Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hora de oração familiar. Solenidade de S. Pedro e S. Paulo. A par das leituras da missa do dia, meditamos nas leituras que estavam previstas para esta segunda-feira, porque não queremos perder a continuação da história de Abraão, verdadeiramente fascinante. Entretanto, ao lermos o Evangelho, encontramos esta curta passagem:
"Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um discípulo, que Lhe disse: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» Mas Jesus respondeu-lhe: «Segue-Me e deixa que os mortos sepultem os seus mortos.»" (Mc 8, 20-22)
- Bem - Concluiu o Francisco, depois de alguns segundos de silêncio - Jesus não parece gostar do "Estou a ir"...
Rimo-nos todos. É verdade, sim senhor! A Deus, só há uma forma de obedecer: aqui e agora. Foi assim que Maria obedeceu, tornando-se Mãe de Jesus no instante em que deu o seu "sim" através do Anjo Gabriel; foi assim que Jesus obedeceu ao Pai a vida inteira: na hora; sem atrasos; sem hesitações; sem compromissos; foi assim que S. Pedro e S. Paulo obedeceram, deixando tudo para seguir Jesus no instante em que foram chamados - Pedro, à beira do lago da Galileia, depois da mais bela pescaria da sua vida; Paulo, ao cair do cavalo a caminho de Damasco, na mais bela viagem da sua vida.
Cá em casa procuramos treinar a obediência a Deus através da obediência aos pais. Quando a mãe chama, não quer ouvir "Espera", "Já vou", "Estou a ir". É esta obediência (quase) imediata, um bocadinho custosa às vezes, bastante treinada, que nos permite estar na mesa todos ao mesmo tempo, para cantar antes de comer; ou iniciar a oração familiar à hora marcada; ou cumprir as tarefas domésticas da responsabilidade de cada um sem resmunguices; ou ir para a cama quando chega a hora sem oferecer resistência. Com frequência, é preciso deixar uma página do livro a meio - e quem gosta de ler sabe como é difícil... -, um vídeo no Youtube em "pausa", uma partida de futebol em intervalo forçado ou uma construção do lego por acabar. A recompensa, claro,traduz-se de imediato em paz familiar. Mas o mais importante é o treino que a obediência nos oferece, para sermos capazes de escutar o chamamento de Jesus, a qualquer hora do dia ou da noite, e segui-l'O sem hesitações...
O David veio ter comigo para me oferecer um desenho. Trazia-o enrolado e atado com um fio de embrulho e disse-me que era uma prenda. Desenrolei-o com jeitinho e encontrei isto:
Como o papel já está bastante amarrotado e como o David não gosta de colorir, o desenho percebe-se bastante mal aqui na imagem. Fica o texto:
"Os meus pais mandão em mim como reis muito bons."
Um sorriso desenhou-se-me nos lábios. Já me tinham chamado muita coisa, mas isto! Ver o Niall e eu vestidos de rei e rainha, com coroas na cabeça, assomando nas ameias do nosso castelo com ar seguro e feliz foi uma surpresa muito divertida. As crianças têm uma imaginação imensa, e o meu filho David consegue imaginar-me como uma rainha muito boa, e ao Niall como um rei muito bom. Mas o curioso é o que este rei e esta rainha fazem: eles "mandão" no pequeno David; e o pequeno David parece muito feliz com isso!
A obediência, como já referi, está em crise, e em crise muito séria. Na escola, quase todos os alunos a quem chamo a atenção têm uma resposta pronta que diz mais ou menos isto: "A professora não manda em mim." E a impressão com que fico é que nem eu, nem ninguém... No entanto, esta autonomia é apenas aparente, pois lá no fundo, estas crianças sofrem de uma enorme insegurança. Há uma idade para obedecer, e há uma idade para mandar. E quando não respeitamos a primeira, a segunda não será certamente uma idade de autoridade, mas de autoritarismo, que é uma das coberturas do medo.
Jesus ensinou-nos no Evangelho que, diante de Deus, somos todos, e sempre, filhos pequeninos. A nossa felicidade está portanto, como a do David, em obedecer a este "Rei muito bom" que é o nosso Pai e o nosso Deus. Fazer a sua vontade pode parecer custoso de início, mas com a prática torna-se fonte de alegria intensa! No evangelho, Jesus assegurou-nos que, se queremos ser, como Ele, da família de Deus, não temos outro caminho senão o da obediência simples e alegre:
"Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe." (Mc 3, 35)
E o salmo da missa de hoje, domingo, diz assim:
"Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade." (Sl 39/40)
Que a capacidade de obediência dos nossos filhos nos ensine a sermos melhores filhos do melhor dos Pais, do melhor dos Reis, do nosso Deus...
Quando vou a Fátima, gosto de contemplar o Santuário do cimo da colina, onde se erguem as belíssimas estátuas de S. João Paulo II e do beato Paulo VI. Foi com a ajuda destas estátuas que contei aos meus filhos alguns episódios das vidas destes dois grandes santos!
(S. João Paulo II)
(Beato Paulo VI)
De joelhos, estes dois homens de Deus foram a Fátima entregar a sua vida e o seu pontificado a Nossa Senhora, a "Mãe da Igreja", como foi proclamada pelo novo beato em 1964, perante o aplauso espontâneo de todos os Padres conciliares. Como diz o Papa Francisco, "a Igreja sem Maria torna-se num orfanato"!
De joelhos sobre o monte. Paulo VI escreveu nos seus apontamentos:
"A luz do castiçal queima e consome-se sozinha. Mas tem uma função, a de iluminar os outros, a todos, se possível."
De joelhos sobre o monte, queimando a luz do seu castiçal, Paulo VI experimentou o mistério do sofrimento. Até onde o seu olhar abarcava, ele assistiu ao desmoronar de esperanças e ao renascer de ódios e conflitos; viu sacerdotes abandonarem o seu sacerdócio, religiosas deixarem as suas congregações, famílias inteiras sair da Igreja por não a conseguirem entender.
De joelhos sobre o monte, Paulo VI foi criticado e caluniado, até hoje.
De joelhos sobre o monte, Paulo VI experimentou a imensa alegria de se identificar cada vez mais com Cristo Crucificado, também Ele sobre o monte de onde contemplamos o mundo...
Foi Paulo VI quem instituiu o rito da Via Sacra no Coliseu na Sexta-feira santa! Ele sabia muito bem que a Igreja só poderia renascer fazendo a experiência da cruz, sinal inconfundível da presença de Deus.
Quando penso em Paulo VI, lembro-me das palavras de S. Paulo ao seu querido Timóteo, sacerdote por ele ordenado:
"Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor (...) Quanto de mim ouviste, na presença de muitas testemunhas, transmite-o a pessoas de confiança, que sejam capazes de o ensinar também a outros. (...)
Adverte os eleitos seriamente em nome de Deus que não se envolvam em litígios de palavras. Isso não serve para nada e leva à ruína dos ouvintes. Esforça-te por te apresentares diante de Deus como trabalhador digno e irrepreensível, interpretando rectamente a Palavra da verdade. (...)
Peço-te encarecidamente, pela vinda de Jesus e pelo seu Reino: proclama a Palavra, insiste em tempo propício e fora dele, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência. Virão tempos em que o ensinamento salutar não será aceite, mas as pessoas acumularão mestres que lhes encham os ouvidos de acordo com os seus próprios desejos. Desviarão os ouvidos da verdade e divagarão ao sabor de fábulas. Tu, porém, controla-te em tudo, suporta as adversidades, dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério." (2Tm)
Caramba! S. Paulo escreveu para Timóteo... ou para Paulo VI?
Termino com as palavras do nosso querido Papa Francisco, na homilia da missa da beatificação:
"A respeito deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante: obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI!"
(Amanhã começo a contar-vos como os ensinamentos de Paulo VI entraram na nossa vida... É uma longa história!)
Turma de Curso Vocacional. Vinte rapazes e raparigas que não gostam da escola. Entro na sala, e levo quase dez minutos a conseguir que todos se sentem nas carteiras. Depois, mais dez minutos para abrirem os cadernos e a lição. No meio de uma imensa barulheira, procuro encontrar alguma paz interior. Suspiro.
- João, vira-te para a frente.
- Porquê? Tem algum mal eu estar voltado para trás?
- Manuel, abre o caderno!
- Não me apetece mesmo nada, professora. Hoje não vou escrever.
- Maria, vens ao quadro por favor?
- Nem pense, professora! Eu não percebo nada de Inglês.
Eu sei que a turma do vocacional não é uma turma "normal". Mas a crise de obediência não é típica apenas destes alunos! Ela atravessa a escola inteira, as famílias, as instituições e, naturalmente também, a Igreja.
Obedecer tornou-se sinónimo de não ser capaz de pensar por si próprio, e a obediência é vista como antónimo de criatividade ou ousadia. E no entanto, aquilo que Jesus veio fazer à Terra foi nada mais ou nada menos do que um acto de perfeita obediência ao Pai:
"Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice; contudo não se faça como Eu quero, mas como Tu queres!" (Mt 26, 39)
"O mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou." (Jo 14, 31)
E S. Paulo diz-nos, falando de Jesus:
"Tornou-se obediente até à morte, e morte de cruz!" (Fl 2, 8)
Não podemos seguir Jesus sem imitar a sua obediência. Assim fizeram Maria e José, em primeiro lugar, obedecendo sem hesitar às palavras do anjo, antes de Jesus nascer; e assim fizeram os Apóstolos, numa sucessão nunca interrompida, até hoje.
Quando vejo a Igreja em rebeldia, desafiando a Palavra que lhe é oferecida pelo Papa, contestando os seus ensinamentos e propondo aos cristãos doutrinas diferentes, sinto uma tristeza e um desalento semelhantes aos que sinto quando chego àquela turma de Curso Vocacional...
Mas o Papa não se pode enganar? Sim, pode. E desse engano, terá naturalmente de dar contas a Deus. Nós temos a vida facilitada: se não compreendermos bem as palavras de Jesus através dos ensinamentos do Papa, só precisamos de as ler novamente ou de pedir que as repita por favor... Mesmo que o Papa se engane, nós não nos enganamos, obedecendo! É que para Deus, a humildade vale mais que todas as certezas do mundo.
Mas não terão os cristãos o direito de seguir a sua consciência, se ela for oposta aos ensinamentos papais? Claro que sim! Se o cristão estiver convencido de que o seu discernimento, o seu estudo e, sobretudo, a sua oração são mais profundos do que os do Papa; se o cristão sentir que Deus o iluminou mais fortemente do que iluminou o Papa, a quem entregou as chaves do Reino; se o cristão achar que, depois de longas e profundas horas de oração intensa, Deus lhe comunicou uma mensagem diferente da que comunicou ao Papa, aí ele deve agir de acordo com a sua consciência.
Eu dou todos os dias graças a Deus por não estar nessas condições. É tão libertador não ter de "inventar a roda" a cada dia, mas poder confiar na Palavra e na Tradição que me foram entregues no meu baptismo! Em vez de desperdiçar o meu tempo contestando a doutrina, posso dedicar o meu tempo a descobrir formas ousadas, belas, diferentes, criativas e profundas de praticar essa mesma doutrina. Longe de me tolher os movimentos criativos, a obediência liberta-me para aquilo que verdadeiramente importa: procurar, com todo o coração, toda a inteligência, toda a alma, fazer tudo o que Jesus me disser. Ámen!
Oração da manhã. No carro, rezamos a consagração a Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná, que termina com este pedido:
"Ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser!"
- Como podemos nós saber o que Jesus nos diz? - Pergunto, em jeito de provocação.
- Lemos a Bíblia...
- Escutamos a voz da nossa consciência!
Silêncio.
- E mais?
- Ouvimos o Papa!
- Exactamente, ouvimos o Papa. Porquê?
- Porque ele representa Jesus na Terra!
- O Papa é o sucessor de Pedro, a quem Jesus pediu para conduzir a sua Igreja, no meio de muitas tempestades, até à margem da Vida. Assim, nós acreditamos, com toda a fé, que o Papa conduz a Igreja de Jesus aonde Ele quer. Ele permite-nos acreditar na Igreja! Quando rezamos o Credo, nós dizemos que acreditamos na Igreja:
"Creio na Igreja una, santa católica e apostólica."
- E o Papa diz assim tantas coisas?
- Diz, claro. Todas as quartas-feiras, o Papa faz uma catequese para todos os cristãos. Todos os dias, na missa, ele faz uma homilia para nos ajudar a entender a Palavra de Deus. E de vez em quando, o Papa escreve uma carta a toda a Igreja, com ideias importantes para pormos em prática.
- Eu queria ver o Papa!
- Ele há-de vir a Portugal um dia.
Chegamos ao colégio. Depois de deixar os meninos, continuo a conduzir até à minha escola, e vou relembrando a nossa conversa... Que alegria eu sinto por pertencer à Igreja de Jesus!
Ao longo de toda a Bíblia, há uma frase mágica que converte homens e mulheres vulgares em agentes da História divina:
"Eis o servo do Senhor!"
Foi assim que Abraão, David, Samuel, Gedeão, Moisés, Maria e José de Nazaré e todos os grandes homens e mulheres bíblicos disseram. E ao fazê-lo, conquistaram um lugar na Bíblia. O servo é, em primeiro lugar, aquele que escuta para poder obedecer. Maria mostrou-nos que a felicidade depende desta obediência:
"Fazei tudo o que Ele vos disser!" (Jo 2, 5)
Obedecer à voz de Jesus, que ressoa na Igreja ao longo da História e é, a cada geração, oferecida ao povo de Deus pela voz do Papa: eis a grande rampa de lançamento na aventura divina...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.