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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Quatro e meia da tarde. À porta do Colégio, aguardo que os meus filhos saiam das salas de aula e entrem no carro. O António e a Sara, que frequentam a pré-escola, já estão a meu lado, de mãos dadas comigo. Como sempre, a Lúcia é a última a chegar. Segundo me explicou a Clarinha - responsável por recolher os irmãos dispersos... - a Lúcia esquece-se sistematicamente de se dirigir para o portão da escola no fim do dia, tão ocupada está a brincar com as suas amigas. Assim, hoje, antes de abraçar a minha "ovelha perdida", sou brindada com uma interessante conversa com uma sua amiga, também ela à espera do pai, ao portão da escola:
- És a mãe da Lúcia?
- Sou sim!
- Ah, és tão velhinha!
A amiga da Lúcia originou boas gargalhadas lá em casa, sentados à mesa, à hora de jantar.
- Mamã, não és nada velhinha - Defendia-me o David, sempre muito cuidadoso com os outros - A Leonor disse isso por causa dos teus cabelos brancos. Sabes, tens alguns cabelos brancos!
Eu sei, claro. Nunca me maquilhei nem nunca pintei o cabelo (não por qualquer razão específica, descansem, apenas por feitio), por isso é natural que ele esteja mais branco do que o da maioria das mamãs.
- E se calhar és mais velha do que a mãe dela - Atalhava o António - Na minha escola, as mamãs costumam ser mais novas do que tu!
Isso eu também sei: há quinze anos que vou buscar crianças à mesma pré-escola, dia após dia, ano após ano. Durante estes quinze anos, já vi passar pela pré-escola muitas gerações de pais, e de todos eles, apenas eu continuo, teimosa, fiel, no mesmo sítio, como uma aluna repetente. É o que faz ser mãe de uma família numerosa...
Mas o comentário da Leonor fez-me pensar neste grande dom que Deus nos faz ao oferecer-nos o tempo.
A vida na Terra passa muito depressa. Um ano, vinte anos, cem anos - que é isso, comparado com a eternidade? A cada um de nós é-nos concedido apenas algum tempo, sempre muito curto, para prepararmos a nossa eternidade. A Jacinta de Fátima tornou-se santa em dez curtos anos de vida, e Chiara Badano, em dezoito... Outros santos precisaram de muitos mais anos, convertendo o seu coração ao Senhor depois de uma juventude desbaratada, como Agostinho e Francisco de Assis, ou até num último momento, como o Bom Ladrão crucificado ao lado de Jesus. Penso ainda nos mártires dos nossos dias, prontos para celebrar as Bodas do Cordeiro a qualquer idade, de um momento para o outro, entrando solenemente no céu pela Porta Santa do Sangue de Jesus... Há santos que o Senhor leva para Casa assim que conquistam a santidade, como Domingos Sávio ou Pier Giorgio Frassatti; e santos que o Senhor deixa na Terra por longo tempo, a fim de cumprirem a sua missão, como a Madre Teresa de Calcutá ou a Irmã Lúcia. Alguns santos partem para a eternidade deixando uma obra completa atrás de si, como Chiara Lubich e João Paulo II; outros partem de coração apertado, porque sabem que vão fazer muita falta a quem fica: Joana Molla, Chiara Petrillo, Zélia Martin - mães de família que, pela sua morte prematura, deixam crianças pequeninas e maridos em sofrimento. Mas diante do Senhor, que nos julga somente pelo amor, também a sua obra foi completa. Oh, se foi!
Escreveu S. Paulo:
"Para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro. Se, entretanto, eu viver corporalmente, isso permitirá que dê fruto a obra que realizo. Que escolher então? Não sei. Estou pressionado dos dois lados: tenho o desejo de partir e estar com Cristo, já que isso seria muitíssimo melhor; mas continuar a viver é mais necessário por causa de vós.(Fl 1, 21-24)
Também eu vivo nesta tensão entre a vontade imensa de chegar a Casa o quanto antes - tenho grandes expetativas em relação ao Céu! - e a vontade imensa de cumprir o meu dever aqui na Terra, junto da minha família e de todos os que ainda precisam de mim, completando a obra que o Senhor me entregou. Talvez eu não chegue ao fim do dia de hoje... Ou talvez eu ainda esteja apenas a metade da minha vida na Terra. Só Deus sabe. Que triste seria se, no momento da morte, não estivesse preparada, vestida com o traje nupcial! É urgente ser santo, aqui e agora, já. "Santo Subito", como diziam os cartazes no funeral de S. João Paulo II...
"Ah, és tão velhinha!" Sim, Leonor, já passaram quarenta e três anos desde que me foi oferecido o dom da vida. Quando se é pequenino como tu, quarenta e três anos é muito, muito tempo... Mas ainda não foi tempo suficiente para me converter e me santificar, acreditas? Por isso, hoje, do alto dos meus cabelos brancos, quero agradecer ao Senhor cada nova manhã, cada nova graça, neste caminho tão curto que separa o meu nascimento na Terra do meu nascimento no Céu... Ámen!
- Acordem, meninos, depressa! Já está na hora! Temos de ir para Braga!
Não é fácil, ao sábado, acordar às seis e um quarto da manhã... Os meninos esfregam os olhos e voltam-se na cama:
- Só mais cinco minutos!
Uma hora mais tarde, no carro, rezamos o terço, e pedimos a intercessão de S. José, nesta sua solenidade, para o dia que temos diante de nós. Será a nossa primeira Missão Stop, e precisamos que todos os anjos e os santos nos acompanhem!
A ideia desta missão surgiu no dia em que o padre Pedro Boléo Tomé, sacerdote da Opus Dei, em Braga, foi convidado para orientar um retiro para jovens crismandos de duas paróquias da região. Há já algum tempo que nós partilhávamos com o padre Pedro a vontade de realizar uma Missão Stop, onde pudéssemos dar testemunho da nossa vocação conjugal e familiar a partir de uma abordagem da Teologia do Corpo, que S. João Paulo II tão bem desenvolveu e que o padre Pedro conhece em profundidade. Assim, o padre Pedro lembrou-se de convidar a Família Power para o ajudar neste retiro, e nós aceitámos com imensa alegria.
- Quem consegue ver primeiro o Sameiro?
- Onde? Onde?
- No cimo do monte? Ah, já estou a ver!
- É aquela cúpula? Que lindo!
O retiro tem lugar na Casa das Irmãs da Sagrada Família, no Sameiro, mesmo por detrás da Basílica. Quando Nossa Senhora escolhe assim lugares privilegiados para os nossos retiros, não consigo evitar a comoção. Que ternura maternal para connosco, chamar-nos à sua Casa na montanha! A chuva cai em abundância quando chegamos ao Sameiro, mas decidimos ali mesmo visitar a Basílica, atravessando a sua Porta Santa, no final do dia, de regresso a casa.
E o retiro começa...
Quarenta jovens. Alguns receios. Alguma resistência. Alguns telemóveis bastante ocupados com trocas de mensagens...
Quarenta pares de olhos que, pouco a pouco, se vão iluminando. Quarenta rostos que, pouco a pouco, se vão abrindo em sorrisos partilhados. Quarenta pares de mãos que, pouco a pouco, vão abandonando os telemóveis para se erguerem em cânticos de louvor e para aplaudir o Senhor...
O padre Pedro fala-nos ao coração e, com uma humildade e uma simplicidade cativantes, explica-nos como a Lei que Deus inscreveu nos nossos genes é perfeitamente inteligível à razão daqueles que buscam a felicidade. Com vídeos e histórias, desafia-nos a buscar o belo amor, o amor que, como o de Jesus, dá a vida pelo outro.
O Niall e eu partilhamos a nossa história desde os tempos de namoro. Foi engraçado, para mim, vasculhar nos albuns antigos, nos meus diários espirituais, na caixa em que guardo as cartas diárias do Niall durante os três anos de namoro... Ena, tantas memórias recuperadas! É giro partilhar histórias e memórias, lágrimas e gargalhadas...
O Francisco, com a sua magia evangelizadora, e o Niall, com os seus jogos divertidos, animam os momentos entre ensinamentos, permitindo a todos libertar a tensão e criar laços.
A Eucaristia é de festa: hoje, solenidade de S. José, Dia do Pai, partilhamos o testemunho grandioso de alguém que soube amar até dar a vida, em cada dia, por Maria e Jesus.
A adoração, os cânticos, o terço que vamos meditando, tudo nos ajuda a baixar as defesas e a aproximar-nos uns dos outros.
"Escrevo-vos, jovens, porque sois fortes, a Palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno." (1Jo 2, 14)
(Reparem ao fundo... Parece que anda alguém a subir aos telhados...)
(Ilusionismo... e Bíblia?)
(Que se passa com os sapatos de toda a gente? Será algum jogo maluco?...)
O retiro chega ao fim. Os jovens estão contentes e trauteiam as canções aprendidas. Chegou a hora de irmos visitar a Mãe, na sua Casa do Sameiro, como prometido. O padre Pedro acompanha-nos.
A chuva cai de mansinho, as cores do poente espreitam por entre as gotas de chuva, os sinos tocam a repique enchendo o ar de som. Tocam tão alto, que quase temos de gritar para nos fazermos ouvir. É estonteante.
De repente, os sinos calam-se. E a majestade silenciosa da montanha domina sobre tudo.
Como é bom contemplar a Criação ali, na Casa da Mãe! Felizes, os meninos sobem e descem a grandiosa escadaria. Depois entramos juntos na Basílica e saudamos Maria, que nos acolhe com o seu sorriso materno...
As missões não páram: um pouco por todo o país, do Algarve ao Minho, há famílias, párocos, comunidades interessadas em conhecer as Famílias de Caná. Nalguns locais, há já Aldeias de Caná capazes de anunciar e testemunhar a nossa espiritualidade, mas noutros, é necessária a nossa presença e o nosso testemunho familiar.
Numa destas noites, e para podermos organizar a agenda, o Niall e eu marcámos uma reunião um com o outro e pedimos aos nossos filhos mais velhos (os mais novos já dormiam) para não nos interromperem. Foi uma experiência engraçada! Desta reunião formal sairam algumas datas (como por exemplo a do retiro do Algarve, que anunciaremos atempadamente, e a do Retiro de Natal) e algumas ideias importantes. Depois, diante do Santíssimo, nas semanas seguintes, perguntámos a Jesus o que achava Ele das nossas ideias.
A princípio, Jesus não disse nada. Ou melhor: nós nada escutámos. Passámos algumas semanas difíceis, lutando contra esta surdez espiritual que nos impede de conhecer a vontade do Senhor. Como todas as Famílias de Caná, temos um único objetivo na vida:
"Fazei tudo o que Jesus vos disser." (Jo 2, 5)
Mas para alcançar este objetivo, precisamos de saber o que Jesus nos diz! Deus fala muito baixinho, e nós precisamos de fazer muito silêncio para não interpretar erradamente as suas palavras. Quantas vezes tomamos as nossas ideias e os nossos sentimentos por ideias e sentimentos do Senhor... É tão fácil confundir a nossa vontade com a vontade de Deus!
Assim, para podermos escutar, tomámos uma primeira decisão: aumentar o tempo de oração diário diante do Santíssimo, aumentar o tempo de oração conjugal. E pouco a pouco, fomos sendo curados da nossa surdez. Jesus começou a responder à sua maneira - sem palavras, mas em ondas de tranquilidade ou, pelo contrário, de inquietude perante as nossas ideias e decisões.
E que nos disse Jesus? Muitas coisas. Pouco a pouco, iremos dar-vos conta de todas elas. Mas a primeira é a necessidade de abrandar o ritmo deste blogue. Neste momento, a prioridade é a preparação dos retiros e encontros, que até ao Natal são pelo menos três de dia inteiro e outros tantos de algumas horas a um sábado à tarde ou ao serão. Nesta altura de mais trabalho, publicarei às segundas-feiras, embora possa naturalmente publicar noutros dias também quando surgirem novidades - como por exemplo, sobre a pequena Lúcia da Olívia. Não tenho qualquer intenção de encerrar o blogue, porque sei como ele é importante para a caminhada das Famílias de Caná e de muitas outras pessoas. Apenas abrandarei o ritmo.
Entretanto, e porque o advento se aproxima a passos largos, convido-vos a pesquisar no blogue posts antigos com as tags Advento e Natal, ou ler o que escrevi no ano passado sobre o s. Martinho, por exemplo... Há tanto para ler, que nem vão dar pela falta do post diário :)
Rezem connosco, para que sejamos fiéis ao que Jesus nos pede, e não estraguemos a sua obra. Rezem pelas Famílias de Caná, pelos Jovens de Caná, pelos leitores deste blogue. Ficamos unidos em oração, e quem sabe - porque não? - talvez nos encontremos na vossa paróquia, falando das Famílias de Caná...
Neste fim-de-semana, como tínhamos anunciado, participámos numa verdadeira maratona de evangelização. A catequese arrancou em grande força, com imensas crianças a chegar e muita alegria; reunimos de novo a Aldeia de Caná de Mogofores, para rezarmos juntos e adorarmos o Senhor; e finalmente, no domingo à tarde, fomos dar testemunho de vida familiar católica no Centro Paroquial de Meadela, diocese de Viana do Castelo. Gostava tanto de ter muitas, muitas fotografias de cada um destes momentos para vos mostrar! A falta absoluta de fotos é, contudo, sinal de que estivemos demasiado ocupados para as tirar. Acreditem! Especialmente no domingo!
Domingo, uma hora da tarde. Cheios de pressa, entramos no carro - nos dois carros - para rumar a Meadela.
- Vamos passear, mãe?
- Vai ser giro? Que aventura vamos ter?
- Onde é o passeio?
As crianças estão animadíssimas. Hesito na minha resposta. Eis o grande desafio que nos é feito neste momento: transformar uma viagem cansativa - duas horas para lá, outras duas para cá, uma hora e meia de trabalho de evangelização num centro paroquial - numa grande aventura, capaz de proporcionar alegria à família completa.
Estou tentada a responder: Meninos, não se entusiasmem demasiado, porque a viagem é longa, e quando chegarmos a Meadela não vai acontecer nada de especial para vocês!
Mas não vou responder assim. Nos meus ouvidos ressoam ainda as Palavras do Evangelho desta manhã:
"Quem deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, casa, filhos ou terras por minha causa, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em irmãos, irmãs, mães, casas, filhos e terras, juntamente com perseguições; e no mundo futuro, a vida eterna!" (Mc 10, 29-30)
Se há desafio que me alicie na vida, é o de verificar, em cada dia, a verdade do Evangelho. Agora é hora de experimentar, numa tarde chuvosa de domingo, a recompensa já nesta vida de deixarmos tudo para anunciar o Senhor!
Entramos no carro, e a viagem começa. Lá fora, a chuva miudinha não pára de cair.
- Ah, adoro estar dentro do carro quentinho quando chove lá fora! - Diz a Clarinha.
- Eu também!
- E eu! É tão reconfortante! Adoro viagens com chuva!
Estamos a começar bem, penso para comigo, enquanto pisco interiormente um olho a Jesus. São horas de rezar o terço, aproveitando para recontar a história do Evangelho da missa desta manhã, que talvez já não esteja bem lembrada.
Uma hora mais tarde, gritos de entusiasmo:
- Olha, é o Porto! A ponte, vejam a ponte!
- Estão a ver o comboio naquela ponte ao longe? Eu atravessei-a de bicicleta a caminho de Santiago!
- Foi, Frankie? Ena, que sorte!
- Já viram como os raios de sol querem romper as nuvens e secar a chuva? E a ponte tão bonita por baixo...
- Ah...
- Mamã, contas outra história?
- OK, alguma sugestão?
- A do general que tinha lepra!
- Sim, chamava-se Naamã. É tão gira!
Viajo mentalmente até ao tempo do profeta Eliseu, à casa do general que tinha a sorte de ter uma criada judia. Os meninos escutam cheios de atenção. Depois, sonhadores, conversam sobre muitas coisas, cantam e fazem jogos de palavras e de números uns com os outros.
Uma hora mais tarde:
- Olha, agora é a ponte do rio Lima! Que linda!
- Ena, temos tanta sorte em fazer este passeio!
Volto a piscar o olho a Jesus, divertida. E chegamos a Meadela! Saímos do carro sob a chuva miudinha e entramos numa magnífica igreja vazia. Bem, vazia não, porque a luz junto do sacrário indica a Presença omnipotente do Senhor Jesus.
- Meninos, vamos rezar a nossa consagração! - Diz o Niall, ajoelhando. Rezamos com ele. Entretanto, chega a nossa anfitriã, a Madalena, que nos leva até ao Centro Paroquial.
- Parece que ainda não chegou muita gente - Diz-nos, um pouco envergonhada, olhando as cadeiras vazias.
- Ainda não está na hora! - Conforto-a. Quem não precisa de conforto algum são os meus filhos: o Francisco está ocupadíssimo a montar o espetáculo de ilusionismo para os pequenos, e a Clarinha ajuda-o; os outros quatro correm e saltam no salão, divertidíssimos a subir e descer escadas, a saltar do estrado para o chão, a vasculhar as salas de catequese e a experimentar os microfones.
- Meninos, todos aqui! Vamos começar! - Chamo, minutos mais tarde, quando o salão está suficientemente cheio. Subimos para o palco, e de microfone na mão, todos nos apresentamos à vez, começando pela Sara. Muito séria, ela enche o peito de ar como quem se prepara para soltar uma frase muito comprida, e diz de um só fôlego: "Sara". Rimo-nos todos!
Depois de cantarmos e rezarmos juntos ao Senhor, os mais novos acompanham o Francisco, enquanto o Niall e eu damos o nosso testemunho. Um momento muito bonito e muito participado.
Finalmente, o encontro termina. Todos nos querem cumprimentar, dar uma palavra, partilhar uma confidência, encorajar. Sentimo-nos muito acolhidos e fazemos planos para, um dia, ali voltarmos com um retiro completo.
A Madalena chama-nos a uma salinha junto do grande salão, onde um magnífico lanche nos espera. Ena, há bolinhos, pão, bolachas, leite com chocolate... Sentamo-nos em roda, com o senhor padre, e comemos de tudo, muito satisfeitos.
- Ah, este lanche é mesmo bom! - Dizem todos, com a boca bem cheia. Não apetece partir...
Mas são horas de regressar. No carro, sob a chuva a cair, enquanto a noite se acende à nossa volta, vamos conversando.
- Quem gostou desta tarde? - Pergunto.
- Eu!
- Eu!
- Eu!
Parece que todos gostaram.
- A magia correu mesmo bem - Diz o Francisco, satisfeito. - Os meninos eram muito bem comportados e estavam muito atentos.
- Eu adorei escutar-te - Diz-me a Clarinha, como de costume.
- E os mais pequenos, do que é que gostaram mais?
- Das cortinas!
- As cortinas, António? Porquê?
- Carregava-se num botão e elas abriam e fechavam no palco. O senhor padre deixou-me carregar um bocadinho!
- E eu gostei de saltar do palco para o chão!
- E eu, de dizer o meu nome ao microfone!
- Do lanche!
- Sim, do lanche!
- Do lanche!
- Então valeu a pena uma viagem tão grande?
- Ah, claro que valeu!
- Obrigada, mãe, foi mesmo bom vir a Meadela!
- Adorei!
- Quando eu contar aos meus amigos do botão das cortinas... Acho que eles não vão acreditar!
Enquanto o carro se enche de gargalhadas, canções e muito barulho, eu agradeço interiormente ao Senhor por, mais uma vez, cumprir a sua Palavra na nossa vida. A tarde foi longa, oferecida, entregue, mas a recompensa foi uma reconfortante sensação de bem-estar, toda ela feita de coisas tão simples como um copo de leite com chocolate, uma brincadeira nas escadas, uma cortina a abrir, uma ponte sobre o Lima, um comboio sobre o Douro, uma história da Bíblia, um raio de sol a romper as nuvens...
No sábado passado, participei, juntamente com o grupo de catequistas de Mogofores, no Mega Encontro de Evangelização – E-vangelizar – dos salesianos, no Porto. Foi um dia magnífico! Coube-me dinamizar um Workshop sobre Catequese Familiar, mas ainda me sobrou tempo para participar, como formanda, num workshop muito a propósito: As Obras da Misericórdia na Catequese. Lindo!
Uma das coisas giras deste dia foi o encontro com algumas Famílias de Caná da zona norte, bem como o encontro com alguns leitores do blogue. O Luís e a Jacinta, que vivem na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, perto de Aveiro, fizeram o Retiro de Neiva. No E-vangelizar partilhámos a vontade de realizar um retiro na sua paróquia, que entretanto já conhece o seu testemunho de Família de Caná. Tanto o Luís como a Jacinta estão acostumados a trabalhar com crianças e jovens e a dinamizar muitas coisas. E por falar no Luís – conhecem o seu blogue As Contas de Deus? Vale a pena visitá-lo!
Nesse mesmo dia, o Francisco orientava um workshop de ilusionismo para adolescentes no Clube Prisma, em Coimbra. Quem tem talentos tem de os colocar ao serviço dos outros, naturalmente! O Francisco chegou a casa quase ao mesmo tempo que eu, cansado mas muito feliz.
E o resto da família? Bem, enquanto nós trabalhávamos, eles divertiam-se no Parque da Mealhada…
Amanhã, sábado, iremos recomeçar o nosso trabalho de catequistas na nossa paróquia. Já não víamos a hora! É tão gratificante partilhar a nossa fé com as crianças e os jovens, ajudando-os a correr ao encontro de Jesus!
Domingo iremos dar testemunho da nossa vida de fé e apresentar as Famílias de Caná na diocese de Viana, na igreja paroquial de Meadela. Teremos a escutar-nos os pais das crianças da catequese. Enquanto isso, o Francisco fará ilusionismo e evangelização para as crianças. Vai ser um grande encontro! Haverá por aí leitores do blogue com vontade de nos cumprimentar e escutar? Apareçam domingo, dia 11, pelas 15h30 na igreja paroquial de Meadela, que para nós será um prazer!
Ontem, enquanto lia o Novo Testamento, encontrei esta passagem de S. Paulo:
“Três vezes naufraguei, e passei no abismo uma noite e um dia. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus concidadãos, perigos dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre os falsos irmãos. Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez!”
(2Cor 11, 25-27)
Depois, dei comigo a pensar… É cansativo percorrer o país testemunhando a alegria de ser família católica. Mas nós viajamos de carro – bem, de dois carros – e em belíssimas estradas, e geralmente temos direito a grandes merendas! S. Paulo foi testemunha de Cristo a pé, de carroça, de cavalo, de noite e de dia, por terra e por mar, com fome e com sede… Ainda nos falta muito, muito, para chegarmos aos seus calcanhares! Que o Senhor nos ajude a todos a sermos suas testemunhas alegres e corajosas. Ámen!