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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Queridos amigos leitores, o site está pronto, com a graça de Deus. E todos podem assistir em direto ao seu lançamento, quer aqui connosco, quer nas vossas casas. Será no domingo, dia 3 de julho, na Eucaristia das 10 h no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, Mogofores. O Santuário tem cobertura de internet e tem projeção de imagem, pelo que no final da Eucaristia, pelas 11h, faremos o lançamento.
Convido para este momento de graça as Famílias de Caná, mas convido também todos os nossos amigos e todos os nossos leitores, com fé ou sem fé, católicos ou evangélicos, cristãos ou ateus. Façam festa connosco! Acompanhem-nos, aqui ou nas vossas casas! Pelas 11h, entrem connosco no site. Depois, os que estiverem connosco no Santuário continuarão a fazer festa no pátio, no meio das brincadeiras das crianças e das conversas dos crescidos, e em seguida partilharemos o almoço na cantina do colégio salesiano, onde está o Santuário. Tragam portanto um piquenique para partilharmos entre nós! Teremos ainda tempo para refletir sobre a nossa caminhada de Famílias de Caná, pois farei um ensinamento no início da tarde. Terminaremos com oração familiar.
Li atentamente todos os comentários que fizeram ao último post. Rezei a partir deles e com eles. E quero dar-vos a minha palavra de que o site é mesmo para todos, Famílias de Caná ou não, pessoas mais religiosas e pessoas menos religiosas. Há tantos e tão variados "menus", que ninguém ficará de fora!
Na página principal, eu continuarei, como sempre fiz, a escrever para todos, a partir da vida e da Palavra, com a simplicidade e a profundidade deste blogue. Em literatura, sempre recusei ler ou dar a ler aos meus filhos as "obras simplificadas" dos grandes autores clássicos, preferindo ler menos a ler resumos, que matam a letra e o espírito da obra. Assim também com a Palavra de Deus: sempre anunciei e continuarei a anunciar a Palavra na sua integridade, tanto a quem não tem fé, como a quem tem mais fé do que eu. De outra maneira, não sei falar ou escrever.
O desafio que faço pois a todos e a cada um de vós é o mesmo: o desafio da santidade. Cada um responde a ele com os dons e a fé possíveis em cada momento. Nunca falei para um "clube", e as Famílias de Caná são tudo menos um "clube de sócios", porque a sua vocação já foi há muito definida por Jesus:
"Ide às encruzilhadas dos caminhos e chamai para as Bodas a todos quantos encontrardes."
(Mt 22, 9)
Encontramo-nos domingo, e encontramo-nos sempre que Deus quiser! A todos, a promessa da minha oração e o convite do Senhor: vinde às Bodas!
E antes de fechar definitivamente este blogue, deixo-vos um breve resumo fotográfico dos nossos últimos dias, dos tempos em família que conseguimos encaixar entre exames, festas de final de ano, espetáculos de dança, ginástica e ilusionismo, testemunhos, trabalho no site e arranjos na casa...
Os buracos que o Niall escava no jardim à procura de canalização rota são ótimos para brincar:
A pizza sai sempre melhor a quatro pares de mãos:
Ao fim da tarde, nada como um passeio em família:
E a oração familiar também se faz no meio do campo:
Às vezes distraímo-nos, e não nos apercebemos de que alguém adormeceu no meio da brincadeira:
Entretanto, há quem aproveite as férias para pôr a leitura em dia:
Subir às árvores é uma paixão familiar bem experimentada:
E este ano, tanto a Clarinha como o Francisco fazem mortais na praia! Ainda não os apanhei em pleno salto, com a máquina fotográfica, por isso deixo-vos com um pino:
Por falar em subir às árvores... Conseguem identificar alguém neste eucalipto de Náturia?
Eu sei que é difícil de acreditar, mas há quem o suba quando precisa de espaço e silêncio para pensar... Vou fazer zoom:
E se estiverem no cimo das vossas árvores, desçam depressa e venham às bodas! Venham às Bodas, que os servos estão preparados:
Ámen!
Durante as férias, quando me dirigia ao jardim para estender um cesto de roupa, um passarinho caiu no chão mesmo diante dos meus pés. Baixei-me para o apanhar. Não ofereceu resistência, tão pequenino era. Chamei os meninos, que correram a ver:
- Oh, tão pequenino!
- Coitadinho!
- Tem os olhinhos tão abertos! Não está nada aflito!
- Parece estar muito contente na tua mão! Posso fazer uma festinha?
- Claro. Com mais jeitinho, Sara, que esmagas o pobrezinho!
- E agora?
Ficámos um pouco indecisos. Não sabíamos de que ninho tinha ele caído, pois não conseguíamos ver nenhum, e não sabíamos o que fazer. Por fim, lembrámo-nos da casinha para passarinhos que os meninos tinham construído nas férias grandes.
- Vão buscá-la, para o passarinho ficar protegido lá dentro. - Sugeri.
- Eu ponho lá ervinha!
- E eu, um pratinho com água.
- David, vai buscar um bocadinho de ração das galinhas.
- Vou a correr!
A casinha ficou pronta, e colocámos lá dentro o passarinho. Eu não tinha esperança que sobrevivesse, tão fraco ele estava, mas não queria vê-lo nas garras dos gatos, pelo que a casinha era a melhor solução.
O passarinho sobreviveu mais algumas horas, bem vigiado pelos quatro pequeninos, com uma espreitadela de vez em quando dos dois mais velhos. Ninguém se foi deitar nessa noite sem verificar que o passarinho estava vivo e feliz na sua nova casinha.
Mas na manhã seguinte, confirmou-se a sua morte. Era na verdade muito pequenino! O David e a Lúcia ficaram particularmente tristes.
- A mamã e o papá do passarinho devem estar aflitos - Dizia-me o David.
- Tenho tanta pena dele! Agora que a primavera está a chegar, tinha de morrer!
- Pelo menos não foi brinquedo para gato.
Poucas horas depois, chegaram os primos. E no meio das alegres brincadeiras que inventaram todos juntos, decidiram também fazer um funeral digno de passarinho, em Náturia:
Cantaram, cavaram um buraco, embrulharam o passarinho em folhas e depositaram-no no seu túmulo. Horas mais tarde, a Lúcia chegou a casa eufórica:
- Mamã, mamã, o passarinho já está no céu! O passarinho já ressuscitou!
- Como sabes?
- Fui ao seu túmulo e ele já lá não está!
- Ah...
A história do passarinho acaba aqui. Mas pela minha mente passou uma outra história, a história de Jonas. Sim, aquele que esteve três dias no ventre de uma baleia e que foi vomitado numa praia branca, em Nínive, para pregar o arrependimento a um povo de pecadores... O que nem todos sabem é que, no final do Livro de Jonas, surge um episódio muito pitoresco, não com um passarinho, mas com uma planta que desconheço e se chama rícino. Diz a história que
"O Senhor Deus fez crescer um rícino, que se levantou acima de Jonas, para fazer sombra à sua cabeça e o proteger do Sol. Jonas alegrou-se grandemente por aquele rícino. Ao outro dia, porém, ao romper da manhã, enviou Deus um verme que roeu as raízes do rícino, e este secou." (Jn 4, 6-7)
Jonas ficou tristíssimo com a morte do rícino. Deus então disse-lhe:
"Sentes pena de um rícino que não te custou trabalho algum para o fazeres crescer, que nasceu numa noite, e numa noite pereceu! E não hei-de Eu compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem distinguir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e um grande número de animais?" (Jn 4, 10-11)
Jonas, na verdade, estava irritado porque Deus perdoara ao povo de Nínive, povo que, segundo Jonas, não merecia o perdão divino. Somos tão parecidos com Jonas! É tão fácil para nós encontrar quem não mereça o perdão divino! Desde o vizinho do lado ao piloto do avião que se despenhou... No entanto, todos foram criados por Deus e amados antes mesmo de existirem. Como não há de o Senhor compadecer-se dos pecadores?
E os passarinhos caem do céu, e Deus dá-nos um coração compassivo...
Senhor, que eu saiba compadecer-me! Ensina-me a experimentar um bocadinho da tua grande misericórdia para com cada passarinho, cada rícino, mas acima de tudo, cada ser humano, que criaste com tanto amor. Ámen!
Aleluia! Aleluia!
"Porque buscais entre os mortos aquele que vive? Não está aqui; ressuscitou, como havia dito!"
(Lc 24, 5-6)
Acordámos cedo, porque a visita pascal não se faz esperar. Logo pela manhã, depois de procurarem ovos pintados e ovos de chocolate escondidos pela casa, os meninos correram para o jardim, atentos ao som dos sinos:
E eis que eles chegam, primeiro ao longe, depois mais perto... Sim, a visita pascal!
O senhor padre entrou em nossa casa, trazendo-nos a bênção do Senhor. Com o Francisco a tocar guitarra, cantámos todos juntos cânticos de ressurreição. Que alegria!
Perto da hora de almoço, chegaram a avó, os tios e os primos. De repente, a casa ficou cheia!
O sol, o calor e a felicidade da reunião familiar prolongaram-se durante toda a tarde. Na nossa bela quinta de Náturia, as crianças entretiveram-se a brincar, explorando, construindo passagens secretas... Que é aquilo que as primas construíram?
Vamos ver mais de perto...
Uma cabana! Os primos mais pequeninos não perderam a oportunidade de ali brincar:
Ena, tanta brincadeira!
Ao fim do dia, depois da avó, dos tios e dos primos irem embora, fomos todos juntos à missa, celebrar em família a ressurreição de Jesus. Afinal, apenas metade da família tinha participado na vigília pascal, e não queríamos deixar passar o dia mais belo do ano sem celebrarmos juntos a entrega de Jesus por nosso amor!
Por fim, no nosso canto de oração bem iluminado, cantámos aleluias ao Senhor e rezámos o Terço da Misericórdia, fazendo a novena em família.
- Mamã, contas a história da Páscoa? - Pediu o António, antes de dormir. Hesitei, porque o cansaço - dele e meu - já era grande. Mas depois pensei... Como é que as crianças cristãs hão de aprender as histórias da Páscoa, as verdadeiras histórias da Páscoa, aquelas que os evangelistas recolheram nas últimas páginas dos seus livros, se ninguém lhas contar?
- Claro que conto! David, Lúcia e António, sentem-se no sofá que eu conto a história.
Escutaram muito atentos, enquanto lhes falei do espanto da Madalena na manhã de Páscoa, da confusão de anjos e jardineiros, da surpresa dos discípulos, da corrida a ver quem ganha entre Pedro e João, das dúvidas de Tomé, da paz que Jesus a todos trouxe. Para hoje à noite guardei a história de Emaús, e para os próximos dias, o encontro com Jesus à beira do lago...
Que Jesus ressuscitado nos inunde da sua paz. Aleluia! Aleluia!
Quando éramos namorados, o Niall e eu sonhávamos com uma quinta enorme onde os nossos filhos pudessem brincar em segurança, mexendo na terra e subindo às árvores. No entanto, o nosso orçamento nunca nos possibilitou a compra da dita quinta, nem de nada que se lhe parecesse. O tempo foi passando, e percebemos que só nos restava enterrar o nosso sonho...
Até que, um ano depois da morte do Tomás, nos mudámos para a casinha cor-de-rosa onde agora vivemos. Não, não fica no meio de uma quinta, mas fica no meio de um descampado cheio de silvas, canas e pedras, urtigas e flores selvagens, arbustos e eucaliptos - e lixo.
Assim que nos mudámos para aqui, o Francisco e a Clarinha adotaram este terreno como o seu quintal e batizaram-no de Náturia, inspirados nas Crónicas de Nárnia, que o pai lhes lia religiosamente todas as noites antes de se deitarem. Veio o David, depois a Lúcia, o António e, por fim, a Sara, e Náturia cresceu com eles. Neste post do ano passado descrevi uma visita guiada a Náturia, para que façam uma ideia do que estou a falar!
De dois em dois anos, Náturia muda de forma, pois o dono envia alguém com um trator para limpar o terreno, de acordo com a lei. A "limpeza" consiste basicamente em levantar grandes bocados de terra cheios de silvas e amontoá-los um pouco adiante, para de novo se cobrirem de silvas. Assim, de dois em dois anos, o descampado torna-se novamente excitante, com novas "montanhas" e novos "esconderijos", novos "túneis" de silvas e novas "piscinas" de água da chuva.
Férias significa tempo extra para brincar em Náturia. Da janela da sala ou da cozinha, vou vigiando as suas brincadeiras e escutando os seus gritos de alegria. Que felicidade!
Esta fotografia foi tirada pelo Francisco:
Sim, é o que estão a pensar: ele estava empoleirado no cimo de um eucalipto, contemplando o seu reino de Náturia e a nossa casa... Só descobri quando vi a fotografia.
Os mais novos têm brincadeiras mais pacatas:
- Já viste como Deus foi bom para connosco? - Disse-me outro dia o Niall, enquanto observava comigo os meninos a brincar.
- Como assim?
- Nós sonhávamos com um espaço grande para os nossos filhos brincarem. No entanto, se o tivéssemos, podias esquecer as Famílias de Caná e todo o trabalho que temos em mãos para o Reino de Deus, pois eu passaria os meus fins-de-semana empoleirado num trator, ou de enxada na mão. Assim, Deus ofereceu-nos uma terra que não precisamos de plantar, mas que torna possível aquilo que mais desejávamos: o espaço de brincadeira familiar!
- Tens razão. O que estás a dizer recorda-me as palavras de Moisés no Livro do Deuteronómio:
"Quando o Senhor, teu Deus, te introduzir na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó, dar a ti, com cidades grandes e belas que não edificaste, casas cheias de toda a espécie de bens que não ajuntaste, cisternas já escavadas que não cavaste, vinhas e oliveiras que não plantaste; e quando comeres e te fartares, cuida para não esquecer o Senhor que te libertou do Egito, lugar de escravidão." (Deut 6, 10-12)
- Se pensarmos bem, colhemos tantas coisas que não plantámos. A começar pelo dom da vida!
- Sim, e a graça, totalmente imerecida, de vivermos em países sem guerras e com elevados níveis de conforto...
- E a graça de nascermos cristãos e não termos de lutar ou morrer pela nossa fé!
- A graça de termos escolas para os nossos filhos, e podermos partilhar com os seus professores a belíssima tarefa da educação...
- Na verdade, a nossa vida não é apenas fruto do nosso trabalho ou do nosso esforço. É engraçado pensar nisso! A nossa vida é acima de tudo presente do Senhor. Nem sempre nos damos conta de todos os frutos que colhemos como família, e que não plantámos.
Depois, o Niall deu uma gargalhada:
- Bem, nem toda a gente se lembraria de ver este monte de silvas como um substituto vantajoso para uma bela quinta! É preciso ter o olhar treinado para reconhecer os dons de Deus...
- E para perceber quando Ele responde às nossas orações. É que frequentemente, a sua resposta é diferente do que imaginávamos! Primeiro parece-nos uma resposta fraquinha e ficamos desapontados, mas depois descobrimos que foi a resposta perfeita.
Náturia tornou-se, na nossa casa, símbolo da gratuidade do amor divino, e símbolo da simplicidade de que precisamos para aceitar este amor. A terra que não plantámos ajuda-nos a reconhecer que o Senhor nos libertou da escravidão do "Egito" (e do "querer sempre mais", e do "controlar toda a vida", e da "autosuficiência") para a felicidade do Reino...
(Vista romântica de Náturia)
- Frankie, Frankie! Está muito vento! Vem cá depressa!
- E o que tem o vento, David?
- Está mesmo bom para lançar o meu papagaio! Ajudas-me?
- Vamos lá então. Tens tudo a postos?
- Tenho, olha! O António também quer vir. Corre, antes que o vento páre!
Os meus filhos brincaram toda a tarde ao vento, e eu fui escutando as suas exclamações de alegria. Felizes, esforçaram-se por lançar o papagaio, que teimava em cair ao chão. Por fim, tomaram-lhe o jeito e puderam contemplar o seu esforço em tons de azul, sobrevoando Náturia. À noite, na oração familiar, agradeceram o papagaio e o vento.
Podemos queixar-nos do vento o quanto quisermos, mas sem vento, os papagaios de papel não se elevam no ar! Fico a pensar na quantidade de vezes que nos queixamos precisamente daquilo que nos lança no céu de Deus: as dificuldades, os problemas, as humilhações, as críticas, as frustrações, as doenças, o sofrimento... Ultimamente tenho procurado imitar os meninos com o seu papagaio de papel, e aproveitar o "vento" que me é diariamente oferecido para crescer em amor. Ainda não salto de entusiasmo como o David diante deste "vento", mas estou mais perto!
Diz o Amado do mais belo Cântico da Bíblia:
"Desperta, vento norte!
E tu, vento sul,
Vem soprar em meu jardim,
para que se espalhem seus aromas!"
(Cc 4, 16)
Que o vento da vida, ao soprar nos nossos jardins, espalhe os perfumes do Senhor. Ámen!
Depois de uma tardada em Náturia, à chuva e ao sol...
... os sapatos têm de ser lavados na máquina e postos a secar à lareira, onde os cães, os gatos e os meninos partilham um pacote de bolachas e recuperam o fôlego...
... para novas brincadeiras...
No seu último livro Imersos na Vida de Deus, Timothy Radcliffe lembra-nos que
"A Sabedoria brincava na presença de Deus, quando criou o mundo, e Deus fez brincar com ela o Leviatã. Na Bíblia, os animais estão, muitas vezes, brincando. E no Reino, «a criancinha brincará na toca da víbora» (Is 11, 8) e «as praças da cidade ficarão cheias de meninos e meninas que brincarão nelas.» (Zc 8, 5)"
Fomos criados para a brincadeira e a alegria eternas. O céu não é uma casa de gente séria a cantar hinos antiquados, mas uma alegre algazarra de gente feliz.
Férias é também tempo para treinarmos, em família, a eterna brincadeira de Deus!
Por detrás da nossa casa há um terreno baldio, cheio de silvas, canas, paus, pedras, montes de terra, árvores e lixo. Portanto, um terreno perfeito para brincar. Todos os nossos filhos adoram passar as tardes de sábado e domingo ou os longos dias de férias a "explorar" por ali, e chegam ao fim do dia sujos, mal cheirosos, exaustos - e felizes.
Foi numa dessas tardes animadas que, há uns anos atrás, dei com o jipe da PSP a subir e descer a minha rua, vezes sem conta. Aproximei-me do portão do jardim para perceber o que se passava. O jipe parou então à minha porta e o agente perguntou-me:
- Minha senhora, parece-nos que andam ciganos a tentar acampar atrás da sua casa. Se tiver algum problema com eles, contacte-nos.
Dei uma sonora gargalhada e respondi:
- Tem toda a razão, senhor guarda, há um bando de ciganitos a montar acampamento aí atrás. Mas não se preocupe, que à noite vêm todos dormir cá a casa!
Os agentes da PSP sorriram, pediram desculpa pela confusão e foram embora mais descansados. E eu decidi fazer uma visita guiada ao "acampamento" dos meus filhos para tirar dúvidas. Comecei por conhecer a "oficina":
E depois caminhei em direcção ao "castelo", guiada pela bandeira...
No "castelo" dei com este trono:
Percorri também passagens secretas...
... e escadarias misteriosas:
Falei ao telefone com alguns dos cavaleiros mais afastados:
Acreditem que funcionou!!!
Por fim, encontrei os meus "ciganitos" todos juntos, gritando em coro:
- Um por todos, e todos por Náturia!
_Náturia? Que nome é esse? - Perguntei.
_ Não te lembras das Crónicas de Nárnia, que o pai nos lê todas as noites? Então...
Os agentes da PSP tinham razão. Que será que os nossos vizinhos pensam deste bando de crianças a brincar na rua? Não deviam antes estar seguras dentro de casa, diante do televisor ou do computador, vivendo aventuras virtuais para não partirem nenhuma perna nem serem raptadas? Ou então estar ocupadas com mil e uma atividades extra-curriculares?...
O "Rei de Náturia" cresceu. Tem quinze anos. Continua a brincar no terreno baldio, onde gosta de praticar tiro ao alvo e fazer experiências científicas, explorando princípios de engenharia. Os seus amigos perguntam-lhe às vezes se não sente falta de jogos de computadores, visto que nunca tivémos consolas ou playstations. O Francisco responde-lhes com a sua autoridade natural:
- Vocês e eu brincamos da mesma maneira. A única diferença é que as vossas aventuras são virtuais, e as minhas são reais. E não as trocava por nada deste mundo.
Náturia tem agora um novo rei. É o David. Ora vejam:
A foto, não se preocupem, é tirada a partir do meu jardim. O Reino de Náturia está sob vigilância contínua de adultos. E por isso, até os mais pequenos lá podem brincar:
De vez em quando, aos fins-de-semana, os mais pequenos pedem para ver televisão. E fazem-no durante cerca de meia hora. Depois retomam as suas brincadeiras. Os mais velhos já são capazes de decidir o que vale ou não a pena ver, e têm as suas preferências. Gostam do National Geographic e de tudo o que tenha a ver com natureza, desporto e, no caso do Francisco, engenharia e ciência. Não vêem novelas nem concursos, e muito menos programas tipo Big Brother. Não desejam vê-los, nem teriam permissão para tal. De vez em quando, vemos filmes em família, depois de deitarmos os mais novos.
Como educadores, temos a obrigação de manter o controlo-remoto do televisor na nossa mão. E não é porque "todos fazem" e "todos vêem" que nós temos de fazer ou de ver. Jesus nunca nos pediu para nos compararmos com o mundo. Ele quer que nós nos comparemos com Deus:
"Sede perfeitos, como o vosso Pai que está nos céus é perfeito" (Mt 5, 48)
Brincar numa qualquer "Náturia" no meio do campo ou em plena cidade é tão vital para o crescimento de uma criança como respirar. Se as deixarmos sozinhas num pedaço de natureza, sem horários, sem atividades desenhadas por nós, sem necessidade de apresentar resultados, sem necessidade de competir, sem televisores a pensar por elas, iremos ficar fascinados com os mundos imaginários que elas são capazes de construir. Elas têm direito a esfolar os joelhos e a serem confundidas com pequenos ciganos traquinas...