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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Na véspera do Retiro da Quinta do Conde, o Francisco foi para Lisboa de comboio. Durante a viagem, como costume, rezou o terço em silêncio, enquanto contemplava a paisagem. Mal tinha acabado de o fazer, quando a senhora sentada a seu lado abriu a carteira e dela retirou também um terço.
- Que pena não ter tirado o seu terço antes! - Riu-se o Francisco com simpatia - Acabo de rezar o meu. Podíamos ter rezado juntos!
- Tu és católico? - Quis saber a senhora, certamente surpreendida com o comentário.
- Sim, sou católico. Pertenço ao movimento Famílias de Caná, não sei se conhece!
- Espera lá... Tu não és o filho da Teresa Power?
Não sei se a simpática interlocutora do Francisco acabou por rezar o seu terço, mas sei que continuaram a conversar durante bastante tempo. Quando, no dia seguinte, o Francisco me contou esta história, eu pensei precisamente no que significa ser um Jovem de Caná, um jovem feliz com a sua fé católica, um jovem sem medo de partilhar a sua alegria com todos os que se sentarem a seu lado, um jovem capaz de rezar em todo o lugar.
Nem sempre é fácil para o Francisco interromper as suas atividades para vir rezar o terço em família, todos os serões. Mas mesmo com um suspiro mais ou menos audível, mesmo com algum esforço e alguma pressa, o Francisco deixa o que está a fazer para se sentar ao nosso lado, no sofá, e rezar. Já não se trata, como quando era mais novo, de uma imposição familiar, uma rotina anterior ao seu próprio nascimento. O episódio do comboio veio mostrar-nos que a oração é, para o Francisco, uma imposição pessoal, um ato de vontade, uma decisão consciente de um crismado que cresceu e se sente adulto na sua fé.
O Francisco pertence a esta primeira geração de Jovens de Caná que os retiros têm trazido à luz. Quantos haverá já espalhados pelo nosso país? Alguns vão comentando no blogue, outros lêem e meditam, mas todos têm esta ânsia de crescer na alegria da sua fé católica, partilhando a vida e dando testemunho do amor de Deus.
Foi entre estes jovens participantes em retiros Famílias de Caná que o Francisco encontrou a sua namorada, há um ano atrás. Juntos, procuram aprofundar a maravilha do namoro cristão, para também no namoro serem luz na escuridão do mundo. Para nós, pais, é uma honra podermos acompanhar o desabrochar de uma nova etapa da vida cristã do nosso filho mais velho. Aí vai ele, abrindo caminho aos irmãos...
Como Famílias de Caná, não poderemos fazer alguma coisa pelos jovens que já vivem ou se preparam para futuramente viver um namoro cristão? Claro que sim! Queremos urgentemente oferecer-lhes encontros temáticos, baseados na Teologia do Corpo de S. João Paulo II. Já temos, em Braga, um sacerdote disposto a acompanhar-nos nestes encontros, acostumado a abordar o tema com mestria. Haverá por aí jovens interessados, a quem um dia de encontro pudesse agradar? Escrevam-me para o mail!
Este ano, o Francisco deixou o Colégio que frequentava desde pequenino, para frequentar a minha escola. O Colégio não lhe permitia a opção de Física no 12º ano, e o futuro engenheiro não podia ficar sem a disciplina, pois a física é uma das suas grandes paixões. Ora reparem só na mesa de trabalho do Francisco durante as férias de verão:
O Francisco aceitou a mudança algures entre um encolher de ombros e uma dor de estômago, mas adaptou-se rapidamente. A escola nova é também a oportunidade de conhecer novos amigos, novos professores, novas formas de aprender e ensinar, novos desafios - e não há nada que ele mais aprecie que um desafio novinho em folha! Quanto aos amigos do Colégio, estão apenas à distância de um passeio de bicicleta...
No seu canal do Youtube, o Francisco tem partilhado magia, aventuras, desafios, gargalhadas. Visitem-no online e comuniquem o link aos vossos filhos e jovens amigos!
Na semana passada, o Francisco dirigiu-se à porta para atender o carteiro. Era a sua prenda de anos que chegava, uma encomenda da Amazon. Recebeu a encomenda e, contendo a curiosidade, escondeu-a no armário do meu quarto. Hoje o Francisco faz dezassete anos. Quando acordar, irá abrir a prenda que ele próprio escolheu, recebeu e escondeu... Já lá vai o tempo em que acordava a meio da noite para abrir as suas prendas, incapaz de controlar a ansiedade. Aprender a esperar assim é também crescer!
Parabéns, Francisco, e bem-hajas pelo privilégio de partilhar contigo estes dezassete anos de vida! Como S. Paulo a Timóteo, também eu te digo hoje:
"Ninguém escarneça da tua juventude; antes, sê modelo dos fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé, na castidade. Não descures o carisma que há em ti!" (1Tm 4, 12.14)
Ámen.
No domingo dia 26 à noite, ao chegarmos do grupo de oração, encontrámos o Niall sentado diante do televisor, muito feliz. Ele costuma ficar em casa a cuidar dos mais pequeninos, enquanto o Francisco, a Clarinha e eu vamos rezar.
- Venham ver! Está a dar um programa de celebração dos 60 anos do Festival da Eurovisão!
- Do quê? - Perguntaram eles.
O Niall e eu trocámos um olhar cúmplice. Somos do tempo em que a televisão congregava as famílias em torno de um único programa, e em que o país inteiro parava para assistir em direto ao Festival da Eurovisão da Canção.
- Lembras-te do Johnny Logan? - Perguntou-me o Niall. - Ganhou por duas vezes. Era irlandês!
- Claro que me lembro! "Hold me now!" Cantámos esta música até à exaustão, no recreio da escola! E pensar que um dia havia de casar com um irlandês! Lembras-te da música do Carlos Paião: "Hei, Playback"? Nós adorámos aquela música, Portugal inteiro a cantava, mas ficou em último lugar. Foi cá um choque coletivo!
- Lembro-me, claro. Nós na Irlanda rimos à gargalhada da vossa música! Achámos muito divertida, mas um pouco tonta.
- Ora!
De repente, calámo-nos, de olhos fixos no televisor. Em palco entrava Nicole, trinta e três anos mais velha que a jovenzinha de dezoito anos, daquele longínquo serão de 1982. Visivelmente emocionada, cantou "A Little Peace", a segunda canção mais bem sucedida de todos os anos do Festival da Eurovisão. Enquanto o Niall e eu cantarolávamos a canção, acompanhando Nicole, o Francisco e a Clarinha olhavam espantados para nós.
- Quem não se lembra de "A Little Peace"? A Europa inteira cantava esta canção. - Explicou o Niall.
- E eu até a tocava na guitarra... Estou aqui a pensar, Niall, que naquela noite de 1982, tu e eu estávamos à mesma hora a escutar a mesma canção. É um bocadinho romântico, não te parece?
Rimo-nos todos. Mas a verdade nua e crua é mesmo essa...
Dizia o nosso pároco aos jovens crismados, no final da Eucaristia:
- Há três formas de encarar a vida: uma sucessão de acasos; o destino, onde tudo está pre-definido; ou então - e esta é a única forma digna de um cristão - como um chamamento, isto é, uma vocação.
Gosto de dizer aos meus filhos que o marido ou mulher que Deus sonhou para cada um deles - se os chamar ao matrimónio - já deve andar por aí a correr, a brincar, a ir à escola, a rezar... Na verdade, o acaso não existe, e ninguém tem o destino marcado, porque Deus nos fez livres.
Podemos enganar-nos? Claro! E se nos enganarmos, não estamos condenados à infelicidade. Pensemos no GPS que temos no carro: ele vai-nos indicando o caminho, mas se decidirmos ir por outra estrada, imediatamente refaz os seus cálculos e sugere nova rota que nos conduz ao mesmo destino. Também a voz de Deus dentro de nós nos vai conduzindo pelos caminhos que vamos escolhendo, para nos fazer chegar ao Céu. Nunca baixemos os braços perante um engano evidente no caminho: a Deus, nada é impossível!
Todos os dias rezamos em família para que os nossos filhos sejam capazes de reconhecer a voz do Senhor, quando Ele os chamar a um caminho específico, a uma vocação concreta. Rezamos para que tenham a audácia de responder "sim", por difícil que pareça, como difícil nos pareceu a nós construir uma família a partir da Irlanda e de Portugal. Disse Jesus:
"Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz." (Jo 10, 2-4)
E agora... Para os que foram jovens quando nós fomos - se quiserem recordar A Little Peace, aqui fica:
Escrito pelo Francisco:
Na sexta-feira foi proporcionado aos jovens de Anadia um encontro extremamente interessante e atual sobre o namoro, intitulado: "Ó namoro, por onde andas?". Na véspera do dia de S. Valentim, nada mais original do que ouvir Inês Pereirinha a falar, conversar connosco, ensinar-nos imensas coisas importantes sobre o namoro.
Começámos logo, todos reunidos num ambiente agradável, a tentar perceber melhor a amizade, em todos os aspetos do ser humano, o que significa a amizade e o que é necessário para haver uma boa amizade. “A amizade é querer o bem para a outra pessoa. Não apenas que essa pessoa seja feliz, mas que essa pessoa se torne a melhor pessoa possível”. Só depois de discutirmos isto, pudemos passar ao namoro, visto que o namoro começa sempre com a criação de laços de amizade muito fortes.
Explorámos um pouco as diferentes vertentes do ser humano, do corpo ao “Eu interior” e vimos como o namoro deve ser vivido segundo todas essas vertentes e não apenas com o corpo, como, infelizmente, as novelas e os media nos fazem crer. O namoro passa pelo corpo, mas mais importante que isso, passa pelos sentimentos, uma decisão, uma atitude, um compromisso.
Neste encontro aprendemos como viver um namoro feliz. Um namoro em que cada um respeita a si próprio e ao outro, um namoro em que é possível o autocontrolo, para que tudo corra bem.
“A castidade está na moda” foi uma frase que chamou a atenção de muita gente. Será verdade? Sim, é verdade, explicou-nos Inês. Mas não parece, pois nunca se ouve falar de castidade nos media, só se ouve o que é mau, nunca o que é bom. Mas a verdade é que há cada vez mais pessoas a perceberem que devem respeitar o seu próprio corpo, a perceberem que fazer sexo no namoro não é uma prova de que ele/ ela me ama, que isso é apenas uma prova de que ele /ela gosta do meu corpo. Sim, a castidade está na moda! Ora vejam:
Entretanto, na caixa de comentários do post que a minha mãe escreveu sobre o namoro, o João Miranda Santos fez uma sugestão, que aqui divulgamos:
"Nos dias 11 e 12 de Abril de 2015 realiza-se na no seminário de Almada um retiro para namorados sobre o tema "Da Castidade à Liberdade para o Dom". O pregador será o pe. Nuno Amador. O retiro começa no Sábado dia 11 pelas 10h30 e termina no Domingo dia 12 pelas 15h30. O preço do retiro são 50€ por pessoa. http://www.familia.patriarcado-lisboa.pt/eventos/calendario/icalrepeat.detail/2015/04/11/167/-/retiro-para-namorados"
Como eu, também os outros jovens adoraram o encontro que tivemos. Nós, jovens, precisamos de momentos assim para crescer!
Na quarta-feira depois de almoço fui rapidamente ao Continente, para comprar uns sumos e uns bolinhos para a festinha do António, nessa tarde. Eu ia realmente cheia de pressa, com passos rápidos, quase a correr (sim, eu corro muito o dia inteiro...). Por isso, foi com surpresa que literalmente esbarrei com um monstruário à entrada da loja, no local de passagem. Forçada a parar a minha marcha, debrucei-me para apanhar do chão o que fizera cair: pacotes de preservativos. Primeiro fui assaltada por um pensamento de espanto: que faziam os preservativos à entrada da loja, a barrar-me a passagem, longe do local de produtos de higiene? Depois lembrei-me que estávamos em véspera do dia de S. Valentim. Tudo explicado!
Ou não... Que têm os preservativos a ver com o Dia dos Namorados? Será que os tempos mudaram, e com eles, os valores? Os meus alunos não usam a palavra "namorar". Para eles, é "andar" ou "curtir". Lembro-me de uma aula há dois anos, com a minha direção de turma de nono ano, num dia em que falávamos das aulas de Educação Sexual que tinha programado:
- Ó professora, educação sexual não! Nós já sabemos tudo sobre o pimba-pimba!
Lembro-me também do espanto de uma menina de dez anos, que acompanhava a mãe a um encontro festivo do grupo de preparação para o matrimónio. A mãe, minha amiga, era uma das orientadoras do curso.
- Mãe, tens a certeza de que estes senhores e senhoras estão a preparar-se para casar? - Perguntava ela.
- Sim, querida, tenho. Agora vai brincar.
- Mas tens mesmo a certeza? - Insistia a menina.
- Já te disse que sim, filha! Vai brincar! Porque perguntas isso tanta vez?
- É que, mãe, todos estes senhores e senhoras têm aqui os filhos! Se vão casar, como é que já têm filhos?
O Francisco está a crescer. De vez em quando, conversamos sobre o tema do namoro. O namoro não é um estado de vida, como o matrimónio ou o celibato. O namoro é por natureza um tempo de passagem, uma ponte entre a amizade e o casamento. A ninguém passaria pela cabeça acampar sobre uma ponte! As pontes são por natureza locais de passagem, que ganham o seu valor das margens que unem.
O namoro é uma ponte. Como tal, não deve ser demasiado longo, porque o cansaço levaria à tentação de acampar ali mesmo. Vale mais prolongar o estádio de amizade anterior, ou apressar o casamento, do que arriscar ter de acampar a meio da ponte.
O namoro é uma ponte. Será possível viver a castidade durante o tempo de namoro? Não só é possível, como é essencial. A castidade ("O que é isso, professora?") é uma virtude que deverá acompanhar a vida inteira, e não apenas o tempo de namoro. Um casal que queira viver a sua sexualidade com verdade, planeando naturalmente a sua família, precisa de estar bem treinado na castidade. Algumas situações de doença de um dos esposos ou de gravidez de risco serão ocasiões em que este treino surgirá como uma estrela luminosa, capaz de fazer crescer o amor em vez de o destruir.
O casal de santos de que falei aqui, Giovanni e Rosetta, fizeram um voto, que cumpriram, de na primeira noite de núpcias dormirem separados, para a oferecer a Nossa Senhora rezando, isto depois de um longo namoro passado sem nunca se terem encontrado a sós (p. 151, Esposos e Santos). Loucura? Não: grandeza de alma, magnanimidade!
- Se tu me amas, prova-mo - Dizem os jovens uns aos outros, cheios do seu ego, com as emoções à flor da pele.
Sim, é preciso provar que se ama - que se ama o outro pelo que ele ou ela é, e não pelo que ele ou ela me dá.
Se me amas, espera por mim... Estende-me a mão e atravessemos juntos esta ponte, para na outra margem podermos construir a família que Deus sonhou para nós!
Conhecem Laranja-Lima, do Padre Zézinho? Escutem então... Está na hora de arrancar com os Noivos de Caná, ou os Namorados de Caná...
"Senhor, não é por luxúria que recebo, como esposa, Sara, minha irmã. Faço-o com o coração sincero. Digna-te ser misericordioso comigo e com ela, e conceder-nos que envelheçamos juntos. Ámen!" (Tb 8, 7)
A grande reportagem da SIC deixou os mais novos muito desapontados:
- Porque é que não mostraram nós a jogar à bola?
- Porque é que não mostraram o António a apanhar os ovos no galinheiro?
- Porque é que não mostraram eu a andar de patins?
- Eles filmaram tanto, e não mostraram nada!
- Mas apanharam a Winnie, viste?
- E a Clarinha estava tão nervosa, que trocou as idades todas!
- Não faz mal.
- Também não mostraram a Sara no baloiço, nem o Canto de Oração...
- Não. Só mostraram um bocadinho da nossa conversa na sala!
- Não faz mal.
- Pois não.
O António já não ouviu o final desta nossa conversa, porque dormia profundamente no sofá. Para quem se costuma deitar às oito e meia...
Claro que, em televisão, com tempo contado, não se pode mostrar tudo o que foi filmado. Mas esta reportagem foi, realmente, uma reportagem bastante coerente com os sinais dos tempos actuais, toda ela centrada nas rendas de casa, nas expectativas de emprego, na vida de "borga" de um estudante. Para utilizar uma expressão muito cara do Papa Francisco: uma reportagem mundana. Para trás ficaram as imagens, que certamente foram muitas, de crianças a brincar. Pelo menos cá em casa, as filmagens foram longas e divertidas, tratando aspectos culturais muito interessantes, como o contacto com a família que vive no estrangeiro e as diferenças de cultura de cada país. Imagino que assim tenha sido nas outras casas também. Mas Portugal está envelhecido, não tenhamos dúvidas. As imagens das brincadeiras infantis de todos estes "bebés Erasmus" teriam dado cor e alegria à reportagem, que ficou, como Portugal, demasiado séria.
Olhando para as imagens daqueles jovens estudantes Erasmus, ocorreram-me muitos pensamentos, mais do que irei registar aqui. Mas ficam alguns:
Hoje, a vida de um estudante Erasmus é feita de muitos confortos! Pelo que pude perceber, até há empresas que prestam serviços de cozinha e tratamento da roupa. Ser estudante num país estrangeiro é uma oportunidade tão boa para aprender a cuidar de uma casa e a tomar conta de si, que me parece uma perfeita estupidez não a aproveitar. Eu aprendi a cozinhar quando fui para a Alemanha e estou muito contente por isso! Parabéns à jovem que, na reportagem, também disse estar a aprender a cozinhar!
Durante todo o tempo que esteve na Alemanha, o Niall sempre trabalhou em restaurantes, lavando a louça, para pagar a sua estadia (como referiu nas filmagens, mas não foi publicado). Não, as bolsas não são suficientes, mas quem disse que tinham de ser? Os jovens precisam de se fazer à vida, o mais cedo possível...
Estar longe de casa ou do namorado, mas poder aceder ao Skype 24 sobre 24 horas é um luxo que não consigo imaginar. Continuo grata às cabines de telefone e ao correio, com tempos bem marcados, que nos ajudavam a aprender a arte de saber esperar. Lembram-se da Raposa e do Principezinho?
"Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, eu já começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito..."
Quando se namora, a arte de saber esperar é extremamente útil, pois é a espera que produz a constância e a fortaleza interior.
Ah, e talvez com menos Skype a jovem retratada na reportagem fosse obrigada, como eu fui, a sair de casa e a lançar-se na grande aventura de fazer amigos...
Finalmente, a questão final: segundo Umberto Eco, "Erasmus" é sinónimo de "orgasmus". Fiquei tão chocada com esta afirmação, que levei alguns segundos mais de reacção do que gostaria, ao ser entrevistada. Eu casei virgem e acredito profundamente no valor da virgindade, não apenas fisica, naturalmente, mas capaz de abarcar a pessoa inteira, com um corpo, uma alma, uma vida.
É muito fácil perder a virgindade e ter todos os orgasmos que se quiser ter quando se é Erasmus, claro: como um dos estudantes entrevistados disse: "Ninguém te conhece, estás por tua conta, os teus amigos e familiares não te podem ver, fazes o que te apetece."
Deixar-se ir na corrente - fazer o que é mais fácil e que, afinal, todos fazem - não tem absolutamente nada de radical; e qual é o jovem que não gosta de ser radical? Um jovem que, quando ninguém o está a ver, continua a agir de acordo com os seus valores e princípios, desses que não se vendem, esse sim, é um jovem radical.
Acredito que seja muito difícil, no actual ambiente universitário, manter-se fiel à doutrina cristã. E sinto a urgência de trabalhar as questões do namoro, da castidade (sim, a palavra ainda existe), da fidelidade, da fortaleza, com casais de namorados e de noivos. Penso que as Famílias de Caná também terão de partir para esse grande apostolado... Deus o dirá. E à medida que os meus filhos vão crescendo e se vão aproximando da descoberta do amor, também estes temas serão tratados aqui no blogue. Àquele jovem, apetecia-me apenas dizer com o salmo 139:
"Onde é que eu poderia ocultar-me do teu espírito?
Para onde poderia fugir, longe da tua presença?
Nem as trevas são escuras para Ti,
e a noite seria, para Ti, tão brilhante como o dia..."
Mesmo que ninguém te veja, caro jovem, Deus vê-te...
Estávamos em 1991. Eu estudava Inglês e Alemão em Coimbra e ouvira falar num programa novo de intercâmbio entre universidades europeias, o Programa Erasmus. Seria uma oportunidade fantástica de viajar e estudar ao mesmo tempo! Como o meu alemão era relativamente fraco, e eu estava decidida a melhorá-lo, concorri para uma universidade alemã. E foi assim que parti para Essen, no norte da Alemanha.
Quinze dias depois de chegar a Essen, ainda em Setembro, começou um curso intensivo de língua alemã para alunos Erasmus. Na primeira aula, poucos minutos depois de entrar na sala, a minha amiga Rita, que viera comigo de Coimbra, apontou para um rapaz a algumas carteiras de distância:
- Olha, Teresa, aquele rapaz é irlandês e também adora James Joyce, como tu!
Olhei para quem a Rita me indicava e sorri gentilmente. O tal rapaz irlandês contaria mais tarde que lhe parecera reconhecer aquele sorriso de algum lugar - algum lugar no futuro, provavelmente...
Alguns dias depois, numa das grandes "festas Erasmus" na casa onde a Rita e eu estávamos alojadas, o Niall - o tal rapaz irlandês, como já devem ter percebido - abordou-me, falando inglês:
- Reparei que tens um terço no teu quarto! És católica?
- Sou.
Ele pareceu triunfante:
- Que bom, uma católica no meio desta gente toda! Pensei que aqui não havia religião, ou se havia, era evangélica! Podemos ir juntos à missa!
À missa, à cafeteria, às aulas de dança de salão, às aulas da universidade, às festas, aos passeios, ao parque, e a todo o lado. O meu fraco alemão, fraco ficou, e o meu inglês começou a melhorar repentinamente...
No entanto, nem tudo eram rosas: eu tinha um namorado em Portugal, e o Niall tinha uma namorada na Irlanda! Sem nada combinarmos, nas férias de Natal terminámos os nossos namoros. De regresso à Alemanha, esta foi a primeira notícia que partilhámos. Penso que foi nesse mesmo dia que começámos a namorar.
No dia 1 de Abril, o Niall regressou à Irlanda. A sua bolsa Erasmus contemplava apenas um semestre, ao contrário da minha, que era anual. A despedida foi naturalmente difícil, e os comentários dos nossos amigos Erasmus não facilitaram as coisas:
- Achas mesmo que ele ainda se vai lembrar de ti, na Irlanda?
- Não te parece que estás a ser ingénua, sofrendo por alguém que está tão longe?
- Teresa, convence-te, não é possível acontecer mais nada entre vocês!
- Cai na real, Teresa! Acorda!
Mas eu não estava disposta a desistir do Niall. Nós já sabíamos que queríamos casar um com o outro, e uma vez tomada uma decisão, o resto é simples.
Quem não viveu no século passado, não sabe o que são cabines telefónicas, esses paralelepípedos com um telefone fixo e uma ranhura onde vão caindo moedas atrás de moedas... Quem não viveu no século passado não sabe o que são cartas que se enviam pelo correio, diariamente, com um selo e muitas folhas lá dentro... Os dias contavam-se de telefonema a telefonema, da chegada do correio à chegada do correio; e nada mais parecia importar!
Bem, o resto vocês já sabem: depois de dois anos de namoro à distância, o Niall conseguiu finalmente emprego em Portugal, na universidade de Aveiro, e no ano seguinte casámo-nos.
Segundo parece, uma televisão portuguesa ouviu falar da nossa história e decidiu incluir a nossa família na grande reportagem que vai apresentar amanhã, quinta-feira, pelas 20h30, sobre o Programa Erasmus. Não é, portanto, uma reportagem sobre a família Power! A família Power não terá nenhum destaque especial, creio eu, pois será uma das várias famílias apresentadas que devem o seu início a este belo programa de intercâmbio europeu.
Foi com bastante relutância que aceitámos participar na reportagem. O Francisco dizia-me:
- Acho que as pessoas vão pensar que andamos a chamar as televisões para nos filmarem... E contudo, nós nunca fizemos nada para as atrair!
Esta sensação de desconforto por aparecermos na televisão levou-me ontem a apagar o simpático comentário da Marisa, logo de manhã, publicitando o acontecimento. A Marisa que me desculpe! Quis evitar atrair as atenções para algo que é bastante secundário neste blogue, ou seja, a nossa família. Porque a nossa família só surge no blogue como uma forma de falarmos de Deus. De outra forma, o blogue chamar-se-ia "Família Power", não é verdade?
Depois pensei... Afinal, foi para falarmos de Deus que aceitámos participar na reportagem! Não com palavras, mas com a nossa alegria, a nossa partilha, a nossa união, a nossa disponiblidade para termos filhos e para os educarmos com cuidado. A televisão precisa de famílias cristãs que dêem a cara nas mais variadas situações do quotidiano, e não apenas em assuntos da fé! Diz-nos o Evangelho:
"Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perder o sabor, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens!" (Mt 5, 13)
Espero que a reportagem seja fiel à nossa vida em família, no pouco ou muito que dela mostrar.
Que o Senhor nos ajude, famílias cristãs, a sermos sal no mundo, seja no Programa Erasmus, seja na fábrica, ou na empresa, ou na escola, ou no bairro! Possamos nós temperar com bom tempero a nossa comunidade, a nossa televisão, a nossa internet... Ámen!
Quando Jesus terminou o seu discurso sobre o Pão da Vida, a grande maioria dos seus ouvintes afastou-se, dizendo:
"Estas palavras são duras! Quem as pode escutar?" (Jo 6, 60)
Que fez então Jesus? Chamou-os de volta, pedindo desculpa por ter sido demasiado exigente? Refez o seu discurso? Como, se Ele bem sabia que as suas palavras abriam caminhos de felicidade?...
"Voltando-se para os doze, Jesus perguntou-lhes: «Também vós quereis ir embora?» Pedro, tomando a palavra, respondeu: «A quem iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna!»" (Jo 6, 67-68)
Se alguma coisa eu gostaria de ensinar aos meus filhos, é esta: só Jesus tem palavras de vida eterna; e se quisermos ser plenamente felizes, não podemos ter medo delas por nos parecerem demasiado duras. Pelo contrário: ao decidirmos praticá-las, descobriremos toda a doçura escondida nos seus ensinamentos, e experimentaremos uma felicidade nova, pura, transbordante, profunda e eterna!
Os posts anteriores (aqui e aqui) permitiram-vos compreender como foi complicado, para nós, há dezoito anos atrás, aceder a esta informação preciosa sobre planeamento familiar. Era nosso direito, como noivos católicos, sermos bem informados sobre esta matéria. Como diz o Papa Francisco, "preparar noivos para o matrimónio apenas em dois encontros ou conferências é pecar por omissão." (Encontro do Papa Francisco com o Movimento de Schoenstatt, 25 de outubro). E é nosso dever agora, como família feliz, testemunhar estas verdades junto de outras famílias.
Um grande obrigada a todos os que partilharam connosco, via e-mail ou comentários, a sua experiência sobre esta temática, tão semelhante à nossa! Rezemos para que um dos frutos do sínodo dos bispos seja uma maior clareza de ensinamentos e um maior acompanhamento dos noivos, sempre num clima de misericórdia e de exigência próprios do Evangelho! E como muitos dos vossos testemunhos confirmaram, com Deus estamos sempre, sempre a tempo de recomeçar! Ele não nos cobrará nada, antes nos estenderá a mão para podermos abrir caminho.
Eu não posso voltar atrás no tempo e refazer a nossa história, que teve tantos tropeções enquanto procurávamos descobrir sozinhos o caminho de santidade e felicidade conjugal também em relação ao planeamento familiar. Mas posso educar os meus filhos, para que a sua história seja diferente, caso eles assim o desejem.
Eis então o que lhes procuramos dizer, a propósito e a despropósito, com palavras e com sinais, usando a Escritura e usando o noticiário, testemunhando e apresentando testemunhos:
O nosso corpo é apenas o exterior da nossa alma. Não podemos tocar no corpo de alguém sem tocar também na sua alma; não podemos entregar o corpo a alguém sem lhe entregar também a alma; e não podemos mentir com o nosso corpo sem mentir também com a nossa alma. Por tudo isto, a Igreja ensina que o acto sexual só faz sentido quando duas pessoas se entregam uma à outra, completamente e para sempre, sem retorno.
A sexualidade é invenção de Deus, e a Ele pertence. Ela foi feita para que nos tornemos imagem e semelhança de Deus em amor, em entrega, em generosidade, em alegria, em vida, em doação profunda. A contracepção é uma mentira introduzida neste imenso dom de Deus, pois faz-nos acreditar que estamos a entregar-nos totalmente a alguém, quando ao mesmo tempo estamos a recusar-lhe o que de mais divino possuímos: a nossa fecundidade.
Sabemos que a fecundidade pertence em exclusivo a Deus, porque na verdade não somos donos dela! Mas se, por qualquer motivo, não podermos ter filhos biológicos, Deus tem tantas outras formas de nos tornar fecundos! É importante conhecer o testemunho de famílias felizes, em caminhada de fé e de amor, que vivem a sua fecundidade através da adopção. Quero que os meus filhos conheçam estes testemunhos de perto antes de casarem, para não terem medo deste caminho belíssimo de amor, se Deus o desejar para eles.
Para planearmos responsavelmente a nossa família, precisamos de conhecer os ritmos e os sinais do corpo feminino. Não é necessário esperar pelo casamento para o fazer! Quanto mais cedo nos conhecermos, mais simples será depois. Como mãe, tenciono ensinar às minhas filhas os segredos do seu corpo o mais cedo possível, para que os seus primeiros anos de casadas sejam mais tranquilos do que foram os meus neste tópico.
Mas para planearmos responsavelmente a nossa família, também precisamos de uma boa dose de loucura. Quando, no encontro internacional com o movimento de Schoenstatt, perguntaram ao Papa Francisco como fazia para se manter alegre, ele respondeu: "Sou inconsciente, rezo e tenho a audácia de me abandonar à confiança e bondade de Deus." Se não formos um bocadinho inconscientes (a mim costumam chamar de irresponsável), se não rezarmos e se não nos entregarmos nas mãos amorosas do Senhor, dificilmente teremos uma família numerosa!
Os métodos naturais facilitam esta loucura, pois permitem que muitas decisões sejam tomadas "a quente", sob o fogo da paixão: "Que tal se fosse agora?" "Porque não?" E acreditem-me, não há melhor razão para ter um filho.
Ficam alguns links, para quem quiser explorar:
- O site oficial do Método Billings (em inglês)
- Um vídeo vencedor sobre Planeamento Familiar Natural
E relembro que a Associação Família e Sociedade tem um curso de planeamento familiar natural agendado para os próximos dois sábados.
Divirtam-se, e partam à aventura!
Hoje é dia de festa: Dia de Todos os Santos, conhecidos e desconhecidos, casados, consagrados, sacerdotes, solteiros, jovens, crianças, idosos… Cá em casa não há "Halloween" (que está cada vez mais associado a cultos satânicos), mas em vez disso, há certamente quem se disfarce do seu santo padroeiro! Depois mostro-vos - claro, noutro post
“São poucos os que se salvam?” Perguntaram um dia os discípulos a Jesus. No Apocalipse, encontramos a resposta:
"Depois disto, apareceu na visão uma multidão imensa que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão..." (Ap 7, 9)
Todos somos chamados à santidade. A Palavra de Deus é antiga:
“Sede santos, como Eu, o Senhor, sou santo.” (Lv 19, 2)
O Niall e eu escolhemos fazer este caminho de santidade através um do outro, pelo sacramento do matrimónio. Da nossa procura da perfeição faz parte esta atribulada história sobre o planeamento familiar. Aqui fica pois o próximo capítulo desta nossa “novela", na sequência deste post:
Eu sei que é costume o casamento acontecer na terra da noiva. Mas nós decidimos antes casar em Fátima, na terra da nossa Mãe comum, Maria. Portanto, na véspera do casamento, tanto eu como o Niall andávamos a passear por Fátima – ele com a sua família, eu com a minha, evitando encontrarmo-nos, para não estragar a surpresa do dia seguinte.
E foi assim que, separadamente e sem combinarmos, ambos nos fomos confessar (apesar de o termos feito há muito pouco tempo em Aveiro), para que o nosso “traje nupcial” fosse realmente uma "túnica branca" diante do "Cordeiro". Em Fátima é tão fácil aceder ao sacramento da reconciliação!
De novo – separadamente e sem combinarmos – ambos fizemos a mesma pergunta ao sacerdote que nos confessou: como podíamos planear a nossa família? E finalmente, sob o olhar maternal de Maria, que sempre nos valeu, a tão procurada resposta chegou:
- O que tu queres saber está na Humanae Vitae, a encíclica do Papa Paulo VI. Podes comprá-la na livraria ali ao lado. E aproveita para comprar também um livro sobre o Método Billings.
- Sobre o quê? - Eu era mesmo ignorante...
- Sobre o Método Billings. O Método da Ovulação, descoberto pelo casal Billings. B-I-L-L-I-N-G-S.
Este sacerdote (terá sido o mesmo para os dois?) estava pois em sintonia com o que, agora, o papa Francisco diz à Igreja: "A única forma de ajudar nesta crise da família é ser claro nas ideias e nos valores." (Homilia do encontro internacional com o movimento de Schoenstatt, 25 de outubro)
Ao sair do confessionário, dirigi-me imediatamente à livraria Verdade e Vida, onde encontrei os dois livros. E nesse mesmo dia, na minha ânsia de obter respostas, li grande parte de ambos! Li pelo menos o suficiente para deitar fora a tal caixinha do medicamento que me fora prescrito; e para deixar de me afligir com o tema.
Durante o dia do nosso casamento, consegui trocar algumas palavras a sós com o Niall (sabem como é difícil falar a sós nesse dia!), e ainda nos rimos com as coincidências da nossa aventura da véspera. Só eu comprara os livros, pois na altura o Niall não conseguia ler bem português.
Os esposos Billings, médicos australianos e católicos, já tinham nove filhos quando a encíclica Humanae Vitae (Paulo VI, 1968) foi publicada, e não tinham qualquer intenção de canalizar a sua inteligência para contestar os ensinamentos papais; mas há algum tempo que a vinham canalizando para auxiliar a Igreja nesta grande e nobre tarefa de acompanhar os casais no seu planeamento familiar. A obediência, como eu disse neste post, é fonte de imensa criatividade! Eles acreditavam que Deus dotara a mulher de sinais evidentes e simples da sua fertilidade. Restava saber: que sinais?
Anos de estudo deram origem ao Método Billings, com uma eficácia (reconhecida pela OMS) igual ou superior à da pílula, e sem qualquer tipo de contra-indicação. Os dois cientistas receberam vários doutoramentos honoris causa e correram o mundo divulgando o seu método junto de todo o tipo de populações, das mais cultas às mais analfabetas, inclusive na China, sempre ao serviço da Igreja e da vida.
(O casal Billings com S. João Paulo II)
Os métodos de planeamento familiar natural, com destaque para o Método da Ovulação, ou Método Billings, são portanto saudáveis e ecológicos, o que não deixa de ser importante numa sociedade cada vez mais preocupada com as questões do ambiente. Mas acima de tudo, estes métodos são compatíveis com a visão de matrimónio que nos é proposta por Jesus no Evangelho.
Dentro do livro sobre o Método Billings, vinha um folheto informativo sobre uma das associações que, em Portugal, promove o planeamento familiar natural: o MDV (Movimento de Defesa da Vida). Durante o nosso primeiro ano de casados, estando eu já grávida pela primeira vez (uma gravidez que terminou num aborto espontâneo), tivemos a oportunidade de fazer este curso, realmente fascinante. Finalmente, alguém me ajudava a contemplar e a entender a beleza do ciclo feminino e da sexualidade humana!
Só muito mais tarde conheci a "Teologia do Corpo", as catequeses de S. João Paulo II que, ao longo de quatro anos de pontificado, aprofundaram o tema do matrimónio. Uma maravilha! Vale a pena comprar livros ou ver vídeos sobre o tema.
Na sequência do post de ontem, vários leitores deste blogue tiveram a gentileza de me informar que nos sábados dia 8 e dia 15 deste mês de novembro vai decorrer em Lisboa novo curso de planeamento familiar natural, promovido pela Associação Família e Sociedade. Este curso tem a grande vantagem de proporcionar aos casais acompanhamento médico na sua aprendizagem do método proposto. A ficha de inscrição vem no site. Nem esta associação, nem o MDV têm qualquer orientação confessional, pelo que todos, sem excepção, estão convidados a fazer estes cursos. Aliás, segundo me informaram, a grande procura não vem de casais católicos, mas de casais... ecologistas!
Foi fácil aprender o planeamento familiar natural? Não. Desengane-se quem achar que o pode conseguir sem capacidade de renúncia, sem grandes doses de paciência e sem um imenso amor!
Valeu a pena aprender o planeamento familiar natural? Sim, absoluta e infinitamente. A liberdade de amar com todo o meu ser e de me sentir amada e respeitada nos momentos de fecundidade e de infecundidade cíclica, a descoberta do poder do desejo e do poder da renúncia são inestimáveis. Nada se lhes compara!
Resulta, o planeamento familiar natural? Connosco, resultou a cem por cento! Aliás, neste momento conheço tão bem o meu corpo, que seria quase impossível engravidar sem querer... Temos o número de filhos que decidimos ter, decisão essa que nunca é definitiva, mas a cada ciclo retomada em clima de oração. Uma das diferenças em relação à pílula é que não decidimos hoje que queremos engravidar daqui a alguns meses, mas decidimos hoje que queremos engravidar... hoje! A contracepção nunca nos permitiria ter tomado algumas das decisões que tomámos, num momento de paixão, e que resultaram em "surpresas" maravilhosas
Este post já vai longo… Deixo-vos ainda dois links: este para o testemunho de um casal cristão durante o recente sínodo dos bispos; e este para o testemunho de casais muito jovens no jornal i. O primeiro fez-me sorrir, porque me revi nos seus argumentos; o segundo deixou-me cheia de santa inveja: quem me dera ter tido esta clareza de pensamento no dia do meu casamento! Boas leituras…
Que a Festa de Todos os Santos seja para as famílias cristãs um verdadeiro desafio à santidade, donde emana a fonte da felicidade. Repetindo as palavras do Papa Francisco no sábado passado, "os únicos que renovaram a Igreja foram os santos." Ámen!
Aproximava-se a data do nosso casamento, há dezoito anos atrás. No meio de muitas trapalhadas com os papéis, o Niall e eu procurávamos ter algum tempo e algum espaço para nos prepararmos espiritualmente.
A primeira desilusão chegou quando o nosso pároco nos disse que, ali, não havia cursos de preparação para o matrimónio. Eu estava desejosa de encontrar outros casais de noivos e sobretudo, estava desejosa de escutar o testemunho de casais mais velhos e experientes, que nos pudessem falar de Deus e de amor. Na altura, ainda não tinha computador, e a Internet era uma ilustre desconhecida…
Sem curso de preparação, decidimos então procurar, sozinhos, algumas respostas para perguntas que se impunham. Como iríamos planear a nossa família? De que métodos podíamos dispor? Desde o início do nosso namoro que falávamos dos filhos, da educação que queríamos dar-lhes, da família numerosa e alegre que gostaríamos de ter. No entanto, todas as vozes à nossa volta nos lembravam que dois ou três filhos era mais do que suficiente, e que não era conveniente tê-los muito cedo, porque o casal precisa "de um tempo". Enfim, não pensámos muito em nada disto senão já perto do nosso casamento. E foi quando descobrimos que estávamos sós na nossa reflexão.
Na minha fé simples, eu só queria obedecer à doutrina da Igreja, mas eu não a conhecia senão muito vagamente. Vasculhei a minha memória à procura de respostas. Eu frequentara grupos de jovens, pertencera a vários movimentos da Igreja, fizera retiros e exercícios espirituais, assistira a palestras dadas por padres jesuítas em Coimbra, enquanto estudava. Enfim, não era ignorante na maior parte dos temas da Igreja. Mas não conseguia lembrar-me de alguma vez alguém me ter falado neste assunto com a abertura de que agora necessitava. Porquê?
Começámos por perguntar ao médico de família, em separado, como fazer planeamento familiar, caso sentíssemos necessidade dele. A resposta foi a mesma para os dois: uma receita da pílula. Saímos do consultório cabisbaixos. Outra desilusão! Se eu não estava doente; se o meu corpo funcionava na perfeição, para que queria eu um comprimido?
Marquei consulta no ginecologista, um conhecidíssimo médico de Coimbra. Fui à consulta cheia de expectativa e de novo lancei a minha inocente pergunta: como podia eu planear a minha família?
- Quer uma receita de pílula, não é? - Perguntou, sem me deixar acabar de falar. Eu queria responder que não, que queria que ele me falasse do meu corpo, me ensinasse a conhecer a biologia por detrás da sexualidade, me encorajasse a confiar na minha feminilidade, mas não fui capaz de articular palavra. Eu desconhecia, na altura, que em Portugal não há - ou há muito poucos - ginecologistas especializados em planeamento familiar natural e capazes de acompanhar as mulheres nesta escolha nas suas consultas, como há nos E.U.A., por exemplo. Saí do consultório com uma receita na mão, que tratei de aviar na farmácia mais perto.
Ao chegar a casa, abri a embalagem e pus-me a ler o folheto informativo. O que li deixou-me muito angustiada: ali estava eu, jovem de vinte e quatro anos, a transbordar saúde, com uma receita de um medicamento na mão. As contra-indicações eram simplesmente assustadoras, e eu não conseguia compreender por que razão todos me falavam em tomar um comprimido, quando eu só queria ser feliz. Guardei a caixinha na gaveta dos medicamentos, junto do paracetamol e do aero-om.
Decidi então perguntar a um sacerdote. Escolhi um sacerdote cheio de fé, que sempre fora para mim sinal do amor de Deus. Fiz-lhe a mesma pergunta que fizera ao médico de família e ao ginecologista.
- O casal deve gerir a sua sexualidade de acordo com a sua consciência - Foi a resposta. Nenhuma referência ao Catecismo da Igreja Católica, nenhuma referência a Paulo VI, a João Paulo II, a pecado ou a virtude. Apenas a alusão à consciência que, convenhamos, aos vinte e quatro anos não é exactamente uma grande aliada (e aos quarenta continua a não ser...)!
Se os dois médicos me tinham desiludido, a resposta deste sacerdote deitou por terra a esperança que me restava. Eu não sabia então que os ensinamentos da Igreja sobre o planeamento familiar eram alvo de grande controvérsia, e que muitos sacerdotes tinham uma espécie de estranha vergonha em propor aos casais aquilo que eles nunca poderiam viver.
Lembram-se da história do jovem rico? Este jovem era eu, este jovem era o Niall. Cheios de entusiasmo juvenil, nós corremos ao encontro do representante de Jesus e perguntámos, na nossa linguagem atabalhoada e inquieta: "Como nos pede a Igreja que regulemos a nossa fertilidade?" Que foi a nossa maneira de perguntar: "Que devemos fazer para alcançar a vida eterna?"
As respostas que obtivemos foram como se Jesus tivesse desistido de nós, e não nos julgasse dignos de um salto maior. Imaginem que Jesus tinha dito ao jovem rico: "O que tu fazes, já chega." Ou, em linguagem estudantil: "O que tu fazes já dá para passar no exame."
Nós não queríamos "passar". Nós não queríamos um "suficiente". Nós queríamos ganhar a Taça, nós queríamos subir ao pódio, nós queríamos alcançar a coroa da vitória. Nós não precisávamos que nos indicassem os “mínimos”, nós queríamos que nos abrissem o horizonte até aos “máximos”. Mas ninguém parecia acreditar na nossa capacidade para sermos santos.
E contudo, a Palavra de Jesus não me deixava descansar... Jesus nunca disse: "Sede boas pessoas." Jesus disse:
“Sede perfeitos, como o vosso Pai é perfeito.” (Mt 5, 48)
O Papa Francisco disse numa homilia no sábado passado: "Não tenham medo da vida de santidade, pois esse é o único caminho para renovar a Igreja."
Até que chegou a véspera do nosso casamento… Sim, a véspera! Amanhã conto-vos mais
O Niall e eu namorámos por telefone durante dois longos anos, depois de nos conhecermos e antes dele vir definitivamente viver para Portugal. Talvez nem todos os que lêem este blogue tenham noção do que significava namorar por telefone há vinte anos atrás! Na era "pré-telemóvel" e numa situação de "namoro internacional" como a nossa, ambos a viver fora de casa como estudantes universitários, precisávamos de coleccionar muitas moedas e de nos fecharmos naquelas casinhas simpáticas chamadas "cabines telefónicas". Depois falávamos o mais depressa que conseguíamos até a última moeda nos cortar a palavra a meio. Era, no mínimo, um bocadinho stressante...
Hoje, e porque trabalhamos a uma distância de trinta quilómetros um do outro, continuamos a namorar ao telefone, mas temos todas as vantagens da era moderna, com os seus sofisticados meios de comunicação. É, na verdade, raro o dia em que não conversamos à hora do almoço.
Às vezes, na primavera e no outono, quando os dias estão muito azuis, o Niall pede-me que adivinhe de onde está a falar. Então afasta o telemóvel da sua cara, e eu consigo escutar o som cavo do mar e do vento.
- Estás na praia! E deves estar a comer aquelas maravilhosas sandes de bife panado que fizeste esta manhã!
- Adivinhaste! Estou a almoçar na praia, e nem imaginas as conchas que por aqui há!
Ao fim da tarde, quando chega a casa, traz-me uma prova física da sua estadia na praia: uma concha, um búzio, uma pena de gaivota.
Outras vezes, sou eu que lhe faço inveja:
- Estou sentada no nosso jardim, com um gato ao colo, a olhar para as galinhas a esgravatar... Tenho meia hora ainda antes da próxima aula!
Noutros dias, o nosso telefonema é um pedido de perdão:
- Desculpa esta manhã ter-te falado tão mal. Os miúdos não se despachavam e eu estava tão atrasado!
- Desculpa tu. Eu é que estava nervosa. Vamos ser amigos de novo?
- Boa ideia! E tenho uma ideia ainda melhor: fazemos as pazes logo à noite, quando os miúdos estiverem a dormir!
E assim, à distância de um telefonema, sem interrupções de crianças, namoramos um pouco à hora de almoço, para nos recordarmos do que é realmente importante na vida. Mesmo que o trabalho esteja a correr mal, os filhos estejam particularmente difíceis, a casa esteja um caos e o mundo esteja ainda pior, eu sei que, à noite, vou poder deitar-me nos braços do Niall e recuperar o dom primeiro do nosso amor, aquele amor que prometemos um ao outro há dezoito anos atrás e que, nesse mesmo abraço conjugal, elevámos à dignidade de sacramento, sinal da presença amorosa de Deus entre nós.
"Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e se tornarão uma só carne." (Gen 2, 24)