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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Domingo. Missa às dez da manhã, no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora. Chegamos à igreja pelas nove e meia, para o ensaio do coro. Como costume, o David entra na sacristia com um salto, para se preparar para acolitar.
Alguns minutos antes da missa, reparo que o David entra na igreja, já vestido com a alva, e acende, um a um, os castiçais. Depois, sempre muito compenetrado, faz mais uma ou duas coisas por detrás do altar, e regressa à sacristia. Finalmente, o sino da torre toca as dez horas, e o cântico de entrada irrompe, triunfante, no santuário, enquanto o sacerdote e os acólitos sobem as escadas e se dispõem em redor do altar.
É então que me apercebo de alguma movimentação fora dos esquemas previstos. O que está o David a fazer? Porque insiste ele em trocar de lugar com outro acólito? Não o imaginava tão assertivo...
Durante as leituras, reparo que o David está confortavelmente sentado na sua cadeira, com o seu missal dominical na mão. O missal é um pequeno caderno infantil da Paulus Editora, que o David recebe mensalmente pelo correio. Dentro de cada caderno, encontram-se as leituras de cada domingo do mês, bem como jogos, histórias e desenhos para colorir relacionados. É a primeira vez que o David segue as leituras pelo missal, desde que se tornou acólito. Como terá ele levado o caderno consigo, assim vestido?
No final da missa, não resisto a perguntar:
- David, o que é que se passou hoje? Porque trocaste de lugar com a Lurdes? Não estavas bem no teu lugar?
- Ah, não é por isso, mamã!
- Então o que se passou? Fizeste um bocadinho de rebuliço por detrás do altar...
- Sabes, antes da missa eu pensei num esquema para conseguir ler o meu missal: escondi-o debaixo da almofada da cadeira onde costumo ficar sentado. Mas quando entrámos na igreja, percebi que a Lurdes se ia sentar no meu lugar! Tive de trocar com ela, porque senão ficava sem missal.
Sorri.
- Realmente, depois de tanto trabalho para pensares nesse esquema, seria uma pena...
- Pois seria! Assim pude ter o meu missal durante a missa. Quando não precisava dele escondia-o debaixo da almofada, e pronto!
No dia 23 de agosto, na sua homilia, o Papa Francisco lançou alguns desafios:
"Quem é Jesus para mim? É um nome? Uma ideia? É apenas uma figura histórica? Ou é realmente aquela pessoa que me ama, que deu sua vida por mim e caminha comigo? Para ti quem é Jesus? Procuras conhecê-lo na sua palavra? Lês o Evangelho todos os dias, uma passagem do Evangelho para conhecer Jesus? Trazes um pequeno Evangelho em seu bolso, bolsa, para lê-lo em qualquer lugar? Porque quanto mais nós estamos com Ele mais cresce o desejo de permanecer com Ele”.
Quem é Jesus para mim? Será Ele suficientemente importante, para que eu medite na sua Palavra todos os dias? Será que o meu amor por Jesus é suficientemente grande para justificar a compra de um pequeno missal, de um Evangelho de bolso, de uma Bíblia? Ou, nas versões modernas, para me dar ao trabalho de descarregar aplicações com a Palavra de Deus no meu telemóvel?
O David está muito feliz com os seus cadernos mensais. A assinatura destes cadernos foi o presente de aniversário dos seus padrinhos, faz agora quase um ano. Há por aí padrinhos e madrinhas a precisar de sugestões para prendas com estilo? :)
Durante o tempo de férias, a televisão está definitivamente desligada - exceto quando queremos ver juntos algum filme - e os livros parecem nascer por todo o lado. Há livros na casa de banho, na cozinha, no chão, no sofá, misturados com os brinquedos, misturados com os pratos, livros no Canto de Oração e livros no jardim. Os nossos filhos, simplesmente, adoram ler!
Talvez uma das coisas que tenha ajudado a desenvolver o gosto pela leitura seja a história diária lida todas as noites, sem exceção, até pelo menos à entrada no segundo ciclo... E o facto dos irmãos mais velhos adorarem ler, visto o Francisco e a Clarinha serem os modelos dos mais novos.
Penso que também ajudou nunca termos elevado a televisão ao nível de recompensa ou castigo ("Se te portares mal, não vês televisão!" "Se te portares bem, podes ver televisão!"), mas termo-lo feito com os livros ("Se te portares mal, não te deixo ler hoje à noite!" "Se te portares bem, tens uma história extra!"). Quando uma coisa é usada para recompensar ou castigar, essa coisa ganha novo valor. Tornámos a televisão insignificante, ao ponto de não merecer entrar em negociações. Já ir dormir sem história, bem, isso é assunto muito sério cá em casa e fonte de muitas lágrimas!
Ontem senti a casa muito silenciosa. Quando fui à sala espreitar, deparei com esta cena:
Durante o verão, a nossa oração familiar acontece de manhã, a caminho da praia, ou ao fim da tarde, quando o pai chega a casa. Assim, ao serão temos mais tempo para ler. Como o António e a Sara se deitam antes das nove, nenhum dos outros experimenta o prazer de ler na cama, pois os quartos estão escuros. Mas ultimamente, o David e a Lúcia descobriram uma alternativa magnífica: sentam-se na nossa cama de casal, aconchegados e felizes, e lêem em silêncio durante dez a quinze minutos antes de eu os mandar dormir, pelas nove e um quarto.
Mas no outro dia, o silêncio no meu quarto era tão grande, que me esqueci de os mandar dormir... É caso para dizer: longe da vista, longe do pensamento! A verdade é que só me apercebi de que ainda não os tinha mandado dormir quando, pelas dez menos um quarto, entrei no meu quarto. Assustada, dei um pequeno grito.
- Que foi, mamã? - Perguntou o David, dando um salto também.
- Esqueci-me que vocês ainda estavam a ler! - Respondi, com uma gargalhada. - Vamos, toca a dormir!
A Lúcia olhou para mim muito séria:
- Faz mal ler assim tanto?
- Não, querida, não faz! Vamos, agora toca a dormir!
Nos retiros, há sempre coisas que ficam esquecidas. Desta vez, foi o nosso missal ferial, que tínhamos levado para rezar durante a viagem. Só dei conta segunda-feira, quando quisemos ler as leituras da missa diária, como costume, durante a oração familiar.
- E agora? Como vamos fazer para ler as leituras? - Perguntei, um pouco aborrecida com o meu esquecimento.
- Eu tenho-as no tablet - Respondeu-me a Clarinha, solícita. Pelos vistos, ela subscreve as leituras da missa diária... Grande filha, a minha Clarinha!
Lemos e meditámos então a partir do tablet, mas eu senti-me desconfortável. Talvez por ter nascido e crescido no século passado, tenho necessidade de tocar no papel, de folhear, de ler o que está para trás e o que vem à frente. Quando leio as leituras diárias gosto de ir ver as anteriores, para fazer a ponte, e gosto de ler os comentários de quem escreveu o missal.
Assim, no dia seguinte pedi ao Niall que me trouxesse de Aveiro um novo missal ferial.
- E para quem fica o nosso missal antigo, quando a Rute no-lo trouxer de Proença? - Perguntou ele.
- Para mim! - Disse o David, com um sorriso rasgado. Na verdade, há duas semanas atrás o David pedira-me uma prenda especial: queria ter um missal só dele, para ler quando quisesse no seu quarto...
- Um missal com imagens, histórias para crianças, e coisas assim, David? - Perguntei-lhe.
- Não: um missal a sério, com a Bíblia a sério, sem desenhos. Um missal igual a este...
No fim do verão, o David terá o seu missal!
"Quanto amo, Senhor, a tua lei!
Nela medito todos os dias.
A tua palavra é farol para os meus passos
e luz para os meus caminhos."
(Sl 118 / 119, 97.105)
Que a nossa leitura preferida seja, como para o David, a leitura da Palavra de Deus... Ámen!
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