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Tesouro no Céu

por Teresa Power, em 28.05.14

- Diogo, o teu teste está muito bom. Tens para cima de 90%. Mas não creio que tenhas cinco no fim do ano! Já conversámos o bastante sobre a tua falta de interesse, a forma como perturbas todas, todas as aulas, a não realização dos trabalhos de casa, etc.

- Não tem qualquer problema! Não pretendo ter cinco. Só quero o Muito Bom no teste.

- Ai sim? E porquê?

- Porque são os Muito Bons, e não os cincos, que me trazem dinheiro.

- Pagam-te por cada Muito Bom que tu tiras? E pode-se saber quanto?

- Não lhe diz respeito, professora. Pagam-me o suficiente para me manterem interessado nisto.

 

Fiquei alguns segundos a olhar para o Diogo com tristeza, enquanto a turma ria e reforçava a sua atitude. O Diogo tem uma colecção enorme de jogos de computador, conseguida também à custa dos seus Muito Bons, que ainda vão sendo alguns. Os colegas invejam-no por isso. No entanto, não é um menino feliz. Bem pelo contrário! Conheço um pouco da sua história familiar para saber o que lhe custa a vida. E mais triste me sinto.

 

Um dia, um jornalista foi entrevistar a Madre Teresa de Calcutá. Depois de a ver trabalhar junto dos leprosos, que morriam caídos nas ruas, e que a Madre recolhia na sua Casa do Moribundo, o jornalista comentou, enojado:

- Não tocaria nesse leproso nem por um milhão de dólares!

- Nem eu - respondeu a Madre com simplicidade. E continuou a tratar do leproso carinhosamente.

 

Deve ser muito triste trabalhar, estudar, ajudar ou fazer qualquer coisa na vida por algumas - ou muitas - moedas... Que recompensa tão pobre! Tanto esforço, tanto suor, e no final, que alcançamos? Um objecto inanimado? Um pacote de gomas? Um jogo de computador? Um telemóvel novo? Ou talvez umas férias no Hawai? Ou um carro topo de gama? Ou uma casa grande? Ou a possibilidade de ficar sem trabalhar até ao fim da vida? Ou a possibilidade de contractar uma empregada doméstica? Ou uma segunda casa, para férias? Ou... Ganhar o Euromilhões continua a ser uma recompensa muito fraca para uma vida de trabalho... Que é uma casa de férias comparada com a morada que Jesus nos preparou na eternidade? Que é um pacote de gomas comparado com a doçura com que Deus nos irá cobrir, na eternidade?

 

"Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6, 19-21)

 

Significa isto que não teremos qualquer tipo de recompensa aqui na terra? Ontem à tarde fiquei uns momentos a observar o Francisco e o seu grande amigo Manuel a trabalharem no carrinho de rolamentos. Estavam, como sempre, entusiasmadíssimos. À noite, perguntei ao meu filho:

- Francisco, se vocês não ganharem a corrida e, sobretudo, o prémio de carro mais original, já na próxima quarta-feira... Como vai ser?

- Como vai ser o quê? Queremos lá saber do prémio! Foi tão divertido construir o carro! E agora que o verão e as férias estão a chegar, temos já tantos projectos para o desenvolver ainda mais! Que dizes do nosso sistema de luzes? E a pintura, que tal?

 

A recompensa do bem, do trabalho, do esforço, não se mede em dinheiro, nem sequer em sucesso; mede-se em felicidade!

 

 

 

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publicado às 07:19

Exames e Estudo do Meio

por Teresa Power, em 16.05.14

- David, precisas de ajuda com os trabalhos de casa?

- Não! Hoje os T.P.C. não são importantes.

- Ai não? E pode-se saber porquê?

- Porque é só Estudo do Meio.

- E por que razão Estudo do Meio não é importante?

- Porque não sai no exame, claro!

 

Não pretendo discutir neste blogue a necessidade dos exames - no caso do David nem sequer é exame, mas "apenas" Prova de Aferição -, a questão da avaliação dos professores ou da avaliação dos alunos. Como professora e como mãe, sei que a avaliação é importante e que a exigência é necessária para o sucesso. Sou uma professora exigente (pelo menos tenho fama disso) e sou uma mãe exigente também.

A questão que me preocupa é bem mais profunda: traduzir a aprendizagem em notas de exame - ou em A, B, C ou D - quando se tem sete anos, que marcas irá deixar nestes pequenos aprendentes? Se aos sete anos eu estudo "o que sai no exame" e não me preocupo em estudar o que me acorda a curiosidade; se aos sete anos eu não tenho tempo para estudar como nascem as borboletas ou como crescem as sementes "porque não sai no exame"; se aos sete anos eu corro o risco de ver numa pauta pública decidido que sou uma criança burra ou uma criança inteligente; se aos sete anos, ainda mal entrado na escola, eu já vou ficar a saber o que os professores pensam das minhas capacidades mentais, que relação irei desenvolver com a escola e, sobretudo, com o conhecimento e a sabedoria?

 

David, o mais importante da vida não sai no exame. David, a matemática e o português valem a pena porque nos abrem as portas para a descoberta fantástica do universo que Deus criou; mas o Deus que criou o universo é bem mais importante! David, ter boas notas no exame é bom; mas saber os conteúdos de Estudo do Meio é igualmente bom; e conhecer as histórias da Bíblia, que todas as noites escutamos antes de dormir, é igualmente bom; e aprender a utilizar a chave de fendas e os parafusos - sim, David, este verão vais aprender, como o Francisco aprendeu com a tua idade - é igualmente bom. David, eu não quero que tenhas a nota máxima no exame - quero que tenhas a tua nota máxima, como recompensa por teres dado o teu melhor. Deus entregou-te um determinado número de talentos, e cabe-te a ti, e só a ti, fazê-los render - e tanto faz render o que, tendo recebido dois, apresenta quatro, como o que, tendo recebido cinco, apresenta dez, não é verdade?

 

Mas mais importante do que tudo, David, mais importante do que qualquer escola ou qualquer exame, é o amor.

Como S. Paulo nos ensinou:

 

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,

se não tiver amor, sou como um bronze que soa

ou um címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom da profecia

e conheça todos os mistérios e toda a ciência,

ainda que eu tenha tão grande fé

que transporte montanhas,

se não tiver amor, nada sou..." (1Cor 13, 1-2)

 

David, para tu descobrires esta imensa verdade agora, aos sete anos, e não apenas no fim da vida, quando já não te puder ser útil,  é importante que a escola promova estas palavras; é importante que o professor não se deixe esmagar pelo peso injusto de ter de provar alguma coisa a alguém, através dos teus resultados; mas acima de tudo, é importante que a tua família  te revele este amor, não se deixando contaminar pela febre dos exames.

Agora, David, prepara a mochila para amanhã e vai lá para fora brincar. O sol brilha, a terra está quente, o universo inteiro chama por ti... não ouves?

 

 

 

 

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publicado às 08:43

Festa

por Teresa Power, em 01.03.14

O António já coloriu as nove imagens do menino a rezar, na sua "página de esforço" (para quem não sabe o que se passou, ler aqui). Chegou a altura de festejar! A gripe e a chuva não nos deixam fazer a oração lá fora, como ele pedira, de lanterna acesa. Mas diante do Senhor, como o Rei David diante da Arca da Aliança, cantamos e dançamos demoradamente. O António, no centro, escolhe as canções.

 

Celebrar as pequenas vitórias de uma criança é uma exigência da educação. Contudo, poucos se sentem seguros na forma de o fazer.

Como professora e como mãe, apercebo-me de uma cultura da recompensa e do castigo baseada em aspectos materiais. O meu filho mais velho tem colegas que, por cada Excelente obtido nos testes, recebem entre cinco a vinte euros. A rir, o Francisco costuma dizer-me que, se cá em casa adoptássemos a mesma estratégia, ele já nos teria levado à ruina. Na verdade, os nossos filhos mais velhos (os outros ainda estão a começar!) têm muitos Excelentes e nunca receberam qualquer recompensa por causa disso. E porquê? Simplesmente porque não vem a propósito. O Francisco não tem boas notas para receber dinheiro; o António não aprendeu a portar-se bem na hora de rezar para receber um presente. Oferecer-lhes algo material seria comprar o seu esforço, chantagear o seu crescimento e enganar o seu sentimento de felicidade.

 

E no entanto, apesar da falta de recompensas materiais, qualquer um dos meus filhos se sente extremamente recompensado! Quando, cá em casa, se obtém sucesso em alguma área da vida, do desporto ao estudo, da magia ao trabalho de voluntariado, da oração à capacidade de ajudar em casa - e nenhuma destas áreas é mais ou menos importante que as outras - , celebramos na hora da oração familiar. Partilhando a oração em voz alta, agradecemos ao Senhor a prontidão do Francisco em arrumar a cozinha, a rapidez com que a Lúcia seca as lágrimas depois de uma birra, a postura do António a rezar, a nova capacidade da Clarinha para passar a ferro, o resultado do David na Matemática, as primeiras palavras da Sara.

 

É a Deus que é devido todo o louvor e toda a gratidão. Deus presenteou-nos com muitos e variados talentos; não fazemos mais do que a nossa obrigação se os colocarmos a render! Como o servo da parábola de Jesus, precisamos de correr ao seu encontro e de Lhe devolver o seu presente, multiplicado segundo a nossa capacidade (Mt 25, 14-30). E o Senhor, que recompensa um simples copo de água oferecido com amor (cf Mt 10, 42), não deixará de nos preparar, no dia feliz do nosso encontro face a face, uma festa de arromba!

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publicado às 09:18



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