram-me que tinham alguma dificuldade em viver a quinta "pedrinha" do nosso compromisso, a Visitação. Afinal, como a Carla  nos mostrou, pode ser tão simples! Quinze minutos... E as Aldeias de Caná a nascer...

Que o Senhor nos ensine a servi-l'O onde Ele está: no irmão que precisa de nós! Ámen.

 

 

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publicado às 06:40



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