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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Durante todo o mês de julho, o David, a Lúcia e o António frequentaram um curso intensivo de natação, ao fim do dia. O David já tinha frequentado um ano de natação, mas a Lúcia e o António nunca tinham tido oportunidade, pelo que, para eles, o curso foi a primeira experiência a sério de natação.
A Sara e eu assistimos à primeira aula. Digam lá se não estavam felizes?
Durante todo o mês de julho também, o David, a Lúcia e o António brincaram na praia, quase todas as manhãs. E eu pude avaliar o sucesso do curso intensivo pela sua confiança crescente no mar. De facto, no início do mês a Lúcia e o António brincavam assim na água calma da Praia da Barra:
No fim do mês, pelo contrário, mesmo as águas mais agitadas do mar da Costa Nova não pareciam meter-lhes medo:
Pouco a pouco, os meninos foram aprendendo a entrar no mar, afastando-se cada vez mais da praia, quase sem darem conta... Até chegarem a perder o pé por breves instantes, sob uma onda maior:
E tanto no mar, como nos lagos, aprenderam a mergulhar, fechando os olhos com força e esticando muito os braços. Que felicidade!
- Mãe, olha para mim! Vê como eu mergulho!
- Mãe, agora vou mais longe! Vê como já sei nadar!
- Mãe, vou bater os pés com força! Olha, olha para mim!
- Mãe, já não tenho pé!
Uma tão grande evolução num tão curto espaço de tempo fez-me pensar...
Que lições tão importantes assim tiveram a Lúcia e o António, para permitir tamanha mudança de atitude em trinta dias? Segundo pude observar nas suas aulas, a Lúcia e o António aprenderam a fazer a respiração dentro de água e aprenderam um ou outro movimento de natação, como bater os pés com força. E o resto do tempo? O resto do tempo - e é sobre esse resto do tempo que vos quero falar hoje - fizeram jogos e brincadeiras, procurando no fundo da piscina brinquedos que a professora atirava, passando no meio dos arcos, perseguindo os amigos, rindo e jogando sem cessar. Numa palavra: A Lúcia e o António passaram a maior parte do tempo de aula aprendendo a... perder o medo!
O profeta Ezequiel tem um texto belíssimo sobre este avanço confiante em águas profundas, falando sobre a torrente de graça que jorra, abundante, do Templo do Senhor:
"O homem levou-me de volta à entrada do templo, e vi água saindo de debaixo da soleira do templo e indo para o leste, pois o templo estava voltado para o oriente. A água descia de debaixo do lado sul do templo, ao sul do altar. Ele então levou-me para fora, pela porta norte, e conduziu-me pelo lado de fora até a porta externa que dá para o leste, e a água fluía do lado sul.
O homem foi para o lado leste com uma linha de medir na mão e, enquanto ia, mediu quinhentos metros e levou-me pela água, que batia no tornozelo. Ele mediu mais quinhentos metros e levou-me pela água, que chegava ao joelho. Mediu mais quinhentos e levou-me pela água, que batia na cintura. Mediu mais quinhentos, mas agora era um rio que eu não conseguia atravessar, porque a água havia aumentado e era tão profunda que só se podia atravessar a nado; era um rio que não se podia atravessar andando." (Ez 47, 1-5)
Nunca avançaremos nas águas profundas do amor do Senhor andando, com segurança, perto da praia... É preciso perder o medo, perder o pé e avançar a nado! Ah, quando chegará para nós o dia feliz em que mergulharemos, confiantes, nas torrentes de graça que jorram do seu Coração aberto, o Templo da Misericórdia?...
Num dia de manhã cedo, nas nossas férias na serra do Gerês, fizemos, como costume, a viagem até à barragem de Vilarinho das Furnas, rezando o terço no carro. O dia estava luminoso, tranquilo e quieto, e tudo respirava paz. Ao chegar, também nós ficámos sem palavras diante desta paisagem:
A montanha não parecia uma, mas duas, tal a nitidez e a tranquilidade do reflexo sobre a superfície das águas! Que maravilha! Até fazia pena mergulhar ali, quebrando o espelho em mil estilhaços... Bem, com pena ou sem ela, não resistimos:
Apeteceu-me ficar ali para sempre, quieta como a montanha, silenciosa como a água antes de nela mergulharmos. Depois lembrei-me do texto de S. Paulo:
"Todos nós que, com o rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor como um espelho, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória..." (2Cor 3, 18)
O lago só reflete a montanha se se mantiver sereno e tranquilo. A minha alma só refletirá a glória do Senhor se não se deixar perturbar por coisa alguma... Serei eu capaz de tal tranquilidade, diante das tempestades que a vida vai trazendo? Estarei eu totalmente abandonada à vontade do Pai, confiante no seu amor infinito e absoluto? Escrevia Santa Teresa de Ávila:
"Nada te perturbe,
nada te espante.
Tudo passa,
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem,
nada lhe falta.
Só Deus basta!"
Ah! No dia em que nos abandonarmos assim, a glória do Senhor refletir-se-á como num espelho, e seremos transfigurados, renovados, recriados no seu amor... Que felicidade! Custa assim tanto deixarmo-nos amar?...
A nossa semana de férias foi muito variada e interessante em termos atmosféricos. Tão depressa tomámos banhos de sol...
... como de chuva - literalmente!
A chuva nunca foi, para nós, um impedimento a mergulhar nas águas atraentes da lagoa. Um dia em que tive de contactar a proprietária da casa por telefone, ela manifestou a sua preocupação connosco, por causa da chuva miudinha que caía. Dei uma gargalhada: naquele preciso momento, todos os meus filhos estavam dentro de água!
Um dia, ao acordar, olhámos pela janela e não vimos absolutamente nada... Estava tudo branco! Não se via o jardim, nem o caminho, nem a fonte, nem sequer a montanha, que parecia ter-se dissolvido no ar.
Depois, com uma velocidade incrível, o nevoeiro derreteu-se em gotinhas minúsculas, que o sol aqueceu...
... e num instante evaporou!
- Como é possível? Ainda agora não se via nada...
- Parecia que não havia montanha!
- Mas ela sempre lá esteve!
- Quem diria! Uma montanha tão grande, e não se via nem uma pontinha!
- Ah!
O nevoeiro tem este poder de nos fazer esquecer o que ele esconde e, se apanhados em plena caminhada, de nos fazer acreditar que estamos perdidos. De facto, se não vemos a montanha, quem nos assegura de que ela lá está? E se não vemos o caminho, como podemos ter a certeza de que estamos no trilho certo? Todos os anos, várias dezenas de caminhantes se perdem nas montanhas.
Mas o nevoeiro são apenas gotículas de chuva, que num instante o sol faz evaporar. De que temos medo?
Cantou o Rei David, no seu belíssimo salmo:
"O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me faz descansar
e conduz-me às águas refrescantes.
Ainda que atravesse vales tenebrosos,
de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo.
A tua vara e o teu cajado dão-me confiança."
(Sl 23/22)
Que importa o nevoeiro, a chuva, o frio, a tempestade? A montanha continua no mesmo sítio, imensa, imóvel e serena... A fonte continua a cantar, e os caminhos não desapareceram. Na nossa caminhada pelas montanhas da vida não estamos sozinhos! Temos connosco o melhor dos guias de montanha... Não percamos o nosso tempo à espera que o nevoeiro se dissipe ou que a chuva páre! Avancemos, confiantes, de mão dada com o Pastor, Aquele que conhece todos os cumes e todos os abismos, todos os trilhos e todas as fontes...
O Francisco e a Clarinha frequentaram dois anos de natação, aos seis e sete anos, para aprenderem os rudimentos da arte de sobreviver na água. Bastaram esses dois anos para fazer deles belos nadadores, capazes de longas horas de diversão.
Quando fez seis anos, foi a vez do David. Mas ao contrário dos irmãos mais velhos, o David não gostou particularmente das aulas de natação, e empenhava-se em arranjar desculpas para não ir.
- É muito cansativo – dizia frequentemente. Ou então: - Estamos sempre a fazer a mesma coisa, fico muito farto! – Ou ainda: - Hoje está a chover, acho que já chega de água…
Mas o Francisco e a Clarinha encorajavam-no:
- Quando não te apetecer ir nadar, David, lembra-te do verão – Diziam-lhe – Pensa como vai ser bom poderes nadar no mar à vontade, sem medo das ondas… Isso dar-te-á coragem para não desistires!
E o David nunca desistiu.
Ontem, enquanto brincava com a Sara, o António e a Lúcia à beira-mar, contemplei o meu filho lá longe, nas ondas, com os irmãos ou sozinho, transbordando felicidade…
Com a vida de fé passa-se exactamente a mesma coisa: às vezes não apetece rezar, dá sempre muito trabalho reunir a família para o terço familiar, cansamo-nos da repetição e, como o David, ficamos “fartos” de tanto esforço. Mas não olhemos para o nosso momento de dificuldade: olhemos antes para além, para o dia em que a oração se converterá em alegria – porque esse dia vai chegar, como recompensa dos nossos esforços! Em Medjugorje, Nossa Senhora tem dito muitas vezes:
“Rezai, rezai, rezai até a vossa oração se converter em alegria.”
E Jesus disse-nos no Evangelho:
"Procurai e achareis, pedi e recebereis, batei e abrir-se-vos-á." (Mt 7, 7)
É muito reconfortante saber que rezar em família e rezar individualmente se torna mais fácil à medida que avançamos nas águas profundas da fé e do amor…